quarta-feira, 7 de março de 2012

Um método perigoso

image
 
ASSUNTO
Psicologia, psicanálise, análise Junguiana, Casal e família, sexualidade, relações acadêmicas e sociais.
Imediatamente após assistir ao filme, me senti na obrigação de rever “Jornada da alma”, produção francesa de 2003 que retrata o mesmo período, com outro olhar. Para profissionais e estudantes de psicologia, ambos são mais do que indicados, são obrigatórios. Para quem deseja maior aprofundamento, sugiro que abra a aba RESENHAS, onde poderá encontrar maiores detalhes sobre os filmes.
O enfoque de UM MÉTODO PERIGOSO inclui Freud e acrescenta alguns detalhes da relação entre ele e Jung, revelando não só a diferença social entre ambos, como também o fato de Jung não ser judeu. Otto Gross também aparece na fita, retratado como paciente encaminhado por Freud para Jung, e apontado como possível provocador da ação de Jung em direção ao relacionamento amoroso com a paciente. Considerando algumas peculiaridades de cada filme, destaco a seguir algumas passagens deste:
O diretor escolhe dar ênfase as expressões de Sabina para indicar suas perturbações. Dr. Jung se revela mais diretivo, ao iniciar o a primeira sessão com a pergunta: “Você tem alguma idéia do que pode ter provocado os seus ataques?” Em seguida, somos apresentados ao termo “humilhação”, que passa a ser o foco da paciente para o que lhe angustia e lhe dá prazer/culpa. O teste de associação de palavras, aqui é aplicado por Jung com a ajuda de Sabina em Emma. Sabina já o está ajudando no trabalho e na interpretação, desenhando a possibilidade de tornar-se médica um dia. Durante às sessões, Sabina aponta as surras que levava do pai como algo excitante e provocante, exitando-a ao ponto de não conseguir conter o desejo de se masturbar. Jung retoma a primeira surra e  reforça suas sensações, ao que ela responde que gostou. Dois anos se passam e Jung visita Freud em Viena. O filme apresenta, então, alguns tópicos divergentes desde o início da relação. Jung já aponta sua discordância em alguns aspectos da psico-análise, - ao que Freud corrige “psicanálise”, como por exemplo, a ênfase na sexualidade. Também discorda do que Freud aponta como fixação na fase anal de sua cliente. Em outra cena, Jung insiste em contestar  a interpretação exclusivamente sexual do material clínico. Em outro momento, Freud aponta o círculo judeu da psicanálise como agravante para não aceitação da mesma e completa a discordância de Jung como um pensamento protestante. Aqui percebemos a divergência político-religiosa entre ambos. Em outro momento, Jung relata o sonho dos cavalos e ambos discutem a interpretação. Jung escolhe se referir as diversas gestações de sua esposa, que de fato interromperam seu crescimento profissional. Freud acrescenta a possibilidade de apontar para determinada repressão de algum desejo sexualmente incontrolável. Já com Sabina, Jung comenta que deve ter cuidado com a força de Freud, que ameaça suas idéias com sua persuasão e sedução. Sabina, então, pontua que talvez ele tenha chegado a um nível que a obediência se tornou mais importante do que originalidade. Sabina lembra a Jung que no seu caso Freud tinha razão quanto a sexualidade, ao que Jung responde que sim, mas que não seria o único fator. Em outro momento, o mito de Siegfried é a coincidência apontada por Jung como um aspecto inacreditável. Segundo ele, tudo tem um significado, não pode existir coincidência. Quem conhece a psicologia analítica pode aqui reconhecer o princpio de alguns conceitos construídos por esse teórico.
Há o encaminhamento do caso de Otto por Freud para Jung, apresentando um psicanalista e anarquista que fez história, ainda que tivesse comportamento sexual reprovado na sociedade, e fosse de fato viciado em drogas como a cocaína. Durante o período de contato com Jung, a discussão versa sobre a transferência e acontratransferência, quando Otto afirma que a monogamia é antiquada e causadora de muitas doenças humanas. Otto aponta a obsessão de Freud com a sexualidade como resultado de sua repressão, pois ele não deveria transar como gostaria. Jung, então, afirma que embora o trabalho do terapeuta seja libertar o paciente, libertar algumas repressões significa liberar todo tipo de forças, perigosas e destrutivas.  Sabina discute com Jung suas reflexões sobre o choque entre as forças destrutivas como produtor de algo novo e a sexualidade. Ela afirma estar cada vez mais consciente do fato de não ter experiências sexuais e em seguida o beija na boca, deixando Jung perplexo. Diante de sua afirmação sobre como a iniciativa deveria ser masculina, Sabina afirma que existe algo de feminino em cada homem, tanto quanto algo de masculino em cada mulher, mas que se ele quiser tomar a iniciativa, sabe onde ela mora.
Conceitos Junguianos e Freudianos são explorados na trama, tanto quanto suas divergências. Além disso, conhecemos um pouco mais da vida de Jung e das possíveis colaborações de Sabina nos conceitos psicanalíticos. Devido a riqueza de detalhes que ora se assemelham ora se diferem, entre este e “Jornada da Alma”, para aqueles que desejam se aprofundar, indico a aba resenhas.
A quem se interessar em saber mais sobre Otto Gross, clique em:
 1 Otto ou  2 Otto
(...) há um recorte temporal preciso que, esse sim, revela bastante do olhar de David Cronenberg, situando a história no período pré-espiritualista de Jung, em que a psicanálise ainda se esgueirava da metafísica para tentar compreender a condição humana passando necessariamente pelo corpo – carne, sexo e excrementos – princípio que conecta o momento vivido pelas personagens ao olhar de Cronenberg.Leiam mais clicando aqui.
Estudiosos defendem que Spielrein - que depois de ser paciente de Jung em 1904 e 1905 tornou-se sua assistente, antes de filiar-se a Freud - ajudou a formular o conceito de pulsão de morte, que depois seria atribuído ao austríaco (...) para colocar Sabina como catalisadora das diferenças entre Jung e Freud. (...) Freud inveja a riqueza do "ariano" Jung, que por sua vez ressente-se do judeu que não lhe conta um sonho que teve, "porque isso acabaria com a minha autoridade", justifica Freud. (...) Cronenberg e o corroteirista Hampton (que adapta o roteiro de forma bastante fiel à sua peça) têm a dizer sobre o Holocausto.Há referências demais à tragédia do século, ao longo do filme, para que elas sejam ignoradas. Está nos diálogos: "Os anjos falam alemão", diz Jung, enquanto Freud, já absorto em sua preocupação com o antissemitismo, diz a Sabina que fica feliz por ela desistir de seu "príncipe ariano". Está nas situações: a platéia congelada enquanto Jung toca Richard Wagner em um experimento. E, finalmente, está nas entrelinhas: na pulsão de morte da teoria da judia masoquista Sabina e na preocupação de Jung com "um pouco de repressão que seja saudável à sociedade" e com "um ato inominável que permita continuar vivendo". Leia  mais clicando aqui.
Na trajetória de Jung – humano e falho (que não acreditava em coincidências, mas que trabalhou na tese dos sonhos), ele, formal e preso às convenções sociais, influencia-se pelos métodos de seus pacientes, convivendo com a obsessão fálica de Freud, que tenta seduzi-lo (“convincente e persuasivo”), servindo de crítica ao universo psicanalítico ao apresentar o lado humano do terapeuta (com suas crenças, julgamentos e preconceitos). Não há limites. Questionam o determinismo comportamental e biológico: apanhar gerando excitação, a ninfomania e principalmente a monogamia. “Só vamos conversar”, diz-se.
Leia mais...
Ou clique aqui.
SINOPSE
Em 1907, Sigmund Freud (Viggo Mortensen) e Carl Jung (Michael Fassbender) iniciam uma parceria que iria mudar o rumo das ciências da mente assim como o das suas próprias vidas. Seis anos depois, tudo isso se altera e eles tornam-se antagónicos, tanto no que diz respeito às suas considerações científicas como no que se refere às questões de foro íntimo. Entre os dois, para além das divergências de pensamento, surge Sabina Spielrein (Keira Knightley), uma jovem russa de 18 anos internada no Hospital Psiquiátrico de Burgholzli. Com diagnóstico de psicose histérica e tratada através dos recentes métodos psicanalíticos, ela torna-se paciente e amante de Jung e, mais tarde, em colega e confidente de Freud. Isto, antes de se tornar numa psicanalista de renome.
TRAILER

8 comentários:

  1. Adorei conhecer este local onde podemos encontrar comentários interessantes e inteligentes.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Carlos,
      Muito obrigada, volte sempre, comente, sugira, participe!

      Excluir
  2. olá patricia!

    assisti o filme ontem! gostei bastante, mas confesso que esperava mais!

    parabéns por sua resenha!

    um abraço,
    jú matias

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Jú,
      Também esperava mais. Ficou difícil não comparar com o tão conhecido jornada da alma. Portanto, te convido a ler as resenhas para que possa ter mais dados. Volte sempre,
      bjokas

      Excluir
  3. Adorando o blog. Os filmes que acho disponível nos sites de filmes onlines, estou assistindo. Não cheguei atéo final do blog então não sei se já o viu, mas indico-te 'A excêntrica família de Antônia', um filme europeu. Conta a história das mulheres de uma família, abusos sexuais, homossexualismo... Garanto que apreciaria.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Mariana,
      Sua participação será sempre muito bem vinda. Quanto ao filme indicado, já ouvi falar, sim. Entretanto, ainda não assisti. Agradeço sua dica, entrará na fila dos filmes a serem assistidos, que já está bem grande. Ando sem tempo, mesmo. E, além de assistir, preciso de tempo para escrever a respeito, com carinho e cuidado. O mais importante é ter registrado sua dica, muito grata! Volte sempre, curta, indique, comente!
      Abçs
      Patrícia Simone

      Excluir
  4. Sua narrativa é que mais retratou o filme com fidelidade, parabéns!
    Para quem aprende mais lendo que vendo ou ouvindo, aqui se compreendeu melhor o que o filme queria passar. Obrigada!

    ResponderExcluir
  5. Maria, Obrigada por sua participação. Volte sempre!
    Abs,
    Patrícia

    ResponderExcluir

Sua opinião é muito importante!