quarta-feira, 7 de março de 2012

Um método perigoso

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ASSUNTO
Psicologia, psicanálise, análise Junguiana, Casal e família, sexualidade, relações acadêmicas e sociais.
Imediatamente após assistir ao filme, me senti na obrigação de rever “Jornada da alma”, produção francesa de 2003 que retrata o mesmo período, com outro olhar. Para profissionais e estudantes de psicologia, ambos são mais do que indicados, são obrigatórios. Para quem deseja maior aprofundamento, sugiro que abra a aba RESENHAS, onde poderá encontrar maiores detalhes sobre os filmes.
O enfoque de UM MÉTODO PERIGOSO inclui Freud e acrescenta alguns detalhes da relação entre ele e Jung, revelando não só a diferença social entre ambos, como também o fato de Jung não ser judeu. Otto Gross também aparece na fita, retratado como paciente encaminhado por Freud para Jung, e apontado como possível provocador da ação de Jung em direção ao relacionamento amoroso com a paciente. Considerando algumas peculiaridades de cada filme, destaco a seguir algumas passagens deste:
O diretor escolhe dar ênfase as expressões de Sabina para indicar suas perturbações. Dr. Jung se revela mais diretivo, ao iniciar o a primeira sessão com a pergunta: “Você tem alguma idéia do que pode ter provocado os seus ataques?” Em seguida, somos apresentados ao termo “humilhação”, que passa a ser o foco da paciente para o que lhe angustia e lhe dá prazer/culpa. O teste de associação de palavras, aqui é aplicado por Jung com a ajuda de Sabina em Emma. Sabina já o está ajudando no trabalho e na interpretação, desenhando a possibilidade de tornar-se médica um dia. Durante às sessões, Sabina aponta as surras que levava do pai como algo excitante e provocante, exitando-a ao ponto de não conseguir conter o desejo de se masturbar. Jung retoma a primeira surra e  reforça suas sensações, ao que ela responde que gostou. Dois anos se passam e Jung visita Freud em Viena. O filme apresenta, então, alguns tópicos divergentes desde o início da relação. Jung já aponta sua discordância em alguns aspectos da psico-análise, - ao que Freud corrige “psicanálise”, como por exemplo, a ênfase na sexualidade. Também discorda do que Freud aponta como fixação na fase anal de sua cliente. Em outra cena, Jung insiste em contestar  a interpretação exclusivamente sexual do material clínico. Em outro momento, Freud aponta o círculo judeu da psicanálise como agravante para não aceitação da mesma e completa a discordância de Jung como um pensamento protestante. Aqui percebemos a divergência político-religiosa entre ambos. Em outro momento, Jung relata o sonho dos cavalos e ambos discutem a interpretação. Jung escolhe se referir as diversas gestações de sua esposa, que de fato interromperam seu crescimento profissional. Freud acrescenta a possibilidade de apontar para determinada repressão de algum desejo sexualmente incontrolável. Já com Sabina, Jung comenta que deve ter cuidado com a força de Freud, que ameaça suas idéias com sua persuasão e sedução. Sabina, então, pontua que talvez ele tenha chegado a um nível que a obediência se tornou mais importante do que originalidade. Sabina lembra a Jung que no seu caso Freud tinha razão quanto a sexualidade, ao que Jung responde que sim, mas que não seria o único fator. Em outro momento, o mito de Siegfried é a coincidência apontada por Jung como um aspecto inacreditável. Segundo ele, tudo tem um significado, não pode existir coincidência. Quem conhece a psicologia analítica pode aqui reconhecer o princpio de alguns conceitos construídos por esse teórico.
Há o encaminhamento do caso de Otto por Freud para Jung, apresentando um psicanalista e anarquista que fez história, ainda que tivesse comportamento sexual reprovado na sociedade, e fosse de fato viciado em drogas como a cocaína. Durante o período de contato com Jung, a discussão versa sobre a transferência e acontratransferência, quando Otto afirma que a monogamia é antiquada e causadora de muitas doenças humanas. Otto aponta a obsessão de Freud com a sexualidade como resultado de sua repressão, pois ele não deveria transar como gostaria. Jung, então, afirma que embora o trabalho do terapeuta seja libertar o paciente, libertar algumas repressões significa liberar todo tipo de forças, perigosas e destrutivas.  Sabina discute com Jung suas reflexões sobre o choque entre as forças destrutivas como produtor de algo novo e a sexualidade. Ela afirma estar cada vez mais consciente do fato de não ter experiências sexuais e em seguida o beija na boca, deixando Jung perplexo. Diante de sua afirmação sobre como a iniciativa deveria ser masculina, Sabina afirma que existe algo de feminino em cada homem, tanto quanto algo de masculino em cada mulher, mas que se ele quiser tomar a iniciativa, sabe onde ela mora.
Conceitos Junguianos e Freudianos são explorados na trama, tanto quanto suas divergências. Além disso, conhecemos um pouco mais da vida de Jung e das possíveis colaborações de Sabina nos conceitos psicanalíticos. Devido a riqueza de detalhes que ora se assemelham ora se diferem, entre este e “Jornada da Alma”, para aqueles que desejam se aprofundar, indico a aba resenhas.
A quem se interessar em saber mais sobre Otto Gross, clique em:
 1 Otto ou  2 Otto
(...) há um recorte temporal preciso que, esse sim, revela bastante do olhar de David Cronenberg, situando a história no período pré-espiritualista de Jung, em que a psicanálise ainda se esgueirava da metafísica para tentar compreender a condição humana passando necessariamente pelo corpo – carne, sexo e excrementos – princípio que conecta o momento vivido pelas personagens ao olhar de Cronenberg.Leiam mais clicando aqui.
Estudiosos defendem que Spielrein - que depois de ser paciente de Jung em 1904 e 1905 tornou-se sua assistente, antes de filiar-se a Freud - ajudou a formular o conceito de pulsão de morte, que depois seria atribuído ao austríaco (...) para colocar Sabina como catalisadora das diferenças entre Jung e Freud. (...) Freud inveja a riqueza do "ariano" Jung, que por sua vez ressente-se do judeu que não lhe conta um sonho que teve, "porque isso acabaria com a minha autoridade", justifica Freud. (...) Cronenberg e o corroteirista Hampton (que adapta o roteiro de forma bastante fiel à sua peça) têm a dizer sobre o Holocausto.Há referências demais à tragédia do século, ao longo do filme, para que elas sejam ignoradas. Está nos diálogos: "Os anjos falam alemão", diz Jung, enquanto Freud, já absorto em sua preocupação com o antissemitismo, diz a Sabina que fica feliz por ela desistir de seu "príncipe ariano". Está nas situações: a platéia congelada enquanto Jung toca Richard Wagner em um experimento. E, finalmente, está nas entrelinhas: na pulsão de morte da teoria da judia masoquista Sabina e na preocupação de Jung com "um pouco de repressão que seja saudável à sociedade" e com "um ato inominável que permita continuar vivendo". Leia  mais clicando aqui.
Na trajetória de Jung – humano e falho (que não acreditava em coincidências, mas que trabalhou na tese dos sonhos), ele, formal e preso às convenções sociais, influencia-se pelos métodos de seus pacientes, convivendo com a obsessão fálica de Freud, que tenta seduzi-lo (“convincente e persuasivo”), servindo de crítica ao universo psicanalítico ao apresentar o lado humano do terapeuta (com suas crenças, julgamentos e preconceitos). Não há limites. Questionam o determinismo comportamental e biológico: apanhar gerando excitação, a ninfomania e principalmente a monogamia. “Só vamos conversar”, diz-se.
Leia mais...
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SINOPSE
Em 1907, Sigmund Freud (Viggo Mortensen) e Carl Jung (Michael Fassbender) iniciam uma parceria que iria mudar o rumo das ciências da mente assim como o das suas próprias vidas. Seis anos depois, tudo isso se altera e eles tornam-se antagónicos, tanto no que diz respeito às suas considerações científicas como no que se refere às questões de foro íntimo. Entre os dois, para além das divergências de pensamento, surge Sabina Spielrein (Keira Knightley), uma jovem russa de 18 anos internada no Hospital Psiquiátrico de Burgholzli. Com diagnóstico de psicose histérica e tratada através dos recentes métodos psicanalíticos, ela torna-se paciente e amante de Jung e, mais tarde, em colega e confidente de Freud. Isto, antes de se tornar numa psicanalista de renome.
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Precisamos falar sobre Kevin

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Relações afetivas, familiares e sociais, psicopatia, adolescência, violência.
A primeira pessoa a indicar o filme foi a colega Sheila Prado, que tinha lido o livro e ficou bastante impactada com a experiência. Tratei de providenciar o filme, mas só pude assistir recentemente. Por meio dessa indicação, nossa colega Renata Rodrigues disse: ‘Sem sombra de dúvida, definitivamente foi o melhor thriller Psicológico que assisti nos últimos 12 meses! São inúmeras as questões suscitadas no decorrer do filme. São os pais os culpados pela conduta violenta de seus filhos adolescentes? O que acontece quando "bons" pais possuem filhos "ruins"? O que é a Psicopatia??? Significa que eles não são, de fato, tão bons quanto haviam imaginado?’ – É de fato um filme impactante e perturbador. Fiquei me perguntando sobre o quanto buscamos a razão de tudo. Dar uma explicação para o inexplicável nos deixará mais seguros? Escolho apenas descrever o que ainda não posso compreende. Explicar? Não tenho essa pretensão, perde-se muita energia tentando... Por agora, prefiro compartilhar diversos olhares e provocar cada leitor a experimentar a experiência de assistir ao filme.
A colega Sandra Picanço, sabendo do meu interesse por filmes, me indicou o artigo de Martha Medeiros, que compartilho a seguir.
BRITADEIRAS – Martha Medeiros (O Globo)
O filme "Precisamos falar sobre Kevin" não concorrerá ao Oscar, nem a excelente atriz Tilda
Swinton, mas uma cena já entrou para a categoria
das inesquecíveis — ao menos para mim.
Antes, informações: o filme é a adaptação do livro homônimo de Lionel Shriver. Quem o leu não esquece o soco no estômago. É sobre um garoto perverso que termina por promover uma chacina na escola. A história é narrada pela mãe, que conta sobre o susto que levou com o nascimento daquele filho que ela não identificava como uma bênção, sobre sua enorme dificuldade em contornar conflitos e a descoberta de que não é nada simples formar uma família feliz. É a desconstrução do mito da competência materna. Orientações bem-intencionadas podem não adiantar, nosso amor pode não ser bem transmitido, nossas atitudes podem não servir de exemplo. Existe algo tão influente quanto tudo isso: nossa dor interna. Ela contamina, ela comunica, ela desgraçadamente dá o tom das relações. O livro, tanto quanto o filme, é violento pela brutalidade dos sentimentos que ficam trancafiados.
A cena que me pareceu a mais simbólica e angustiante do filme mostra essa mãe com o filho ainda bebê — uma criança que não parava de chorar um minuto sequer. Não é incomum pais entrarem num surto de estresse com choro de crianças. Recentemente, um americano jogou o filho de uma lancha por ele não parar de chorar, assim como outros adultos já levaram suas crianças a óbito por total descontrole emocional.
No filme, a mãe não chega a esse radicalismo, mas está sempre a um segundo de explodir.
Então. Ela passeia por uma rua movimentada cidade com o bebê no carrinho. Ele chora. Vem chorando há dias. A mãe não dorme, não vive, apenas escuta o choro incessante da criança. Até que ela passa por trabalhadores que estão fazendo reparos em bueiros no meio da rua. Trabalho pesado, barulhento, infernal. Ela sai da calçada com o carrinho e chega bem perto do trabalhador que está perfurando o asfalto com uma britadeira.
Bem perto mesmo. Estaciona o carrinho ao lado da britadeira que faz um barulho torturante. Close em seu rosto: por um instante, ela tem o conforto de trocar o choro do filho por outro ruído que, aos seus ouvidos, soa como um solo de flauta. O breve enquadramento daquela mulher com o carrinho no meio da rua e o homem trabalhando com a britadeira a seu lado é um mix de desespero e poesia como raramente vi no cinema.
Quantas pessoas não desejariam quebrar uma perna se isso desviasse a atenção de uma dor de amor insuportável? Não é que a mãe de Kevin não aguentasse mais o barulho do choro: ela não aguentava mais o barulho da própria culpa por ser incapaz de cumprir o papel de mãe amorosa e abnegada daquele pequeno demônio de fraldas. O som da britadeira, ao menos, não tinha nada a ver com ela. Email: martha.medeiros@oglobo.com.br
Um filme perturbador, não apenas pela história em si mas pela inexistência de um motivo, seja ele qual for. Apenas a constatação de que a mente humana, que pode produzir tantas maravilhas, é também capaz das maiores atrocidades. Basta querer. Excelente filme. Leia mais clicando aqui.
Simbologia clara à Eva bíblica, em uma analogia cristã à “mãe de todos nós”, embora o filme não se embrenhe no campo religioso, a personagem carrega uma culpa dilacerante como uma mãe e como um ser humano prestes a explodir, como se sobreviver já se tratasse de um esforço superior ao que poucos seriam capazes de suportar após o grande trauma que a assola. (…) E nestes lapsos mostrando a trama em migalhas, como se estivesse em um pesadelo, deixamos com que nossa imaginação, mais cruel que a própria realidade, nos surpreenda e nos entregue o tão pesado epílogo. Brutal, cruel e sincero ao extremo, “Precisamos Falar Sobre o Kevin” prova que, entre tantas histórias da ficção que justificam a maldade, ela pode ser tão natural como o aquele pecado cometido pela Eva original e seu Adão no tal grande livro escrito há quase dois mil anos. Leia mais...
Eva (Tilda Swinton) é uma mulher que se vê no centro de uma tempestade de revolta por parte da população local que a culpam por não ter estabelecido limites, e de alguma forma permitir que o seu filho Kevin cometesse as atrocidades que culminaram na morte de inúmeros adolescentes. O fardo de Eva se inicia logo após o nascimento de Kevin. Eva percebe desde o início que deu a luz a uma espécie de Damien, um monstro ou psicopata, como queiram. O mal personificado. Sua penitência será conviver com Kevin. Não há justificativa para o comportamento do filho. Não há grandes traumas. Ninguém passou necessidades. Exceção feita à permissividade (John C. Reilly) com cara de otário o tempo todo, a propensão que o filósofo Kant apontava no ser humano como uma tendência intrínseca (assim como o bem) parece elevada ao grau máximo em Kevin. Mentiroso, manipulador, calculista, só interessado única e exclusivamente em seu próprio prazer. Se Eva tinha dúvidas entre ser mãe e se dedicar ao seu trabalho, ela certamente voltaria no tempo e não teria engravidado de Kevin. O drama e o sofrimento solitário de Eva são comoventes, pois viver com a culpa dos atos insanos do filho não é tarefa fácil. O pecado de "Eva", ou seja, de todas as mães do mundo beira o insuportável. Crítica, continue lendo...
Ao contrário do que se possa imaginar, Kevin não cometeu suicídio após perpetrar o terror em sua escola. Isso não seria, até mesmo, condizente com o olhar desafiador e arrogante que ele manteve por boa parte de sua vida. Ele calculou tudo direitinho. Ele queria ir para a prisão. Só não sabia, do alto de sua petulância, que condenaria também a sua mãe a uma espécie de prisão. O ato de covardia de Kevin é ainda maior porque não é ele quem tem que encarar as pessoas e o peso da culpa após cometer um crime. Este sofrimento cabe à sua mãe. (...) O filme é certeiro em analisar friamente cada ato e cada falha de Eva como mãe. Mas, é ela que permanece ao lado do filho no final. O roteiro passa a mão na cabeça do pai compreensivo, Franklin (John C. Reilly), até a última cena – fazendo até parecer normal que tenha sido ele a pessoa a estimular o hábito de arco e flecha do filho que se revelaria o modus operandi do crime que ele cometeu. Leia mais...
Kevin é o pesadelo em forma de criança/adolescente; é malcriado, mimado, dissimulado, grosseiro. Kevin é um caso sério, realmente precisamos falar sobre ele. Leia mais, clique aqui.
Baseado no incendiário romance homônimo da norte-americana Lionel Shriver, "Kevin" é um filme sobre a maternidade, sobre aquela velha falácia "ser mãe é padecer no paraíso". (...) O romance, que consiste em cartas de Eva para o marido após a tragédia, e o filme argumentam que nem toda maternidade é feliz. Eva, aparentemente, nunca quis ser mãe e isso se torna um fardo para ela. Mas teria Kevin nascido mau ou a criação de Eva e o excesso de permissividade de Franklin o teriam transformado num menino perverso? Não é um debate simples, e Lynne e seu corroteirista Rory Kinnear não se aventuram a esboçar uma solução - o que seria ingenuidade do filme. Nesse sentido, "Kevin" beira um estudo de caso, mostrando o que aconteceu com esse garoto - certamente outras pessoas, nas mesmas circunstâncias, agiriam de forma diferente. (...)A relação sempre tensa entre Eva e Kevin (quando adolescente, interpretado por Ezra Miller, da série de TV "Californication") é o que pauta a trama que transita entre o presente - quando ele está preso - e o passado - a vida em família antes da tragédia. Tal qual o romance, o filme descortina os fatos aos poucos. Entende-se logo o que aconteceu mas só mais tarde se compreende como aconteceu, suas dimensões e implicações. (...)A questão que, sabiamente, o longa levanta é: uma pessoa pode ser responsabilizada pelos atos de outra? Mesmo não sendo uma mãe-modelo, Eva pode ser culpada pelas atitudes do filho? Alguns personagens pensam que sim - muitas vezes, ela mesma se martiriza, embora tente levar uma vida normal (se é que isso seja possível após tal tragédia). (...)Este não é um filme fácil de se ver. E até pode gerar um sentimento de culpa. Leia mais...

SINOPSE
Eva (Tilda Swinton) mora sozinha e teve sua casa e carro pintados de vermelho. Maltratada nas ruas, ela tenta recomeçar a vida com um novo emprego e vive temorosa, evitando as pessoas. O motivo desta situação vem de seu passado, da época em que era casada com Franklin (John C. Reilly), com quem teve dois filhos: Kevin (Jasper Newell/Ezra Miller) e Lucy (Ursula Parker). Seu relacionamento com o primogênito, Kevin, sempre foi complicado, desde quando ele era bebê. Com o tempo a situação foi se agravando mas, mesmo conhecendo o filho muito bem, Eva jamais imaginaria do que ele seria capaz de fazer.
O filme começa com a situação atual de Eva Khatchadourian (Tilda Swinton, sempre ótima), uma mulher em depressão, desempregada, vivendo sozinha sem rumo em uma casa de uma pequena cidade, onde sofre com o ódio de alguns moradores. Nesse ambiente tedioso e extremamente melancólico, vemos o cotidiano de Eva se costurar, por meio de flashbacks, com um passado não tão distante.
Casada com Franklin (John C. Reilly), ela dá à luz a Kevin, o primogênito da família, que gera conflito entre mãe/filho desde o berço. A relação entre os dois permeia todo o filme, até atingir o ápice na adolescência do garoto, muito bem interpretado pelo jovem Ezra Miller. O nascimento da doce Celia (Ashley Gerasimovich) vem complicar ainda mais a convivência de Eva com Kevin, que se mostra um filho exemplar para o pai, indiferente diante das tentativas da esposa de alertá-lo com relação às maldades do adolescente. (...)Em uma edição primorosa, que entrega em doses homeopáticas as peças deste quebra-cabeça tenso e mórbido, “Precisamos Falar Sobre o Kevin” tem um tom de suspense crescente e constante. cinemacomrapadura.com.br/criticas
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quinta-feira, 1 de março de 2012

Tiranossauro

Tiranossauro
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Relações afetivas, familiares e sociais; violência, abuso, comportamento autodestrutivo, alcoolismo.
Uma colega querida me citou na seguinte mensagem do face book: Esse belíssimo e impactante filme contextualiza a natureza multifacetada de todos nós: somos anjos e demônios. As agruras são potencializadas com as rupturas de paradigmas. As aparências enganam. Na comunhão de anseios, na difícil acomodação entre egoísmo e altruísmo, uma forma de felicidade encontra sua forma de acontecer, e ela geralmente pede alguém para experimentá-la conosco. Percebo o cuidado e a forma competente que o diretor aborda a fragilidade e os desdobramentos de todo e qualquer tipo de relação humana! RECOMENDO MUITO!!!!!!! (Renata Rodrigues).
Diante do fato, Procurei o filme para assistir e compartilhar com vocês. “Tiranossauro” fala de pessoas e problemas que nos são tão próximos. As formas de existência que chocam em um primeiro olhar, mas que se aproximam de nossa realidade cotidiana. Os protagonistas podem ser nossos vizinhos, colegas de algum conhecido, ou, simplesmente existir em nossas fantasias ou pensamentos. Fato é que por mais chocante que nos pareçam, fazem parte de nossa humanidade. Joseph é se apresenta de forma assustadora a princípio, suas atitudes transparecem seu desgosto pela vida, e conseqüente comportamento de autodestrutivo. Um contraste evidente quando se trata de relacionar-se com uma criança ou com a própria Hannah. Aquele que parecia pouco humano, agressivo, “sem coração”, se revela, ao longo da trama, uma pessoa sensível. Nada é o que aparenta ser, logo ficamos cientes disso no desenrolar do enredo. Um olhar superficial nos engana, há mais dentro de cada um. O filme não aprofunda as questões que tornaram Joseph tão reativo, mas nos oferece a pista de ter convivido com muitas injustiças e viver um momento de ‘tolerância zero’ com tudo que o cerca. Hannah, por sua vez, tem diversas provocações à sua passividade. Sua doçura é desafiada diariamente através do abuso e da violência que lhe é imposta por seu marido. No momento de reagir se identifica com seu novo amigo, Joseph, e sua mais humana expressão da existência. É do inusitado que vislumbra a possibilidade de se arriscar a viver. É nessa relação que as possibilidades se desdobram, nos oferecendo oportunidade ímpar de refletir sobre nossos gritos e silêncios do dia a dia. Vale conferir!
Tiranossauro é mais sutil: é a palavra, o amor, que acaba encontrando unidade no poético mundo do caos. Encontrando um paralelo estrutural com o Contra a Parede de Fatih Akin, o filme inglês se sobressai ao utilizar o mundo cão de uma tragédia para estudar o retrato de um homem que, perdido na vida, encontra em outra perdição, a paz. Leia mais clicando aqui.
A potência do filme é arrebatadora, com seqüências que acompanham o público por longos minutos após o final da sessão (como a primeira aparição do marido abusador de Hannah), eterna nas expressões radicalmente sofridas de Mullan e de Olivia Colman. E essa sensação vale mais que qualquer pequena derrapada, pois como pode ser extraído do próprio filme, o erro é parte fundamental para o amadurecimento. Continue lendo.
“Tiranossauro” acompanha a lenta construção de um relacionamento entre o auto destrutivo Joseph e Hannah, vítima de violência e abusos. (...)Mullan interpreta um personagem que vê o fim da vida a aproximar-se, mergulhado na tristeza, um desespero que afoga nas constantes visitas ao pub e nas trocas de ameaças com os jovem da terra. (...)“É sobre o encontro de duas almas que vêm de estratos sociais diferentes, mas que descobrem uma amizade, que se compreendem e partilham a dor, algo que parece muito improvável porque a sociedade levanta muita barreiras. No filme, uma das vitórias é exatamente o facto da personagem da Olivia sentir-se confortável e à vontade com este homem que no inicio pensamos que é um indivíduo muito perigoso”. Leia mais....
SINOPSE
Joseph é um viúvo atormentado. Desempregado, violento e alcoólatra, ele passa a vida descontando sua raiva ao mundo. Um dia, porém, conhece a religiosa Hannah, dona de um brechó de caridade. Apesar das diferenças entre os dois, o jeito acolhedor de Hannah faz com que eles desenvolvam uma forte amizade. Casada, ela tem uma vida conjugal aparentemente normal, mas que esconde um marido agressivo e ciumento. Ligados pelo desamparo, Joseph e Hannah precisam encontrar um caminho para suas vidas. Vencedor do prêmio especial do júri de ator e atriz e melhor direção no Sundance Film Festival 2011.
TRAILER OFICIAL (Inglês)
Comentado em Portugal

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Meu nome é Khan

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Autismo, “Síndrome de Asperger”, Luto, preconceito etnico, diferença, violência, amor, perdas, superação, potencialidades.
SINOPSE
O filme “My Name is Khan” conta a história de Rizvan Khan, um indiano portador da síndrome de Asperger's, um tipo de autismo. Depois que se muda para os Estados Unidos, Khan se apaixona por Mandira, uma cabeleireira separada que vive com o filho Sameer (Sam). Khan é maometano e Mandira, hindu, mas suas diferenças religiosas não impedem que se casem. Os problemas começam com o 11 de Setembro, quando passam a ser atacados por sua origem étnica e devido a generalizações preconceituosas. Depois de sofrer bullying por parte de colegas, Sam é morto em uma briga, e Mandira, revoltada, culpa o marido, e lhe diz que ele só poderia voltar depois que dissesse ao presidente da república que ele não é um terrorista, e que o filho dela também não era. Rizvan interpreta isso literalmente, e empreende uma peregrinação para ter sua esposa de volta.

TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA
Madrugada, carnaval, ligo a TV e encontro o filme no telecine. “Asperger” me chama a atenção na sinopse, mas a intenção era apenas que me ajudasse a dormir e depois poderia procurar o filme para assistir com calma. Eu já estava com muito sono, no entanto fui despertada pela trama que me envolvia mais e mais, a cada momento. Acabei por ver o filme completo, às vezes chorando, às vezes rindo, mas completamente encantada. Ultimamente tenho me deparado com filmes indianos imperdíveis, este é um deles, recomendo! Trata-se de uma trama muito bem costurada que aborda assuntos diversos. A história de uma pessoa diagnosticada com Síndrome de Asperger, e sua forma de funcionar no mundo diante das mais diferentes dificuldades que encontra em seu caminho. Khan é também mulçumano e está incluído no grupo das pessoas boas, pois como dizia sua mãe “só há uma única diferença entre os seres humanos, as pessoas boas e as más”. Apesar dos obstáculos impostos por seu funcionamento, o amor de sua mãe o permitiu desenvolver suas potencialidades, tornando-o um adulto inteligente e habilidoso. Ao trabalhar com a venda de produtos para salão de beleza, Khan conhece Mandira, uma cabelereira por quem se apaixona. Logo que compreende o que sente, embora tenha dificuldade tanto de expressar sentimentos como de fazer contato, ele se emprenha em convencê-la a se casar com ele. Mandira têm um filho que aos poucos vai se tornando também filho dele, que acaba por registrá-lo como tal. A família se muda para Los Angeles, onde a esposa começa o próprio negócio, um salão de beleza, onde o casal segue trabalhando, construindo a família tão desejada por ambos. Até aqui, somos convidados a compartilhar momentos de alegria com essa doce e pura criatura e sua determinação e pureza de lidar com o mundo. A trama muda de tom e nos proporciona momentos de tristeza e perplexidade diante de todos os acontecimentos a partir de 11 de setembro.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Inquietos

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ASSUNTO
Morte, perdas, luto, adolescência.
Confesso que quase desisti quando percebi que a trama se parecia muito com o filme “Ensina-me a viver”, uma obra prima da década de 70 que conta a estória de duas pessoas que também se conhecem durante um velório. Entretanto, fora isso, apenas a diferença dos personagens na forma de lidar com a morte pode marcar alguma proximidade entre as estórias. Aqui, falamos de outros personagens e de outros tipos de conflitos. “Inquietos” apresenta um adolescente perdido, produto de um luto não elaborado na ocasião da perda dos pais. Em sua rotina pouco convencional, conhece uma jovem com câncer que possui uma atitude muito positiva em relação à vida. Dentre os assuntos considerados difíceis para o ser humano lidar, certamente a morte é de longe o mais complicado, considerando a cultura ocidental, claro. Se a finitude é algo que assombra os dias de vida, a perda é outro aspecto do sofrimento que ronda os caminhos do ser humano. E é exatamente na adolescência que qualquer assunto fica muito mais complicado de ser abordado, visto ser um momento de mudança onde o maior dilema está na definição do seu lugar no mundo. É exatamente nessa fase que os personagens se conhecem. A dificuldade de lidar com morte e perda é abordada de forma poética no filme, através do casal protagonista, que aos poucos vão sendo nutridos pelas trocas dessa relação. A oposição dos personagens é o que oferece a oportunidade de crescimento para ambos. É nesse encontro de diferenças que ele encontra o caminho para elaborar também o luto de seus pais, é através do enfrentamento dos dias de despedida que Enoch se dá conta que não pode se despedir dos pais. Sua raiva vem à tona, e, o mundo começa a ficar mais real. Seu amigo “fantasma” (imaginário) é o que “morreu para honrar a família”, mas que perdeu a oportunidade de amar de fato, sem medo do tempo que poderia restar a esse amor. - Amigo que serve de suporte enquanto não consegue encarar suas dores e sofrimentos, buscando seu equilíbrio (a parte positiva restante de si que o que não estava pronto ainda para enfrentar) -. Muitos de seus conflitos são elaborados através do personagem fantasma, que desaparece no momento que ele decide encarar o amor, apesar da possibilidade de perda, de morte, do fim, Morte, transformação, mudança de ciclo, tudo isso é representado no filme de forma sensível. É no final, através de seu discurso silencioso, que Enoch se despede da forma mais bonita possível. Seu silêncio e sorriso marcam o renascimento, uma mudança real de ciclo, da qual sai amadurecido.
Sobrevivente de um acidente que matou seus pais, ele vive em depressão. O jeito que encontrou para lidar com a morte foi tornar-se penetra de funerais. (...) Van Sant consegue um equilíbrio difícil ao introduzir um toque surreal no terceiro personagem, Ryo Kase (Hiroshi Takahashi), sempre vestido num curioso uniforme de piloto kamikaze da Segunda Guerra Mundial. Se logo se pode imaginar a verdadeira natureza de Ryo, nem por isso suas conversas com Enoch são menos saborosas, já que ele funciona como um misto de alter ego e observador do amigo e de seu romance, a quem não falta uma fina ironia. (...) Embalado nessa espécie de aura espontânea dos dois protagonistas, o filme, que foi exibido na seção "Um Certo Olhar", do Festival de Cannes 2011, respira uma doçura juvenil com a qual só muito mal-humorados não vão simpatizar. Leia mais clicando aqui.
O roteiro do filme é sempre pensado pra frente, mostrando que o passado dos dois não faz diferença, e sim o seu futuro juntos. Mesmo assim temos alguns detalhes que explicam as atitudes de Enoch, mas nada que explica o conformismo de Annabel. Mais, aqui.
Fala-se do fim nesse filme. Não como tragédia, mas sim renascimento. Refundação de uma pessoa. É pela morte, pela quebra e ruptura que se faz possível encontrar vida, recomeço, outros caminhos. Numa história potencialmente tristonha, Van Sant retira a melancolia de cena e põe o sorriso contido. Leia mais...
(...)o filme passa o tempo todo buscando uma forma mais leve de se olhar para a vida e de poder aceitar assuntos ainda tão doloridos para nós como perda e doenças ainda incuráveis. (...)“drama de aceitação” sobre a infelicidade, angústias e inevitabilidades que nos cercam – e que a felicidade seria como a relação entre Enoch e Annabela, algo rápido, intenso e breve – como a vida humana, que como diz a protagonista é equivalente a segundos em toda a existência do universo. Clique para ler mais.
À primeira vista Inquietos parece bem narrativo porque o arco dramático de Enoch é claro: diante da possibilidade da morte de Annabel, ele conseguirá digerir o luto engasgado por seus pais. (...)Em Enoch e Annabel - casal de nomes ancestrais que se vestem como seus avós - o cineasta encontra um amor ao mesmo tempo velho e atemporal, envolto em fabulações e teatros que dão à relação um bonito ar de tragédia antiga. É a inocência devolvida e é também uma espécie de infância reconquistada - aquilo de que o órfão Enoch tanto sentia falta. (...)Mas o idílio é só uma passagem. Quando Enoch e Annabel deixam o "mundo natural" e retornam ao convívio, Inquietos revela nos detalhes a transformação do casal. O plano dos dois deixando o hospital é o mais interessante: enquanto o médico continua conversando com a irmã mais velha da garota, Enoch e Annabel caminham pelo corredor de vidro, e a iluminação dessa cena passa a impressão de que os dois, apesar das más notícias, saem enlevados, flutuando no ar. Leia aqui...
SINOPSE
No filme, Annabel Cotton (Mia Wasikowska) é uma bela e encantadora paciente com câncer terminal que é profundamente apaixonada pela vida e pela natureza. Enoch Brae (Henry Hopper) é um jovem que desistiu dos negócios da vida, depois de um acidente que tirou a vida de seus pais. Quando esses dois “desajustados” se encontram em um funeral, eles acham algo em comum em suas experiências de vida. Para Enoch, isso inclui seu melhor amigo, Hiroshi (Ryo Kase) que é o fantasma de um piloto Kamikaze. Para Annabel, envolve uma admiração de Charles Darwin e um interesse em como as outras criaturas vivem. Ao saber que Annabel está prestes a morrer, Enoch quer ajudá-la a enfrentar os últimos dias com um irreverente abandono, um destino tentador, e a morte por si própria.
Assim como o amor entre os dois cresce, a realidade do mundo se fecha sobre eles. Com ousadia e um pouco de infantilidade, os dois irão enfrentar bravamente o que a vida reservou para eles. Combatendo a dor, a raiva e a perda com brincadeiras e originalidade, esses dois desajustados viram a mesa e decidem viver de acordo com suas próprias regras. Sua jornada começa a colidir com a implacável marcha do tempo, com o ciclo natural da vida que levará Annabel.
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domingo, 5 de fevereiro de 2012

O silêncio de Melinda

 
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Abuso, Adolescência, relações familiares, afetivas, sociais e terapêuticas, psicologia escolar, familiar e do adolescente.
A princípio, achei que fosse um filme sobre o universo adolescente. Afinal, guardando as devidas diferenças culturais, alguns dos dilemas da adolescência são universais. O que logo fica evidente na estória é a ambigüidade tão peculiar a esta etapa de vida. A necessidade de se diferenciar e, ao mesmo tempo, de sentir-se igual outros. A dicotomia é comum na mudança para o mundo adulto, pois há um ímpeto em querer ser “único”, se destacando na multidão, se opondo a tudo que lhe parecia até então “verdadeiro”. Por outro lado, há também a necessidade de se identificar com algum grupo que lhe dê um “lugar”, nessa fase que se entende como um “nada”, para algumas situações não é mais criança, para outras ainda não é adulto.
Pois bem, Melinda relata suas sensações a partir do primeiro dia de aula, com as reclamações que poderiam ser de qualquer aluno nesta fase. Aos poucos, vamos acompanhando com detalhes seus contatos com o universo escolar e começamos a desconfiar que a personagem seja vítima de bullying. Podemos acompanhar sua angústia diante de cada rejeição, cada fato que lhe causa dor. No desenrolar da trama, acontecimentos do ano anterior, aos poucos são revelados, nos fornecendo pistas sobre o que poderia ter causado, não apenas seu comportamento isolado, mas também o comportamento de todas as tribos que a rejeitavam.
Logo ficamos sabendo que os colegas a odeiam por ter chamado a polícia numa festinha do outro ciclo escolar, prejudicando muitos. Sua versão dos fatos começa a nos ser apresentada através de flashbacks, que nos revelam trechos dessa mesma festa. As relações de Melinda foram contaminadas. Fica clara a diferença entre a Personagem “enturmada” no passado e a que se revela isolada, sendo considerada “esquisita” por aqueles que não presenciaram a festa. Em casa ela dá sinais de que algo anda errado, tanto quanto no ambiente escolar, mas nem seus pais nem seus professores tentam descobrir o que de fato ocorre com a moça. Então, somos familiarizados com a origem de tudo: O galã da escola havia a estuprado na tal festa e na atualidade namora a sua ex-melhor-amiga. O silêncio de Melinda é também o silêncio de muitas que passam pelo mesmo episódio, faz parte de um comportamento padrão, quando a vítima é paralisada, fica confusa entre a culpa e a vergonha, sem conseguir elaborar o fato.
Então, o professor de artes, começa a dar espaço para a expressão de sua dor. Aqui, como no filme “Somos todos diferentes”, o professor de artes configura perspectivas da relação terapêutica. Ele estimula sua expressão a cada momento, dando espaço para que ela possa aos poucos se reconstruir, se integrando, organizando através da arte seu mundo dilacerado. Suas angústias vão sendo aos poucos enfrentadas, restando apenas o segredo do passado que implora por ser revelado.
Faço aqui um intervalo para chamar atenção sobre outras formas de comunicação. Pais e professores que conhecem o aluno podem perceber mudanças bruscas que tentam dizer algo. É certo que a adolescência em si caracteriza comportamento diferenciado, mas as bruscas mudanças estão sempre a serviço de comunicar algo. É preciso mais que ouvir palavras, o corpo e as atitudes também falam! Tente perceber as diversas tentativas desse “organismo” se comunicar no filme, seja o momento do pesadelo, ou de diversos outros movimentos. Em gestalt-terapia, nossa visão de homem abrange um “organismo em relação”, que é o conjunto do ser e sua forma de estar no mundo. O “organismo” comporta seu campo – configurado por todas as relações que influenciaram e permanecem na sua forma de estar no mundo agora. De acordo com essa visão, nosso organismo está sempre em busca do equilíbrio, da auto-regulação, buscando atender as necessidades do indivíduo.
Ao telefonar para a polícia, a intenção era denunciar o abuso que tinha sofrido. No desdobrar dos acontecimentos, a personagem paralisa, mais do que só o corpo, seu organismo tinha sido violentado como um todo. A cena do retorno para sua casa mostra o quanto está desnorteada e perdida, seu caminhar é vazio, segue no “automático”, sobrevive ao fato, funcionando de “forma disfuncional”, o silêncio serve a busca de auto-regulação, mas não atende a auto-realização, que é natural ao ser humano. A situação inacabada, assim considerada em gestalt-terapia, busca um fechamento satisfatório. A “forma” (=GESTALT) de funcionamento de Melinda denuncia uma situação inacabada, durante a fita, acompanhamos as diversas tentativas de ser concluída, sendo trazidas, aos poucos para sua consciência, como necessidade urgente. A expressão artística de suas dores vai abrindo espaço para contatar o mundo como é agora, se libertando aos poucos de cada trecho do passado que consegue elaborar, se aproximando de fato de sua “forma” de ser. A adolescente começa a fazer contato com o mundo, está pronta para ouvir a colega, quando lhe explica que:  para ela realmente tornar-se uma revolucionária, o silêncio não pode ser tão eloquente como seu discurso. A cena na qual Melinda cabula a aula, ilustra a emergência de sua necessidade de fechamento, quando ela reflete sobre a possibilidade de contar para alguém, qualquer pessoa...
Na trama, após um difícil comunicado – Melinda escreve para a amiga, pois ainda não consegue falar sobre o fato-, o autor do estupro busca silenciá-la através de uma segunda tentativa de estupro. Entretanto, não há mais silêncio no mundo da adolescente, existe reação por agora e por ontem. A menina está pronta para falar, assim a fita segue até o momento que a mãe oferece a opção do silêncio, ao que ela retruca, “Não, eu quero falar”. Desfecho com sabor de liberdade.
O filme é de fato sobre o estupro, sem perder de vista os dilemas do adolescente e suas possibilidades. Uma denúncia ao silêncio, tão comum em fatos semelhantes, o filme nos oferece a oportunidade de refletir sobre outros aspectos do universo familiar e escolar. Entre publicações sobre o filme, destaco os artigos a seguir, que merecem atenção:
SINOPSE
É o primeiro dia do primeiro colegial para Melinda, mas ela não se mistura à euforia dos corredores da escola, na verdade é como se nem estivesse ali. Isolada pelos amigos por ter chamado a polícia durante uma festa da galera, ela não consegue falar do terrível trauma que sofreu naquela noite, nem para as amigas, nem para si mesma. Mas decide tentar reencontrar sua voz e, finalmente, se expressar. O Silêncio de Melinda é um filme contundente e perturbador, adaptado do best seller "Speak" vencedor do prêmio New York Times.
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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Filhote

Filhote
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Homossexualidade, infância, drogas e Aids.
Misturando temas ousados, polêmicos e explosivos, o filme apresenta o universo homossexual de uma forma diferente. Nada do que estamos costumados a ver, pois se trata de uma comunidade gay de gordinhos e gordões, chamada de “ursos” em Madrid. Sendo apresentada em seu cotidiano, não há falsos pudores nas cenas, que revelam com naturalidade as trocas de beijos, olhares e carícias vivenciadas entre gays, seja na cama ou em outro lugar. Tudo é retratado com naturalidade, sem vulgaridades, ainda que possa chocar àqueles que se dizem sem preconceito, mas estranham as cenas de amor entre duas pessoas do mesmo sexo. Portanto, não pode ser apreciado por homofóbicos, de forma alguma! Não é como outros filmes, que focam as questões existenciais daquele que é homossexual. Não, ao contrário, o tema segue o cotidiano de vida sendo modificado por acontecimentos reais, que podem alterar a vida de qualquer pessoa. Entretanto, a naturalidade das cenas de amor entre os gays ainda chocam bastante a diversas culturas, que ainda acreditam que se trata de uma “doença” ou uma questão de escolha. Lamentavelmente, é uma realidade também em nosso país, que ainda levanta diversas polêmicas e violência em torno do tema.
Voltando ao filme: a chegada do sobrinho torna a vida do tio um tanto quanto diferente. Ele inicia uma rotina bem distante da que está acostumado, na tentativa de oferecer um ambiente saudável para o sobrinho. É interessante notar o companheirismo e parceria construída entre ambos, irá fazer com que o tio reveja sua vida. O envolvimento da mãe do menino com drogas irá alterar a vida de ambos, trazendo novos desdobramentos, incluindo o surgimento da avó do menino, que se opõe a possibilidade do neto ser criado por um homossexual. O restante da estória, só assistindo para descobrir.
Os amigos percebem que ele está sobrecarregado por conta da criança e da situação da irmã e fazem uma festa surpresa regada a muito cabelo e colocação. Leia mais clicando aqui.
(…) contrariando expectativas preconceituosas de que o universo gay se limita a homens afetados ou musculosos. Leia mais clicando aqui.
SINOPSE
Pedro (Jose Luis Garcia-Perez) é um dentista homossexual que passa a vida à procura do prazer. Certo dia, ele se oferece para cuidar de Bernardo (David Castillo), filho de 11 anos de sua irmã Violeta (Elvira Lindo), que parte para a Índia com o namorado. No início, Pedro muda o seu comportamento para poupar o sobrinho, que não dá nenhum trabalho para o tio. Mas a tranqüilidade acaba quando Violeta e o companheiro são presos e ficam anos encarcerados na Índia. Pedro terá então de enfrentar a avó paterna de Bernardo, já que ela não aceita que o neto seja criado por um homossexual.

sábado, 28 de janeiro de 2012

O artista

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Casal e família, relações familiares, afetivas e sociais, depressão, suporte, transformação.
Acabo de assistir a mais um filme indicado ao Oscar, e, ainda que seja um romance belíssimo que faz homenagem a era de ouro do cinema mudo, a trama me fez refletir sobre sensações e sentimentos análogos ao drama vivido pelo artista. Assim, compartilho com vocês minhas reflexões.
Como é sentir-se ultrapassado, inadequado, sem lugar no mundo? Como é perceber-se mudo diante de um mundo novo, onde as palavras já não te dizem nada? Como é sentir-se sem voz diante de uma avalanche de novas formas de funcionar no mundo que lhe são incompreensíveis? Como é olhar em volta e ver um mundo no qual se sente simplesmente invisível? O velho abre caminho para uma nova geração, repleta de novos conceitos, novas linguagens, novas músicas, novas formas de funcionamento. O sucesso é ser diferente do que um dia foi, é inovar com caras novas... Mais do que uma homenagem ao cinema mudo, “O artista” fala da sensação de decadência frente às vozes e corpos que trazem novidades. O orgulho impede o artista de se atualizar, a mudança não é aceita, a rigidez impera e o homem de sucesso se recusa a adaptar-se. O orgulho se torna seu inimigo, pois nem quando consegue reconhecer o encanto desse novo mundo, Vanentin é capaz de se render a modernidade. Consegue até achar graça, se deixar envolver, mas em seguida escolhe olhar para as impossibilidades, para o fracasso e a inaptidão. O belo denuncia sua oposição, o impedindo de reconhecer a beleza de sua existência, ao contrário, o faz sentir-se nulo, decadente, vazio. A depressão se instaura, a solução para tanta dor e inadequação só pode ser desistir. O “velho”, ao se deixar seduzir pelo “novo”, belo e alegre, sente-se feio, triste e muito, muito velho. Suas certezas são enfraquecidas frente à realidade, o que era reconhecido como único sucesso, agora se deteriora, desaparece frente aos avanços tecnológicos e as novas formas de projeção. Agora o artista desvaloriza sua história e experiência de vida, desqualifica a própria identidade, não se permite mais continuar. Mas o amor, ah, o amor cuida. Representado por seu cachorro e pela atriz, que reconhece seu sucesso como resultado de sua história, o amor cura. É esse amor que busca unir o melhor de ontem ao sucesso de hoje, transformando o “casamento” em algo mais inédito, dança e sapateado faz o casal caminhar para novos rumos.
Tudo isso me fez lembrar a desvalorização das gerações mais velhas. A velocidade de novas tecnologias e formas de estar no mundo, a cada dia está mais acelerada, e são menores as chances dos mais velhos se adaptarem. A internet, as novas mídias, os novos Iphones, Ipads e outros “brinquedos” tecnológicos reforçam a sensação de inadequação das gerações anteriores. A velocidade das informações fazem com que netos desafiem a sabedoria dos avós, pais e tios. Há quem diga que já nascem com “chip”, conectados ao mundo de facebooks, orkuts e twitters. Interessante notar que a falta de um “casamento” adequado entre as duas gerações tem gerado problemas psicológicos de todos os tipos em ambas as gerações. O novo, quando não valoriza sua história, vive no automático, absorvendo excesso de informações sem qualquer tempo para digeri-las, experimentá-las de fato e entrar em contato com as sensações. A geração mais velha, quando paralisa, se recusa a reconhecer os aspectos positivos dos avanços tecnológicos, se fecha em um mundo que não mais existe, perdem a alegria de viver. Assim, temos os quadros patológicos extremamente opostos, ansiedade e depressão vão sendo constituídos em grande quantidade nesse novo milênio. E mais uma vez, penso eu, o caminho de volta é o amor, o cuidado, o diálogo. É valorizar o que é bom em cada geração, respeitar as diferenças e celebrar trocas, pois o verdadeiro e saudável encontro só é possível na diferença!
Voltando ao filme como se apresenta, trata-se de um romance delicioso, bem cuidado, envolvente, delicado que além de prestar uma homenagem ao cinema, trás um elenco impecável, uma trilha sonora belíssima e uma fotografia deslumbrante. Diferente do que estamos acostumados a ver, “O artista” é recomendado, não apenas por sua indicação ao Oscar, mas também, e, principalmente, porque cada um de nós tem em si um artista que trilha o caminho da vida. Confira, vale à pena!
(…)o filme fala sobre o amor, sobre admiração e a cima de tudo o respeito entre um homem e uma mulher.Crítica, leia mais clicando aqui.
The Artist resgata um pouco daquela magia, acertando o tom na homenagem ao cinema que, de quebra, fala sobre valores um tanto esquecidos também, como a gratidão, a generosidade e a capacidade de reinventar-se. (…) Genial a sequência do pesadelo dele, e a simbologia de que há som em tudo, menos na garganta do personagem, que parece “incapaz” de falar. Evidente que ele não era mudo, mas de uma forma simbólica ele “não consegue falar” porque não admite a mudança na indústria que lhe rejeita como “ultrapassado”. Ele não luta contra isso. Prefere se desfazer de todos os bens e abraçar incontáveis garrafas de bebida do que pedir um favor para os “cartolas” do cinema ou aderir ao cinema falado. No final, outra vez, o som entra em cena, quando ele decide acreditar que é possível recomeçar. (…) The Artist é também uma lição sobre recomeços, persistência e memória afetiva.Leia mais... 
SINOPSE
A trama é a história de vida de George Valentin, o interprete número um de Hollywood no tempo do cinema mudo. Seu sucesso era inegável e seu carisma garantia sessões lotadas. Certo dia, ele se esbarrou acidentalmente com um fã incondicional e com ela termina sendo capa do jornal. Ela, Peppy Miller, estava tentando começar uma carreira e com a ajuda dele consegue um primeiro trabalho. O mundo começou a mudar e com o avanço tecnológico, os filmes passariam a ter reprodução de vozes, o que para George era um absurdo e novidade pela qual ele recusou adaptar-se. Seu sucesso vai se esvaindo e sua alegria de viver se perde com ele. Peppy por sua vez, teve, com essa mudança, a grande chance de sua vida, mas nunca ela deixaria de ser grata ao homem que lhe ajudou e por quem ela sempre teve uma paixão.
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Os descendentes

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Luto, relações familiares, relações afetivas, legado, traição, casal e família, adolescência.

A volta ao simples é o que marca a indicação do filme ao Oscar. Simples assim, um filme que fala de conflitos familiares, aqueles tão próximos da realidade de cada um de nós. Acompanhamos a perspectiva de Matt King frente às reviravoltas que a vida dá. Já no início, suas reflexões relatam seu momento de vida, quando aponta o contraste entre a aparência externa do paraíso e sua realidade particular. Esse externo/interno nos convida a ir além do lugar geográfico, refletindo sobre o lugar “pessoa”. Matt prossegue nos familiarizando com a situação, compartilhando o impacto do acidente da esposa em sua vida. A ameaça de perda o faz refletir sobre suas ações, seu distanciamento da família, sua responsabilidade como pai e marido. Assim, somos apresentados ao momento de vida de um homem comum enfrentando crises existenciais pelas quais qualquer pessoa pode passar. Devo sugerir que assistam ao filme antes de continuar a leitura, para que suas reflexões sejam despertadas pela experiência de assisti-lo, sem que nossos comentários  possam influenciar. Fica o convite para retornar e partilhar sua percepção.
Um legado familiar, uma esposa desenganada, filhas desconhecidas e a traição são eventos que devem ser enfrentados por Matt, que é provocado a fazer novas escolhas, a cada momento. O luto é vivido em diferentes estágios durante o desenvolvimento da fita. Aos poucos ele vai reconhecendo as filhas, como funcionam no mundo, como estão enfrentando a situação. A filha menor, que está em fase de transformação da infância para a adolescência, apresenta problemas de comportamento. Não muito diferente, a filha mais velha é flagrada com bebida alcoólica, os primos o pressionam a decidir pela venda da propriedade herdada e o sogro o culpa pelo destino da filha. Como cada um reage ao luto? Como é enfrentar a perda de um membro familiar? Raiva, tristeza, desespero, apatia, negação, quantas emoções podem ser vividas na situação!
A filha mais velha é personagem também marcante, que vive um processo de auto-descoberta durante a trama. Mesmo brigada com a mãe, ao saber da notícia, mergulha em lágrimas e gritos – cena forte que simboliza um “mar de lágrimas”. Ao compartilhar com o pai sua angústia, a traição revelada, ambos se unem com um objetivo. Aos poucos irão amadurecendo como indivíduos e contribuindo para a integração familiar. Raiva, frustração, tristeza, amor e reconhecimento da parte idêntica a sua mãe que lhe constitui são etapas de crescimento. Sem esquecer do colega, que faz um contraponto, aparentando alienação, que no final das contas também encobre suas dores. O diálogo com Matt na madrugada se faz aprendizado sobre as diferentes formas de lidar com nossas crises de cada dia, além de ilustrar, de novo, que aparência não é tudo...
O filme encanta pela naturalidade de sentimentos e reações bastante humanas. Não há busca pelo que é correto ou não, pelo exemplo a ser seguido ou lição, há apenas a exposição de uma situação familiar em crise, que a transforma em oportunidade. Todos os sentimentos são explorados na trama, tristeza, raiva, vingança, ódio, amor, e, finalmente, o perdão. É no reconhecimento dos próprios erros, que descobrimos a humanidade de todos nós. Então, na cena que sintetiza todos os conflitos emocionais pelos quais passou, Matt se despede da esposa, momento ímpar no filme. No inicio, vimos a imagem de paraíso dos cartões postais sendo questionada. No final, somos presenteados com a simplicidade, a volta ao cotidiano da família, um momento de cumplicidade e união.
Um filme emocionante, envolvente, simplesmente delicioso, eu recomendo.
(...)Passa da dor da perda ao incômodo de ver tudo que acreditava ser uma mentira, como se estivesse sobrando dentro de uma camisa apertada depois de uma corrida tão característica ao personagem que todos no cinema vão ter a certeza de que era exatamente daquele modo que o personagem deveria correr em uma situação daquelas. (...) pela desenvoltura de discutir um assunto tão sensível como a morte e como ela pode inocentar as pessoas daquilo que fizeram em vida, já que o ciclo se fecha e sobra para quem fica achar um significado para tudo aquilo. Leia mais clicando aqui.
A cena em que ele aparece correndo de chinelo pelas ruas da sua vizinhança é a antítese da corrida tecnicamente perfeita de um Tom Cruise e por si só já valeria a indicação à estatueta dourada. (...) É na hora de pegar a filha mais nova na escola que o pai percebe que não existe na sua memória uma lembrança recente de ter feito isso em muito tempo. É ali no hospital, ao ver a mãe paralisada na cama do hospital, que a filha percebe o quanto é parecida com a mãe que ela se acostumou a destratar.(...) Fidelidade, dinheiro, paternidade, relacionamentos, sentimento de culpa, tudo isso é colocado em xeque de uma forma discreta, mas bastante eficaz. Continue lendo...
Matt não é um herói, nem um anti-herói. Apenas uma pessoa comum, imperfeita e que se vê em sua situação conflituosa, tendo que tomar decisões importantes para poder seguir seu caminho.. Leia mais...
Alguns conceitos impostos pelo roteiro, como a analogia entre a família e o arquipélago – onde a família é fragmentada entre várias ilhas, como um arquipélago -, fazem com que o espectador reflita um pouco sobre o verdadeiro sentido da família. A crítica completa, clique.
um mundo que repousa sobre um exte­rior muito bonito, mas que esconde maze­las e tris­te­zas como qual­quer outro lugar. Leia nais
Matt notabilizou-se por uma vida econômica nos gastos e afetos – (...) Payne conduz seu protagonista num labirinto emocional em que se vê desafiado a crescer. (...) o filme discute a fragilidade humana, especialmente a masculina, porque seu protagonista fica mais em evidência. Com os segredos e verdades desta família sendo enfrentados paulatinamente, comprova-se também a possibilidade de elaborar melodramas sem histeria, com mais verdade. Outro olhar, clique aqui
Os diálogos entre George Clooney e Shailene Woodley divertem e rendem grandes momentos ao retratar a cumplicidade entre pai e filha. o amigo da filha que também está passando por situações pessoais complicadas e mesmo assim está do lado da amiga dando força e ele é o responsável pelas as situações mais hilárias do filme. Critica, aqui
O filme é uma oportunidade para se emocionar com vicissitudes que afetam ou afetarão todos nós em algum momento. Na história perfeitamente orquestrada por Payne e Clooney, não ficam dúvidas de que a família, mesmo aos trancos e barrancos, é tudo que resta no final. continue lendo...
Este talvez seja outro grande ponto do filme: por mais que busquemos justificar o que acontece em nossas vidas, muitas vezes não encontramos a resposta, o que nos frustra e nos deixa zangados. importância de se preservar aquilo que nos é mais caro, aquilo que nos define como pessoa. Leia mais...
(...) a família é como um arquipélago: os membros fazem parte de um mesmo todo, mas individualmente, cada um é uma ilha isolada se afastando cada vez mais.(...) Através do ótimo ator, vemos que o personagem está meio perdido e assustado, com os ombros caídos e derrotados, a face espantada com as surpresas que lhe aparecem. Mas a despeito de tudo, ele permanece forte e enfrenta todos os infortúnios. Mais sobre...
SINOPSE
Com toques de comédia e drama, o filme conta a história de Matt King (George Clooney) um marido indiferente e pai de duas meninas, que é forçado a reexaminar seu passado e abraçar seu futuro depois que sua esposa sofre um acidente de barco. O trágico acontecimento acaba por aproximar Matt das filhas, que o ajuda na difícil decisão de vender um terreno herdado da família. Elizabeth (Patricia Hastie) sofreu um sério acidente de barco e entrou em coma. Desde então cabe a Matt cuidar das filhas Scottie (Amara Miller) e Alexandra (Shailene Woodley), que estuda e vive em outra ilha do arquipélago. Quando é informado pelos médicos que sua esposa irá morrer em breve, Matt resolve trazer Alexandra de volta. Ele conta com a ajuda dela para contar a triste notícia aos amigos e familiares, de forma que eles possam se despedir de Elizabeth ainda em vida. Desbocada e de gênio difícil, Alexandra surpreende o pai ao contar que sua mãe o estava traindo. A notícia afeta profundamente Matt, que passa a querer saber quem era o amante de sua esposa e se ela o amava.
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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A chave de Sarah

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Conflitos sociais, afetivos,  familiares, segredos, guerra, identidade, auto suporte, história, holocausto.
Queria primeiro agradecer pela indicação de Selma Ciornai, valeu a muito a pena, é imperdível. O filme poderia ter o título “A chave do segredo”, sim, pois falamos daqueles segredos familiares, aqueles que fazem parte de nossa constituição e dos acontecimentos históricos que tentamos esquecer. Dois dramas estão entrelaçados na trama: O episódio histórico que ocorreu na França ocupada pelos nazistas em 1942 e o drama pessoal de Sarah, e seus desdobramentos. Os segredos da humanidade e os segredos familiares vão sendo desvendados no desenrolar do enredo. Além de uma aula histórica, “A chave de Sarah” também nos ensina sobre a influência dos segredos familiares, ainda que tenham ocorrido muito antes de nosso nascimento. Somos convidados a refletir sobre os aspectos de nossos antepassados que ainda insistem em nos habitar, repetindo sucessivos apelos à autonomia do ser, estimulando nossa capacidade de escolha. Discordo de alguns críticos, quando apontam a pequenez dos conflitos pessoais apresentados pela jornalista nos dias atuais. Atentem para a “coincidência” de sua pesquisa ocorrer exatamente no momento de gerar outro ser, seus conflitos familiares na decisão e seu envolvimento na trama familiar que fará parte da constituição deste novo ser. E não podemos perder de vista o compromisso afetivo que sustentou a sobrevivência de Sarah durante a guerra. O desdobramento marca sua existência, a posterior busca de sobrevida através do segredo é também o que não permite sua integração, uma incompletude que atormenta seus dias. Outro olhar sobre as feridas da guerra, que ainda nos assombram, provocam reflexões sobre as desrazões que promoveram e continuam promovendo conflitos tão desumanos. Um filme daqueles que podem dizer muito mais, pois nos convida a trocas sobre o coletivo e o individual, permitindo distintas percepções que enriquecem, afinal, “somos produtos de nossa história”.  Por tudo isso recomendo e os convido a compartilhar novos olhares.
Embora armado, notoriamente, para atrair o grande público e, por isso, acumulando detalhes sentimentais que o mantenham fisgado, "A Chave de Sarah" tem mais qualidades do que defeitos. Acontecendo simultaneamente em duas épocas e engajando novos personagens a cada momento, a narrativa é envolvente. Crítica completa, clique aqui.
SINOPSE
Julia é uma jornalista americana que vive em Paris há mais de 20 anos e é casada com o francês Bertrand. Escrevendo um artigo sobre a onda de prisões de judeus na cidade durante a 2ª Guerra, ela se depara com um segredo conectado à sua vida: tudo indica que o apartamento de seu marido pertencia à família de Sarah, uma menina judia que, junto com os pais, foi levada de casa pela polícia nazista.1942, durante a ocupação alemã na França, na 2ª Guerra Mundial. Sarah Starzynski (Mélusine Mayance) é uma jovem judia que vive em Paris com os pais (Natasha Mashkevich e Arben Bajraktaraj) e o irmão caçula Michel (Paul Mercier). Eles são expulsos do apartamento em que vivem por soldados nazistas, que os levam até um campo de concentração. Na intenção de salvar Michel, Sarah o tranca dentro de um armário escondido na parede de seu quarto e pede que ele não saia de lá até que ela retorne. A situação faz com que Sarah tente a todo custo retornar para casa, no intuito de salvá-lo.  a jornalista Julia Jarmond (Kristin Scott Thomas) é encarregada de preparar uma reportagem sobre o período em que Paris esteve dominada pelos nazistas. Quanto mais a fundo Julia segue a história, mais descobre sobre o marido, a França e sobre si própria. Baseado no romande de Tatiana de Rosnay. Selecionado para o Festival de Toronto 2010.
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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Eu me chamo Elisabeth

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Rito de passagem, separação, abandono, solidão, depressão infantil, saúde mental.
É um filme delicado, que fala um pouco sobre solidão infantil e o rito de passagem da infância para a adolescência. Enquanto o casamento dos pais está em processo de dissolução, Elisabeth está em situação de isolamento. A mansão é muito grande e a falta de contato com outras pessoas, vai fazendo a menina sentir-se abandonada, chegando a apresentar sintomas de depressão. Sua carência fica evidente quando encontra no paciente psiquiátrico uma oportunidade de fazer amizade, se relacionar. Há que se observar muitos aspectos da vida moderna na trama. Gostaria de chamar a atenção para a situação de carência da criança, hoje tão comum nas famílias “modernas”. A importância das relações sociais para a construção de nossa identidade é notória. Quantos pais e mães deixam seus filhos, seja por necessidade ou negligência, em situações parecidas? Seja em casamentos em crise ou não, qual é o círculo de convício das crianças? Outro aspecto que me chamou a atenção foi o contato puro que fez com o paciente fugitivo.
Trabalhei um tempo com pacientes psiquiátricos graves, e percebi o quanto a falta de amor, carinho e atenção, os prejudica. A desospitalização, processo que rompeu com o tratamento desumano dos manicômios, não foi suficiente para reparar esse equívoco. A intolerância coma as diferenças ainda permanece em nossa sociedade, até mesmo no interior da família.  O funcionamento diferente do que consideramos “normal” se torna sempre algo a ser excluído, isolado ou pior, ignorado. Percebam que o rapaz, mesmo com problemas mentais, constrói um vínculo forte com a menina. A relação é elaborada aos poucos,  com carinho, cuidado e pureza. Não há qualquer pré-julgamento em Betty quando se aproxima do rapaz, que se transforma em seu porto seguro. Na escola, as relações são frustrantes, pouco confiáveis. A relação da criança com o paciente psiquiátrico vai sendo fortalecida, até o momento que é necessário tirá-lo da cabana, pois será transformada em sala de jogos. Ela o orienta, vence seus medos e o acompanha, dando-lhe instruções para viagem. Aos poucos, seu desamparo ressurge e a dor a impulsiona para buscar seu fim. E seu amigo reaparece e a resgata de um possível suicídio. Os conflitos familiares motivam a  fuga  com seu amigo. E, é também no final do filme, que o amigo a salva. O mesmo que é considerado suspeito de tê-la seqüestrado é quem, apesar de seu estado mental, tem a lucidez “emocional” suficiente para resgatá-la. A cena nos convida a refletir sobre a importância do carinho, cuidado, atenção nas relações em geral, independente das diferenças. Vale a pena conferir, é um filme tocante!
SINOPSE
Na trama, passada na década de 1940 no interior da França, uma garotinha assustada vive com seus pais e irmã numa mansão ao lado de uma clínica psiquiátrica. O pai é diretor do local e se vê às voltas com o sumiço de um dos pacientes, justamente enquanto luta para manter o casamento. Deixada praticamente sozinha durante o dia, apenas na companhia da babá deficiente mental, a pequena Betty (Bellugi) certo dia encontra o fugitivo escondido na cabana ao lado de casa - e passa a cuidar dele. A relação se torna seu segredo mais íntimo e a única coisa pela qual ela tem controle em meio às difíceis mudanças de sua vida. Clique aqui.
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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Noiva em fuga

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ASSUNTO


Auto suporte, relações afetivas, familiares e sociais, gestalt-terapia.

SINOPSE

Maggie Carpenter (Julia Roberts) possui um grave problema: não consegue se casar. Já tentou por 3 vezes, mas na hora da cerimônia algo acontece e ela sempre foge do altar. Quando a história chega aos ouvidos de Ike Graham (Richard Gere), um jornalista machista da cidade grande, ele a publica em sua coluna e logo em seguida demitido por não ter confirmado a história antes. Decidido a recuperar o emprego, Ike parte para a cidade de Maggie a fim de provar que a história da noiva fujona verídica.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Vi pela primeira vez por indicação de minha primeira professora de Gestalt-terapia: Eliane Farah. Éramos um grupo de gestalt-terapeutas em formação que se reuniam com a supervisora uma vez por semana para discutir os casos que estávamos atendendo. Um de nós atendia a uma cliente que tinha uma relação “misturada”, o que em gestalt-terapia chamamos de “confluência” e em psicanálise é conhecida como “simbiose”. Isto significa dizer que a cliente em atendimento funcionava muito fusionada com o parceiro, ou seja, pouco sabia de si. Em gestalt-terapia, privilegiamos qualquer ferramenta que possa ajudar ao cliente a “se dar conta” do seu funcionamento, em detrimento de uma informação. Nesse caso, por exemplo, sinalizar para a tal cliente que ela funcionava desta forma poderia gerar negação ou apenas uma informação a nível cognitivo, sem alcançar suas sensações ou ações de fato. Claro, isso também ajuda, mas qualquer ferramenta que faça a pessoa “se dar conta” de forma a “cair a ficha” sempre será mais eficaz. Por esse motivo, é a fita é uma ótima indicação para pessoas que perdem sua identidade na relação afetiva.
O filme não foi muito aclamado pela crítica, principalmente por ter sido comparado com “Uma linda mulher”, estrelado anteriormente pelos mesmos atores. Sendo considerado como apenas uma jogada de marketing para tentar repetir o sucesso do primeiro, o filme “Noiva em fuga” foi bastante preterido. Trata-se de uma comédia romântica que aparenta ser como todas as outras. Entretanto, é um prato cheio para a psicologia, tendo em vista que retrata um dos nós mais comumente encontrado nas relações amorosas.

domingo, 8 de janeiro de 2012

A garota ideal

clip_image001ASSUNTO
Relações familiares, afetivas e sociais, solidão, suporte, solidariedade, saúde mental.
Mais do que garota ideal, o filme nos apresenta uma “sociedade ideal”, onde a solidariedade impera. Muito interessante esse aspecto do filme, pois toda a comunidade participa efetivamente do tratamento de Lars, um homem que apresenta dificuldade nas relações. Ainda que seja solícito e educado, fica clara a sua dificuldade em se relacionar intimamente. No entanto, a trama revela aos poucos os traumas de sua infância, fazendo um paralelo entre a gravidez de sua cunhada e seu nascimento. O personagem faz de seu delírio um caminho para elaborar suas questões e caminhar para seu crescimento. Pesquisando na internet é possível encontrar olhares diversos e mais detalhados sobre os aspectos psicológicos do filme, apoiado nos mais diversos teóricos. Alguns consideram a boneca como um “objeto transacional”, semelhante à fralda, ao amigo imaginário ou ao boneco que a criança utiliza para lidar com a separação da mãe e o início de sua autonomia. Outros destacam a importância do suporte da família e da comunidade no processo de desenvolvimento do personagem. O fato é que seu delírio acaba sendo uma poderosa ferramenta para elaborar suas questões mais doloridas, permitindo o desenvolvimento de suas potencialidades. As questões familiares vão aos poucos sendo passadas a limpo, libertando também o irmão mais velho de seus fantasmas. Outro aspecto interessante é como o filme aborda a solidão e as diversas tentativas de elaborá-la. Observem que no trabalho, outros personagens se valem de objetos para lidar com a própria solidão. É um filme simpático, charmoso e leve. Concordo com Luiz Zanin, quando diz que o filme “ Soa como uma pequena fábula, que convida o público a distanciar-se da necessidade do realismo a qualquer preço”. Leia mais clicando aqui.
SINOPSE
Lars Lindstrom (Ryan Gosling) é um homem tímido e introvertido, que vive na garagem de seu irmão mais velho, Gus (Paul Schneider), e sua cunhada Karin (Emily Mortimer). Lars apenas acompanha o desenrolar de sua vida, sem se mexer para algo. Até que um dia ele encontra Bianca, uma missionária religiosa, através da internet. O problema é que para as pessoas Bianca não é alguém real, mas a réplica de uma mulher, feita de silicone. Só que Lars acredita piamente que ela é um ser humano, o que faz com que se torne seu apoio emocional. Preocupados, Gus e Karin decidem procurar o conselho de uma psicóloga, que recomenda que concordem com Lars enquanto ele lida com seus problemas pessoais.
TRAILER