Mostrando postagens com marcador Relacionamento casal. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Relacionamento casal. Mostrar todas as postagens

domingo, 7 de março de 2021

Sociedade literária e a torta de casca de batata

 

ASSUNTO

Ajustamento criativo, autossuporte, pertencimento, fronteira, contato, identificação, gestalt-terapia, perdas, luto, relações sociais, familiares e afetivas.


SINOPSE

Juliet Ashton (Lily James) é uma escritora na Londres de 1946 que decide visitar Guernsey, uma das Ilhas do Canal invadidas pela Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, depois que ela recebe uma carta de um fazendeiro contando sobre como um clube do livro local foi fundado durante a guerra. Lá ela constrói profundos relacionamentos com os moradores da ilha e decide escrever um livro sobre as experiências deles na guerra.

TRAILER



O OLHAR DA PSICOLOGIA

Para lá de curioso, o título nos remete ao processo de adaptação às circunstâncias adversas. No filme, um grupo de amigos é flagrado nas ruas após o toque de recolher imposto, durante a ocupação nazista da Ilha de Guernsey. Para evitar consequências perigosas, surge a ideia de informar que saíam de um clube literário, rapidamente nomeando como uma SOCIEDADE LITERÁRIA, título complementado com o que veio em mente, naquele momento ameaçador, e, de acordo com o que era permitido. A alternativa criativa, resposta urgente ao momento ameaçador, torna oficial os encontros periódicos daquele grupo, fortalecendo o vínculo dos envolvidos durante o período da ocupação e no pós-guerra. A literatura se torna ponte, conectando os personagens, seja consigo mesmo, com os outros, e, até mesmo com o público. Longe daquela ilha, acompanhamos a jovem escritora ser capturada pelas cartas de um dos membros do grupo. Logo, é possível perceber que seu momento de aparente sucesso profissional e pessoal, ela camufla o vazio deixado pela guerra. Em busca de inspiração para seu artigo, Juliet é atraída pelas cartas e se lança na aventura de conhecer de perto o clube de literatura. Daí em diante, o público acompanha diferentes perspectivas do pós-guerra, que sendo descortinadas, emocionam, encantam e surpreendem.  São abordados diferentes conflitos sociais e pessoais, com elegância, delicadeza e competência, fazendo com que o espectador não consiga desgrudar os olhos da tela. Ajustamento criativo, autossuporte, pertencimento, contato, identificação, dentre outros, são conceitos abordados no filme, que alterna passagens do passado e do presente, equilibrando momentos de mistério, romance, comédia e drama. Recomendamos continuar a leitura, somente após assistir ao filme.

sexta-feira, 5 de março de 2021

Loucura de amor/Louco por ella


ASSUNTO

Relações social, afetivas e de casal, saúde mental.

SINOPSE

Adri (Álvaro Cervantes) é o típico homem bem-sucedido na vida, garanhão, que não se prende a ninguém. Certa noite, ele faz uma aposta com os amigos de que consegue seduzir uma loira que está no bar, porém, quando estava a caminho da moça, Carla (Susana Abaiatua) esbarra nele. Encantado pela energia eufórica da moça à sua frente, Adri se sente hipnotizado e segue aquela enigmática moça em todos os seus mirabolantes planos – e, com ela, tem a melhor noite de sua vida. Porém, com o nascer do sol, a misteriosa moça sai correndo, deixando Adri sem nenhuma informação sobre ela e com um enorme vazio no peito.

TRAILER



O OLHAR DA PSICOLOGIA

Que grata surpresa! Há muito tempo que não assistíamos a um filme assim, leve, encantador e interessante. Sim, interessante, pois a comédia romântica escolheu pincelar assuntos sérios e necessários, de forma leve e provocante. Obviamente, loucura e amor são assuntos já debatidos em diferentes contextos, pois sempre foram considerados parentes. No filme, a loucura não se restringe ao estado da paixão enlouquecedora, mas vai além, ao percorrer o caminho delicado da saúde mental. Sim, estamos diante de Adri, personagem que se considera normal, e, após compartilhar a aventura de uma noite inesquecível, se percebe capturado pela garota misteriosa. Carla, personagem que lhe proporcionou a noite mais alucinante, prazerosa e inusitada de sua vida, avisou que seria uma única noite, mas não bastava, ele queria mais. Entorpecido, busca pistas para encontrar a mocinha. Até então, é inevitável pensar na cinderela e o sapatinho dos contos de fadas... 

sexta-feira, 10 de julho de 2020

O Homem perfeito



ASSUNTO

Relações afetivas e virtuais, gestalt-terapia, machismo e polaridades.

SINOPSE

Diana (Luana Piovani), aos 42 anos, é uma mulher bem-sucedida, com uma carreira estruturada, culta e que mantém um casamento feliz com seu marido (Marco Luque). A protagonista trabalha como uma escritora fantasma, escrevendo bibliografias de celebridades, na maior parte das vezes reinventando a vida daquelas pessoas que não tem muito para contar, nem qualquer aptidão para a escrita.


TRAILER

   

O OLHAR DA PSICOLOGIA

O filme foi pouco apreciado pela crítica, que apontou falhas no desenvolvimento da trama, nos personagens pouco verossímeis, além da forma rasa com a qual abordou os assuntos propostos. De fato, é uma comédia romântica rasa, sem qualquer conteúdo profundo que possa ser tema de debates ou grande reflexão. Entretanto, em tempos de isolamento, pode ser um entretenimento leve e até divertido. Uma mulher inteligente e independente, como a personagem principal, seria mesmo capaz de viver com um homem tão diferente por tanto tempo? Uns dizem que não, mas, convenhamos, quem sabe do que o coração é capaz? Quem não conhece alguém que investiu toda sua energia em uma carreira de sucesso, ou, na construção de seu patrimônio, esquecendo-se de suas necessidades emocionais básicas? Não sei se Diana seria um personagem tão distante da realidade como apontam alguns críticos.

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Felicidade por um fio



ASSUNTO

Preconceito, relações afetivas, familiares e sociais.

SINOPSE

Violet Jones (Sanaa Lathan) é uma publicitária bem-sucedida que considera sua vida perfeita, tendo um ótimo namorado e uma rotina organizada meticulosamente para conseguir estar sempre impecável. Após uma enorme desilusão, ela resolve repaginar o visual e o caminho de aceitação de seu cabelo está intrinsecamente ligado à sua reformulação como mulher, superando traumas que vêm desde a infância e pela primeira vez se colocando acima da opinião alheia.

TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA

“Felicidade por um fio” é uma comédia leve sobre a construção do amor próprio. O preconceito internalizado na infância é parte do que faz Violet buscar a perfeição em sua forma de funcionar no mundo. Alguma receita pronta de “vida perfeita” tornou-se o norteador de seu viver, oprimindo sua autenticidade e a aceitação de si mesma. Ainda que seja uma comédia despretensiosa, a trama apresenta um tema interessante, que pode encontrar identificação em diferentes espectadores. O preconceito, de qualquer espécie, pode ser internalizado ainda na infância, tornando a aceitação de si mesmo um processo longo e doloroso. Aliás, doloroso é viver em um formato diferente da própria naturalidade de ser, entretanto, isso é mais comum do que podemos imaginar. A preocupação em se adequar ao que é apreendido como desejável, como forma de ser aceito e bem visto pela sociedade, pode distanciar a pessoa de quem é de fato. A vida neurótica, aparentemente perfeita, pode ser bastante sofrida. Escrava da aparência, Violet representa outros tantos que não estão satisfeitos consigo, devido a um modelo do que é considerado “normal”, socialmente aceito, ou, imposto pela “ditadura da beleza”. Em um momento de decepção amorosa, de sofrimento e dor,  a protagonista encontra o caminho de volta para si, resgatando sua espontaneidade e o orgulho por ser quem é:  mulher, negra, com opinião própria. Desfazer-se de seu cabelo é como despir-se, sentir-se nua em público.  Trata-se de um processo semelhante ao terapêutico, que nos coloca frente a frente com o que somos, nos revelando aos poucos, descortinando as aparências para revelação do ser.  A desconstrução de um modelo automático, pré-fabricado, dá lugar a novas descobertas sobre desejos e objetivos, inaugurando um novo caminho, resgatando os sentidos em sua totalidade do ser. Fritz Perls, considerado o pai da Abordagem psicológica conhecida como Gestalt-terapia, nos alertava sobre o perigo dessa busca pela perfeição, ao afirmar;

“Amigo, não seja um perfeccionista. Perfeccionismo é uma maldição e uma prisão. Quanto mais você treme, mais erra o alvo. Você é perfeito, se se permitir, ser. Amigo, não tenha medo de erros. Erros não são pecados. Erros são formas de fazer algo de maneira diferente, talvez criativamente nova. Amigo, não fique aborrecido por seus erros. Alegre-se por eles. Você teve coragem de dar algo de si.” 

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

O Natal dos Coopers

ASSUNTO

Relações familiares,  afetivas, diferença, valores e crenças.

SINOPSE

O Natal se aproxima e, como acontece em todos os anos, a família Cooper se prepara para a grande ceia na casa dos patriarcas Sam (John Goodman) e Charlotte (Diane Keaton). Só que, em meio ao suposto clima festivo, o casal está prestes a se separar. Seus filhos Hank (Ed Helms) e Eleanor (Olivia Wilde) também enfrentam problemas, já que ele está desempregado e ela mantém um caso com um médico casado. Paralelamente, Emma (Marisa Tomei) tem dificuldade em lidar com a solidão e com a inveja que sente da irmã mais velha, Charlotte, enquanto que o pai delas, Bucky (Alan Arkin) sente-se cada vez mais próximo de Ruby (Amanda Seyfried), a garçonete do restaurante que ele sempre frequenta.

TRAILER


OLHAR DA PSICOLOGIA

A “magia do Natal” é destaque em muitos filmes do gênero, que insistem em mostrar uma família “perfeita” enfrentando alguma situação ou pessoa do mal, que no final são “afetadas” pelo encanto da ocasião. Só que não, “O Natal dos Coopers” mostra uma família real, com problemas comuns, nos dias que antecedem o encontro natalino, onde serão omitidas as questões pessoais de cada membro. Encontros e desencontros antecedem a noite esperada, seja consigo ou com o outro, com verdades e mentiras que podem provocar risos e incômodos na mesma medida. Nem todos acreditam que o evento possa ser mágico, harmonioso e feliz. Os próprios anfitriões escondem a real situação, pois omitem o abalo na relação do casal, que está em vias de separação. Cada um dos familiares enfrenta problemas pessoais, o que pode fazer o reencontro um momento de pressão, ameaça ou trazer lembranças de situações infelizes, algumas inacabadas. Reunir parentes no natal é momento de infinitas possibilidades, nem sempre tão felizes, como as comumente apresentadas na telona! É momento de atualização, de "fofocas", de "disputas, de encontro de diferenças. O filme apresenta um pouco de cada possível extremo, da conturbada expectativa ao final feliz, do aparentar ao ser. Falar de família é transitar nos extremos, é explorar aspectos que parecem antagônicos, e, podem se revelar complementares. Algo inesperado, incômodo, frustrante ou constrangedor na noite de natal em família, quem não viveu?

sábado, 18 de novembro de 2017

MONSIEUR & MADAME ADELMAN

ASSUNTO

Relação afetiva, familiar e social, família disfuncional, segredo, traição, feminismo, suicídio e alcoolismo.

SINOPSE

Sarah (Doria Tillier) e Victor (Nicolas Bedos) estiveram juntos por 45 anos. No funeral dele, Sarah é abordada por um jornalista que deseja contar a história de seu marido, um renomado escritor, a partir do olhar da mulher que sempre o acompanhou. A partir de então, ela passa a contar as minúcias do relacionamento que tiveram, incluindo segredos bastante íntimos.

TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA


A trama nos convida a desconstruir os ideais de felicidade nas relações afetivas de longa data. Não, o filme está longe de se tornar “receita” de boa relação amorosa. Ao contrário, a trama está repleta de alternativas pouco recomendadas em qualquer relação. É isso que faz do filme um relato possível, verdadeiro, recheado de erros e acertos de uma relação amorosa de 45 anos. Partindo do relato da viúva, acompanhamos a história do casal desde o primeiro encontro, revelando os sabores e dissabores da relação. A perspectiva, que desnuda a intimidade do casal, revela a força da personagem feminina, que desde o início busca o que deseja sem perder o foco . Tudo é contado sem menosprezar o contexto. A cada momento, a trama alinhava a vida social, religiosa e política, apontando possíveis influências do entorno de cada época, na relação que é construída pelo casal. Temos uma mulher à frente de seu tempo, determinada, empenhada e apaixonada, que se torna o pilar da família em construção.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Mais forte que bombas

ASSUNTO

Relações familiares, segredo, luto, aparências, fobia social, suicídio, depressão, conflitos familiares e existenciais.

SINOPSE

Uma exposição celebrando a fotógrafa Isabelle Reed (Isabelle Huppert) três anos após sua morte prematura traz seu filho mais velho Jonah (Jesse Eisenberg) de volta para a casa da família – forçando-o a passar mais tempo com seu pai Gene (Gabriel Byrne) e com seu recluso irmão mais novo Conrad (Devin Druid) do que ele passou em anos. Com os três sob o mesmo teto, Gene tenta desesperadamente conectar-se com seus dois filhos, mas eles lutam para reconciliar seus sentimentos em relação à mulher que eles se lembram de maneira tão diferente.

TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA


O título pode nos remeter a diferentes perspectivas do drama, como a explosão que causa em cada personagem ou  no espectador. A fotógrafa falecida é o elo entre os personagens.  O ofício de retratar situações de guerra, envolvendo os afetados, inaugura uma questão pertinente, ao revelar uma linha tênue entre o que é e o que pode aparentar. Tal questionamento nos remete a outras guerras do cotidiano, seja com os semelhantes, ou, consigo mesmo. Afinal, entre o que aparentamos e o que somos pode haver uma distância considerável.  É exatamente aí que identificamos um sentimento comum a muitos personagens contemporâneos, reais, que não compreendem as aparências comumente retratadas, sentem-se particularmente deslocados.  A lembrança da falecida é retratada por diferentes pontos de vista. As diferentes formas de lidar com o luto e suas complicações são evocadas no momento de reunir material para a exposição dos trabalhos. O  marido, que tem problemas como filho adolescente, convida o filho casado não só para ajudá-lo a separar o material, mas principalmente para ajudá-lo na comunicação com o mais novo.  As diferentes formas de lidar com a falta que aquela mulher faz se desdobra.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Um instante de amor

ASSUNTO

Sexualidade feminina, desejo reprimido, histeria, psicossomática.

SINOPSE

França, década de 1950. Gabrielle nasceu e cresceu numa pequena aldeia, numa época em que ser mulher significava deixar a casa dos pais e ser entregue a um marido. Ser apenas esposa e mãe era um destino quase inevitável. Conscientes da sua rebeldia, os pais resolvem casá-la com o José, um trabalhador esforçado de origem espanhola, com a missão de fazer dela uma mulher respeitável. Apesar de toda a dedicação de José, ela nunca se entrega de corpo e alma ao marido, por quem sente algum desprezo. Alguns anos depois, sofrendo de dores crônicas nos rins, Gabrielle é enviada para uma estância termal nos Alpes. Lá, conhece André Sauvage, um ex-soldado ferido na guerra da Indochina, por quem se apaixona ao primeiro olhar. Durante as seis semanas seguintes, vai viver um amor que nunca julgou possível…

TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA

Por um instante, somos convidados a refletir sobre diferentes momentos do papel feminino ao longo história. Antes de somente estranhar o comportamento de Gabrielle, é preciso ter um olhar aguçado para a sexualidade feminina, contextualizando, não só o ambiente familiar, mas também sua época. A burguesia agrícola é palco para que o mito da histeria tenha lugar.  Gabbrielle desafia regras e convenções, expressa desejos reprimidos descontroladamente.  Tida como louca, ela oscila entre momentos de melancolia e o desejo de romper barreiras, a apatia e o ataque de fúria. A paixão, tão comum nas transformações hormonais femininas se torna ato, assédio. A frustração, com a constatação de sua paixão platônica, se torna surto, desordem, realidade cruel. Dentro de uma sociedade convencional, sua feminilidade indomável é direcionada para soluções burguesas, a escolha de um casamento arranjado como opção, aprisionando o desejo. Sua sexualidade está entrelaçada com a paixão, desejo e amor não podem ser separados. Para não ser internada, ela aceita se casar, mas sufoca seu desejo, sua sexualidade latente. Ela impõe regras, mantém distância afetiva do marido. É no momento de cuidar de sua doença renal, uma metáfora de seu desejo encarcerado, que Gabrielle volta a fantasiar, amando o amor, sonhando ser amada, vivendo sua fantasia de amor perfeito, apaixonado, indomável.

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Querida vida (Dear Zindagi)

ASSUNTO

Relações familiares, afetivas, sociais e terapêutica. Processo terapêutico, conflitos existenciais e familiares, perfeccionismo, compras compulsivas, insônia, ansiedade.

SINOPSE

Filme indiano de 2016, Dear Zindagi está disponível legendado no NETFLIX. Kaira é uma cinegrafista em busca de uma vida perfeita. Após alguns entraves relacionais, ela não consegue mais dormir. Por acaso, escuta a palestra de um psicoterapeuta, algumas frases dele fazem sentido. Ela, então, procura Jug, um pensador não-convencional e psicólogo, quem irá ajude-la a ganhar uma nova perspectiva sobre a vida. Aos poucos, ela vai descobrindo que  felicidade é encontrar conforto nas imperfeições da vida.

TRAILER




O OLHAR DA PSICOLOGIA


A título de curiosidade, a palavra “Zindagi” quer dizer “vida”, o que sugere a tradução “Querida vida”. Assim, fica mais fácil falar sobre a trama, que versa sobre a vida de Kaira, alguém que em busca da perfeição, está, de fato, de mal com a vida. Seus relacionamentos são conturbados, logo o público torce pelo esperado “final feliz” com o amor, seja qual for. Opa! Seja qual for? Não! A esperança é que seja algum herói para salvar a mocinha das dificuldades da vida, só que não! O filme acompanha encontros e desencontros, perdas e ganhos, oportunidades e dificuldade de uma pessoa normal: Kaira. Muitos poderão se perguntar para que serve um terapeuta se a pessoa é normal? Pois é, terapia é um espaço pessoal necessário em diferentes situações, principalmente quando não estamos conseguindo lidar com alguma questão, chegando ao ponto do organismo manifestar “sintomas”. Como já dito em outros posts, os “sintomas” são vistos - pela Abordagem Gestáltica (linha ou abordagem psicológica) – como a melhor forma que o organismo encontra para manter o equilíbrio. Ou seja, o organismo oferece a oportunidade de percebermos que algo interrompe o fluxo natural de nossa autorrealização. O sintoma nos mantém autorregulado, sinalizando que algo em nosso caminho não vai bem, algo está interrompendo o fluxo saudável. Benditos sintomas que servem como alerta! Pode ser o momento de se buscar ajuda para lidar com questões difíceis, muitas vezes insuportáveis. Então, voltando ao filme, após algumas perdas, obstáculos e desvios de caminho, Kaira se depara, inesperadamente, com a palestra do psicólogo Jug, alguém que tem uma forma diferente de se expressar, o que a agrada de pronto. A insônia, a compulsão por compras, a dificuldade de lidar com suas relações afetivas dão sinais de que ela precisa buscar ajuda, o psicoterapeuta pode ser uma boa opção.

sábado, 8 de abril de 2017

Léo e Bia

ASSUNTO

Relações sociais, afetivas e familiares.

SINOPSE

Brasilia, 1973.  No auge da ditadura militar, sete amigos, jovens como a cidade em que moram, sonham viver de teatro. Liderado pelo diretor Léo (Emílio Dantas), o grupo  leva adiante os ensaios de uma peça que tece comparações entre Jesus Cristo e o cangaceiro Lampião. Enquanto a repressão política rola solta na capital federal e a liberdade sexual ainda é tabu, Bia (Fernanda Nobre) se mostra cada vez mais prisioneira da obsessão de sua mãe (Françoise Forton), fazendo com que todos questionem, cada vez mais, os conceitos e valores da sociedade. (RC)

TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA

Pegando carona com a minissérie DE SONHOS E SEGREDOS, resolvi procurar outras obras de Osvaldo Montenegro. Gostei do que encontrei. A relação entre o teatro e o cinema é o ponto de partida do autor, que abusa da arte em sua totalidade para contar uma estória (ou história?). Não se trata de um teatro filmado, há linguagem cinematográfica costurando as cenas teatrais. Depois de assistir, fiquei com a impressão de que a mensagem mais forte do filme se resume no pensamento “Um sonho sonhado sozinho é um sonho. Um sonho sonhado junto é realidade”. Mas não é seu único recado. Temos um grupo que troca afetos, que se une em prol de um projeto, há presença física, contatos reais, eles compartilham experiências. A força do grupo está na intimidade revelada na tela. Foi resultado de muito ensaio e cumplicidade, parceria, durante um tempo de convivência. Por ser um cenário único, a interpretação é o ponto chave, capaz de tocar o espectador. Entretanto, não podemos deixar de lado o texto, que dá voz a uma geração, através de frases e citações impactantes.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Jane procura um namorado


ASSUNTO

Síndrome do espectro autista, relações afetivas, sociais e familiares.

SINOPSE

Jane é uma jovem mulher cheia de sonhos, mas alguns deles limitados pela complexa Síndrome de Asperger, uma condição rara que afeta a capacidade do indivíduo de se socializar e de se comunicar de maneira afetiva. Ela encontra apoio sobretudo em sua irmã, Bianca, que decidiu ajudá-la com uma missão ousada: achar o par ideial para começar a namorar.

TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA

Ok, é um filme clichê, uma comédia romântica, blá blá blá. Entretanto, falamos de uma protagonista feminina com síndrome de Asperger. Só por isso já vale assistir. Jane tem paixão pelos filmes antigos, exercita seu desejo de vivenciar romances, usa os filmes para treinar, afinal de contas, os portadores da síndrome têm dificuldade de reconhecer expressões e expressar emoções. O treinamento é necessário, quando o plano é entrar para o universo dos namoros. O filme não aprofunda a questão diagnóstica, mas pincela algumas dificuldades comuns aos portadores da síndrome. Ela quer ser reconhecida em sua fase adulta, como pessoa capaz, quer namorar. O filme não revela aptidões específicas de Jane, como costuma ocorrer nesses casos. Sabemos apenas de seu talento como estilista, sem termos noção de algum direcionamento específico de sua inteligência. Asperger é uma condição neurológica do espectro autista caracterizada por dificuldades significativas na interação social e comunicação não-verbal, além de padrões de comportamento repetitivos e interesses restritos. Difere de outros transtornos do espectro autista pelo desenvolvimento típico da linguagem e cognição. Embora não seja fundamental para o diagnóstico, ser fisicamente desajeitado e ter uma linguagem atípica ou excêntrica  são características frequentemente citadas pelas pessoas com a síndrome. Em geral, os Aspergers têm inteligência notável, o que não podemos constatar em Jane. Embora, algumas passagens mostrem seu interesse por leitura de temas, como astrologia, por exemplo.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Lalaland – Cantando estações

ASSUNTO


Relações sociais e afetivas, realização profissional, relação eu-mundo, passado-presente, razão-emoção, conceitos Gestálticos: totalidade, contato, estética, "boa forma", processo criativo.

SINOPSE

Ao chegar em Los Angeles o pianista de jazz Sebastian (Ryan Gosling) conhece a atriz iniciante Mia (Emma Stone) e os dois se apaixonam perdidamente. Em busca de oportunidades para suas carreiras na competitiva cidade, os jovens tentam fazer o relacionamento amoroso dar certo enquanto perseguem fama e sucesso.

TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA

Aclamado pela crítica, o longa encanta pelo conjunto da obra. O musical traz o ‘colorido da vida’ ligado pela ponte da cena inicial, ligação que pode ser o lugar da busca pelo sonho, o lugar da vida, o lugar do encontro, o lugar da existência . Temos uma bela metáfora, ligando passado e futuro (presente, caminho, momento), realidade e sonhos, razão e emoção, dentro e fora, eu-mundo, etc. Será que existe mesmo uma ponte que une/separa ou tudo é uma coisa só, uma totalidade? Lalaland toca o coração do espectador, contando uma estória simples, que resume muito bem o roteiro da vida de qualquer um. Como buscar a realização profissional e o amor, como escolher, como seguir ou não as receitas de felicidade? Oscilamos o tempo todo entre nossas necessidades e as necessidades do mundo que nos cerca, somos parte e todo, e, é nesta relação, nesta dança, neste lugar de ir e vir que vivemos e nos desenvolvemos. A ponte, lugar de ligação e de paralisação do trânsito, é também lugar de dança, música e movimento. Um recorte excepcional para expressar o processo da existência. Este é apenas o ponto de partida, ou uma perspectiva inicial, para falarmos de Lalaland, que canta e encanta em sua evolução, tocando o público de forma sutil, evidenciando o lugar de encontro como tempo-espaço de ganhos e perdas, o  lugar de escolhas. Não se trata de um simples musical, e, sim, de uma forma poética de expressar resumidamente a vida. Acompanhamos encontros e desencontros dos protagonistas em busca de seu lugar no mundo. O processo de conhecer a si mesmo e ao outro, descobrir-se, descortinar-se a cada encontro, faz de Lalaland uma obra excepcional. Não falamos apenas de estética cinematográfica, que inclui cores e sons para englobar sua beleza, falamos da estética da vida, que supera os requisitos exigidos pela academia da sétima arte, pois prioriza o fluir como condição necessária para a busca da “boa forma”.  

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

O amor no divã

ASSUNTO

Relações afetivas, relação terapêutica, traição, casal e família, crise conjugal

SINOPSE

Malka Stein (Zezé Polessa) é uma renomada psicóloga e terapeuta especializada em realizar terapias de casal e guiar casamentos para um lugar melhor. No entanto, após trinta anos do seu próprio casamento e com a chegada de um novo casal ao seu consultório, Malka começa a perceber que ela mesma pode estar precisando de uma terapia de casal.





TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA

Estréia prevista para 8 de dezembro. Uma comédia leve e encantadora sobre a busca de terapia durante a crise conjugal. Confesso que me surpreendi, positivamente. Para terapeutas e casais, não há como não se identificar com uma ou outra passagem. Podemos chamar de clichê ou óbvio, mas não há como fugir disso, quando tentamos falar de crise conjugal. Afinal de contas, todos temos facilidade de reconhecer o óbvio na atitude dos outros, já em nós mesmos não é tão fácil assim. O filme é divertido, leve e provocante. Temos a crise como tema que costura a trama, não só com o casal que busca terapia, mas também com a própria terapeuta e mais dois casais que são entrevistados durante sua evolução. A forma de cada um lidar com os conflitos da relação é particular, entretanto, não é incomum encontrar reações semelhantes, como se fossem construídas socialmente. As diferentes perspectivas, do terapeuta e dos clientes, se desenrolam na tela de forma graciosa e bem humorada, sem deixar de apontar diferentes realidades. Uma obra de ficção não tem compromisso de retratar fatos, seja do processo terapêutico, do tempo de sessão, da forma de contrato, ou, do tipo de intervenção indicada, sensata ou ética. Sendo assim, foi surpreendente como o filme conseguiu extrair risos frouxos do público, principalmente, pela sutileza e obviedade que com a qual conseguiram se aproximar da realidade dos fatos. Críticas sutis e temas necessários, como traição, sexualidade, conflitos de casal, conflitos existenciais, fronteira individual de casal, e, até do terapeuta, se entrelaçam na tela, proporcionando momentos de diversão, descontração e reflexão. Sim, difícil sair de lá sem ter o que debater, seja como profissional terapeuta ou como parte de uma relação conjugal. Com tempo curto de projeção e sem precisar se aprofundar em cada tema, a comédia pode ser um programa pra lá de agradável, podendo render ricos debates.  

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Sem filtro

ASSUNTO

Universo virtual, conflitos sociais, familiares e afetivos, ansiedade, pânico, qualidade de vida, mídias sociais, crise existencial.

SINOPSE

Pía ( Paz Bascuñán ) está à beira de um colapso nervoso: Seu chefe a humilha, seu marido a ignora, seu enteado não a respeita, e seu melhor amigo não a ouve. Pía tem uma forte dor no peito e depois de tentar de tudo para curar ela decide se submeter a um tratamento de acupuntura. O médico chinês descobre que a dor de Pía é causada por sentimentos reprimidos e com uma técnica antiga que ele tira o filtro. A partir de agora, Pía não vai filtrar e perceber que a única maneira de curar é para dizer tudo o que ela pensa ... que não vai trazer bons resultados.

TRAILER

O OLHAR DA PSICOLOGIA

A psicologia trabalha com o óbvio. Sim, aquilo que está bem na frente do nosso nariz, e que, por conta do nosso envolvimento emocional, não conseguimos enxergar. A comédia brinca com nosso cotidiano: as questões contemporâneas que nos assombram. SEM FILTRO é uma comédia irreverente que nos confronta com o ônus e bônus trazidos pelos avanços tecnológicos. Exite algo mais terapêutico do que a oportunidade de decortinar nosso ser? Quando o filme favorce a identificação do público, pode ser questionador, portanto, terapêutico.  Não falamos apenas das questões trazidas pela virtualidade de cada dia, pois o filme chileno também nos coloca na tela, quando inclui questões cotidianas comuns, como: os problemas de trânsito, de comportamento das operadoras de telemarketing, do funcionário “padrão”, da geração de adolescentes "sem noção", da impessoalidade nas relações e das celebridades midiáticas. Tudo, sem esquecer da sedução de uma vida "perfeita", idealizada, consumida e fácil de ser aceita como objetivo. Acomodar-se ao que é confortável, nos parece sinônimo de felicidade. Para quem não se satisfaz com a realização do sonho existe medicação. Estamos no século XXI! Tudo que está “bombando” na internet se torna prioridade. O público se vê em cada conflito enfrentado por Pia, uma publicitária bem sucedida, que é responsável pelo marketing digital de uma agência. Seu trabalho sofre mudanças radicais, na tentativa de “acompanhar” os avanços da era digital. Como se não bastasse o ambiente profissional, que a elege a categoria de “ultrapassada”, Pia enfrenta diferentes problemas familiares e pessoais, que a levam a crises de ansiedade contínuas.

sábado, 17 de setembro de 2016

O nosso ultimo verão na Escócia / O que nós fizemos no nosso feriado (Netflix)

ASSUNTO

Relações familiares, afetivas e sociais, doença terminal. depressão, separação e morte.

SINOPSE

Doug e Abi decidem viajar até à Escócia com os três filhos pequenos, para comemorar o aniversário de Gordie, o pai de Doug, que celebra 75 anos. No entanto, os dois têm um segredo que gostariam de esconder do resto da família, mas não será nada fácil ocultar o divórcio com as crianças por perto… E o que prometia ser uma harmoniosa reunião familiar acaba por trazer à superfície ressentimentos passados, quando um dia na praia se transforma em tragédia e as crianças põem mãos-à-obra para resolver o assunto.

TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA


Os pais (Doug e Abbi) estão em processo de divórcio, não se ouvem mais, discutem o tempo todo e fazem uma viagem juntos para comemorar o aniversário do pai de Doug, na Escócia. As crianças, visivelmente afetadas pela separação e brigas constantes dos pais, prometem não contar ao restante da família, que os pais já moram em casas separadas. Elas sabem que o aniversariante está doente, entretanto não sabem que a doença é terminal. A família, como qualquer outra, tem lá seus segredos e problemas. Aos poucos, as questões emergem, revelando o avesso do mundo adulto. Mas é o olhar das crianças que nos permite vislumbrar a obviedade da vida. Temas como separação, depressão e morte são apresentados com suavidade, sem que o peso e a complicação do mundo adulto, que usa o raciocínio lógico para se afastar dos “sentidos”. É assim mesmo, as crianças mantém os sentidos aguçados, vivem em plenitude as percepções de mundo, sem que qualquer obstáculo racional impeça a experiência. E, são esses personagens graciosos os responsáveis pelo encantamento e delicadeza da trama. Temos, de fato, muito que aprender com as crianças! O avô, prestes a fazer 75 anos e enfrentando a doença terminal, tem uma relação emocionante com os netos. Os diálogos são impregnados de doçura e clareza, não há regra social capaz de obstruir a comunicação entre eles.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Já estou com saudades

ASSUNTO
Relações afetivas, sociais, familiares, câncer, amizade, parceria, luto.

SINOPSE
Jess (Drew Barrymore) e Milly (Toni Collette) são melhores amigas desde a infância. Enquanto Milly se casou, teve dois filhos e construiu uma carreira de sucesso, Jess decidiu levar uma vida pacata ao lado do marido Jago (Paddy Considine). Após se submeter a um tratamento, Jess enfim consegue engravidar. Mas a notícia vem justamente quando Milly descobre ter câncer de mama e precisa passar por quimioterapia, o que necessitará do apoio não apenas da amiga, mas de toda a família.

TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA

O tema central já foi apresentado em diferentes ocasiões, falamos de Câncer, uma doença devastadora que atinge grande parte da humanidade. A dificuldade em lidar com as pequenas e grandes questões (sociais, físicas, psicológicas) são apresentadas de forma clara e honesta. Temos como pano de fundo a amizade sólida de duas parceiras de vida, mulheres que se conhecem desde a infância e partilharam aventuras e desventuras ao longo da vida. Os pontos e contrapontos são costurados entre ambas, durante o processo de declínio de Milly frente à doença, e, da busca e conquista de Jess, na construção da própria família. Prepare o lenço, as lágrimas serão prováveis, bem como as risadas, muitas vezes provocadas por diálogos inteligentes e com de pitadas de  humor. Há uma honestidade quase cruel nos pequenos gestos, encontros e desencontros atravessados pelo processo do adoecimento de Milly.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Como eu era antes de você


ASSUNTO
Relações afetivas,  deficiência física, singularidade, livre-arbítrio, e, dos conceitos gestálticos, destacamos: Contato e fronteira de contato.

SINOPSE
Às vezes você encontra o amor onde menos imagina. E às vezes ele te leva onde nunca esperou ir. Louisa "Lou" Clark vive em uma pitoresca cidade de campo inglesa. Sem direção certa em sua vida, a criativa e peculiar garota de 26 anos vai de um emprego a outro para tentar ajudar sua família com as despesas. Seu jeito alegre no entanto é colocado à prova quando enfrenta o novo desafio de sua carreira. Ao aceitar um trabalho no "castelo" da cidade, ela se torna cuidadora e acompanhante de Will Traynor, um banqueiro jovem e rico que se tornou cadeirante após um acidente ocorrido dois anos antes, mudando seu o mundo dramaticamente em um piscar de olhos. Não mais uma alma aventureira, mas o agora cínico Will, está prestes a desistir. Isso até Lou ficar determinada a mostrar a ele que a vida vale ser vivida. Embarcando juntos em uma série de aventuras, Lou e Will irão obter mais do que esperavam e encontrarão suas vidas - e corações - mudando de um jeito que não poderiam ter imaginado.
Rico e bem sucedido, Will (Sam Claflin) leva uma vida repleta de conquistas, viagens e esportes radicais até ser atingido por uma moto, ao atravessar a rua em um dia chuvoso. O acidente o torna tetraplégico, obrigando-o a permanecer em uma cadeira de rodas. A situação o torna depressivo e extremamente cínico, para a preocupação de seus pais (Janet McTeer e Charles Dance). É neste contexto que Louisa Clark (Emilia Clarke) é contratada para cuidar de Will. De origem modesta, com dificuldades financeiras e sem grandes aspirações na vida, ela faz o possível para melhorar o estado de espírito de Will e, aos poucos, acaba se envolvendo com ele.

TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA

Um filme que difere de outros romances, não só por seu desdobramento, mas também por pequenos detalhes que fazem diferença. Por exemplo, o início mostra o “mocinho” antes e durante o acidente, que o tornará tetraplégico. No momento do atropelamento, Will estava distraído no celular. A cena pode passar despercebida, mas não deixa de retratar uma realidade da nossa era, portanto, trata-se de um alerta ou de uma crítica sutil. Por outro lado, temos personagens fortes, capazes de nos provocar reflexões. Louise é dedicada, atrapalhada, quase caricata, mas não há dúvida que tratamos de uma pessoa capaz de realizar verdadeiros contatos. Se por um lado, a mesma se vira para atender às necessidades do próximo, sua identidade fica bem definida em seu comportamento autêntico.  Na abordagem Gestáltica a fronteira é ao mesmo tempo o lugar de contato e de imite, é o lugar da tensão e do acontecimento, da diferença e do crescimento. Poucos personagens apresentam a fronteira tão flexível quanto à da “mocinha”, que nos encanta com sua forma de funcionar no mundo. Ela não abre mão de suas roupas estranhamente simpáticas, que marcam sua presença. No entanto, abre mão de si mesma para dar lugar ao outro querido, seja um familiar ou qualquer pessoa que evidencie alguma necessidade pessoal. É uma personagem ímpar! Will é alguém que não suporta ver o mundo de outra perspectiva. O acidente o obriga a visitar outros olhares, ele se recusa. Após sua nova condição, Will apresenta sintomas depressivos, um mau humor constante, um desprezo pela vida. A luz de Lou pode tornar o mundo menos cinza e apresentar encantamento ao rapaz, mas não é suficiente para que ele desista de seu plano. Ainda assim, somos convidados a assistir uma relação de contato entre ambos, que sendo afetados por aquele contato autêntico, se transformam. O afeto é oque afeta e se arrisca a ser afetado, o que, de fato, transforma. Ampliados em sua forma singular de existir, ambos crescem através daquele contato.

domingo, 19 de junho de 2016

Mothers and Daughters 2016 (Mães e filhas?)



ASSUNTO
Relações familiares e afetivas, segredo familiar, adoção, perdas

SINOPSE
A fotógrafa Rigby Gray (Selma Blair) deseja produzir um ensaio sobre o papel da Mãe em diferentes famílias.Desde então, inicia um projeto que a faz refletir sobre sua relação com a mãe e outras possibilidades de relação semelhante. Buscando modelos, ela irá conhecer diferentes histórias que a ajudarão a rever seu papel de filha, ao mesmo tempo que se percebe grávida, e questiona sua possibilidade de tornar-se mãe.

TRAILER

O OLHAR DA PSICOLOGIA

Rigby reflete sobre sua forma de olhar o mundo e o papel de sua mãe em seu viver. Diante das cenas capturadas por sua lente de fotógrafa, o filme segue apresentando outras histórias, que depois farão parte do seu projeto. De forma dinâmica, o espectador é convidado a conhecer diferentes situações que se desdobrarão durante o longa. Aos poucos, conhecemos diferentes mães e filhas, cada qual com suas particularidades.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

White Frog

ASSUNTO
Autismo, homossexualidade, homofobia, perdas, luto, relações familiares, sociais e afetivas.

SINOPSE
O filme apresenta a história de uma família obcecada com a ideia de parecer perfeita. O único problema aparente dos Young é o filho mais novo, Nick, que nasceu com Síndrome de Asperger, que faz com que a pessoa tenha dificuldades para se socializar. Quando Chaz, o filho mais velho, morre em um acidente, a família cai em pedaços e Nick então precisa juntar as peças para seguir em frente.







TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA
Logo somos tocados pela linda relação construída pelos irmãos Chaz e Nick. A paciência, o carinho, a dedicação do irmão mais velho tornam o mundo de Nick mais rico, sua autoestima mais elevada, e, claro, seu desejo de desenvolver habilidades para compreender melhor o mundo são também ampliadas. Não há qualquer proximidade entre o autista e seu pai, que não compreende sua forma de estar no mundo. Sua mãe, apesar de interessada, não consegue acessar o mundo do caçula. Infelizmente, Chaz sofre um acidente fatal e deixa os familiares perdidos em seu luto. Nick, que tinha no irmão seu único elo com o mundo, se vê desamparado, perdido. Acompanhamos o luto familiar e a dificuldade daquela família lidar não só com a perda, mas também de encarar a condição autista do filho. Sem Chaz como intermediário, tudo fica mais difícil, tanto para Nick, como para os familiares. Na busca de elaborar o próprio luto e restaurar a si mesmo, Nick caminha através das dicas deixadas pelo irmão. Se aproximar de seus amigos é um bom começo, o que nos brinda com cenas emocionantes, ora delicadas, ora bem humoradas. Desconstruir a imagem de perfeição do irmão mais velho se torna um aprendizado ímpar, não só para Nick, mas também para toda a família. Fica evidente a dificuldade de perceber a imperfeição de cada um, trazendo até o homossexualismo para pauta, o que evidencia a homofobia no seio familiar.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Chocolate

ASSUNTO
Mitos familiares, herança transgeracional, segredo, questões de gênero, relação familiar, terapêutica e social, preconceito, amizade e psicodiagnóstico.

SINOPSE
Em 1959, Vianne (Juliette Binoche) se muda com a filha para uma pequena cidade francesa e abre uma loja de bombons e chocolates com guloseimas de dar água na boca. Mas ela enfrenta oposição: é mãe solteira, trabalha aos domingos e prepara doces que fazem qualquer um ceder à tentação da gula. Alguns moradores planejam expulsar Vianne da cidade, temendo que ela perturbe a moral do lugar. Tem início um confronto entre os conservadores e os que desejam o sabor recém-descoberto.

TRAILER

O OLHAR DA PSICOLOGIA

Quase 6 anos depois de ter assistido, tive a oportunidade de rever CHOCOLATE, filme de 2000 repleto de assuntos, um prato cheio para discussão. Podemos começar pelo uso do chocolate como “remédio para alma”, servindo para libertar os desejos de quem o consome. Ainda que em menor proporção, o chocolate era indicado pelos povos antigos como afrodisíaco, por despertar a sensação de prazer. Vianne herdou dos seus antepassados as receitas mágicas de chocolate. Ao chegar à Cidade, ela abre uma loja para encantar os consumidores. A cada cliente que chega, ela aguça sua percepção para o que pode ser revelado, encontrando a indicação necessária para cada um. Mas, ela não é a única a seguir tradições, o conde também é guardião de tradição, só que de forma opressora, influenciado por outras normas (religiosas, sociais e acadêmicas). Aqui temos o encontro das diferentes perspectivas, o lugar da tensão, do conflito, espaço onde a trama se desenvolve. Enquanto a dona da doceria representa movimento, o conde é a personificação da tranquilidade, da rotina, da suposta segurança. As mudanças não são bem vindas. Ele controla uma sociedade fechada em si mesma, com pessoas escravizadas pela norma ditadas pela tradição familiar do nobre. Os valores estagnados são ameaçados pela transgressora, que é mãe solteira. Logo, é possível perceber as cores alegres das estrangeiras, o que destoa do cinzento e aparentemente pacato vilarejo. Desde então, já é possível refletir sobre a dificuldade que há em qualquer mudança, seja em sistemas familiares ou neuroses pessoais, que insistem estagnar em nome de uma suposta segurança. O novo pode ser percebido como ameaça. Não se trata de olhar a tradição como algo negativo, ao contrário, tradição pode ser o suporte necessário para nos adaptarmos às mudanças, desde que estejamos abertos para atualizações. A tradição do Conde era controladora, opressora, fechada, aparentemente tranquila e segura. Os existencialistas já sinalizaram a respeito do que é considerado um “dilema humano”, ou seja, segurança versus liberdade - quanto maior a liberdade, menor a segurança, e, vice-versa.  Aí está apenas a premissa inicial da trama, que apresentará os diferentes conflitos nas relações familiares e/ou sociais.  Vianne utiliza as diferentes formas do chocolate para destravar cadeados que aprisionavam os cidadãos.