Atendendo em consultório particular em Copacabana e na Ilha do Governador, reflito sobre a influência dos filmes em minha trajetória, que foi atravessada pelo cinema em diversas fases. Ferramenta de auxílio para a compreensão de diversos conceitos, os filmes não só informam, mas são capazes de nos tocar, favorecendo assim, novas formas de lidar com nossas questões e conflitos.
Compartilho, então, alguns desses filmes.
“Síndrome de
Fregoli”, Depressão, solidão, relações sociais e afetivas, deturpação dos sentidos
SINOPSE.
Michael Stone (voz de David
Thewis) é um palestrante motivacional, marido, pai e respeitado autor de “Como
Posso Ajudá-lo a Ajudá-los?” Michael, que acaba de chegar à cidade de
Connecticut é um homem incomodado com a rotina da sua vida. Ele segue do
aeroporto direto para o hotel, onde está programado para dar uma palestra em
uma convenção, onde entra em contato com um antigo caso para que possam se
reencontrar. A iniciativa não dá certo, mas Michael se surpreende ao descobrir
uma possível escapada de seu desespero: Lisa, uma despretensiosa
representante de vendas, que pode ou não ser o amor de sua vida.
TRAILER
O OLHAR DA
PSICOLOGIA
“Anomalisa”
é uma animação para adultos, aliás, para poucos, embora imperdível. Há que se
ter abertura para mergulhar no conflito existencial de Stone, e, perceber o
mundo a partir dele. Sim, existe distorção na percepção dele em relação ao meio.
Não existe problema na percepção singular de cada ser, entretanto, logo fica
claro que há algo errado na percepção dele, que não consegue diferenciar a
singularidade do outro. Lhe falta empatia? Talvez,
mas não é a única questão explorada. Acompanhamos a rotina monótona de alguém
que, apesar do sucesso com seu livro motivacional, se encontra sem qualquer
motivação em sua rotina. Há um pé dele no passado mal resolvido, algo não
compreendido, situação inacabada - conceito caro para Abordagem gestáltica. Desde o início, é possível perceber uma voz
comum a todos os outros personagens, o que sugere sua indiferença em relação ao
seu entorno. Vozes e rostos sugerem uma semelhança incompreensível, talvez uma
máscara única em todos, além da voz única para diferentes personagens,
independente do gênero.
Relações
afetivas, deficiência física, singularidade, livre-arbítrio, e, dos conceitos gestálticos, destacamos: Contato e fronteira de contato.
SINOPSE
Às vezes você encontra o amor onde menos imagina. E às vezes
ele te leva onde nunca esperou ir. Louisa "Lou" Clark vive em uma
pitoresca cidade de campo inglesa. Sem direção certa em sua vida, a criativa e
peculiar garota de 26 anos vai de um emprego a outro para tentar ajudar sua
família com as despesas. Seu jeito alegre no entanto é colocado
à prova quando enfrenta o novo desafio de sua carreira. Ao aceitar um trabalho
no "castelo" da cidade, ela se torna cuidadora e acompanhante de Will
Traynor, um banqueiro jovem e rico que se tornou cadeirante após um acidente
ocorrido dois anos antes, mudando seu o mundo dramaticamente em um piscar de
olhos. Não mais uma alma aventureira, mas o agora cínico Will, está prestes a
desistir. Isso até Lou ficar determinada a mostrar a ele que a vida vale ser
vivida. Embarcando juntos em uma série de aventuras, Lou e Will irão obter mais
do que esperavam e encontrarão suas vidas - e corações - mudando de um jeito
que não poderiam ter imaginado.
Rico e bem sucedido, Will (Sam Claflin) leva uma vida repleta
de conquistas, viagens e esportes radicais até ser atingido por uma moto, ao
atravessar a rua em um dia chuvoso. O acidente o torna tetraplégico,
obrigando-o a permanecer em uma cadeira de rodas. A situação o torna depressivo
e extremamente cínico, para a preocupação de seus pais (Janet McTeer e Charles
Dance). É neste contexto que Louisa Clark (Emilia Clarke) é contratada para
cuidar de Will. De origem modesta, com dificuldades financeiras e sem grandes
aspirações na vida, ela faz o possível para melhorar o estado de espírito de
Will e, aos poucos, acaba se envolvendo com ele.
TRAILER
O
OLHAR DA PSICOLOGIA
Um
filme que difere de outros romances, não só por seu desdobramento, mas também
por pequenos detalhes que fazem diferença. Por exemplo, o início mostra o “mocinho”
antes e durante o acidente, que o tornará tetraplégico. No momento do
atropelamento, Will estava distraído no celular. A cena pode passar
despercebida, mas não deixa de retratar uma realidade da nossa era, portanto,
trata-se de um alerta ou de uma crítica sutil. Por outro lado, temos personagens
fortes, capazes de nos provocar reflexões. Louise é dedicada, atrapalhada,
quase caricata, mas não há dúvida que tratamos de uma pessoa capaz de realizar
verdadeiros contatos. Se por um lado, a mesma se vira para atender às
necessidades do próximo, sua identidade fica bem definida em seu comportamento
autêntico. Na abordagem Gestáltica a
fronteira é ao mesmo tempo o lugar de contato e de imite, é o lugar da tensão e
do acontecimento, da diferença e do crescimento. Poucos personagens apresentam
a fronteira tão flexível quanto à da “mocinha”, que nos encanta com sua forma
de funcionar no mundo. Ela não abre mão de suas roupas estranhamente
simpáticas, que marcam sua presença. No entanto, abre mão de si mesma para dar
lugar ao outro querido, seja um familiar ou qualquer pessoa que evidencie
alguma necessidade pessoal. É uma personagem ímpar! Will é alguém que não
suporta ver o mundo de outra perspectiva. O acidente o obriga a visitar outros olhares,
ele se recusa. Após sua nova condição, Will apresenta sintomas depressivos, um mau
humor constante, um desprezo pela vida. A luz de Lou pode tornar o mundo menos
cinza e apresentar encantamento ao rapaz, mas não é suficiente para que ele
desista de seu plano. Ainda assim, somos convidados a assistir uma relação de
contato entre ambos, que sendo afetados por aquele contato autêntico, se
transformam. O afeto é oque afeta e se arrisca a ser afetado, o que, de fato, transforma. Ampliados
em sua forma singular de existir, ambos crescem através daquele contato.
Relações
familiares e afetivas, segredo familiar, adoção, perdas
SINOPSE
A fotógrafa Rigby Gray (Selma Blair) deseja
produzir um ensaio sobre o papel da Mãe em diferentes famílias.Desde então,
inicia um projeto que a faz refletir sobre sua relação com a mãe e outras
possibilidades de relação semelhante. Buscando modelos, ela irá conhecer
diferentes histórias que a ajudarão a rever seu papel de filha, ao mesmo tempo
que se percebe grávida, e questiona sua possibilidade de tornar-se mãe.
TRAILER
O OLHAR DA
PSICOLOGIA
Rigby
reflete sobre sua forma de olhar o mundo e o papel de sua mãe em seu viver. Diante
das cenas capturadas por sua lente de fotógrafa, o filme segue apresentando
outras histórias, que depois farão parte do seu projeto. De forma dinâmica, o
espectador é convidado a conhecer diferentes situações que se desdobrarão
durante o longa. Aos poucos, conhecemos diferentes mães e filhas, cada qual com
suas particularidades.
Saúde mental, Movimento antimanicomial, Arteterapia, Terapia ocupacional, relação terapêutica, relações sociais, afetivas e familiares.
SINOPSE
Ao voltar a trabalhar em um hospital psiquiátrico
no subúrbio do Rio de Janeiro, após sair da prisão, a doutora Nise da Silveira
(Gloria Pires) propõe uma nova forma de tratamento aos pacientes que sofrem da
esquizofrenia, eliminando o eletrochoque e lobotomia. Seus colegas de trabalho
discordam do seu meio de tratamento e a isolam, restando a ela assumir o
abandonado Setor de Terapia Ocupacional, onde dá início a uma nova forma de
lidar com os pacientes, através do amor e da arte.
TRAILER
O OLHAR DA
PSICOLOGIA
É
indiscutível a importância de Nise da Silveira, psiquiatra de reconhecimento
internacional ao defender terapias alternativas no tratamento de transtornos
mentais. O filme nos
presenteia com interpretações excelentes, retratando com fidedignidade uma
realidade cruel de sujeitos portadores dos mais diferentes tipos de transtornos
mentais e os procedimentos desumanos adotados na ocasião. A personalidade inquieta, inconformada e
desafiadora da psiquiatra é apresentada na trama, focando prioritariamente o
aspecto humano da profissional. Na tentativa de compreender
melhor as demandas daqueles pacientes, Nise ofereceu um lugar para expressão de
suas angústias, inaugurando um novo canal para trocas. Ela se preocupou com o
aspecto afetivo das doenças mentais, oferecendo espaço para que os sujeitos
pudessem “juntar os cacos” de si mesmo, numa tentativa de integração. Diferentes
aspectos sobre a importância de Nise da Silveira já tem sido exaustivamente discutido
nas críticas e nos diversos artigos sobre o filme. Aqui, escolhemos restringir as
considerações no aspecto humano da trama, desconsiderando o olhar na doença
mental e priorizando a saúde.
Desenvolvimento,
perdas, tempo, aventura, crescimento, relações familiares, sociais e afetivas.
SINOPSE
Alice (Mia Wasikowska) retorna após uma longa
viagem pelo mundo, e reencontra a mãe. No casarão de uma grande festa, ela
percebe a presença de um espelho mágico. A jovem atravessa o objeto e retorna
ao País das Maravilhas, onde descobre que o Chapeleiro Maluco (Johnny Depp)
corre risco de morte após fazer uma descoberta sobre seu passado. Para salvar o
amigo, Alice deve conversar com o Tempo (Sacha Baron Cohen) para voltar às
vésperas de um evento traumático e mudar o destino do Chapeleiro. Nesta
aventura, também descobre um trauma que separou as irmãs Rainha Branca (Anne
Hathaway) e Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter).
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O OLHAR DA
PSICOLOGIA
Alice
volta a personificar questões humanas do seu, porque não dizer do “nosso”, ”vir a
ser” constante. Em “Alice através do Espelho” acompanhamos sua jornada já na
idade adulta, diante dos desafios da vida, enfrentando tempestades e se arriscando
acreditar no impossível. Como ela diz: “A
única maneira de acreditar no impossível, é acreditar que é possível”, temos
assim o ponto de partida para mais uma aventura, repleta de metáforas, que
caminham em direção ao crescimento. A crítica não perdoou a inconsistência do
longa, apontando a falta de aprofundamento em qualquer dos temas, dos excessos de
efeitos e da fragilidade no desenvolvimento da trama que muito se distancia do
livro, segundo eles. Um olhar mais inocente irá se maravilhar com os efeitos
especiais e a realização do impossível na tela. Trata-se de uma aventura, que
mescla o universo infantil com o adulto, de forma leve, nos permitindo um belo
entretenimento.
Solidão, relações afetivas, familiares e sociais, bullying,
depressão.
SINOPSE
Fúsi é um homem de 43
anos que ainda mora com sua mãe, ainda não teve coragem de entrar na vida
adulta. Ele vive uma pacata rotina monótona, não temnamorada, sofrebullyingnotrabalho, dedica seu tempo
livre a carrinhos e maquetes. Sua rotina é alterada quando conhece Hera, uma
menina de 8 anos, e a vibrante Alma, parceira da aula de dança. Tudo poderá mudar.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Que filme! Difícil saber por
onde começar, quando encontramos um drama de tamanha riqueza temática. O título
original se refere apenas ao nome do personagem, diferente do título em
português, que faz questão de “rotular” mais de um personagem como desajustado.
Afinal, do que falamos quando usamos tal rótulo? Seriam desajustados aqueles
que não se “encaixam” nas regras sociais e culturais do momento e lugar? Seriam
desajustados aqueles que estão à margem da sociedade por diferentes razões? Ou,
são considerados “desajustados” aqueles facilmente diagnosticados pela
psiquiatria ou psicologia? Independente
da resposta, podemos pensar que a proposta do filme é contrária a esse olhar,
pois o espectador é convidado a partilhar das vivências de Fúsi. Numa que tem
produzido solidão, sendo favorecida pelo mundo virtual e por soluções mágicas
para as frustrações do cotidiano, é desconcertante assistir ao mundo solitário de
Fúsi. Diferente dos excessos de estímulos produzidos pelos avanços
tecnológicos, que preenchem espaços, sem que haja tempo de digerir as informações,
temos na trama uma solidão que é ocupada pela rotina monótona e quase
infantil. O mundo dele é de repetição, segurança, conformismo, mas também há delicadeza,
doçura, inocência e até força diante das situações enfrentadas. Em certos
momentos, é possível pensar que o mundo de Fúsi é anestesiado, aparentando ser
impossível para ele desejar outra forma de estar no mundo. No momento em que tem a oportunidade de denunciar o bullying que tem sofrido, ele não o faz. Para o espectador é difícil suspender julgamentos e concordar com sua forma de reação ou ausência dela. Cenas de seu
cotidiano exibem pequenos detalhes que em relação ao todo produzem sentidos e
significados. Não há desejo de mudanças, ele parece não esperar
mais nada da vida, sua rotina lhe basta. Novas relações surgem para tirar Fúsi
de sua zona de conforto, favorecendo outra perspectiva de vida.
Relações sociais e familiares, relação terapêutica, psicodiagnóstico, transtorno dissociativo de identidade.
SINOPSE
Frankie (Halle Berry) é uma dançarina noturna que
sofre com o transtorno de múltiplas personalidades, e luta diariamente contra
seus alter egos bem específicos: uma criança de sete anos chamada Genius e uma
mulher branca racista chamada Alice. A fim de eliminar estas vozes interiores,
ela passa a frequentar sessões com um psicoterapeuta, Dr. Oz (Stellan
Skarsgard), para decifrar e superar seus fantasmas pessoais.
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O OLHAR DA
PSICOLOGIA
Existe
um clássico sobre o tema chamado SYBIL, também baseado numa história real, que retrata
o tratamento do Transtorno Dissociativo de Identidade, originalmente denominadotranstorno de múltiplas personalidades, conhecido popularmente comodupla
personalidade. Naquele filme foi
apresentado o caso de 17 personalidades e a intervenção proposta era distinta
do caso descrito em Frankie e Alice. Dr. Oz é convocado para o atendimento de
Frankie, que após alguns problemas com a justiça, se propõe ao tratamento,
desde que seja ele o médico responsável. O transtorno Dissociativo de
Identidade é uma condição mental em que um único indivíduo demonstra
características de duas ou mais personalidades ou identidades distintas, cada
uma com sua maneira de perceber e interagir com o meio. O pressuposto é que ao
menos duas personalidades podem rotineiramente tomar o controle do
comportamento do indivíduo. O critério de diagnósticotambém leva em consideração perdas de
memória associadas, geralmente descritas comotempo perdidoou uma amnésiadissociativa aguda. Frankie sobrevivia com o dinheiro que ganhava num bar de
strip-tease e tinha um histórico de momentos de amnésia, acordando depois num
local desconhecido. Após observar pequenos detalhes no comportamento de
Frankie, o Dr, Oz levanta a hipótese de um caso clínico raro. A primeira observação
é a de que uma personalidade é fumante, a outra não. Daí em diante, ele
descobre diferenças no sotaque, na postura, até mesmo na cor! Ainda que Frankie
seja negra, uma das personalidades se apresenta como branca e racista.
Autismo, homossexualidade, homofobia,
perdas, luto, relações familiares, sociais e afetivas.
SINOPSE
O
filme apresenta a história de uma família obcecada com a ideia de parecer
perfeita. O único problema aparente dos Young é o filho mais novo, Nick, que
nasceu com Síndrome de Asperger, que faz com que a pessoa tenha dificuldades
para se socializar. Quando Chaz, o filho mais velho, morre em um acidente, a
família cai em pedaços e Nick então precisa juntar as peças para seguir em
frente.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Logo somos tocados pela
linda relação construída pelos irmãos Chaz e Nick. A paciência, o carinho, a
dedicação do irmão mais velho tornam o mundo de Nick mais rico, sua autoestima
mais elevada, e, claro, seu desejo de desenvolver habilidades para compreender
melhor o mundo são também ampliadas. Não há qualquer proximidade entre o
autista e seu pai, que não compreende sua forma de estar no mundo. Sua mãe,
apesar de interessada, não consegue acessar o mundo do caçula. Infelizmente,
Chaz sofre um acidente fatal e deixa os familiares perdidos em seu luto. Nick,
que tinha no irmão seu único elo com o mundo, se vê desamparado, perdido. Acompanhamos
o luto familiar e a dificuldade daquela família lidar não só com a perda, mas
também de encarar a condição autista do filho. Sem Chaz como intermediário,
tudo fica mais difícil, tanto para Nick, como para os familiares. Na busca de
elaborar o próprio luto e restaurar a si mesmo, Nick caminha através das dicas
deixadas pelo irmão. Se aproximar de seus amigos é um bom começo, o que nos
brinda com cenas emocionantes, ora delicadas, ora bem humoradas. Desconstruir a
imagem de perfeição do irmão mais velho se torna um aprendizado ímpar, não só
para Nick, mas também para toda a família. Fica evidente a dificuldade de perceber
a imperfeição de cada um, trazendo até o homossexualismo para pauta, o que
evidencia a homofobia no seio familiar.
O filme conta a história de
Marina e César, pais de duas crianças: Sofia de dez anos e Arthur(Eric Schon) de
seis . Quando tinha um ano e meio de idade, ele começou a apresentar um
comportamento diferente das outras crianças, como por exemplo a sua comunicação
era precária, parecia não ouvir quando seus pais o chamavam e quase não tinha
contato visual. Essas características levaram os pais a procurarem médicos e
especialistas. A longa busca dos pais só terminou quando Arthur completou seis
anos, e foi diagnosticado como autista. Marina sente maior responsabilidade
sobre o menino e decide se dedicar unicamente a tentar desenvolve-lo o máximo
possível. A família passará por momentos difíceis onde Marina colocará em
questão a sua capacidade de lidar com seu filho.
TRAILER
O OLHAR DA
PSICOLOGIA
Diante
do pouco incentivo financeiro, o curta-metragem foi um projeto audacioso. O
resultado não pode ser uma mega produção, no entanto, seu alcance superou
qualquer expectativa. Trata-se de um relato sobre as dificuldades enfrentadas
no cotidiano da família do autista. A família procura respostas diante do
comportamento da criança.
Deficiência auditiva e visual, limite, relação terapêutica,familiar, afetiva e aprendizagem.
SINOPSE
Final do século XIX, França. Marie Heurtin (Ariana Rivoire) é
uma moça que nasceu cega e surda. Vivendo em seu próprio mundo, sem conseguir
se comunicar, o pai dela a manda para um convento que cuida de crianças surdas.
Entretanto, devido à falta de condições para tratá-la, a madre superiora
(Brigitte Catillon) a recusa. Graças à insistência da freira Marie Margueritte
(Isabelle Carré), que diz que pode cuidar dela apesar de seu problema de saúde,
a madre superiora volta atrás em sua decisão. Só que fazer com que Marie
aprenda questões básicas de higiene e convívio com outras pessoas não é uma
tarefa nem um pouco fácil.
TRAILER
O OLHAR DA
PSICOLOGIA
Logo,
o filme “Helen Keller
e o Milagre de Anne Sullivan” foi lembrado, pois em ambos há a
relação entre a criança com deficiência visual/auditiva com alguém que se
disponibiliza a conectá-la ao seu entorno. Entretanto, o contexto familiar
difere muito. Enquanto Helen tinha uma família que colaborava para seu
isolamento, Marie tem outro contexto. Diante da situação de isolamento da
filha, é o pai quem tem a iniciativa de buscar ajuda para socializá-la. A
família tem consciência da necessidade de inserir a filha no universo social e
na aprendizagem. Aqui, falamos de uma criança igualmente isolada, com um mundo
próprio e um comportamento arredio, muitas vezes “animalesco”. Baseado em uma
história real do final do século XIX, o longa apresenta a irmã Marie
Margueritte, que embora tenha problemas de saúde, encontra naquela criança uma
oportunidade de sua frágil vida ganhar sentido. Socializar e educar aquela criança passa a ser
um desafio para a religiosa, que enfrenta a madre superiora e as reações
agressivas da menina, sem esmorecer. As cenas de confronto durante o processo
trazem, a cada dia, um novo desafio, muitas vezes tornando sua tarefa um
projeto aparentemente inviável. Ainda assim, apesar de todos os obstáculos e as
repetidas reações agressivas, a irmã não desiste. Durante o processo de
adaptação, a trama ressalta a importância do aprendizado da linguagem para o
desenvolvimento do ser humano. A diferença aqui é que além do campo afetuoso da
relação, temos também o aspecto religioso na construção da relação que liberta
Marie do isolamento. A grandiosidade das cenas está na exploração dos sentidos,
particularmente do tato, que aos poucos se torna um meio de comunicação primordial
para ambas. Sim, Margueritte também aprende no encontro. Um dos aspectos mais
bonitos na construção da relação entre ambas é a curiosidade da irmã em relação
ao universo da criança. Ela tenta compreender como seria viver sem ouvir e sem
ver, para partir de onde está a criança, de que lugar ela percebe o mundo. A
empatia necessária para a criação do vinculo fica evidente. Tal aspecto torna a
relação bastante terapêutica”, pois não há possibilidade de obter êxito numa relação
psicoterapêutica, por exemplo, se o ponto de partida não for o lugar de onde a
cliente se encontra no momento terapêutico. A incapacidade do profissional de
perceber este lugar pode inviabilizar o processo terapêutico. A criança percebe
o mundo desconhecido como hostil, tornar o universo social algo acessível e
possível, ampliar o universo da criança (por consequência, também o seu),
torna-se objetivo para a irmã.
Adolescência, escolha, perda, música, relações afetivas e familiares.
SINOPSE
Mia Hall (Chlöe Grace Moretz) é uma prodigiosa
musicista que vive a dúvida de ter que decidir entre a dedicação integral à
carreira na famosa escola Julliard e aquele que tem tudo para ser o grande amor
de sua vida, Adam (Jamie Blackley). Após sofrer um grave acidente de carro, a
jovem perde a família e fica à beira da morte. Em coma, ela reflete sobre o
passado e sobre o futuro que pode ter, caso sobreviva.
TRAILER
O
OLHAR DA PSICOLOGIA
Durante
a madrugada, fui surpreendida com o filme exibido na TV. Baseado em um Best Seller,
o enredo aborda o romance de um casal (adolescente) que é interrompido por um
acidente. Mia, que fica em coma no hospital, repassa momentos da vida, durante
a luta pela sobrevivência. A história se
desenvolve em duas linhas paralelas. Através deflashbacks, passamos a
conhecer a menina tímida dedicada ao violoncelo, que se apaixona pelo
guitarrista popular mais velho. Ao mesmo tempo, acompanhamos a luta de Mia pela
sobrevivência, circulando “literalmente” pelos corredores do hospital, pesando
se vale a pena continuar a viver depois da tragédia. Prepare o lenço,
difícil não se emocionar. Os bons diálogos ficam por conta dos pais, que são
responsáveis por tiradas espetaculares, como o momento em que o pai convence a
filha, afirmando que: “culpas e subornos são aspectos que unem as famílias por
séculos”. O filme parte de uma tragédia para discutir relações familiares,
perdas, escolhas. O longa lida com questões pertinentes ao universo juvenil, ou
seja, dúvidas em relação ao amor, às escolhas e o medo de arriscar. A diferença
dos estilos musicais revela aspectos importantes para o crescimento de ambos, e
ainda, presenteiam o público com extremo bom gosto. Trata-se de um entretenimento,
melodramático e capaz de tocar o coração do espectador. Pode ser usado como
ponto de partida para discutir perdas, escolhas, medos e paixões experimentadas
pelo adolescente. E, como nada é definitivo, o desfecho sugerido (final feliz),
em sua continuação, sofre um revez. E novas questões são colocadas em “Para
onde ela foi”, onde o resultado de suas escolhas são o foco, trazendo novos
questionamentos.
Pedofilia, pré-julgamento, relação terapêutica, familiar e social, psicoterapia, investigação psicológicas, calúnia, sexualidade
SINOPSE
Não recomendado para menores de 14 anos 2012 - Lucas (Mads Mikkelsen) trabalha em uma creche. Simpático e amigo
de todos, ele tenta reconstruir a vida após um divórcio complicado, no qual
perdeu a guarda do filho. Tudo corre bem até que, um dia, a pequena Klara
(Annika Wedderkopp), de apenas cinco anos, diz à diretora da creche que Lucas
lhe mostrou suas partes íntimas. Klara na verdade não tem noção do que está
dizendo, apenas quer se vingar por se sentir rejeitada em uma paixão infantil
que nutre por Lucas. A acusação logo faz com que ele seja afastado do trabalho
e, mesmo sem que haja algum tipo de comprovação, seja perseguido pelos
habitantes da cidade em que vive.
TRAILER
O
OLHAR DA PSICOLOGIA
Difícil,
angustiante, porque não dizer, dilacerante. O tema central do filme é um
assunto delicado, difícil e desconfortável, a possibilidade de pedofilia. Assunto que causa
revolta, inconformismo, prejuízos incalculáveis para os envolvidos. Entretanto,
nem sempre a acusação de pedofilia é verídica. Difícil ser imparcial num
processo semelhante, que pode promover reações imprevisíveis. A trama foca numa
acusação inocente, sem bases consistentes, mas é o suficiente para marcar a
vida do acusado e despertar reações psicológicas, físicas e emocionais
incontroláveis em seu entorno. Sim, é doloroso se colocar no lugar do professor
acusado injustamente. É impressionante assistir o processo que transforma a sua
vida, sem que isso afete a sua forma doce de lidar com as crianças, mesmo em
relação àquela que foi fonte de seu sofrimento. Se, por um lado temos uma
pessoa acusada injustamente, por outro, temos pessoas reagindo à possibilidade de
um fato grotesco, a pedofilia. Inimaginável se colocar no lugar dos pais em
situação semelhante. Tudo começa com uma reação infantil a uma frustração. A
pequena Klara, inconformada com a sensação de rejeição, busca em sua imaginação
uma forma de se vingar. Sua experiência recente com o irmão mais velho oferece
material suficiente para sua vingança. Ela não tinha ideia do que viu, ouviu e usou
em como fonte, muito menos das possíveis consequências de sua ação.
Acompanhamos o cuidado inicial da diretora da creche, que pretendia investigar
o caso com cuidado. No entanto, ela também é contaminada pelas atitudes
inconsequentes do profissional recomendado para averiguar o caso, o psicólogo
da escola. Teremos, então, um exemplo equivocado de investigação. No lugar de
aguardar o fenômeno se revelar, acompanhamos um processo indutivo por parte do
profissional. Sim, infelizmente, o profissional induz a criança durante a
entrevista. Na conversa, fica claro que ele parte do pressuposto de ter
ocorrido o abuso, de que o professor é culpado, o equívoco profissional começa
aí. A equivocada entrevista do profissional é o ponto de partida para o desdobramento da trama, nos colocando no lugar do acusado, que acaba por ser estigmatizado sem que haja provas suficientes. Se por um lado, o filme apresenta um exemplo equivocado de entrevista psicológica, por outro, nos abre a oportunidade de auxílio ao acusado, permitindo outra perspectiva.
Mitos familiares,
herança transgeracional, segredo, questões de gênero, relação familiar,
terapêutica e social, preconceito, amizade e psicodiagnóstico.
SINOPSE
Em 1959,
Vianne (Juliette Binoche) se muda com a filha para uma pequena cidade francesa
e abre uma loja de bombons e chocolates com guloseimas de dar água na boca. Mas
ela enfrenta oposição: é mãe solteira, trabalha aos domingos e prepara doces
que fazem qualquer um ceder à tentação da gula. Alguns moradores planejam
expulsar Vianne da cidade, temendo que ela perturbe a moral do lugar. Tem
início um confronto entre os conservadores e os que desejam o sabor
recém-descoberto.
TRAILER
O
OLHAR DA PSICOLOGIA
Quase
6 anos depois de ter assistido, tive a oportunidade de rever CHOCOLATE, filme
de 2000 repleto de assuntos, um prato cheio para discussão. Podemos começar
pelo uso do chocolate como “remédio para alma”, servindo para libertar os
desejos de quem o consome. Ainda que em menor proporção, o chocolate era indicado
pelos povos antigos como afrodisíaco, por despertar a sensação de prazer.
Vianne herdou dos seus antepassados as receitas mágicas de chocolate. Ao chegar
à Cidade, ela abre uma loja para encantar os consumidores. A cada cliente que
chega, ela aguça sua percepção para o que pode ser revelado, encontrando a
indicação necessária para cada um. Mas, ela não é a única a seguir tradições, o
conde também é guardião de tradição, só que de forma opressora, influenciado
por outras normas (religiosas, sociais e acadêmicas). Aqui temos o encontro das
diferentes perspectivas, o lugar da tensão, do conflito, espaço onde a trama se
desenvolve. Enquanto a dona da doceria representa movimento, o conde é a
personificação da tranquilidade, da rotina, da suposta segurança. As mudanças
não são bem vindas. Ele controla uma sociedade fechada em si mesma, com pessoas
escravizadas pela norma ditadas pela tradição familiar do nobre. Os valores
estagnados são ameaçados pela transgressora, que é mãe solteira. Logo, é
possível perceber as cores alegres das estrangeiras, o que destoa do cinzento e
aparentemente pacato vilarejo. Desde então, já é possível refletir sobre a
dificuldade que há em qualquer mudança, seja em sistemas familiares ou neuroses
pessoais, que insistem estagnar em nome de uma suposta segurança. O novo pode
ser percebido como ameaça. Não se trata de olhar a tradição como algo negativo,
ao contrário, tradição pode ser o suporte necessário para nos adaptarmos às
mudanças, desde que estejamos abertos para atualizações. A tradição do Conde
era controladora, opressora, fechada, aparentemente tranquila e segura. Os
existencialistas já sinalizaram a respeito do que é considerado um “dilema
humano”, ou seja, segurança versus liberdade - quanto maior a liberdade, menor
a segurança, e, vice-versa. Aí está
apenas a premissa inicial da trama, que apresentará os diferentes conflitos nas
relações familiares e/ou sociais. Vianne
utiliza as diferentes formas do chocolate para destravar cadeados que
aprisionavam os cidadãos.
Relações afetivas e sociais, sexualidade, transsexualidade, transtorno de identidade de gênero.
SINOPSE
Não recomendado para menores de 14
anos
Cinebiografia de Lili Elbe (Eddie Redmayne), que nasceu Einar
Mogens Wegener e foi a primeira pessoa a se submeter a uma cirurgia de mudança
de gênero. Em foco o relacionamento amoroso do pintor dinamarquês com Gerda
(Alicia Vikander) e sua descoberta como mulher.
TRAILER
O
OLHAR DA PSICOLOGIA
O
filme é a cinebiografia de Lili Elbe, nascido Einar Mogens Wegener, um artista
plástico dinamarquês que teria sido a primeira pessoa a se submeter a uma
cirurgia de mudança de gênero. A década de 20 era um momento em que a
medicina ainda não estava preparada para lidar com as possíveis complicações
daquela intervenção. É preciso considerar que o filme foi baseado em um livro,
que por sua vez foi baseado em uma história real, um marco na história da
medicina e uma porta que se abria para os transexuais. Na adaptação para o
cinema, importantes detalhes foram omitidos ou modificados. Por exemplo, Lili
foi submetida a 4 cirurgias, pois encontrou o amor e pretendia constituir
família, ter filhos. Segundo diversos relatos, na ocasião de sua morte, Gerda
já não convivia com Lili, que estava acompanhada de seu novo amor, um curador
de artes. Gerda, por sua vez, bissexual assumida, após se divorciar do segundo
marido, não obteve sucesso profissional e se tornou alcoólatra, encerrando sua
passagem pela vida no anonimato. Embora não haja qualquer menção à
bissexualidade de Gerdra na trama, é possível considerar algumas pistas, seja
no roteiro ou na interpretação da atriz. A
trama foca o relacionamento do artista com sua esposa Gerda, sua descoberta como mulher e a reação de ambos
durante o processo. Não há exposição sobre as reações da sociedade. As
críticas não foram favoráveis nem ao desfecho do filme, nem a forma, sendo considerada
por muitos como rasa na abordagem do assunto. Fato é que o enredo abre uma brecha
para discussão e melhor compreensão do que é ser transexual. Esclarecendo:
Diferente da homossexualidade, que é caracterizada apenas pela
atração sexual e afetiva entre indivíduos do mesmo sexo, sem que haja incômodo
com o próprio corpo, a transexualidade traz uma pessoa que não se identifica
com o seu corpo, seu gênero psicológico não corresponde ao físico. Independente da ficção, a trama denuncia
algumas questões reais. Por exemplo, na procura de solução para seu incômodo,
Lili encontra até o diagnóstico de esquizofrenia. Dentre outras intervenções que tentavam "resolver" a questão, o choque também foi utilizado,
Relações
sociais, afetivas e terapêuticas, saúde mental, reforma psiquiátrica, normal e
patológico.
SINOPSE
Não recomendado
para menores de 14 anos - baseado em um conto do mestre Edgar Allan Poe. Um
jovem recém-graduado na faculdade de medicina assume um cargo numa instituição
mental e logo se vê apaixonado por uma de seus colegas - e tal distração não
permite que ele perceba uma terrível mudança no corpo de funcionários.
TRAILER
O
OLHAR DA PSICOLOGIA
Indicado por uma cliente, o filme
apresenta um quadro não tão distante de nossa realidade. Ainda que se desenrole
de uma forma um tanto quanto absurda, o filme oferece a oportunidade de refletirmos
sobre as diferentes e ultrajantes formas de tratamento daqueles que não são
considerados “normais”. Aliás, ótima oportunidade para questionarmos o que é
necessário para consideramos alguém normal. A saúde mental é o foco do enredo,
que em diferentes momentos retrata a realidade dos manicômios do século
passado. Ainda que muitas intervenções façam parte da história, é preciso rever
as mudanças e questionar as verdadeiras transformações realizadas. Em pleno
século XXI, ainda temos tratamentos desumanos, pois a reforma psiquiátrica
ainda não alcançou seus plenos objetivos. Ainda é possível encontrar tratamentos
desumanos, falta de esclarecimento na sociedade, falta de humanidade com
qualquer pessoa que não apresente comportamento comum ou esperado. Enfim, o filme é também denúncia, quando dá voz aos “pacientes”.
Qual o limite entre a sanidade e a loucura? Sem a pretensão de responder a
questão, o filme abre discussão sobre o tema, que volta para o foco de diferentes segmentos sociais contemporâneos. Como dizia um professor da faculdade, quem pode garantir que
sabe onde está a chave de seu próprio manicômio? Difícil responder, nenhum de
nós pode ter certeza, pois a certeza é parte consistente do quadro da loucura,
tanto quanto a dúvida é pressuposto necessário para a saúde. Não podemos falar
muito sobre o enredo, sem revelar partes importantes da trama, portanto,
recomendo que assistam, e, assim, visitem os próprios sentidos que darão a
trama.
Relações afetivas, familiares e sociais, terceira idade,
cinema, juventude, vida e morte.
SINOPSE
Fred (Michael Caine) e Mick (Harvey Keitel), dois
velhos amigos com quase 80 anos de idade cada, estão passando as férias em um
luxuoso hotel. Fred é um compositor e maestro aposentado, Mick é um cineasta em
atividade. Juntos, os dois passam a se recordar de suas paixões da infância e
juventude. Enquanto Mick luta para finalizar o roteiro daquele que ele
acha que será seu último grande filme, Fred não tem a mínima vontade de voltar
à música. Entretanto, muita coisa pode mudar.
TRAILER
O
OLHAR DA PSICOLOGIA
Do que pode falar um filme que exibe o
título juventude e apresenta em seguida a imagem de corpos enrugados,
exatamente o oposto do que é anunciado? Paolo Sorrentino parte de opostos, e, com
um toque de ironia dá início a uma reflexão séria sobre a vida. Falamos de
opostos ou de partes de uma coisa só? As polaridades são o ponto de partida
para compreendermos um pouco mais sobre a necessidade de uma visão mais ampla
sobre integração, sobre aquilo que se completa e não são de fato opostos. Vida
e morte são parte da discussão, tendo em vista que passado, presente e futuro
são temas de dois amigos: Fred e Mick questionam a idade, a proximidade da morte e o
tempo, com reverência e aceitação. O que é juventude, afinal? Jovens que
desejam aparentar mais idade, idosos que querem rejuvenescer, onde está a vida?
Se no presente se vive o futuro e no futuro investimos a energia no passado,
onde fica o presente da vida?
Relações sociais, familiares e afetivas, crenças e valores, cultura, religião.
SINOPSE
No início do verão
em um vilarejo turco, Lale e suas 4 irmãs brincam de forma debochada com os
meninos, o que acarreta em um escândalo de consequências muito fortes: a casa
delas se torna praticamente uma prisão, elas aprendem a limpar ao invés de ir
para a escola e seus casamentos começam a ser arranjados. As cinco não deixam
de desejar a liberdade, e tentam resistir aos limites que lhes são impostos.
TRAILER
O
OLHAR DA PSICOLOGIA
Viajar
o mundo e conhecer outras culturas é uma forma de ampliar nosso olhar. Se de um
lado, algumas culturas são capazes de flexibilizar nossos conceitos, outros nos
oportunizam a gratidão pelos conceitos e pré-conceitos de nosso universo
cultural. Ainda assim, como qualquer experiência, prazerosa ou não, saímos
enriquecidos da experiência. “Cinco graças” provoca diferentes reflexões,
revelando conceitos particulares daquela cultura, que escolhe oprimir as
adolescentes, para que possam cumprir as regras morais. Ainda que não haja o
desejo sincero de exercer atos punitivos, seguindo os preceitos da religião
muçulmana conservadora, todos estão condicionados a regras tão poderosas, que
já se reproduzem sozinhas (sem que seja necessária uma intervenção explícita
dos representantes da igreja). As regras morais fazem parte do que foi
apreendido como “receita do bom viver”. Isso nos fez pensar naquilo que Ângelo
Gaiarsa alertava na relação mãe e filho. De fato, independente das regras
morais e sociais, cada mãe apreende uma “receita pronta” sobre ser “boa mãe”.
Muitas se esforçam tanto para exercer tal receita apreendida durante o próprio
desenvolvimento, que acabam por esquecer-se de ver e ouvir o próprio
filho, que traz outros olhares, novas linguagens e necessidades.
Relações afetivas e familiares, infância, sequestro, depressão,transtorno pós-traumático, relações sociais e potencialidades.
SINOPSE
O
longa conta a história de Jack (Jacob Tremblay) , um menino de cinco anos que é
criado por sua mãe, Ma (Brie Larson). Como toda boa mãe, Ma se dedica a manter
Jack feliz e seguro e a criar uma relação de confiança com ele através de
brincadeiras e histórias antes de dormir. Contudo, a vida dos dois não é nada
normal: eles estão presos em um espaço de 10m², um minúsculo quarto sem
janelas, com apenas uma claraboia Enquanto a curiosidade de Jack sobre a
situação em que vivem aumenta, a resiliência de Ma alcança um ponto de ruptura.
Os dois, então, começam a traçar um plano de fuga. Ao mesmo tempo em que conta
uma história de cativeiro e liberdade, O Quarto de Jack destaca o triunfante
poder do amor familiar mesmo na pior das circunstâncias.
TRAILER
O
OLHAR DA PSICOLOGIA
Profundamente
tocante, o filme é intenso, angustiante. Acompanhamos o início da trama sem
compreender direito a razão daquela forma restrita de Ma educar o filho. Aos
poucos percebemos a grandeza daquela mãe, que transforma a condição de
cativeiro em um mundo particular, explorando a fantasia e transbordando afeto
para seu filho. Jack desconhece a possibilidade de existir um mundo diferente
daquele. Para ele, tudo que é apresentado na televisão é irreal, é fantasia, é de
mentira. Ainda com a angústia provocada pelos acontecimentos restritos ao quarto,
fomos transportados para "nossas neuroses de cada dia". É sabido sobre a
importância dos eventos e impressões registrados em nossos primeiros anos de
vida, compondo assim nosso mundo, que pode ser considerado verdadeiro e único. O que muitas vezes torna difícil
aceitar outras perspectivas. Entretanto, ainda que as experiências iniciais
sejam dolorosas, é possível que existam outras pessoas capazes de apresentar outras
versões, que ampliam nossas possibilidades. Ainda assim, na infância há questões
difíceis de serem questionadas ou superadas, dificultando nosso processo de
desenvolvimento. Pode ser pela ausência de afeto, por excesso de “verdades”, por violência,
valores restritos, julgamentos exacerbados, etc. Independente do que acontece
nesta fase, é fato que se torna parte do que nos tornamos, parte difícil de ser desconsiderada ou
questionada. Na abordagem Gestáltica, vemos o homem como um ser que se constrói
através dos contatos que faz com o seu meio - pessoas com diferentes perspectivas -, num
processo eterno de vir a ser. É muito importante mantermos contatos
nutritivos, com pessoas que colaboram para nosso desenvolvimento, evitando
cristalizações, engessamentos produzidos em contatos tóxicos – pessoas que
prejudicam nosso processo. Muitas vezes, os contatos tóxicos da infância nos
contaminam, tornando difícil aceitar outras perspectivas, produzindo conflitos
que nos paralisam diante da vida. Sintomas diversos expressam a necessidade de
mudança, ao mesmo tempo em que revelam um difícil obstáculo, em uma paralisação ou repetição É o momento de
pedir ajuda profissional de um psicólogo, um psiquiatra ou ambos. Outras vezes,
contatos nutritivos nos ajudam a superar tais conflitos, favorecendo nosso
desenvolvimento através do afeto, transformando nosso mundo, até então
empobrecido, restrito. Certamente, Jack tem afeto e suporte para seu
desenvolvimento. No entanto, seu mundo se restringe ao quarto e sua mãe, um universo
afetuoso, entretanto, limitado.
Infância, relações familiares, sociais e afetivas, solidão, educação, controle, universo lúdico, criatividade e sensibilidade.
SINOPSE
Uma garota acaba de se mudar com a mãe, uma controladora obsessiva que deseja definir antecipadamente todos os passos da filha para que ela seja aprovada em uma escola conceituada. Entretanto, um acidente provocado por seu vizinho faz com que a hélice de um avião abra um enorme buraco em sua casa. Curiosa em saber como o objeto parou ali, ela decide investigar. Logo conhece e se torna amiga de seu novo vizinho, um senhor que lhe conta a história de um pequeno príncipe que vive em um asteróide com sua rosa e, um dia, encontrou um aviador perdido no deserto em plena Terra.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
O assunto do setting terapêutico girava em torno do tema pontuado pela irmã, que sinalizou sua forma séria de educar. Nós conversávamos sobre o quanto a responsabilidade de educar provoca certa seriedade, principalmente em situações de pais separados, quando aquele que fica com a criança tem que fazer dois papéis, pai e mãe. O projeto de educar ocupa a mente da mãe ou pai de tal forma, que eles se esquecem de relaxar, brincar, acessar a criança em suas necessidades básicas. Lembrei-me, então, de um alerta de Ângelo Gaiarsa, um psiquiatra brasileiro, que afirmava que muitas mães estão tão preocupadas em serem “boas mães”, e, investem toda energia em alguma “receita” aprendida. Durante o processo há desperdício de energia, o que torna impossível ouvir o próprio filho com suas demandas particulares. Hoje fui ver O PEQUENO PRÍNCIPE, e, logo no início me lembrei desse episódio, quando em off, o personagem fala “Os adultos esquecem de brincar”. Imediatamente, percebi que o filme podia superar minhas expectativas. Sim, o filme é indicado não só para crianças, mas também para todo pai ou mãe, que ao se preocupar com o futuro do filho (a), planeja, investe e controla as suas atividades, visando a “melhor educação” para um futuro promissor. Durante esse processo, eles se esquecem de brincar, de ouvir e de participar efetivamente do universo da criança, muitas vezes sufocando seu potencial criativo. Além disso, na ânsia de garantir o futuro de um filho, eles abandonam a criança interior, deixam de se divertir com a família, ficam sempre alertas para o comportamento “certo” e “errado” do filho, assim, afastam as possibilidades de crescerem juntos, de forma prazerosa, criativa e divertida. Voltando ao filme, quem conhece o livro também poderá se surpreender, pois a trama vai um pouco além do que foi proposto no livro de Saint-Exupéry.
Três gerações de uma família se encontram na casa da matriarca para um fim de semana. Doente terminal, ela está decidida a acabar com sua vida naquele domingo e, por isso, deseja dar o adeus final a seus entes mais queridos. Sanne e Heidi, suas filhas, já concordaram em acatar a decisão da mãe de partir antes da doença se agravar, mas a proximidade com o fim faz da decisão algo cada vez mais difícil de lidar. Enquanto o fim de semana progride, antigos conflitos voltam a atormentá-los.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
“Coração Mudo” (2014) do dinamarquês Bille August (Marie Krøyer – 2012, Trem Noturno para Lisboa – 2013). O filme explora um tema polêmico, estamos falando de eutanásia. Diferentes aspectos são apontados na trama, envolvendo a decisão de um suicídio com o consentimento de toda a família, a aceitação e sofrimento dos envolvidos, segredos familiares, conflitos antigos e a experiência de viver um luto antecipado. As três gerações da família enfrentam a difícil questão, cada qual com sua perspectiva singular. Aos poucos vamos conhecendo a dinâmica das relações da família, as questões pessoais de cada elemento, sua forma de enfrentar a possível despedida. Somos convidados a refletir nossos lutos, nossas questões pessoais e familiares, nosso sistema de relações. Esther sofre de esclerose lateral amiotrófica, uma doença que irá acabar com ela em questão de pouco tempo: ela não terá mais os movimentos do corpo, perderá a consciência e no fim precisará de ajuda até para respirar. Com o consentimento de todos da família, eles farão uma despedida num fim de semana. Quando o momento chegar, tudo acontecerá sem que não fique claro tratar-se de escolha. Não será um final de semana fácil, definitivamente, não!