ASSUNTO
Xenofobia, racismo, sexismo, homofobia, preconceito, solidão, sexualidade, relações afetivas e sociais.
SINOPSE
Década de 60. Em meio aos
grandes conflitos políticos e bélicos e as grandes transformações sociais
ocorridas nos Estados Unidos, Elisa (Sally Hawkins), zeladora em um laboratório
experimental secreto do governo, conhece e se afeiçoa a uma criatura fantástica
mantida presa no local. Para elaborar um arriscado plano de fuga ela recorre a
um vizinho (Richard Jenkins) e à colega de trabalho Zelda (Octavia Spencer).
TRAILER
O OLHAR
DA PSICOLOGIA
Existem filmes que são capazes de
nos deixar atônitas em seu desfecho. “A forma da água” não é apenas um deles,
pois o suspiro emocionado ainda transbordava, após a conclusão do longa,
reverberando por algum tempo. Talvez, tenha sido por sua linguagem poética,
delicada, encantadora, que costura fantasia e realidade para falar de sentimentos
tão existenciais e necessários ao ser humano. O filme fala, de forma singela,
sobre o encontro de diferenças, desnuda a empatia, denuncia diferentes faces da
desemboca no amor, simples assim. Da masturbação ao sexo entre seres distintos, o enredo possibilita desconstruções. Para os
que se percebem deslocados no mundo, é um poema. Com delicadeza, em contraste
com a estupidez humana, a trama desdobra o amor, sem pudor. A água, fonte da
vida, não podia estar em melhor lugar para falar e espelhar diferentes emoções
do humano, que podem ser refletidas na “criatura”, diante das diferentes
conexões, conforme declarado por Guillermo Del Toro:
“A água toma a forma do que quer que a esteja contendo, e embora possa ser tão suave, é também a força mais poderosa e maleável do universo. Isso também é amor, não é?! Não importa em que fôrma colocamos o amor, ele se molda a ela, seja homem, mulher ou criatura”.O filme é uma fábula encantadora sobre amor, que dispensa palavras, priorizando os sentidos através das diferentes formas de amar, amor ao próximo, à ciência, à amizade, ao estranho, ao diferente, singular e puro amor. Para os que são incapazes de lidar com as diferenças, que abusam da violência, do sadismo, da moralidade falsa, fica a questão: quem é o monstro? Quem é a criatura que nos ameaça, o desconhecido ou a repressão cotidiana e sádica capaz de sufocar? Cada personagem tem seu próprio espaço, contados através de linguagem verbais e não verbais. O contexto, a guerra fria, a tensão em um mundo dividido, nos lembra outras tantas divisões promovidas em diferentes momentos históricos, em qualquer lugar. O abuso de poder, o machismo, a homofobia, o racismo, o moralismo hipócrita são os “nós” da trama. Elisa (sexismo), Zelda (racismo), Giles (preconceito) e a criatura (xenofobia) representam vítimas do sistema capazes de alinhavar laços afetivos.
Elisa e a criatura podem
representar uma forma de relação peculiar, daquela capaz de identificação, apesar
e pela diferença. Por outro lado, as relações conflituosas são retratadas sem
forma, através de embates sem sentido, sem objetivo algum, além de uma vitória
esvaziada. Dentre os inúmeros detalhes que podem ser percebidos no filme, nos
chamou a atenção à mudança das cores, tão caras ao Gestalt-terapeuta atento.
Explico: para o psicólogo da abordagem Gestáltica, a percepção da “totalidade”
do cliente envolve perceber nuances, que possam se destacar no encontro. Sem
priorizar a linguagem verbal, esses profissionais ficam atentos a qualquer
outra linguagem: movimentos, sons, cores, etc. O “não-verbal” pode expressar o
que o cliente não consegue verbalizar. Assim, as mudanças na forma e cor das
roupas, podem expressar mudanças, como acontece com Eliza, que aos poucos adota
a cor vermelha, evidenciando seu estado emocional. Em outro momento, a “aparência”
é foco de desconstrução, quando “a família feliz”, digna de propaganda, esconde
um pai inescrupuloso. As tantas possibilidades de reflexão diante da trama não
podem ser reduzidas a um único olhar, portanto, sugiro que assistam e
compartilhem sua percepção. Super recomendo!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante!