Atendendo em consultório particular em Copacabana e na Ilha do Governador, reflito sobre a influência dos filmes em minha trajetória, que foi atravessada pelo cinema em diversas fases. Ferramenta de auxílio para a compreensão de diversos conceitos, os filmes não só informam, mas são capazes de nos tocar, favorecendo assim, novas formas de lidar com nossas questões e conflitos.
Compartilho, então, alguns desses filmes.
Homossexualidade, drogas, doença terminal, relações sociais, familiares e afetivas.
SINOPSE
Matteo (Riccardo Scamarcio) e Ettore (Valerio
Mastandrea) são irmãos com vidas distintas e que compartilham um laço afetivo
pouco desenvolvido. Enquanto o primeiro é um jovem empreendedor carismático e
"mente aberta", o segundo leva uma vida simples e reclusa na cidade
em que nasceram, trabalhando como professor no ensino médio de uma escola
local. Após um evento traumático, os dois começam a viver juntos em Roma,
durante alguns meses. A situação faz com que eles trabalhem suas diferenças,
possibilitando - em meio a um turbilhão de medo, fragilidade e euforia - o
nascimento de uma ligação genuína entre os dois.
TRAILER
O
OLHAR DA PSICOLOGIA
Disponível
na NETFLIX até o final de abril. Euforia, um drama familiar italiano, foca na
relação de dois irmãos, que após trilharem caminhos distintos, voltam a se
aproximar. O contraste entre os dois mundos, logo fica evidenciado. Matteo é a
própria euforia, vivendo num estado ilusório de sucesso e prazer permanentes.
De fato, ele é um jovem empreendedor bem-sucedido, que transita bem em seu meio
profissional e social. Entretanto, o distanciamento afetivo não parece somente acontecer com o irmão. Ettore, por sua vez, seguiu outro caminho, se manteve na cidade onde
nasceu, é professor, leva uma vida simples e retornou para casa da mãe após a
separação recente.
Adolescência, preconceito, racismo,
feminismo, relações sociais e afetivas.
SINOPSE
A trama acompanha Vivian (Hadley Robinson), uma jovem que começa a despertar o desejo de
lutar contra as coisas erradas que acontecem em sua escola - desde um “ranking
de garotas” feito pelos rapazes, até a vista grossa dos professores e diretoras
diante de assédio e discriminação. Sua maior inspiração são os zines antigos de
sua mãe, Lisa (Amy Poehler, também diretora do longa), que a fazem criar o Moxie, um
jornal independente da escola que começa a expor tudo o que acontece por lá.Adaptação do livro best-seller da autora Jennifer
Mathieu. Disponível na netflix,
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Quando você não quer pensar
muito, escolhe um filme leve, uma comédia adolescente, como Moxie, tudo que espera é um leve entretenimento. Aí,
você se depara com uma comédia adolescente capaz de pincelar assuntos
importantes, de uma forma leve, divertida e inspiradora. No mês em que é
comemorado o dia internacional da mulher, nada mais agradável do que acompanhar
jovens debatendo o feminismo com leveza. Focado na luta por igualdade de
gênero, o filme aborda questões importantes, sem perder o tom de comédia. A
transformação da protagonista é visível em sua expressão, que de alienada passa
a revelar revolta e inconformismo, diante do que sempre esteve lá, já normatizado,
oprimindo e sufocando as vozes femininas. Velhos movimentos de roupagem nova,
os jovens utilizam novas ferramentas, não só para divulgação, mas para
realização de protestos pacíficos e orquestrados. É o frescor da juventude
encontrando novas soluções! A protagonista convida o espectador a despertar,
ousar sair da mesmice, da tela do computador, ou telefone, e, partir para ação.
Apesar de a trama retratar uma escola americana, as questões dos adolescentes
em sua singularidade, o preconceito de gênero e o racismo são assuntos já
globalizados, muito próximos do que pode ser experimentado em qualquer lugar do
mundo. A proposta não foi aprofundar nenhum dos conflitos, as soluções se
revelaram fáceis e rápidas, mas nada que pudesse prejudicar o todo, afinal,
trata-se de uma comédia. Feita com e para adolescentes, o filme traz temas espinhosos
com frescor e jovialidade, transbordando energia, empatia, aceitação e criatividade.
Vale conferir!
Autossuporte, aceitação, relações afetivas e sociais.
SINOPSE
Renee (Amy Schumer) convive diariamente com insegurança e
baixa autoestima por conta de suas formas físicas. Depois de cair e bater
a cabeça numa aula de spinning, ela volta a si acreditando ter o corpo que
sempre sonhou e assim começa uma nova vida cheia de confiança e sem medo de
seguir seus desejos.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
I Feel Pretty, a tradução
literal seria "eu me sinto bonita", o título em português: “Sexy
por acidente”. Gosto mais do titulo original, que prioriza o “sentir”, processo
mais importante apresentado no filme. Sim, Renne, como muitos, é vítima de uma
pressão cruel, midiática e social, que teima em apresentar corpos e pessoas
perfeitas como modelo. Daí, um pulo fácil para a baixa autoestima e insegurança
gerada pela sensação de inadequação. Numa luta
diária com a busca da perfeição, ela vai se distanciando de si mesma, em
busca de lugar num mundo restrito de “aparências perfeitas”, onde tudo é
felicidade. Será? Bom, apesar de clichê, a comédia nos mostra um desejo
compartilhado por mulheres e homens do mundo todo, que ainda estão “contaminados”
pelo universo mágico da aparência perfeita. Renne tem dificuldade de emagrecer,
mas sonha com um corpo perfeito. Após diferentes tentativas, ela tem a ilusão
de que conseguiu realizar seu sonho. Ao acreditar ter o corpo sonhado, a
protagonista inaugura uma nova etapa de vida, onde o amor próprio e a
autoconfiança ditam seu novo comportamento. Daí, a trama se desenvolve como tantos outros filmes clichês, que
apresentam soluções fáceis e finais felizes, sem deixar de passar uma mensagem
interessante.
Sexualidade,
terceira idade, relação afetiva, social e profissional.
SINOPSE
Curta-metragem indicado ao
Oscar de 23019. Uma mulher idosa e sua enfermeira desenvolvem uma amizade que a
inspira a descobrir desejos não reconhecidos e, assim, ajudá-la a fazer as
pazes com seu passado.
TRAILER
O
OLHAR DA PSICOLOGIA
O
curta-metragem encanta, ao apresentar a relação entre profissional e paciente,
de uma forma delicada e poética. Diferentes profissionais convivem com
pacientes terminais, em um processo delicado de fechamento de um ciclo. Não é
um trabalho fácil, considerando ao vínculo construído na relação, que sabemos, está
se aproximando do fim. Marguerite é uma senhora que escolhe não mais se submeter
aos tratamentos que exigem internação, ela quer seguir de seu modo, em sua casa,
enquanto seu corpo aguentar. Assim sendo, sua acompanhante faz o possível para
mantê-la confortável.
Paralisia
cerebral, deficiência visual, descoberta da sexualidade, bissexualidade,
relações afetivas, familiares e sociais.
SINOPSE
Laila (Kalki Koechelin) é uma adolescente
indiana que tem paralisia cerebral. Ela estuda na Universidade de Delhi, escreve
poesias e cria sons eletrônicos para uma banda indie da universidade. Laila se
apaixona pelo vocalista e fica de coração partido quando é rejeitada. Ao lado
de sua mãe (Revathy), ela deixa seu país para estudar na Universidade de Nova
York, onde aproveita a oportunidade para exercitar sua independência. Lá, ela
conhece uma jovem ativista (Sayani Gupta) em Manhattan e embarca em uma jornada
de descobertas.
TRAILER
O OLHAR DA
PSICOLOGIA
Que
filme delicado, verdadeiro, esclarecedor, simples e inclusivo. A trama não
pretende focar nas dificuldades da protagonista ou de outros personagens.
Apesar dos obstáculos impostos por sua paralisia cerebral, ou pela deficiência
visual da outra personagem, o foco está nas possibilidades de vida, apesar das
adversidades. Como qualquer adolescente, Laila enfrenta questões muito comuns
aos seus pares. Ela se apaixona, tem desejos, dúvidas, paixões e decepções. As
experiências dela são verdadeiras, simplesmente acontecem e ela faz novas
descobertas. A sutileza das cenas é incrível, transformando suas descobertas
sexuais, desde a masturbação ao ato, em acontecimentos naturais. Não há
classificação, exploração ou crítica, eles simplesmente fazem parte da vida.
Simples assim. O espectador acompanha gestos sutis, ouve sons, descortina seu desabrochar,
sem que sua privacidade seja desrespeitada. Um olhar delicados sobre as
questões dela, sejam afetivas ou sexuais, é uma constante no longa, que encanta
em sua simplicidade. Outros mundos se revelam para Laila, a cada novo encontro,
novos vínculos, novas experiências. Preconceitos e tabus são desnudados na
telona, com uma leveza sedutora, delicada e única. Seu encontro com Khanum, uma
deficiente visual, ampliam seu mundo.
Adolescência, despertar da sexualidade, Homossexualidade, diferenças, relações familiares, sociais e afetivas.
SINOPSE
Verão de 1983, norte da Itália. Elio Perlman,
um jovem ítalo-americano de 17 anos, passa seus dias na vila de sua família, um
antigo casarão do século XVII. Seus dias são repletos de composições ao piano e
flertes com sua amiga Marzia. Um dia, Oliver, um charmoso homem de 24 anos, que
está fazendo doutorado, chega para ajudar o pai de Elio, um renomado professor,
em sua pesquisa sobre cultura greco-romana. Sob o sol do verão italiano, Elio e
Oliver descobrem a beleza do despertar de novos desejos que irão mudar as suas
vidas para sempre.
TRAILER
O
OLHAR DA PSICOLOGIA
Pode
não agradar, não só pelo tema delicado, mas pelo ritmo lento, principalmente na
primeira parte. No entanto, é exatamente pelo ritmo, que o longa proporciona o
envolvimento do público no sensível processo de contato entre os protagonistas.
“Me chame pelo seu nome” traz em seu título o anúncio do tema que será
desdobrado na tela: A entrega no encontro com o outro, tão intensa e
arrebatadora, que promoverá autoconhecimento. Elio é maduro para sua idade
e conhecedor de diversos assuntos, mas não deixa de ser adolescente. Como tal,
seu corpo e mente sofrem transformações, ele está desabrochando. A chegada de
Oliver afeta seu mundo de diferentes formas, o que o deixa confuso. O despertar de sua sexualidade começa em
momentos de tensão, que aos poucos se transformam. A experiência intensa e
arrebatadora irá afetar a ambos para sempre. Não é sobre homossexualidade, é
uma história de amor, do primeiro amor, simplesmente, amor.
Década de 60. Em meio aos
grandes conflitos políticos e bélicos e as grandes transformações sociais
ocorridas nos Estados Unidos, Elisa (Sally Hawkins), zeladora em um laboratório
experimental secreto do governo, conhece e se afeiçoa a uma criatura fantástica
mantida presa no local. Para elaborar um arriscado plano de fuga ela recorre a
um vizinho (Richard Jenkins) e à colega de trabalho Zelda (Octavia Spencer).
TRAILER
O OLHAR
DA PSICOLOGIA
Existem filmes que são capazes de
nos deixar atônitas em seu desfecho. “A forma da água” não é apenas um deles,
pois o suspiro emocionado ainda transbordava, após a conclusão do longa,
reverberando por algum tempo. Talvez, tenha sido por sua linguagem poética,
delicada, encantadora, que costura fantasia e realidade para falar de sentimentos
tão existenciais e necessários ao ser humano. O filme fala, de forma singela,
sobre o encontro de diferenças, desnuda a empatia, denuncia diferentes faces da
desemboca no amor, simples assim. Da masturbação ao sexo entre seres distintos, o enredo possibilita desconstruções. Para os
que se percebem deslocados no mundo, é um poema. Com delicadeza, em contraste
com a estupidez humana, a trama desdobra o amor, sem pudor. A água, fonte da
vida, não podia estar em melhor lugar para falar e espelhar diferentes emoções
do humano, que podem ser refletidas na “criatura”, diante das diferentes
conexões, conforme declarado por Guillermo Del Toro:
“A água toma a forma do que quer que a esteja
contendo, e embora possa ser tão suave, é também a força mais poderosa e
maleável do universo. Isso também é amor, não é?! Não importa em que fôrma
colocamos o amor, ele se molda a ela, seja homem, mulher ou criatura”.
O filme é uma fábula encantadora sobre amor,
que dispensa palavras, priorizando os sentidos através das diferentes formas de
amar, amor ao próximo, à ciência, à amizade, ao estranho, ao diferente,
singular e puro amor. Para os que são incapazes de lidar com as diferenças, que
abusam da violência, do sadismo, da moralidade falsa, fica a questão: quem é o
monstro? Quem é a criatura que nos ameaça, o desconhecido ou a repressão
cotidiana e sádica capaz de sufocar? Cada personagem tem seu próprio espaço,
contados através de linguagem verbais e não verbais. O contexto, a guerra fria,
a tensão em um mundo dividido, nos lembra outras tantas divisões promovidas em
diferentes momentos históricos, em qualquer lugar. O abuso de poder, o
machismo, a homofobia, o racismo, o moralismo hipócrita são os “nós” da trama. Elisa (sexismo), Zelda (racismo), Giles (preconceito) e a criatura (xenofobia) representam vítimas do sistema capazes de alinhavar laços afetivos.
Adolescência,
ansiedade, sexualidade, puberdade, relações familiares, sociais e afetivas.
SINOPSE
Christine McPherson
(Saoirse Ronan) está no último ano do ensino médio e o que mais deseja é ir
fazer faculdade longe de Sacramento, Califórnia, ideia firmemente rejeitada por
sua mãe (Laurie Metcalf). Lady Bird, como a garota de forte personalidade exige
ser chamada, não se dá por vencida e leva o plano de ir embora adiante mesmo
assim. Enquanto sua hora não chega, no entanto, ela se divide entre as
obrigações estudantis no colégio católico, o primeiro namoro, típicos rituais
de passagem para a vida adulta e inúmeros desentendimentos com a progenitora.
TRAILER
O OLHAR DA
PSICOLOGIA
Indicado
para o Oscar, o longa acompanha Lady Bird da passagem da adolescência para a
maturidade. A jornada de amadurecimento já foi retratada em outros tantos
filmes, o Charme daqui está na forma como acontece. A ansiedade adolescente é evidenciada
no processo, sem que seja necessário qualquer diagnóstico. Afinal, é bastante
comum que a ansiedade acompanhe a adolescência, sem que precise ser considerada
uma patologia. Christine quer voar, é
aventureira, sonhadora, dramática, impetuosa e muito desafiadora. A família não está em uma situação financeira privilegiada, a mãe aponta isso a todo
instante, diferente do pai, que dá “cobertura” para os sonhos da moça. Mãe e filha vivem às turras, diante dos desafios da vida. Não é muito diferente do que acontece com frequencia: o adolescente elege um dos pais para "parceiro" e o outro como inimigo. Se o inimigo é aquele que tem os pés na realidade, frustrando os devaneios adolescentes, ele vira alvo de enfrentamentos, birras, discussões infindáveis.
França, década de 1950.
Gabrielle nasceu e cresceu numa pequena aldeia, numa época em que ser mulher
significava deixar a casa dos pais e ser entregue a um marido. Ser apenas
esposa e mãe era um destino quase inevitável. Conscientes da sua rebeldia, os
pais resolvem casá-la com o José, um trabalhador esforçado de origem espanhola,
com a missão de fazer dela uma mulher respeitável. Apesar de toda a dedicação
de José, ela nunca se entrega de corpo e alma ao marido, por quem sente algum
desprezo. Alguns anos depois, sofrendo de dores crônicas nos rins, Gabrielle é
enviada para uma estância termal nos Alpes. Lá, conhece André Sauvage, um
ex-soldado ferido na guerra da Indochina, por quem se apaixona ao primeiro
olhar. Durante as seis semanas seguintes, vai viver umamor que nunca julgou possível…
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Por
um instante, somos convidados a refletir sobre diferentes momentos do papel
feminino ao longo história. Antes de somente estranhar o comportamento de
Gabrielle, é preciso ter um olhar aguçado para a sexualidade feminina,
contextualizando, não só o ambiente familiar, mas também sua época. A burguesia
agrícola é palco para que o mito da histeria tenha lugar. Gabbrielle desafia regras e convenções, expressa
desejos reprimidos descontroladamente. Tida
como louca, ela oscila entre momentos de melancolia e o desejo de romper
barreiras, a apatia e o ataque de fúria. A paixão, tão comum nas transformações
hormonais femininas se torna ato, assédio. A frustração, com a constatação de
sua paixão platônica, se torna surto, desordem, realidade cruel. Dentro de uma
sociedade convencional, sua feminilidade indomável é direcionada para soluções
burguesas, a escolha de um casamento arranjado como opção, aprisionando o
desejo. Sua sexualidade está entrelaçada com a paixão, desejo e amor não podem
ser separados. Para não ser internada, ela aceita se casar, mas sufoca seu desejo,
sua sexualidade latente. Ela impõe regras, mantém distância afetiva do marido.
É no momento de cuidar de sua doença renal, uma metáfora de seu desejo
encarcerado, que Gabrielle volta a fantasiar, amando o amor, sonhando ser
amada, vivendo sua fantasia de amor perfeito, apaixonado, indomável.
Uma caixa de sapatos é enviada para Clay (Dylan
Minnette) por Hannah (Katheriine Langford), sua amiga e paixão platônica
secreta de escola. O jovem se surpreende ao ver o remetente, pois Hannah
acabara de se suicidar. Dentro da caixa, há várias fitas cassete, onde a jovem lista os 13 motivos que a levaram a interromper sua vida -
além de instruções para elas serem passadas entre os demais
envolvidos.
TRAILER
O OLHAR DA
PSICOLOGIA
Febre
do momento, “OS 13 Porquês” foi baseado no livro homônimo de Jay Asher. Provocando
diferentes críticas, algumas favoráveis e muitas contrárias, a série está
levantando o assunto em diferentes segmentos da sociedade. Há quem diga que
pode se tornar um gatilho para aqueles que se encontram vulneráveis, outros
tantos afirmam que os assuntos abordados na trama podem e devem ser discutidos.
Indico abaixo links com diferentes opiniões. Por agora, prefiro destacar a
importância de falarmos sobre o tema, ou, sobre os temas levantados. Aliás,
acho que o aspecto mais positivo da proposta é, de fato, colocar os assuntos
abordados em discussão, é o que está acontecendo. As polêmicas estimuladas por
sua forma explícita ou pela fraqueza dos argumentos, cenas, etc., aqui não
serão discutidos ou julgados. Queremos dividir algumas reflexões motivadas pelo
contato com a série. A primeira coisa que chama a atenção foi o tom vingativo
apresentado pelo projeto de Hanah, que dilui a responsabilidade entre os
colegas (colegas??). Tudo bem, os relatos nos fazem pensar nas possíveis relações
tóxicas que enfrentamos, não só na adolescência. Por esse prisma, pode servir
como um alerta, um ponto de reflexão para aqueles que funcionam de determinada
forma agressiva ou abusiva, sem se dar conta do quanto podem estar machucando o
outro. Por outro lado, muitos suicídios cometidos por algum adolescente são por
si só motivadores de culpa nos colegas, que se perguntam o que poderiam ter
feito, ou deixado de fazer para evitar o desfecho trágico. Há também muito sofrimento
para os que ficam, sem que seja necessária uma acusação gravada em fitas
cassetes. Ok, a licença poética nos permite considerar a proposta como uma
perspectiva possível, para dar voz a quem partiu e promover uma possível
reflexão. Entretanto, é preciso refletir como o suicídio de um adolescente pode
afetar seu entorno, causando sofrimento e dor aos familiares, amigos e colegas.
Concordo com algo que li sobre o assunto, que afirma que o suicídio não é
opção, muito menos para vingança.
O Auto-suporte, abuso, dependência química, drogas, preconceito, homossexualidade, relações afetivas, sociais e familiares, violência.
SINOPSE
Três momentos da vida de
Chiron, um jovem negro morador de uma comunidade pobre de Miami. Do bullying na
infância, passando pela crise de identidade da adolescência e a tentação do
universo do crime e das drogas, este é um poético estudo de personagem. O
protagonista trilha uma jornada de autoconhecimento enquanto tenta escapar do
caminho fácil da criminalidade e do mundo das drogas de Miami. Encontrando amor
em locais surpreendentes, ele sonha com um futuro maravilhoso.
TRAILER
O OLHAR DA
PSICOLOGIA
O
filme poderia ter como título CHIRON EM BUSCA DE SI MESMO, pois retrata a trajetória
de Chiron na busca da própria identidade, diante de um contexto adverso, agressivo
e desestruturado. A jornada é universal e também particular, tendo em vista suas
peculiaridades. Ele é negro, pobre e ainda vive em uma família monogâmica e
disfuncional. Sim, a mãe não tem possibilidade de lhe oferecer suporte, sendo
dependente química, suas alterações abusivas contribuem para a infância
solitária do menino. Diante de um contexto tão insensível e adverso, Little (apelido de infância) sobrevive
como pode. Vítima de bullying, preconceito racial e homofóbico, seus conflitos
existenciais encontrarão algum suporte no afeto de Juan, o traficante, e sua namorada, pessoas que abrem espaço para sua autenticidade. A namorada contribui
para que o menino encontre uma brecha de suporte afetivo em meio ao conturbado
universo em que vive, enquanto Juan ocupa o vazio da figura paterna. Seu desenvolvimento encontra novos obstáculos, seja na
transição para a adolescência, ou para a vida adulta.
Relações afetivas, sociais e familiares, transexualidade, homossexualidade, crise existencial e segredos.
SINOPSE
Três gerações de mulheres de uma família que
vive sob um mesmo teto em Nova York precisam lidar com uma grande transformação
de uma delas que vai afetar a todas. Ray (Elle Fanning) é uma adolescente que decidiu mudar de sexo. Sua mãe
solteira, Maggie (Naomi Watts) precisa rastrear o pai biológico de Ray (Tate
Donovan) para obter seu consentimento legal para a mudança. Dolly (Susan Sarandon), avó lésbica de Ray, está com dificuldade em aceitar que
agora tem um neto. Cada um deles precisa confrontar sua própria identidade,
aprender a aceitar a mudança e sua força como família para finalmente encontrar
compreensão e harmonia.
TRAILER
O OLHAR DA
PSICOLOGIA
Embora,
apresente e discuta a transexualidade, o foco maior é na crise existencial da
mãe de Ray. Sim, Mag está em crise. Não há porque desmerecer tal enfoque,
afinal, Ray se reconhece como menino em corpo de menina, não há crise de
identidade para ele. E, no final das contas, a família sempre terá dificuldade
para lidar com a situação. Certamente, para Mag é mais do que isso, ela tem seu
segredo em relação à paternidade de Ray e uma dificuldade tremenda em lidar com
as próprias responsabilidades de mulher, adulta e mãe, sem falar na dificuldade
imposta pelas necessidades de Ray. Aliás, o ponto de partida da trama está exatamente
nessas necessidades. Aos 16 anos, Ray precisa da autorização do pai para
realizar procedimentos médicos que favoreçam sua existência. As relações
familiares são colocadas em foco a partir de então. Três gerações se encontram
morando no mesmo espaço, a mãe homossexual e sua companheira, Mag e Ray. As
críticas não pouparam alfinetadas, por uma simples razão, o tom pastelão da
comédia tira a chance dos temas abordados serem apresentados com maior seriedade.
Ainda assim, temos uma perspectiva interessante quando olhamos a interpretação
de Elle Fanning, que em diferentes momentos dá espaço para os conflitos
possíveis da sua condição, seja quando esconde seu peito ou quando trabalha
incansavelmente para desenvolver sua versão feminina. Há clara indicação de sua
necessidade primordial de encontrar uma vida mais autêntica. Sua avó
homossexual não compreende as angústias da neta. Em seu universo, o desejo pelo
mesmo sexo pode ser resolvido apenas assumindo a homossexualidade, sem que seja
necessário trocar de sexo. Ela não percebe que para a neta (o), o maior
problema não é a orientação do seu desejo, mas viver em um corpo que não
reconhece como seu. Desde os 4 anos, ela percebe que aquele corpo não lhe
pertence, que não é livre para ser ele mesmo, enquanto habita um corpo que lhe
aprisiona.
Relações afetivas, relação terapêutica, traição, casal e família, crise conjugal.
SINOPSE
Malka
Stein (Zezé Polessa) é uma renomada psicóloga e terapeuta especializada em
realizar terapias de casal e guiar casamentos para um lugar melhor. No entanto,
após trinta anos do seu próprio casamento e com a chegada de um novo casal ao
seu consultório, Malka começa a perceber que ela mesma pode estar precisando de
uma terapia de casal.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Estréia prevista para 8 de dezembro. Uma comédia leve e encantadora sobre a busca de terapia durante a crise conjugal. Confesso que me surpreendi, positivamente. Para terapeutas e casais, não há como não se identificar com uma ou outra passagem. Podemos chamar de clichê ou óbvio, mas não há como fugir disso, quando tentamos falar de crise conjugal. Afinal de contas, todos temos facilidade de reconhecer o óbvio na atitude dos outros, já em nós mesmos não é tão fácil assim. O filme é divertido, leve e provocante. Temos a crise como tema que costura a trama, não só com o casal que busca terapia, mas também com a própria terapeuta e mais dois casais que são entrevistados durante sua evolução. A forma de cada um lidar com os conflitos da relação é particular, entretanto, não é incomum encontrar reações semelhantes, como se fossem construídas socialmente. As diferentes perspectivas, do terapeuta e dos clientes, se desenrolam na tela de forma graciosa e bem humorada, sem deixar de apontar diferentes realidades. Uma obra de ficção não tem compromisso de retratar fatos, seja do processo terapêutico, do tempo de sessão, da forma de contrato, ou, do tipo de intervenção indicada, sensata ou ética. Sendo assim, foi surpreendente como o filme conseguiu extrair risos frouxos do público, principalmente, pela sutileza e obviedade que com a qual conseguiram se aproximar da realidade dos fatos. Críticas sutis e temas necessários, como traição, sexualidade, conflitos de casal, conflitos existenciais, fronteira individual de casal, e, até do terapeuta, se entrelaçam na tela, proporcionando momentos de diversão, descontração e reflexão. Sim, difícil sair de lá sem ter o que debater, seja como profissional terapeuta ou como parte de uma relação conjugal. Com tempo curto de projeção e sem precisar se aprofundar em cada tema, a comédia pode ser um programa pra lá de agradável, podendo render ricos debates.
Relações
afetivas, sociais e familiares, casal adolescente,
SINOPSE
Um
jovem casal, Dan (Ben Rosenfield) e Mel (Taissa Farmiga), se conhecem desde a
infância e estão namorando há 6 anos. A princípio, eles parecem ter um amor
ideal, mas a notícia de uma oportunidade de emprego para Dan pode abalar o
romance e mudar o rumo das coisas dependendo da escolha que ele fizer. Talvez o
futuro que eles tinham imaginados juntos não se torne mais uma realidade.
TRAILER
O OLHAR DA
PSICOLOGIA
O
filme retrata os altos e baixos de um relacionamento, particularmente no que se
refere ao primeiro amor, o primeiro sonho de construir uma vida compartilhada.
Mas, no fundo, cada amor é único, vivenciado como especial e capaz de ser para
sempre... Viver uma paixão é acreditar que será para sempre! Dan e Melanie se conhecem
dede a infância, eles partilharam momentos de amor e de dor, vivenciaram
diferentes experiências, cresceram juntos. A relação do casal não é possessiva,
eles vivem uma relação saudável, respeitam a individualidade, revelam-se como
exemplo de “casal perfeito”. Os seis anos se tornam um marco. Os amigos
estranham e comentam, alegando que a estabilidade daquela reação poderia roubar
outras experiências. O “casal fofo” não aparenta ser afetado, a princípio. Entretanto,
logo surge desconforto, carência, descompasso,
descuido. A intimidade construída ao longo do tempo revela outra face, a
fronteira individual é invadida de forma inesperada. De forma sutil, a trama
revela a violência, o que favorece o debate sobre o perigo das relações
amorosas abusivas. Qual é o limite entre uma discussão saudável e o
descontrole, o desrespeito, a violência física ou psicológica? O mundo gira,
revelando que a perfeição não existe. As mudanças são necessárias, as
frustrações fazem parte do desenvolvimento. A capacidade de lidar com as
mudanças e frustrações é testada, o que provoca constantemente o
encontro com a imperfeição humana. Acontecimentos internos e externos,
previsíveis ou não, fazem parte da vida. Nem sempre é possível lidar com as
crises, seja por traição ou por uma reação descontrolada capaz romper a
barreira do respeito. Existem traições que ajudam ao casal a lidar com a crise,
afinal pode ser o sintoma da relação, capaz
de revelar a necessidade do contrato amoroso ser revisado. Entretanto, a crise de qualquer relação, seja
de 6, 7 ou qualquer outro par de anos, pode servir para o fim de um ciclo, um
recomeço, ou, pode resultar no rompimento. Tudo vai depender da forma do casal
lidar com as mudanças. Aí está o charme do filme, que retrata possíveis
transformações rotineiras de qualquer relação amorosa. Assim como uma roupa ou
sapato podem deixar de ser confortáveis, a relação pode se transformar a ponto
de não ser mais confortável para os envolvidos, buscar ajustes, adaptações ou
descartar, romper? Eis a questão. Sair da zona de conforto é sempre difícil,
ainda que não seja mais tão confortável assim... O desenrolar da trama não
pretende apontar caminhos, nem definir soluções, apenas conta como é possível
para eles lidar com aquela crise. Aliás, o amadurecimento individual pode ser
um ponto a ser considerado, pois a ‘certeza’ sai nitidamente da pauta do casal,
abrindo novas possibilidades, talvez incompatíveis com o status quo.
Autismo, homossexualidade, homofobia,
perdas, luto, relações familiares, sociais e afetivas.
SINOPSE
O
filme apresenta a história de uma família obcecada com a ideia de parecer
perfeita. O único problema aparente dos Young é o filho mais novo, Nick, que
nasceu com Síndrome de Asperger, que faz com que a pessoa tenha dificuldades
para se socializar. Quando Chaz, o filho mais velho, morre em um acidente, a
família cai em pedaços e Nick então precisa juntar as peças para seguir em
frente.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Logo somos tocados pela
linda relação construída pelos irmãos Chaz e Nick. A paciência, o carinho, a
dedicação do irmão mais velho tornam o mundo de Nick mais rico, sua autoestima
mais elevada, e, claro, seu desejo de desenvolver habilidades para compreender
melhor o mundo são também ampliadas. Não há qualquer proximidade entre o
autista e seu pai, que não compreende sua forma de estar no mundo. Sua mãe,
apesar de interessada, não consegue acessar o mundo do caçula. Infelizmente,
Chaz sofre um acidente fatal e deixa os familiares perdidos em seu luto. Nick,
que tinha no irmão seu único elo com o mundo, se vê desamparado, perdido. Acompanhamos
o luto familiar e a dificuldade daquela família lidar não só com a perda, mas
também de encarar a condição autista do filho. Sem Chaz como intermediário,
tudo fica mais difícil, tanto para Nick, como para os familiares. Na busca de
elaborar o próprio luto e restaurar a si mesmo, Nick caminha através das dicas
deixadas pelo irmão. Se aproximar de seus amigos é um bom começo, o que nos
brinda com cenas emocionantes, ora delicadas, ora bem humoradas. Desconstruir a
imagem de perfeição do irmão mais velho se torna um aprendizado ímpar, não só
para Nick, mas também para toda a família. Fica evidente a dificuldade de perceber
a imperfeição de cada um, trazendo até o homossexualismo para pauta, o que
evidencia a homofobia no seio familiar.
Pedofilia, pré-julgamento, relação terapêutica, familiar e social, psicoterapia, investigação psicológicas, calúnia, sexualidade
SINOPSE
Não recomendado para menores de 14 anos 2012 - Lucas (Mads Mikkelsen) trabalha em uma creche. Simpático e amigo
de todos, ele tenta reconstruir a vida após um divórcio complicado, no qual
perdeu a guarda do filho. Tudo corre bem até que, um dia, a pequena Klara
(Annika Wedderkopp), de apenas cinco anos, diz à diretora da creche que Lucas
lhe mostrou suas partes íntimas. Klara na verdade não tem noção do que está
dizendo, apenas quer se vingar por se sentir rejeitada em uma paixão infantil
que nutre por Lucas. A acusação logo faz com que ele seja afastado do trabalho
e, mesmo sem que haja algum tipo de comprovação, seja perseguido pelos
habitantes da cidade em que vive.
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O
OLHAR DA PSICOLOGIA
Difícil,
angustiante, porque não dizer, dilacerante. O tema central do filme é um
assunto delicado, difícil e desconfortável, a possibilidade de pedofilia. Assunto que causa
revolta, inconformismo, prejuízos incalculáveis para os envolvidos. Entretanto,
nem sempre a acusação de pedofilia é verídica. Difícil ser imparcial num
processo semelhante, que pode promover reações imprevisíveis. A trama foca numa
acusação inocente, sem bases consistentes, mas é o suficiente para marcar a
vida do acusado e despertar reações psicológicas, físicas e emocionais
incontroláveis em seu entorno. Sim, é doloroso se colocar no lugar do professor
acusado injustamente. É impressionante assistir o processo que transforma a sua
vida, sem que isso afete a sua forma doce de lidar com as crianças, mesmo em
relação àquela que foi fonte de seu sofrimento. Se, por um lado temos uma
pessoa acusada injustamente, por outro, temos pessoas reagindo à possibilidade de
um fato grotesco, a pedofilia. Inimaginável se colocar no lugar dos pais em
situação semelhante. Tudo começa com uma reação infantil a uma frustração. A
pequena Klara, inconformada com a sensação de rejeição, busca em sua imaginação
uma forma de se vingar. Sua experiência recente com o irmão mais velho oferece
material suficiente para sua vingança. Ela não tinha ideia do que viu, ouviu e usou
em como fonte, muito menos das possíveis consequências de sua ação.
Acompanhamos o cuidado inicial da diretora da creche, que pretendia investigar
o caso com cuidado. No entanto, ela também é contaminada pelas atitudes
inconsequentes do profissional recomendado para averiguar o caso, o psicólogo
da escola. Teremos, então, um exemplo equivocado de investigação. No lugar de
aguardar o fenômeno se revelar, acompanhamos um processo indutivo por parte do
profissional. Sim, infelizmente, o profissional induz a criança durante a
entrevista. Na conversa, fica claro que ele parte do pressuposto de ter
ocorrido o abuso, de que o professor é culpado, o equívoco profissional começa
aí. A equivocada entrevista do profissional é o ponto de partida para o desdobramento da trama, nos colocando no lugar do acusado, que acaba por ser estigmatizado sem que haja provas suficientes. Se por um lado, o filme apresenta um exemplo equivocado de entrevista psicológica, por outro, nos abre a oportunidade de auxílio ao acusado, permitindo outra perspectiva.
Relações afetivas e sociais, sexualidade, transsexualidade, transtorno de identidade de gênero.
SINOPSE
Não recomendado para menores de 14
anos
Cinebiografia de Lili Elbe (Eddie Redmayne), que nasceu Einar
Mogens Wegener e foi a primeira pessoa a se submeter a uma cirurgia de mudança
de gênero. Em foco o relacionamento amoroso do pintor dinamarquês com Gerda
(Alicia Vikander) e sua descoberta como mulher.
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O
OLHAR DA PSICOLOGIA
O
filme é a cinebiografia de Lili Elbe, nascido Einar Mogens Wegener, um artista
plástico dinamarquês que teria sido a primeira pessoa a se submeter a uma
cirurgia de mudança de gênero. A década de 20 era um momento em que a
medicina ainda não estava preparada para lidar com as possíveis complicações
daquela intervenção. É preciso considerar que o filme foi baseado em um livro,
que por sua vez foi baseado em uma história real, um marco na história da
medicina e uma porta que se abria para os transexuais. Na adaptação para o
cinema, importantes detalhes foram omitidos ou modificados. Por exemplo, Lili
foi submetida a 4 cirurgias, pois encontrou o amor e pretendia constituir
família, ter filhos. Segundo diversos relatos, na ocasião de sua morte, Gerda
já não convivia com Lili, que estava acompanhada de seu novo amor, um curador
de artes. Gerda, por sua vez, bissexual assumida, após se divorciar do segundo
marido, não obteve sucesso profissional e se tornou alcoólatra, encerrando sua
passagem pela vida no anonimato. Embora não haja qualquer menção à
bissexualidade de Gerdra na trama, é possível considerar algumas pistas, seja
no roteiro ou na interpretação da atriz. A
trama foca o relacionamento do artista com sua esposa Gerda, sua descoberta como mulher e a reação de ambos
durante o processo. Não há exposição sobre as reações da sociedade. As
críticas não foram favoráveis nem ao desfecho do filme, nem a forma, sendo considerada
por muitos como rasa na abordagem do assunto. Fato é que o enredo abre uma brecha
para discussão e melhor compreensão do que é ser transexual. Esclarecendo:
Diferente da homossexualidade, que é caracterizada apenas pela
atração sexual e afetiva entre indivíduos do mesmo sexo, sem que haja incômodo
com o próprio corpo, a transexualidade traz uma pessoa que não se identifica
com o seu corpo, seu gênero psicológico não corresponde ao físico. Independente da ficção, a trama denuncia
algumas questões reais. Por exemplo, na procura de solução para seu incômodo,
Lili encontra até o diagnóstico de esquizofrenia. Dentre outras intervenções que tentavam "resolver" a questão, o choque também foi utilizado,
Relações afetivas e sociais, poliamor, limites morais e sociais.
SINOPSE
Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson) são amigas e passam férias em Barcelona. Vicky está noiva e é sensata nas questões do amor. Cristina é pura emoção e movida a paixão. Durante uma exposição de arte, as duas se encantam pelo pintor Juan Antonio (Javier Bardem), que as convida mais tarde, durante um jantar, para uma viagem. O que elas não sabiam é que o galante sedutor mantém um relacionamento problemático com sua ex esposa Maria Elena (Penélope Cruz). E as coisas ainda ficam piores porque as duas, cada uma de sua forma, se interessam por ele, dando início a um complicado "quadrado" amoroso.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Após falar sobre poliamor através do filme Dieta Mediterrânea, que apresenta o relacionamento de dois homens com uma mulher, aqui encontramos o contrário, um homem e duas, talvez três mulheres. A perspectiva muda também em outros aspectos. Por exemplo, no primeiro instante, ao conhecer as moças, Juan Antonio é direto as convidando para uma viagem, onde poderão se aventurar, até na cama. As amigas, de personalidades quase opostas, reagem de forma distinta a tal proposta. Enquanto Cristina deseja ardentemente aceitar o convite, Vicky nega veementemente, alegando, entre outras coisas, estar noiva. No entanto, algo não revelado a convence e as duas embarcam no avião. O choque inicial, diante da proposta ousada de Juan, logo se dissipa, pois novos acontecimentos impedem que os planos dele se realizem. Não falta desejo. Cristina, a mais liberal, não precisa de mais intimidade ou conhecimento, ela segue seus impulsos, se entrega aos desejos da alma e do corpo. Ainda assim, o inesperado acontece, eles não podem seguir adiante, ela passa mal. É por acaso, então, que Vicky e Juan se aproximam, aos poucos revelando as qualidades do sedutor. Ela, até então previsível, perde o controle, também se encanta por ele. Daí em diante, assistimos encontros e desencontros, construções e desconstruções de relacionamentos diversos.
Sofia (Olivia Molina) nasceu prematuramente, em uma barbearia rodeada de homens. Nos 15 anos seguintes ela vive em meio às mesas e fogões do restaurante de seus pais. Já adulta, se casa com Toni (Paco León) e com ele tem três filhos. Só que, ao mesmo tempo em que ama seu marido, se apaixona por Frank (Alfonso Bassave), o agente que todo artista gostaria de ter. Com Frank ela aprende os segredos da gastronomia. Logo o trio firma um acordo profissional, que altera a forma de cozinhar de Sofia.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
“Leve, saboroso e ligeiramente picante”, foi assim que Line Macedo (Clique para ler o artigo completo) fez referência ao filme. Concordo. O filme é leve, toca em assuntos delicados de forma light, permitindo que o espectador compartilhe da evolução de Sofia, sem que os julgamentos tenham espaço suficiente para o estranhamento. É saboroso pela possibilidade da película trazer para as imagens diferentes sabores, através de cores no encontro entre aromas e paladares. Ligeiramente picante porque o filme ousa transcender o convencional, sem que para tanto se torne agressivo ou chocante. O filme escolhe outros caminhos. Aqui falamos de poliamor, um modelo de relação que inclui relações múltiplas, simultâneas e consentidas. Não se trata de uma modalidade de relação apenas sexual, inclui afetividade, um conceito novo para uma prática há muito existente. A trama retrata a construção dessa relação de uma forma quase natural. A disponibilidade de Sofia para explorar sabores, aromas e cores está em sua afinidade com a cozinha desde a infância, o que acaba por ser estendido para suas relações afetivas. Sim, Sofia explora os limites dos sentidos em suas relações, seja com as combinações dos alimentos ou de relacionamento.
Baseado em uma história real, o filme se passa na década de 1980 e retrata o dia a dia do eletricista texano Ron Woodroof após ser diagnosticado com o vírus da AIDS. Em uma batalha contra a indústria farmacêutica e os próprios médicos, Ron procura tratamentos alternativos e passa a contrabandear drogas ilegais do México.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
A “doença maldita” era sinônimo de fim, degradação, preconceito e muito mais, estamos falando da epidemia da AIDS, que em seu início representava o mal do século. O filme retrata a realidade cruel de mulheres e homens debilitados e segregados, que lutaram sozinhos contra o sistema. Embora pensassem que AIDS era a doença dos homossexuais, logo foi possível perceber que não era bem assim. Ron era homofóbico, como muitos dos amigos dele, mas também era viciado e promíscuo, sendo também vítima da doença. Sexo, apostas e drogas faziam parte de seu cotidiano, tudo ocorria sem limite ou seleção. O caipira eletricista não esperava que algo semelhante lhe pudesse acontecer. Descobrir-se contaminado foi difícil de aceitar, tornando sua trajetória mais verdadeira. Logo, ele descobre o preconceito, não só em relação ao HIV, mas também duplamente enfrentado por aqueles que são transexuais ou homossexuais. Enfrentar a doença, que segundo os médicos lhe dá 30 dias de vida, se torna um desafio diário. Então, só depois de ultrapassar o período de negação, que ele vê no fim da estrada, um poço que parece sem fundo, mas não é. Suas crenças e valores são desafiados e afetados durante o processo de confronto com seu destino anunciado.