quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Envelhescência - documentário

ASSUNTO

Terceira idade, processo de envelhescimento, relações sociais, potencialidades, relações familiares

SINOPSE

Dirigido por Gabriel Martinez e com argumento de Ruggero Fiandanese, o longa metragem Envelhescência relata a história de seis pessoas que vivem a vida de maneira plena e nos mostram, através de suas próprias experiências, que os costumes e a rotina após os 60 anos podem ser repletos de atividades e bom humor. Intercalado com comentários de especialistas (Alexandre Kalache, Mirian Goldenberg e Mário Sergio Cortella) o filme sugere uma nova perspectiva sobre o significado do envelhecimento em nossas vidas. Seis pessoas, todas com mais de 60 anos e idade, vivem de maneira plena a sua velhice. Ainda que com limitações físicas e adaptações à sua rotina, os idosos comprovam que os prazeres da vida não se esgotam, mas sim, se renovam.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

A quem pode incomodar ver uma senhora idosa que escolhe tatuagens por todo corpo? Talvez, às pessoas que estão presas a uma imagem congelada sobre o envelhecimento. Ainda há os que espera encontrar as vovós sentadas na cadeira de balanço fazendo croché, esperando a casa encher com os netos, etc. Entretanto, as idosas e os idosos do século XXI estão diferentes, em maior número e realizando diferentes atividades. Envelhecer não mais é sinônimo de esperar a vida acabar, muito pelo contrário, é tempo de se permitir viver, escolher novas formas sem se preocupar em agradar aos outros. A liberdade da terceira idade é exaltada no documentário, que apresenta um olhar atual sobre a vida. Apesar ou por razão dos limites já imposto pelo desgaste físico, a maturidade é também o momento de liberdade, de inaugurar outras formas de vivenciar o agora em sua plenitude, é hora de realizar, o tempo é já! Como dito por Miriam Goldenberg, há beleza na velhice e precisamos prestar atenção!! Os seis personagens entrevistados no documentário dão uma lição de vida, não só para os envelhescentes, para para qualquer ser humano que pretenda escolher viver, e, quem sabe ter o provilégio de chegar lá. Envelhecer com honestidade é olhar para o possível e não usar a velhice como desculpa para desistir da vida. Cada qual com suas experiências e escolhas, os entrevistados mostram diferentes formas de usufluir a plenitude da vida. Portanto, uma aula de vida para aqueles que não se permitem viver o próprio potencial, falamos também de jovens e adultos que ainda não chegaram lá, mas se acomodaram. É lindo assistir personagens reais que estão mudando esteriótipos encontrando novas perspectivas. Eles mostram que as limitações impostas historicamente são irreais, pois tudo é possível, nunca é tarde para mudar, para escolher, para realizar, para viver! Quebrando paradigmas, o documentário retrata novas possibilidades, enfatizando a aceitação da idade, não como um castigo, mas como um momento de liberdade, quando a experiência oferece suporte para novas e belas realizações. Vale muito conferir, recomendado para todas as idades!
Para quem tiver net, está disponível no now para aluguel, divirta-se!

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

6 anos

ASSUNTO

Relações afetivas, sociais e familiares, casal adolescente,


SINOPSE

Um jovem casal, Dan (Ben Rosenfield) e Mel (Taissa Farmiga), se conhecem desde a infância e estão namorando há 6 anos. A princípio, eles parecem ter um amor ideal, mas a notícia de uma oportunidade de emprego para Dan pode abalar o romance e mudar o rumo das coisas dependendo da escolha que ele fizer. Talvez o futuro que eles tinham imaginados juntos não se torne mais uma realidade.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA


O filme retrata os altos e baixos de um relacionamento, particularmente no que se refere ao primeiro amor, o primeiro sonho de construir uma vida compartilhada. Mas, no fundo, cada amor é único, vivenciado como especial e capaz de ser para sempre... Viver uma paixão é acreditar que será para sempre! Dan e Melanie se conhecem dede a infância, eles partilharam momentos de amor e de dor, vivenciaram diferentes experiências, cresceram juntos. A relação do casal não é possessiva, eles vivem uma relação saudável, respeitam a individualidade, revelam-se como exemplo de “casal perfeito”. Os seis anos se tornam um marco. Os amigos estranham e comentam, alegando que a estabilidade daquela reação poderia roubar outras experiências. O “casal fofo” não aparenta ser afetado, a princípio. Entretanto, logo surge desconforto, carência, descompasso,  descuido. A intimidade construída ao longo do tempo revela outra face, a fronteira individual é invadida de forma inesperada. De forma sutil, a trama revela a violência, o que favorece o debate sobre o perigo das relações amorosas abusivas. Qual é o limite entre uma discussão saudável e o descontrole, o desrespeito, a violência física ou psicológica? O mundo gira, revelando que a perfeição não existe. As mudanças são necessárias, as frustrações fazem parte do desenvolvimento. A capacidade de lidar com as mudanças e frustrações é testada, o que provoca constantemente o encontro com a imperfeição humana. Acontecimentos internos e externos, previsíveis ou não, fazem parte da vida. Nem sempre é possível lidar com as crises, seja por traição ou por uma reação descontrolada capaz romper a barreira do respeito. Existem traições que ajudam ao casal a lidar com a crise, afinal pode ser o sintoma da relação,  capaz de revelar a necessidade do contrato amoroso ser revisado.  Entretanto, a crise de qualquer relação, seja de 6, 7 ou qualquer outro par de anos, pode servir para o fim de um ciclo, um recomeço, ou, pode resultar no rompimento. Tudo vai depender da forma do casal lidar com as mudanças. Aí está o charme do filme, que retrata possíveis transformações rotineiras de qualquer relação amorosa. Assim como uma roupa ou sapato podem deixar de ser confortáveis, a relação pode se transformar a ponto de não ser mais confortável para os envolvidos, buscar ajustes, adaptações ou descartar, romper? Eis a questão. Sair da zona de conforto é sempre difícil, ainda que não seja mais tão confortável assim... O desenrolar da trama não pretende apontar caminhos, nem definir soluções, apenas conta como é possível para eles lidar com aquela crise. Aliás, o amadurecimento individual pode ser um ponto a ser considerado, pois a ‘certeza’ sai nitidamente da pauta do casal, abrindo novas possibilidades, talvez incompatíveis com o status quo. 

sábado, 17 de setembro de 2016

O nosso ultimo verão na Escócia / O que nós fizemos no nosso feriado (Netflix)

ASSUNTO

Relações familiares, afetivas e sociais, doença terminal. depressão, separação e morte.

SINOPSE

Doug e Abi decidem viajar até à Escócia com os três filhos pequenos, para comemorar o aniversário de Gordie, o pai de Doug, que celebra 75 anos. No entanto, os dois têm um segredo que gostariam de esconder do resto da família, mas não será nada fácil ocultar o divórcio com as crianças por perto… E o que prometia ser uma harmoniosa reunião familiar acaba por trazer à superfície ressentimentos passados, quando um dia na praia se transforma em tragédia e as crianças põem mãos-à-obra para resolver o assunto.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA


Os pais (Doug e Abbi) estão em processo de divórcio, não se ouvem mais, discutem o tempo todo e fazem uma viagem juntos para comemorar o aniversário do pai de Doug, na Escócia. As crianças, visivelmente afetadas pela separação e brigas constantes dos pais, prometem não contar ao restante da família, que os pais já moram em casas separadas. Elas sabem que o aniversariante está doente, entretanto não sabem que a doença é terminal. A família, como qualquer outra, tem lá seus segredos e problemas. Aos poucos, as questões emergem, revelando o avesso do mundo adulto. Mas é o olhar das crianças que nos permite vislumbrar a obviedade da vida. Temas como separação, depressão e morte são apresentados com suavidade, sem que o peso e a complicação do mundo adulto, que usa o raciocínio lógico para se afastar dos “sentidos”. É assim mesmo, as crianças mantém os sentidos aguçados, vivem em plenitude as percepções de mundo, sem que qualquer obstáculo racional impeça a experiência. E, são esses personagens graciosos os responsáveis pelo encantamento e delicadeza da trama. Temos, de fato, muito que aprender com as crianças! O avô, prestes a fazer 75 anos e enfrentando a doença terminal, tem uma relação emocionante com os netos. Os diálogos são impregnados de doçura e clareza, não há regra social capaz de obstruir a comunicação entre eles.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Já estou com saudades

ASSUNTO
Relações afetivas, sociais, familiares, câncer, amizade, parceria, luto.

SINOPSE
Jess (Drew Barrymore) e Milly (Toni Collette) são melhores amigas desde a infância. Enquanto Milly se casou, teve dois filhos e construiu uma carreira de sucesso, Jess decidiu levar uma vida pacata ao lado do marido Jago (Paddy Considine). Após se submeter a um tratamento, Jess enfim consegue engravidar. Mas a notícia vem justamente quando Milly descobre ter câncer de mama e precisa passar por quimioterapia, o que necessitará do apoio não apenas da amiga, mas de toda a família.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

O tema central já foi apresentado em diferentes ocasiões, falamos de Câncer, uma doença devastadora que atinge grande parte da humanidade. A dificuldade em lidar com as pequenas e grandes questões (sociais, físicas, psicológicas) são apresentadas de forma clara e honesta. Temos como pano de fundo a amizade sólida de duas parceiras de vida, mulheres que se conhecem desde a infância e partilharam aventuras e desventuras ao longo da vida. Os pontos e contrapontos são costurados entre ambas, durante o processo de declínio de Milly frente à doença, e, da busca e conquista de Jess, na construção da própria família. Prepare o lenço, as lágrimas serão prováveis, bem como as risadas, muitas vezes provocadas por diálogos inteligentes e com de pitadas de  humor. Há uma honestidade quase cruel nos pequenos gestos, encontros e desencontros atravessados pelo processo do adoecimento de Milly.

domingo, 28 de agosto de 2016

Amizades Improváveis

ASSUNTO
Luto, separação, distrofia muscular, isolamento, adolescência.

SINOPSE
Após sofrer com uma tragédia, Ben se torna um cuidador para conseguir dinheiro. Seu primeiro cliente, Trevor, é um divertido jovem de 18 anos com distrofia muscular. Um paralisado emocionalmente, outro paralisado fisicamente, Ben e Trevor saem pela estrada para encontrar esperança, amizades, e Dot neste engraçado e emocionante conto. Jennifer Ehle, Megan Ferguson, e Frederick Weller completam o elenco ao lado do trio principal.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Amizades improváveis é uma produção da Netflix despretensiosa, foi baseada em um livro homônimo e desenvolvida como um Road Movie. Ainda que toque em temas de conflitos existenciais, o longa não aprofunda, o que o torna leve, sem tons excessivamente dramáticos. Ben está em processo de luto, com dificuldade de lidar com a perda do filho e o divórcio eminente. O escritor se afasta do próprio ofício e mergulha no curso de Cuidador, esta foi a forma encontrada para evitar seu luto. Aqui, abro parênteses, pois ainda que apresentado de forma superficial, sua estratégia é bastante usada em momentos de perdas ou crises existenciais. É comum ver pessoas mergulhadas em projetos, investindo energia, “ocupando” todo o tempo em algo que substitua a vivência da dor eminente. Evitar a dor é um mecanismo de defesa muito comum, que nem sempre se desdobra de forma favorável. Algumas vezes, o a fuga da elaboração do luto pode ser apenas uma forma de adiar, podendo resultar em um quadro depressivo devido ao acumulo de dor não elaborada. Não é o caso de Ben, pois sua intenção é frustrada, a escolha dele se desdobra em situações que tenta evitar: o enfrentamento de seu luto. Trevor surge como possibilidade de seu primeiro trabalho , se tornando parte importante do caminho de retorno de Ben. O rapaz não é nada simpático, tem distrofia muscular, isolamento social, é implicante e provocador. Logo, percebemos que as provocações farão parte da relação, impossibilitando que ambos permaneçam na zona de conforto. Assim, iniciam uma viagem, na qual poderão conhecer mais sobre o outro e sobre si mesmos.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Mar adentro

ASSUNTO
Relações sociais, familiares e afetivas, eutanásia, direito de esdcolha.

SINOPSE
No Filme Online Mar Adentro, Ramón Sampedro (Javier Bardem) é um homem que luta para ter o direito de pôr fim à sua própria vida. Na juventude ele sofreu um acidente, que o deixou tetraplégico e preso a uma cama por 28 anos. Lúcido e extremamente inteligente, Ramón decide lutar na justiça pelo direito de decidir sobre sua própria vida, o que lhe gera problemas com a igreja, a sociedade e até mesmo seus familiares.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Recentemente, postamos sobre o filme COMO EU ERA ANTES DE VOCÊ, um drama romanceado que discute um tema semelhante ao de MAR ADENTRO: O direito de escolha, a dignidade do ser. O foco do tema é maior no drama de 2004, razão para este post.  Ramón afirma repetidamente “Viver é um direito, não uma obrigação”. Difícil compreender o desejo dele de acabar com a própria vida. Acompanhamos um homem inteligente, sagaz, sensível e íntegro, lutando para ter o direito de escolher o final da própria vida. Em um primeiro momento, é possível pensar que o filme defende sua posição, só que não. O filme apresenta diferentes argumentos, contra e a favor da eutanásia. Desde sempre, ele difere de outros, não se usa como exemplo. Seu sorriso, que impressiona por sua magnitude, é expressão de tristeza, embora pareça o contrário. Ele afirma que em suas condições, aprendeu a chorar através do sorriso. Desconcertante, pois para o espectador, seu sorriso poderia ser uma bela razão para manter sua vida. É seu sorriso que ilumina os que o cercam, apesar de ser também cruel em sua relação com a realidade dos fatos: a morte é para a maioria uma possibilidade, menos para os que dependem de outrem. Ele luta pelo direito de escolha! Sua escolha é clara, pensada e repensada por 28 anos.

domingo, 17 de julho de 2016

Anomalisa


ASSUNTO
“Síndrome de Fregoli”, Depressão, solidão, relações sociais e afetivas,  deturpação dos sentidos

SINOPSE.
Michael Stone (voz de David Thewis) é um palestrante motivacional, marido, pai e respeitado autor de “Como Posso Ajudá-lo a Ajudá-los?” Michael, que acaba de chegar à cidade de Connecticut é um homem incomodado com a rotina da sua vida. Ele segue do aeroporto direto para o hotel, onde está programado para dar uma palestra em uma convenção, onde entra em contato com um antigo caso para que possam se reencontrar. A iniciativa não dá certo, mas Michael se surpreende ao descobrir uma possível escapada de seu desespero: Lisa, uma despretensiosa representante de vendas, que pode ou não ser o amor de sua vida. 

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O OLHAR DA PSICOLOGIA
“Anomalisa” é uma animação para adultos, aliás, para poucos, embora imperdível. Há que se ter abertura para mergulhar no conflito existencial de Stone, e, perceber o mundo a partir dele. Sim, existe distorção na percepção dele em relação ao meio. Não existe problema na percepção singular de cada ser, entretanto, logo fica claro que há algo errado na percepção dele, que não consegue diferenciar a singularidade do outro.  Lhe falta empatia? Talvez, mas não é a única questão explorada. Acompanhamos a rotina monótona de alguém que, apesar do sucesso com seu livro motivacional, se encontra sem qualquer motivação em sua rotina. Há um pé dele no passado mal resolvido, algo não compreendido, situação inacabada - conceito caro para Abordagem gestáltica. Desde o início, é possível perceber uma voz comum a todos os outros personagens, o que sugere sua indiferença em relação ao seu entorno. Vozes e rostos sugerem uma semelhança incompreensível, talvez uma máscara única em todos, além da voz única para diferentes personagens, independente do gênero.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Como eu era antes de você


ASSUNTO
Relações afetivas,  deficiência física, singularidade, livre-arbítrio, e, dos conceitos gestálticos, destacamos: Contato e fronteira de contato.

SINOPSE
Às vezes você encontra o amor onde menos imagina. E às vezes ele te leva onde nunca esperou ir. Louisa "Lou" Clark vive em uma pitoresca cidade de campo inglesa. Sem direção certa em sua vida, a criativa e peculiar garota de 26 anos vai de um emprego a outro para tentar ajudar sua família com as despesas. Seu jeito alegre no entanto é colocado à prova quando enfrenta o novo desafio de sua carreira. Ao aceitar um trabalho no "castelo" da cidade, ela se torna cuidadora e acompanhante de Will Traynor, um banqueiro jovem e rico que se tornou cadeirante após um acidente ocorrido dois anos antes, mudando seu o mundo dramaticamente em um piscar de olhos. Não mais uma alma aventureira, mas o agora cínico Will, está prestes a desistir. Isso até Lou ficar determinada a mostrar a ele que a vida vale ser vivida. Embarcando juntos em uma série de aventuras, Lou e Will irão obter mais do que esperavam e encontrarão suas vidas - e corações - mudando de um jeito que não poderiam ter imaginado.
Rico e bem sucedido, Will (Sam Claflin) leva uma vida repleta de conquistas, viagens e esportes radicais até ser atingido por uma moto, ao atravessar a rua em um dia chuvoso. O acidente o torna tetraplégico, obrigando-o a permanecer em uma cadeira de rodas. A situação o torna depressivo e extremamente cínico, para a preocupação de seus pais (Janet McTeer e Charles Dance). É neste contexto que Louisa Clark (Emilia Clarke) é contratada para cuidar de Will. De origem modesta, com dificuldades financeiras e sem grandes aspirações na vida, ela faz o possível para melhorar o estado de espírito de Will e, aos poucos, acaba se envolvendo com ele.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Um filme que difere de outros romances, não só por seu desdobramento, mas também por pequenos detalhes que fazem diferença. Por exemplo, o início mostra o “mocinho” antes e durante o acidente, que o tornará tetraplégico. No momento do atropelamento, Will estava distraído no celular. A cena pode passar despercebida, mas não deixa de retratar uma realidade da nossa era, portanto, trata-se de um alerta ou de uma crítica sutil. Por outro lado, temos personagens fortes, capazes de nos provocar reflexões. Louise é dedicada, atrapalhada, quase caricata, mas não há dúvida que tratamos de uma pessoa capaz de realizar verdadeiros contatos. Se por um lado, a mesma se vira para atender às necessidades do próximo, sua identidade fica bem definida em seu comportamento autêntico.  Na abordagem Gestáltica a fronteira é ao mesmo tempo o lugar de contato e de imite, é o lugar da tensão e do acontecimento, da diferença e do crescimento. Poucos personagens apresentam a fronteira tão flexível quanto à da “mocinha”, que nos encanta com sua forma de funcionar no mundo. Ela não abre mão de suas roupas estranhamente simpáticas, que marcam sua presença. No entanto, abre mão de si mesma para dar lugar ao outro querido, seja um familiar ou qualquer pessoa que evidencie alguma necessidade pessoal. É uma personagem ímpar! Will é alguém que não suporta ver o mundo de outra perspectiva. O acidente o obriga a visitar outros olhares, ele se recusa. Após sua nova condição, Will apresenta sintomas depressivos, um mau humor constante, um desprezo pela vida. A luz de Lou pode tornar o mundo menos cinza e apresentar encantamento ao rapaz, mas não é suficiente para que ele desista de seu plano. Ainda assim, somos convidados a assistir uma relação de contato entre ambos, que sendo afetados por aquele contato autêntico, se transformam. O afeto é oque afeta e se arrisca a ser afetado, o que, de fato, transforma. Ampliados em sua forma singular de existir, ambos crescem através daquele contato.

domingo, 19 de junho de 2016

Mothers and Daughters 2016 (Mães e filhas?)



ASSUNTO
Relações familiares e afetivas, segredo familiar, adoção, perdas

SINOPSE
A fotógrafa Rigby Gray (Selma Blair) deseja produzir um ensaio sobre o papel da Mãe em diferentes famílias.Desde então, inicia um projeto que a faz refletir sobre sua relação com a mãe e outras possibilidades de relação semelhante. Buscando modelos, ela irá conhecer diferentes histórias que a ajudarão a rever seu papel de filha, ao mesmo tempo que se percebe grávida, e questiona sua possibilidade de tornar-se mãe.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Rigby reflete sobre sua forma de olhar o mundo e o papel de sua mãe em seu viver. Diante das cenas capturadas por sua lente de fotógrafa, o filme segue apresentando outras histórias, que depois farão parte do seu projeto. De forma dinâmica, o espectador é convidado a conhecer diferentes situações que se desdobrarão durante o longa. Aos poucos, conhecemos diferentes mães e filhas, cada qual com suas particularidades.

sábado, 18 de junho de 2016

Nise: O coração da loucura

ASSUNTO
Saúde mental, Movimento antimanicomial, Arteterapia, Terapia ocupacional, relação terapêutica, relações sociais, afetivas e familiares.

SINOPSE
Ao voltar a trabalhar em um hospital psiquiátrico no subúrbio do Rio de Janeiro, após sair da prisão, a doutora Nise da Silveira (Gloria Pires) propõe uma nova forma de tratamento aos pacientes que sofrem da esquizofrenia, eliminando o eletrochoque e lobotomia. Seus colegas de trabalho discordam do seu meio de tratamento e a isolam, restando a ela assumir o abandonado Setor de Terapia Ocupacional, onde dá início a uma nova forma de lidar com os pacientes, através do amor e da arte.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

É indiscutível a importância de Nise da Silveira, psiquiatra de reconhecimento internacional ao defender terapias alternativas no tratamento de transtornos mentais. O filme nos presenteia com interpretações excelentes, retratando com fidedignidade uma realidade cruel de sujeitos portadores dos mais diferentes tipos de transtornos mentais e os procedimentos desumanos adotados na ocasião.  A personalidade inquieta, inconformada e desafiadora da psiquiatra é apresentada na trama, focando prioritariamente o aspecto  humano  da profissional. Na tentativa de compreender melhor as demandas daqueles pacientes, Nise ofereceu um lugar para expressão de suas angústias, inaugurando um novo canal para trocas. Ela se preocupou com o aspecto afetivo das doenças mentais, oferecendo espaço para que os sujeitos pudessem “juntar os cacos” de si mesmo, numa tentativa de integração. Diferentes aspectos sobre a importância de Nise da Silveira já tem sido exaustivamente discutido nas críticas e nos diversos artigos sobre o filme. Aqui, escolhemos restringir as considerações no aspecto humano da trama, desconsiderando o olhar na doença mental e priorizando a saúde.

Alice através do espelho


ASSUNTO
Desenvolvimento, perdas, tempo, aventura, crescimento, relações familiares, sociais e afetivas.

SINOPSE
Alice (Mia Wasikowska) retorna após uma longa viagem pelo mundo, e reencontra a mãe. No casarão de uma grande festa, ela percebe a presença de um espelho mágico. A jovem atravessa o objeto e retorna ao País das Maravilhas, onde descobre que o Chapeleiro Maluco (Johnny Depp) corre risco de morte após fazer uma descoberta sobre seu passado. Para salvar o amigo, Alice deve conversar com o Tempo (Sacha Baron Cohen) para voltar às vésperas de um evento traumático e mudar o destino do Chapeleiro. Nesta aventura, também descobre um trauma que separou as irmãs Rainha Branca (Anne Hathaway) e Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter).
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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Alice volta a personificar questões humanas do seu, porque não dizer do “nosso”, ”vir a ser” constante. Em “Alice através do Espelho” acompanhamos sua jornada já na idade adulta, diante dos desafios da vida, enfrentando tempestades e se arriscando acreditar no impossível.  Como ela diz: “A única maneira de acreditar no impossível, é acreditar que é possível”, temos assim o ponto de partida para mais uma aventura, repleta de metáforas, que caminham em direção ao crescimento. A crítica não perdoou a inconsistência do longa, apontando a falta de aprofundamento em qualquer dos temas, dos excessos de efeitos e da fragilidade no desenvolvimento da trama que muito se distancia do livro, segundo eles. Um olhar mais inocente irá se maravilhar com os efeitos especiais e a realização do impossível na tela. Trata-se de uma aventura, que mescla o universo infantil com o adulto, de forma leve, nos permitindo um belo entretenimento.

sábado, 21 de maio de 2016

Desajustados (Fúsi) - 2015



ASSUNTO
Solidão, relações afetivas, familiares e sociais, bullying, depressão.

SINOPSE
Fúsi é um homem de 43 anos que ainda mora com sua mãe, ainda não teve coragem de entrar na vida adulta. Ele vive uma pacata rotina monótona, não tem namorada, sofre bullying no trabalho, dedica seu tempo livre a carrinhos e maquetes. Sua rotina é alterada quando conhece Hera, uma menina de 8 anos,  e  a vibrante Alma, parceira da aula de dança. Tudo poderá mudar.





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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Que filme! Difícil saber por onde começar, quando encontramos um drama de tamanha riqueza temática. O título original se refere apenas ao nome do personagem, diferente do título em português, que faz questão de “rotular” mais de um personagem como desajustado. Afinal, do que falamos quando usamos tal rótulo? Seriam desajustados aqueles que não se “encaixam” nas regras sociais e culturais do momento e lugar? Seriam desajustados aqueles que estão à margem da sociedade por diferentes razões? Ou, são considerados “desajustados” aqueles facilmente diagnosticados pela psiquiatria ou psicologia?  Independente da resposta, podemos pensar que a proposta do filme é contrária a esse olhar, pois o espectador é convidado a partilhar das vivências de Fúsi. Numa que tem produzido solidão, sendo favorecida pelo mundo virtual e por soluções mágicas para as frustrações do cotidiano, é desconcertante assistir ao mundo solitário de Fúsi. Diferente dos excessos de estímulos produzidos pelos avanços tecnológicos, que preenchem espaços, sem que haja tempo de digerir as informações, temos na trama uma solidão que é ocupada pela rotina monótona e quase infantil. O mundo dele é de repetição, segurança, conformismo, mas também há delicadeza, doçura, inocência e até força diante das situações enfrentadas. Em certos momentos, é possível pensar que o mundo de Fúsi é anestesiado, aparentando ser impossível para ele desejar outra forma de estar no mundo. No momento em que tem a oportunidade de denunciar o bullying que tem sofrido, ele não o faz. Para o espectador é difícil suspender julgamentos e concordar com sua forma de reação ou ausência dela.  Cenas de seu cotidiano exibem pequenos detalhes que em relação ao todo produzem sentidos e significados. Não há desejo de mudanças, ele parece não esperar mais nada da vida, sua rotina lhe basta. Novas relações surgem para tirar Fúsi de sua zona de conforto, favorecendo outra perspectiva de vida.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Frankie e Alice


ASSUNTO
Relações sociais e familiares, relação terapêutica, psicodiagnóstico, transtorno dissociativo de identidade.

SINOPSE
Frankie (Halle Berry) é uma dançarina noturna que sofre com o transtorno de múltiplas personalidades, e luta diariamente contra seus alter egos bem específicos: uma criança de sete anos chamada Genius e uma mulher branca racista chamada Alice. A fim de eliminar estas vozes interiores, ela passa a frequentar sessões com um psicoterapeuta, Dr. Oz (Stellan Skarsgard), para decifrar e superar seus fantasmas pessoais.





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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Existe um clássico sobre o tema chamado SYBIL, também baseado numa história real, que retrata o tratamento do Transtorno Dissociativo de Identidade, originalmente denominado transtorno de múltiplas personalidades, conhecido popularmente como dupla personalidade. Naquele filme foi apresentado o caso de 17 personalidades e a intervenção proposta era distinta do caso descrito em Frankie e Alice. Dr. Oz é convocado para o atendimento de Frankie, que após alguns problemas com a justiça, se propõe ao tratamento, desde que seja ele o médico responsável. O transtorno Dissociativo de Identidade é uma condição mental em que um único indivíduo demonstra características de duas ou mais personalidades ou identidades distintas, cada uma com sua maneira de perceber e interagir com o meio. O pressuposto é que ao menos duas personalidades podem rotineiramente tomar o controle do comportamento do indivíduo. O critério de diagnóstico também leva em consideração perdas de memória associadas, geralmente descritas como tempo perdido ou uma amnésia dissociativa aguda. Frankie sobrevivia com o dinheiro que ganhava num bar de strip-tease e tinha um histórico de momentos de amnésia, acordando depois num local desconhecido. Após observar pequenos detalhes no comportamento de Frankie, o Dr, Oz levanta a hipótese de um caso clínico raro. A primeira observação é a de que uma personalidade é fumante, a outra não. Daí em diante, ele descobre diferenças no sotaque, na postura, até mesmo na cor! Ainda que Frankie seja negra, uma das personalidades se apresenta como branca e racista.

White Frog

ASSUNTO
Autismo, homossexualidade, homofobia, perdas, luto, relações familiares, sociais e afetivas.

SINOPSE
O filme apresenta a história de uma família obcecada com a ideia de parecer perfeita. O único problema aparente dos Young é o filho mais novo, Nick, que nasceu com Síndrome de Asperger, que faz com que a pessoa tenha dificuldades para se socializar. Quando Chaz, o filho mais velho, morre em um acidente, a família cai em pedaços e Nick então precisa juntar as peças para seguir em frente.







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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Logo somos tocados pela linda relação construída pelos irmãos Chaz e Nick. A paciência, o carinho, a dedicação do irmão mais velho tornam o mundo de Nick mais rico, sua autoestima mais elevada, e, claro, seu desejo de desenvolver habilidades para compreender melhor o mundo são também ampliadas. Não há qualquer proximidade entre o autista e seu pai, que não compreende sua forma de estar no mundo. Sua mãe, apesar de interessada, não consegue acessar o mundo do caçula. Infelizmente, Chaz sofre um acidente fatal e deixa os familiares perdidos em seu luto. Nick, que tinha no irmão seu único elo com o mundo, se vê desamparado, perdido. Acompanhamos o luto familiar e a dificuldade daquela família lidar não só com a perda, mas também de encarar a condição autista do filho. Sem Chaz como intermediário, tudo fica mais difícil, tanto para Nick, como para os familiares. Na busca de elaborar o próprio luto e restaurar a si mesmo, Nick caminha através das dicas deixadas pelo irmão. Se aproximar de seus amigos é um bom começo, o que nos brinda com cenas emocionantes, ora delicadas, ora bem humoradas. Desconstruir a imagem de perfeição do irmão mais velho se torna um aprendizado ímpar, não só para Nick, mas também para toda a família. Fica evidente a dificuldade de perceber a imperfeição de cada um, trazendo até o homossexualismo para pauta, o que evidencia a homofobia no seio familiar.

Arthur e o infinito, um olhar sobre o Autismo.

ASSUNTO
Autismo, relações familiares e afetivas.

SINOPSE
O filme conta a história de Marina e César, pais de duas crianças: Sofia de dez anos e Arthur(Eric Schon) de seis . Quando tinha um ano e meio de idade, ele começou a apresentar um comportamento diferente das outras crianças, como por exemplo a sua comunicação era precária, parecia não ouvir quando seus pais o chamavam e quase não tinha contato visual. Essas características levaram os pais a procurarem médicos e especialistas. A longa busca dos pais só terminou quando Arthur completou seis anos, e foi diagnosticado como autista. Marina sente maior responsabilidade sobre o menino e decide se dedicar unicamente a tentar desenvolve-lo o máximo possível. A família passará por momentos difíceis onde Marina colocará em questão a sua capacidade de lidar com seu filho.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Diante do pouco incentivo financeiro, o curta-metragem foi um projeto audacioso. O resultado não pode ser uma mega produção, no entanto, seu alcance superou qualquer expectativa. Trata-se de um relato sobre as dificuldades enfrentadas no cotidiano da família do autista. A família procura respostas diante do comportamento da criança.

quinta-feira, 24 de março de 2016

A linguagem do coração

ASSUNTO
Deficiência auditiva e visual, limite, relação terapêutica,familiar, afetiva e aprendizagem.

SINOPSE
Final do século XIX, França. Marie Heurtin (Ariana Rivoire) é uma moça que nasceu cega e surda. Vivendo em seu próprio mundo, sem conseguir se comunicar, o pai dela a manda para um convento que cuida de crianças surdas. Entretanto, devido à falta de condições para tratá-la, a madre superiora (Brigitte Catillon) a recusa. Graças à insistência da freira Marie Margueritte (Isabelle Carré), que diz que pode cuidar dela apesar de seu problema de saúde, a madre superiora volta atrás em sua decisão. Só que fazer com que Marie aprenda questões básicas de higiene e convívio com outras pessoas não é uma tarefa nem um pouco fácil.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Logo, o filme “Helen Keller e o Milagre de Anne Sullivan” foi lembrado, pois em ambos há a relação entre a criança com deficiência visual/auditiva com alguém que se disponibiliza a conectá-la ao seu entorno. Entretanto, o contexto familiar difere muito. Enquanto Helen tinha uma família que colaborava para seu isolamento, Marie tem outro contexto. Diante da situação de isolamento da filha, é o pai quem tem a iniciativa de buscar ajuda para socializá-la. A família tem consciência da necessidade de inserir a filha no universo social e na aprendizagem. Aqui, falamos de uma criança igualmente isolada, com um mundo próprio e um comportamento arredio, muitas vezes “animalesco”. Baseado em uma história real do final do século XIX, o longa apresenta a irmã Marie Margueritte, que embora tenha problemas de saúde, encontra naquela criança uma oportunidade de sua frágil vida ganhar sentido.  Socializar e educar aquela criança passa a ser um desafio para a religiosa, que enfrenta a madre superiora e as reações agressivas da menina, sem esmorecer. As cenas de confronto durante o processo trazem, a cada dia, um novo desafio, muitas vezes tornando sua tarefa um projeto aparentemente inviável. Ainda assim, apesar de todos os obstáculos e as repetidas reações agressivas, a irmã não desiste. Durante o processo de adaptação, a trama ressalta a importância do aprendizado da linguagem para o desenvolvimento do ser humano. A diferença aqui é que além do campo afetuoso da relação, temos também o aspecto religioso na construção da relação que liberta Marie do isolamento. A grandiosidade das cenas está na exploração dos sentidos, particularmente do tato, que aos poucos se torna um meio de comunicação primordial para ambas. Sim, Margueritte também aprende no encontro. Um dos aspectos mais bonitos na construção da relação entre ambas é a curiosidade da irmã em relação ao universo da criança. Ela tenta compreender como seria viver sem ouvir e sem ver, para partir de onde está a criança, de que lugar ela percebe o mundo. A empatia necessária para a criação do vinculo fica evidente. Tal aspecto torna a relação bastante terapêutica”, pois não há possibilidade de obter êxito numa relação psicoterapêutica, por exemplo, se o ponto de partida não for o lugar de onde a cliente se encontra no momento terapêutico. A incapacidade do profissional de perceber este lugar pode inviabilizar o processo terapêutico. A criança percebe o mundo desconhecido como hostil, tornar o universo social algo acessível e possível, ampliar o universo da criança (por consequência, também o seu), torna-se objetivo para a irmã.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Se eu ficar

ASSUNTO
Adolescência, escolha, perda, música, relações afetivas e familiares.

SINOPSE
Mia Hall (Chlöe Grace Moretz) é uma prodigiosa musicista que vive a dúvida de ter que decidir entre a dedicação integral à carreira na famosa escola Julliard e aquele que tem tudo para ser o grande amor de sua vida, Adam (Jamie Blackley). Após sofrer um grave acidente de carro, a jovem perde a família e fica à beira da morte. Em coma, ela reflete sobre o passado e sobre o futuro que pode ter, caso sobreviva.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Durante a madrugada, fui surpreendida com o filme exibido na TV. Baseado em um Best Seller, o enredo aborda o romance de um casal (adolescente) que é interrompido por um acidente. Mia, que fica em coma no hospital, repassa momentos da vida, durante a luta pela sobrevivência. A história se desenvolve em duas linhas paralelas. Através de flashbacks, passamos a conhecer a menina tímida dedicada ao violoncelo, que se apaixona pelo guitarrista popular mais velho. Ao mesmo tempo, acompanhamos a luta de Mia pela sobrevivência, circulando “literalmente” pelos corredores do hospital, pesando se vale a pena continuar a viver depois da tragédia. Prepare o lenço, difícil não se emocionar. Os bons diálogos ficam por conta dos pais, que são responsáveis por tiradas espetaculares, como o momento em que o pai convence a filha, afirmando que: “culpas e subornos são aspectos que unem as famílias por séculos”. O filme parte de uma tragédia para discutir relações familiares, perdas, escolhas. O longa lida com questões pertinentes ao universo juvenil, ou seja, dúvidas em relação ao amor, às escolhas e o medo de arriscar. A diferença dos estilos musicais revela aspectos importantes para o crescimento de ambos, e ainda, presenteiam o público com extremo bom gosto. Trata-se de um entretenimento, melodramático e capaz de tocar o coração do espectador. Pode ser usado como ponto de partida para discutir perdas, escolhas, medos e paixões experimentadas pelo adolescente. E, como nada é definitivo, o desfecho sugerido (final feliz), em sua continuação, sofre um revez. E novas questões são colocadas em “Para onde ela foi”, onde o resultado de suas escolhas são o foco, trazendo novos questionamentos.


A caça

ASSUNTO
Pedofilia, pré-julgamento, relação terapêutica, familiar e social, psicoterapia, investigação psicológicas, calúnia, sexualidade

SINOPSE
Não recomendado para menores de 14 anos 
2012 - Lucas (Mads Mikkelsen) trabalha em uma creche. Simpático e amigo de todos, ele tenta reconstruir a vida após um divórcio complicado, no qual perdeu a guarda do filho. Tudo corre bem até que, um dia, a pequena Klara (Annika Wedderkopp), de apenas cinco anos, diz à diretora da creche que Lucas lhe mostrou suas partes íntimas. Klara na verdade não tem noção do que está dizendo, apenas quer se vingar por se sentir rejeitada em uma paixão infantil que nutre por Lucas. A acusação logo faz com que ele seja afastado do trabalho e, mesmo sem que haja algum tipo de comprovação, seja perseguido pelos habitantes da cidade em que vive.

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Difícil, angustiante, porque não dizer, dilacerante. O tema central do filme é um assunto delicado, difícil e desconfortável, a possibilidade de pedofilia. Assunto que causa revolta, inconformismo, prejuízos incalculáveis para os envolvidos. Entretanto, nem sempre a acusação de pedofilia é verídica. Difícil ser imparcial num processo semelhante, que pode promover reações imprevisíveis. A trama foca numa acusação inocente, sem bases consistentes, mas é o suficiente para marcar a vida do acusado e despertar reações psicológicas, físicas e emocionais incontroláveis em seu entorno. Sim, é doloroso se colocar no lugar do professor acusado injustamente. É impressionante assistir o processo que transforma a sua vida, sem que isso afete a sua forma doce de lidar com as crianças, mesmo em relação àquela que foi fonte de seu sofrimento. Se, por um lado temos uma pessoa acusada injustamente, por outro, temos pessoas reagindo à possibilidade de um fato grotesco, a pedofilia. Inimaginável se colocar no lugar dos pais em situação semelhante. Tudo começa com uma reação infantil a uma frustração. A pequena Klara, inconformada com a sensação de rejeição, busca em sua imaginação uma forma de se vingar. Sua experiência recente com o irmão mais velho oferece material suficiente para sua vingança. Ela não tinha ideia do que viu, ouviu e usou em como fonte, muito menos das possíveis consequências de sua ação. Acompanhamos o cuidado inicial da diretora da creche, que pretendia investigar o caso com cuidado. No entanto, ela também é contaminada pelas atitudes inconsequentes do profissional recomendado para averiguar o caso, o psicólogo da escola. Teremos, então, um exemplo equivocado de investigação. No lugar de aguardar o fenômeno se revelar, acompanhamos um processo indutivo por parte do profissional. Sim, infelizmente, o profissional induz a criança durante a entrevista. Na conversa, fica claro que ele parte do pressuposto de ter ocorrido o abuso, de que o professor é culpado, o equívoco profissional começa aí. A equivocada entrevista do profissional é o ponto de partida para o desdobramento da trama, nos colocando no lugar do acusado, que acaba por ser estigmatizado sem que haja provas suficientes. Se por um lado, o filme apresenta um exemplo equivocado de entrevista psicológica, por outro, nos abre a oportunidade de auxílio ao acusado, permitindo outra perspectiva.

Chocolate

ASSUNTO
Mitos familiares, herança transgeracional, segredo, questões de gênero, relação familiar, terapêutica e social, preconceito, amizade e psicodiagnóstico.

SINOPSE
Em 1959, Vianne (Juliette Binoche) se muda com a filha para uma pequena cidade francesa e abre uma loja de bombons e chocolates com guloseimas de dar água na boca. Mas ela enfrenta oposição: é mãe solteira, trabalha aos domingos e prepara doces que fazem qualquer um ceder à tentação da gula. Alguns moradores planejam expulsar Vianne da cidade, temendo que ela perturbe a moral do lugar. Tem início um confronto entre os conservadores e os que desejam o sabor recém-descoberto.

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Quase 6 anos depois de ter assistido, tive a oportunidade de rever CHOCOLATE, filme de 2000 repleto de assuntos, um prato cheio para discussão. Podemos começar pelo uso do chocolate como “remédio para alma”, servindo para libertar os desejos de quem o consome. Ainda que em menor proporção, o chocolate era indicado pelos povos antigos como afrodisíaco, por despertar a sensação de prazer. Vianne herdou dos seus antepassados as receitas mágicas de chocolate. Ao chegar à Cidade, ela abre uma loja para encantar os consumidores. A cada cliente que chega, ela aguça sua percepção para o que pode ser revelado, encontrando a indicação necessária para cada um. Mas, ela não é a única a seguir tradições, o conde também é guardião de tradição, só que de forma opressora, influenciado por outras normas (religiosas, sociais e acadêmicas). Aqui temos o encontro das diferentes perspectivas, o lugar da tensão, do conflito, espaço onde a trama se desenvolve. Enquanto a dona da doceria representa movimento, o conde é a personificação da tranquilidade, da rotina, da suposta segurança. As mudanças não são bem vindas. Ele controla uma sociedade fechada em si mesma, com pessoas escravizadas pela norma ditadas pela tradição familiar do nobre. Os valores estagnados são ameaçados pela transgressora, que é mãe solteira. Logo, é possível perceber as cores alegres das estrangeiras, o que destoa do cinzento e aparentemente pacato vilarejo. Desde então, já é possível refletir sobre a dificuldade que há em qualquer mudança, seja em sistemas familiares ou neuroses pessoais, que insistem estagnar em nome de uma suposta segurança. O novo pode ser percebido como ameaça. Não se trata de olhar a tradição como algo negativo, ao contrário, tradição pode ser o suporte necessário para nos adaptarmos às mudanças, desde que estejamos abertos para atualizações. A tradição do Conde era controladora, opressora, fechada, aparentemente tranquila e segura. Os existencialistas já sinalizaram a respeito do que é considerado um “dilema humano”, ou seja, segurança versus liberdade - quanto maior a liberdade, menor a segurança, e, vice-versa.  Aí está apenas a premissa inicial da trama, que apresentará os diferentes conflitos nas relações familiares e/ou sociais.  Vianne utiliza as diferentes formas do chocolate para destravar cadeados que aprisionavam os cidadãos.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

A Garota Dinamarquesa


ASSUNTO
Relações afetivas e sociais, sexualidade, transsexualidade, transtorno de identidade de gênero.

SINOPSE
Não recomendado para menores de 14 anos 

Cinebiografia de Lili Elbe (Eddie Redmayne), que nasceu Einar Mogens Wegener e foi a primeira pessoa a se submeter a uma cirurgia de mudança de gênero. Em foco o relacionamento amoroso do pintor dinamarquês com Gerda (Alicia Vikander) e sua descoberta como mulher.

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O filme é a cinebiografia de Lili Elbe, nascido Einar Mogens Wegener, um artista plástico dinamarquês que teria sido a primeira pessoa a se submeter a uma cirurgia de mudança de gênero. A década de 20 era um momento em que a medicina ainda não estava preparada para lidar com as possíveis complicações daquela intervenção. É preciso considerar que o filme foi baseado em um livro, que por sua vez foi baseado em uma história real, um marco na história da medicina e uma porta que se abria para os transexuais. Na adaptação para o cinema, importantes detalhes foram omitidos ou modificados. Por exemplo, Lili foi submetida a 4 cirurgias, pois encontrou o amor e pretendia constituir família, ter filhos. Segundo diversos relatos, na ocasião de sua morte, Gerda já não convivia com Lili, que estava acompanhada de seu novo amor, um curador de artes. Gerda, por sua vez, bissexual assumida, após se divorciar do segundo marido, não obteve sucesso profissional e se tornou alcoólatra, encerrando sua passagem pela vida no anonimato. Embora não haja qualquer menção à bissexualidade de Gerdra na trama, é possível considerar algumas pistas, seja no roteiro ou na interpretação da atriz. A trama foca o relacionamento do artista com sua esposa Gerda,  sua descoberta como mulher e a reação de ambos durante o processo. Não há exposição sobre as reações da sociedade. As críticas não foram favoráveis nem ao desfecho do filme, nem a forma, sendo considerada por muitos como rasa na abordagem do assunto. Fato é que o enredo abre uma brecha para discussão e melhor compreensão do que é ser transexual. Esclarecendo: Diferente da homossexualidade, que é caracterizada apenas pela atração sexual e afetiva entre indivíduos do mesmo sexo, sem que haja incômodo com o próprio corpo, a transexualidade traz uma pessoa que não se identifica com o seu corpo, seu gênero psicológico não corresponde ao físico.  Independente da ficção, a trama denuncia algumas questões reais. Por exemplo, na procura de solução para seu incômodo, Lili encontra até o diagnóstico de esquizofrenia. Dentre outras intervenções que tentavam "resolver" a questão, o choque também foi utilizado,