ASSUNTO
Sexualidade feminina, desejo reprimido,
histeria, psicossomática.
SINOPSE
França, década de 1950.
Gabrielle nasceu e cresceu numa pequena aldeia, numa época em que ser mulher
significava deixar a casa dos pais e ser entregue a um marido. Ser apenas
esposa e mãe era um destino quase inevitável. Conscientes da sua rebeldia, os
pais resolvem casá-la com o José, um trabalhador esforçado de origem espanhola,
com a missão de fazer dela uma mulher respeitável. Apesar de toda a dedicação
de José, ela nunca se entrega de corpo e alma ao marido, por quem sente algum
desprezo. Alguns anos depois, sofrendo de dores crônicas nos rins, Gabrielle é
enviada para uma estância termal nos Alpes. Lá, conhece André Sauvage, um
ex-soldado ferido na guerra da Indochina, por quem se apaixona ao primeiro
olhar. Durante as seis semanas seguintes, vai viver um amor que nunca julgou possível…
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Por
um instante, somos convidados a refletir sobre diferentes momentos do papel
feminino ao longo história. Antes de somente estranhar o comportamento de
Gabrielle, é preciso ter um olhar aguçado para a sexualidade feminina,
contextualizando, não só o ambiente familiar, mas também sua época. A burguesia
agrícola é palco para que o mito da histeria tenha lugar. Gabbrielle desafia regras e convenções, expressa
desejos reprimidos descontroladamente. Tida
como louca, ela oscila entre momentos de melancolia e o desejo de romper
barreiras, a apatia e o ataque de fúria. A paixão, tão comum nas transformações
hormonais femininas se torna ato, assédio. A frustração, com a constatação de
sua paixão platônica, se torna surto, desordem, realidade cruel. Dentro de uma
sociedade convencional, sua feminilidade indomável é direcionada para soluções
burguesas, a escolha de um casamento arranjado como opção, aprisionando o
desejo. Sua sexualidade está entrelaçada com a paixão, desejo e amor não podem
ser separados. Para não ser internada, ela aceita se casar, mas sufoca seu desejo,
sua sexualidade latente. Ela impõe regras, mantém distância afetiva do marido.
É no momento de cuidar de sua doença renal, uma metáfora de seu desejo
encarcerado, que Gabrielle volta a fantasiar, amando o amor, sonhando ser
amada, vivendo sua fantasia de amor perfeito, apaixonado, indomável.
Inquietante, o filme nos convida a enfrentar a expressão em ato, na realidade,
dos sonhos e fantasias que perseguem o imaginário feminino. A loucura de
Gabrielle denuncia os desejos reprimidos ao longo da história, que herdados
pelas gerações seguintes, foram trancafiados no interior de muitas mulheres. O
conflito interno provoca cisão que separa o amor da paixão, o desejo da razão, o
investimento afetivo em sonhos da realidade cotidiana. Amar o amor, o estado de
paixão, o encantamento é também transbordamento do desejo contido, sufocado,
desiludido, que pode se tornar uma parte alienada do ser. Pensar a mulher
contemporânea, como alguém capaz de integrar seus opostos, é permitir o resgate
da crença em si mesma, em seus sonhos, sua feminilidade, sua totalidade, sua
capacidade de realizar. O filme é poesia, um convite para reflexão, vale conferir!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante!