domingo, 2 de junho de 2013

Em frente da classe/O líder da classe/O primeiro da classe

ASSUNTO
Síndrome de Tourette, educação/ensino, diferenças, Abordagem Gestáltica (Teoria Paradoxal da mudança), Superação e preconceito.
SINOPSE
2008 - O filme (Front of the Class - O líder da Classe ou O Primeiro da Classe) mostra o preconceito que Brad Cohen (Jimmy Wolk) sofreu por toda a sua vida por fazer esses "barulhos" estranhos devido a Sindrome de Tourette. As pessoas não entendiam, achavam que era uma brincadeira de mal gosto e o desprezavam e o castigavam por isso (inclusive o seu próprio pai o maltratava). Mas ele não se deixou abater e mostrou que era superior a qualquer tipo de preconceito e então resolveu dar aulas para crianças, coisa que ele amava e sempre sonhou em fazer. E se tornou o professor mais amado entre seus alunos. Esse filme narra a história de vida de Brad Cohen(Jimmy Wolk),que tem Síndrome de Tourette(é um distúrbio neurológico que faz com que o corpo perca o controle e a pessoa com essa doença tem tiques nervosos) e mesmo assim ele não deixa que essa deficiência o vença. Desde os 6 anos,ele tem esse problemas, mas sua mãe sempre o incentivou a ter uma vida como a de todo mundo, não é por conta do Tourette que ele não podia ter uma vida comum. Foi um diretor que o fez ser aceito na escola e pela ignorância dos professores que ele teve na vida, decidiu o ser o professor que ele nunca tinha tido. Ele adora ensinar o mais importante: que nada nunca o impediu de viver. Baseado em fatos reais,hoje em dia o verdadeiro Brad é casado com Nancy, fez seu mestrado e faz o que ele ama fazer: dar aulas.
TRAILER

O OLHAR DA PSICOLOGIA
O filme conta a história de Brad Cohen, um professor dos Estados Unidos que "sofreu" muito mais com o preconceito, do que com a síndrome de Tourette, um transtorno neuropsiquiátrico que o acompanhou desde os seis anos. Sobre a doença, Brad insiste em dizer que foi sua companheira desde os seis anos, e, também a principal responsável por ele se tornar um professor “de verdade”. A história dele não se distancia muito das de outras pessoas com formas “diferentes” de ser. Aqui falamos de diversas formas de funcionar no mundo, seja por aquilo que chamamos de doença, ou sexualidade, cor, crença, etc. Neste aspecto, o filme é uma lição de vida, pois nos alerta sobre o perigo de qualquer tipo de preconceito ou estigma. De fato, o enredo nos chama a atenção sobre o quanto a reação social às diferenças podem provocar o agravamento de “doenças”, e, em alguns casos, até resultando em distúrbios até então inexistentes. A obra é um presente que nos conduz a discussões e reflexões importantes sobre relações familiares, afetivas, sociais,  professor/aluno, diferenças, preconceitos, relação terapêutica e Abordagem Gestáltica.
Relação Terapêutica
Por outro lado, a trama nos mostra a importância de alguém que realmente se interesse, que esteja “com” a pessoa, não só dando o suporte necessário sem transformá-la em vítima, mas também buscando maior conhecimento sobre o que está acontecendo. A mãe de Brad foi esta pessoa, ela não desistiu dele, o incentivou a ter orgulho de si, pesquisou, buscou ajuda, descobriu o transtorno e foi seu suporte, sem por isso criar dependência. Em nenhum momento a mãe incentivou qualquer tipo superproteção, como é possível vermos no cotidiano de muitas crianças, que são “fragilizadas” em relações codependentes, sem nenhuma justificativa plausível. Brad, ao contrário, teve todo suporte materno para sua autonomia, sem que isso pudesse ser interpretado como abandono. Pelo contrário, a disponibilidade materna era visível, sem sequer se aproximar de qualquer tipo de codependência.
O Preconceito
É sabido que todas as formas de preconceito podem ser devastadoras para o ser humano, no entanto,  diariamente somos bombardeados com manchetes de jornais que retratam infortúnios sofridos por vítimas dos mais diversos preconceitos. Na maior parte das vezes, o preconceito é resultado de falta de informação, desconhecimento, ignorância. De fato, algumas pessoas buscam algum tipo de segurança quando escolhem encapsular a diferença de alguém em algum tipo de rótulo. Ademais, o pior preconceito pode acontecer dentro da própria família, como é o cado do pai de Brad, que não consegue compreender o que acontece com o filho. Diante do comportamento “inadequado” do filho, o pai sente vergonha e na maior parte das vezes tenta “enquadrá-lo” no padrão de “normalidade”. O preconceito não acaba aí, o menino enfrenta preconceito até mesmo no espaço que deveria melhor acolher sua diferença: a escola.
Relação professor-aluno
Outro aspecto do filme que nos interessa é em relação ao ensino. Embora já tenha se passado muitos anos, sabemos que o estigma e a ignorância em relação aos psicodiagnósticos permanecem em muitas instituições de ensino. A educação segue um plano de aula de acordo com o sistema de ensino vigente, muitas vezes ignorando as possíveis alterações no processo, incluindo a reação diferenciada de algum aluno. Infelizmente, nem todos os professores estão preparados para lidar com as diferenças, muitas vezes perdendo a noção do que pode ou não se revelar como doença. Evidentemente, há notícia de vários incidentes que retratam episódios violentos de alunos para com seus professores, o que prejudica sensivelmente a percepção dos mestres, principalmente na hora de separar o joio do trigo. A necessidade de ampliarmos a discussão e a informação sobre possíveis diagnósticos é de extrema urgência, evitando assim que alunos “diferentes” sejam prejudicados como ocorre com o protagonista. Ainda em relação ao ensino, Brad ilustra muito bem como a dedicação ao ofício faz com que todos os obstáculos sejam superados, tornando possível a realização de um resultado positivo. Sua “deficiência” é sua melhor aliada em seu progresso, pois é o que o impulsiona em sua busca de realização profissional e pessoal. As dificuldades enfrentadas na infância, principalmente no que se refere à falta de tato dos educadores, é o que se transforma em motivação para seu projeto profissional.
Relação Terapêutica – Abordagem Gestáltica
Ainda criança, ele declara guerra aos rótulos, ao afirmar que a Tourette não irá vencê-lo, assim, Brad a aceita como parte de si mesmo. Esse movimento abre espaço para integração do seu ser, o que o fortalece imensamente diante das pressões sociais. No lugar de negar os sintomas ou os prejuízos sociais advindos da doença, ele escolhe buscar seus objetivos de “mãos dadas” com a síndrome. Aceitar “aquilo” como parte dele foi o que o permitiu realizar novas escolhas. O foco foi deslocado para além dos obstáculos, favorecendo que um mundo de novas opções se revelasse. Na abordagem Gestáltica nosso olhar se volta para a saúde e não para a doença. Portanto, independente de sintomas ou diagnóstico, nosso foco é a pessoa e sua forma de funcionar no mundo. Ao acreditarmos no potencial do ser para sua autorrealização, nosso trabalho tem como foco dar o suporte necessário para que a pessoa se perceba como de fato é. Ou seja, como está se impedindo de seguir seu curso natural de transformações sucessivas, se encontrando paralisado, estagnado, “envelopado” em algum rótulo ou forma repetida de funcionamento. Seguimos um conceito chamado Teoria Paradoxal da Mudança, que afirma que é justamente quando o cliente não tenta mudar que a transformação pode ocorrer. Aí está o paradoxo, quando o cliente se conhece, assume e aceita seu modo de ser no mundo a mudança ocorre espontaneamente. Arnold Beisser afirma, no texto “A teoria paradoxal da mudança”, que o processo psicoterápico é talvez o processo pra que a pessoa possa ser aquilo que ela já é, não quando tenta converter-se no que não é. Acrescenta também que a mudança não acontece pela coerção ou desejo do outro, mas quando dedicamos tempo e esforço para ser o que somos. No filme temos uma ótima ilustração do poder e a força deste conceito no processo psicoterapêutico. A mãe do protagonista lança luz sobre sua forma de funcionamento ao compartilhar suas pesquisas sobre a síndrome de Tourette. O que era um “obstáculo estranho” para seu desenvolvimento, passa a ser conhecido, descoberto - no sentido de descortinar-se. Então, Brad desiste de tentar se converter naquilo que a sociedade espera dele e transforma-se no que é. Seus antigos obstáculos (sintomas) se tornam fortes aliados para uma verdadeira lição de vida. Em seu discurso no momento da premiação, ele diz: “O que uma incapacidade pode ensianar? (…) A Tourette me ensinou a lição mais importante de todas: nunca desistir de seus sonhos”. Neste aspecto, o filme ultrapassa o limite da doença como tema, pois nos leva a refletir sobre nossos “pequenos defeitos”, que quando negligenciados e não aceitos como parte de nós, podem causar estragos tão devastadores quanto qualquer doença, principalmente quando permitimos  impeçam a realização de nossos sonhos.
Outros Filmes sobre o tema: “A menina no país das maravilhas” - leia mais clicando aqui - e “Vincent quer ver o mar” - post completo aqui.
Para saber mais sobre Síndrome de Tourette clique aqui.













20 comentários:

  1. amei o filme é muito emocionante! mas ainda n entendi pq ele aceita a doença como parte de si mesmo, mas recomendo a todos e tenho certeza de q vam gostar!

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    1. ele aceita a doença como parte dele, porque não tem cura...

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    2. Acho pertinente lembrar que aceitar a doença como parte de si desloca o rótulo, ou seja, a doença não define quem ele é, é algo que faz parte dele, mas não define quem é.

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  2. amei o filme, deveria passar em todas as escolas! É interessante, educativo, instrutivo e animador, pois dá esperanças a outras formas de preconceitos serem devastadas do meio social...

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    1. Esperança,
      Desculpe a demora na resposta, tive problemas nas configurações. Agradeço muito sua participação, volte sempre!
      Abs,

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  3. Inspirador e cheio de ensinamentos este filme. Animei e o assisti. Gostei bastante, o que levou-me a também escrever uma resenha a qual foi publicada em http://www.cienciadearte.com/2015/04/o-primeiro-da-classe-filme-que-conta-historia-de-professor-com-sindrome-de-tourette.html

    Em relação à resenha apresentada neste blog - Psicologia e Cinema, destaco a propriedade com que foi analisada a obra e o comportamento dos personagens do filme O Primeiro da Classe.

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  4. Amei o filme pois com certeza todos tem o direito de realizar os sonhos e principalmente aceitar e respeitar as diferenças,e confie sempre no seu potencial,todos somos capazes,desistir jamais.Uma linda lição de vida

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  5. Ameiii o filme fiquei emocionada em v seu empenho em ser o professor que ele nunca teve. sua dedicação e sua metodologia levou ao premio de melhor professor.

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    1. Lamento a demora, só recentemente, descobri que existiam varios comentários numa caixa de spam, que ignorava a existência. Obrigada por sua participação!

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  6. Amei o filme, mas o que foi realmente relevante para marcar a história social dele como professor.?

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    1. Lamento a demora, só recentemente, descobri que existiam varios comentários numa caixa de spam, que ignorava a existência. Acredito que só ele poderia responder a sua pergunta. No entanto, minha percepção sugere que foi a experiência pessoal dele como aluno o maior motivador. Obrigada pela participação, volte sempre!

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  7. Amei o filme muito bom, mais me responde algo

    Qual a ligação entre a tematica das aulas e a tematica do filme?

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    1. Lamento a demora, só recentemente, descobri que existiam varios comentários numa caixa de spam, que ignorava a existência. Dsculpe, naõ entendi sua pergunta. Se for sobre a forma que ele lida com os alunos, independente da tematica da aula, acredito que amplie a sensação de pertencimento e direito de aprendizado, de qualquer aluno, que precisa ser visto e ouvido como é. Obrigada pela participação, volte sempre!

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  8. Alguém sabe o nome do livro que esse filme foi desenvolvido

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    1. Infelizmente, não encontrei o livro em português. Mas, segue o link dele em inglês: FRONT OF THE CLASS - https://www.livrariacultura.com.br/p/ebooks/biografias/pedagogia/front-of-the-class-84264727

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  9. Porque o pai do Brad brigava tanto com ele

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    1. Embora faça muito tempo, não creio que o filme forneça tal informação. Certamente, é produto de sua inabilidade para lidar com a diferença, mas pouco sabemos sobre as experiências de vida que o levaram a essa intolerância. Volte sempre!

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