ASSUNTO
Solidão, relações afetivas, familiares e sociais, bullying,
depressão.
SINOPSE
Fúsi é um homem de 43
anos que ainda mora com sua mãe, ainda não teve coragem de entrar na vida
adulta. Ele vive uma pacata rotina monótona, não tem namorada, sofre bullying no trabalho, dedica seu tempo
livre a carrinhos e maquetes. Sua rotina é alterada quando conhece Hera, uma
menina de 8 anos, e a vibrante Alma, parceira da aula de dança. Tudo poderá mudar.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Que filme! Difícil saber por
onde começar, quando encontramos um drama de tamanha riqueza temática. O título
original se refere apenas ao nome do personagem, diferente do título em
português, que faz questão de “rotular” mais de um personagem como desajustado.
Afinal, do que falamos quando usamos tal rótulo? Seriam desajustados aqueles
que não se “encaixam” nas regras sociais e culturais do momento e lugar? Seriam
desajustados aqueles que estão à margem da sociedade por diferentes razões? Ou,
são considerados “desajustados” aqueles facilmente diagnosticados pela
psiquiatria ou psicologia? Independente
da resposta, podemos pensar que a proposta do filme é contrária a esse olhar,
pois o espectador é convidado a partilhar das vivências de Fúsi. Numa que tem
produzido solidão, sendo favorecida pelo mundo virtual e por soluções mágicas
para as frustrações do cotidiano, é desconcertante assistir ao mundo solitário de
Fúsi. Diferente dos excessos de estímulos produzidos pelos avanços
tecnológicos, que preenchem espaços, sem que haja tempo de digerir as informações,
temos na trama uma solidão que é ocupada pela rotina monótona e quase
infantil. O mundo dele é de repetição, segurança, conformismo, mas também há delicadeza,
doçura, inocência e até força diante das situações enfrentadas. Em certos
momentos, é possível pensar que o mundo de Fúsi é anestesiado, aparentando ser
impossível para ele desejar outra forma de estar no mundo. No momento em que tem a oportunidade de denunciar o bullying que tem sofrido, ele não o faz. Para o espectador é difícil suspender julgamentos e concordar com sua forma de reação ou ausência dela. Cenas de seu
cotidiano exibem pequenos detalhes que em relação ao todo produzem sentidos e
significados. Não há desejo de mudanças, ele parece não esperar
mais nada da vida, sua rotina lhe basta. Novas relações surgem para tirar Fúsi
de sua zona de conforto, favorecendo outra perspectiva de vida.