sábado, 18 de junho de 2016

Alice através do espelho


ASSUNTO
Desenvolvimento, perdas, tempo, aventura, crescimento, relações familiares, sociais e afetivas.

SINOPSE
Alice (Mia Wasikowska) retorna após uma longa viagem pelo mundo, e reencontra a mãe. No casarão de uma grande festa, ela percebe a presença de um espelho mágico. A jovem atravessa o objeto e retorna ao País das Maravilhas, onde descobre que o Chapeleiro Maluco (Johnny Depp) corre risco de morte após fazer uma descoberta sobre seu passado. Para salvar o amigo, Alice deve conversar com o Tempo (Sacha Baron Cohen) para voltar às vésperas de um evento traumático e mudar o destino do Chapeleiro. Nesta aventura, também descobre um trauma que separou as irmãs Rainha Branca (Anne Hathaway) e Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter).
TRAILER

O OLHAR DA PSICOLOGIA

Alice volta a personificar questões humanas do seu, porque não dizer do “nosso”, ”vir a ser” constante. Em “Alice através do Espelho” acompanhamos sua jornada já na idade adulta, diante dos desafios da vida, enfrentando tempestades e se arriscando acreditar no impossível.  Como ela diz: “A única maneira de acreditar no impossível, é acreditar que é possível”, temos assim o ponto de partida para mais uma aventura, repleta de metáforas, que caminham em direção ao crescimento. A crítica não perdoou a inconsistência do longa, apontando a falta de aprofundamento em qualquer dos temas, dos excessos de efeitos e da fragilidade no desenvolvimento da trama que muito se distancia do livro, segundo eles. Um olhar mais inocente irá se maravilhar com os efeitos especiais e a realização do impossível na tela. Trata-se de uma aventura, que mescla o universo infantil com o adulto, de forma leve, nos permitindo um belo entretenimento.
Penso que entrar na vida adulta requer de todo ser humano fazer as pazes com a criança que foi um dia, e, que se for possível dar as mãos à mesma, é possível seguir em frente, aceitar o possível sem que se perca o dom infantil de arriscar. Certamente, o momento requer habilidade de responder ao momento presente, que traz obstáculos e situações que não podem ser controladas por nós. Ou seja, a responsabilidade da vida adulta nos chama. Penso que Alice pode ser uma boa metáfora para tais momentos, quando desejamos voltar no tempo, tentando corrigir erros do passado. Mas, como diz o tempo personificado: Não podemos mudar o passado, mas é possível aprender com ele. Alice tenta com todas as suas forças mudar o passado, num esforço de evitar que seu amigo viva uma dor como a sua, a falta que o pai faz em sua vida.  Ela não pode voltar atrás com a sua perda, mas se arrisca para evitar que o amigo perca sua família. É também interessante olhar o passado como algo que nos tornou o que somos, mas nunca tratá-lo como determinista de nossa história. Afinal, sempre poderemos aceitar nosso passado e seguir em frente, agora, no momento presente, o único tempo capaz de realizar mudanças. Talvez, o passado seja um lugar para ser visitado e colocado em seu devido lugar, aceitando-o como um tempo que nos construiu, nos dando contorno, mas nunca nos restringindo. Assim, Alice elabora o tempo e aprende com ele a aceitar possibilidades, imperfeições, erros e acertos da vida. Ela não desiste da criança que  habita em si, dos sonhos e de suas convicções. Ao mesmo tempo, compreender a imperfeição de si e dos outros, aprende que o amor é apesar de e não porque, aceitando assim sua mãe como é. Abre novas possibilidades de relação, consigo, com sua família, com suas lembranças e com o mundo. Apesar de o filme tocar em temas como perdas, família, compaixão, tempo, feminismo, etc., o que mais me encantou foi aquele implícito, que nos confronta com questões universais do desenvolvimento. Em alguns momentos, a trama aponta dualidades presente em nossas relações familiares, afetivas e sociais. Apontar dualidades, como: normal/patológico (loucura), antes/depois, certo/errado, passado/presente, infantil/maduro, sonho/realidade, e , tantas outras, nos convida para integrar o impossível na vida, tornando possível uma visão mais ampla da humanidade que habita em nós. Vale sempre a pena sonhar e realizar, através da criatividade, a característica humana mais preciosa da existência. E, neste aspecto, o filme é espetacular, confira!

5 comentários:

  1. Muito bem colocado por Patrícia Santos, este filme e o primeiro Alice No País Das Maravilhas, trás assuntos que abordam valores muitas vezes esquecidos por nós, e proporciona momentos de reflexões.

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    1. Obrigada, Ricardo, por sua participação! Volte sempre, sugira, nos presenteie com suas percepções, quando possível. Será um prazer!
      Abs,
      Patrícia

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  2. O filme nos apresenta algumas questões ben duras em certos momentos, como o que devemos considerar real/possível e mais que isso, o por quê. Além de demonstrar que sempre tem algo a mais em cada pessoa, seja isso algo bom ou não, como o caso da rainha branca por exemplo, e também nos mostra que muitas vezes apenas umas poucas palavras podem mudar muita coisa, por exemplo a mágoa que a rainha vermelha guardou durante tanto tempo e só gostaria de ouvir o pedido de perdão da irmã. Essas e outras indagações bem interessantes nesta história, ansioso pela leitura.

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    1. Obrigada, pessoa, por sua contribuição, indicando outras perspectivas. A proposta é essa, cada olhar somar oportunizando uma visão mais ampla. Volte sempre!

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  3. Perfeito!! Anotei em meu diário alguns trechos de seu texto. Amei, bela visão!!

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