segunda-feira, 20 de maio de 2013

Terapia de Risco

clip_image001ASSUNTO

Indústria farmacêutica, efeitos colaterias de medicações psiquiátricas, psiquiatria, saúde mental, crise de ansiedade, depressão, relação terapêutica, manipulação, relações afetivas e sociais.

SINOPSE

A trama gira em torno da jovem Emily Hawkins (Rooney Mara), que acaba de ver o marido (Channing Tatum) ser libertado da prisão por um crime de colarinho branco. Mesmo aliviada, Emily tem crises de depressão e busca a ajuda de medicamentos prescritos para conter a ansiedade. Ela também busca amparo num tratamento psicológico, lidando com profissionais (Jude Law e Catherine Zeta-Jones). O tratamento, por mais que comece de forma positiva, vai gerar consequências inesperadas na vida da jovem.

TRAILER

O OLHAR DA PSICOLOGIA

Com o título original “Side Effects” – efeitos colaterais, o filme fala da transformação da felicidade em mercadoria de lucro, sobre a busca da felicidade através de medicamentos. Já na chamada, o trailer é finalizado com a imagem de diversos comprimidos e a seguinte frase: “TERAPIA DE RISCO, em alguns casos a morte pode ocorrer.” Em tempos de discussão sobre o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), a discussão proposta na trama se encaixa perfeitamente. O DSM-5 vem sendo duramente criticado pela comunidade acadêmica e pelos profissionais de saúde mental do mundo todo. O novo manual traz em sua proposta a diminuição dos limites de diagnóstico e das categorias dos diagnósticos existentes, além de acrescentar novas categorias. A preocupação gira em torno de toda uma geração, que ao manifestar variações normais de comportamentos, que embora sejam considerados problemáticos, podem ser “categorizados” pelo DSM-5 como algum tipo de doença mental. Tal procedimento pode acarretar em prejuízo para toda uma vida, devido aos estigmas provocados pelos rótulos, além de indicar a prescrição de drogas psiquiátricas poderosas, que podem ter sérios efeitos colaterais. Rompendo as barreiras do Universo acadêmico e profissional, as propostas do DSM-5 devem ser discutidas por toda a sociedade, pois suas consequências podem afetar a saúde de pessoas. Trata-se de uma questão séria.

Uma das maiores preocupações dos profissionais de saúde mental tem sido sua forte tendência a tornar diagnóstico de transtorno situações que fazem parte da vida cotidiana. Recentemente, li um artigo sobre a ausência de TDAH na França e fiquei bastante impactada. Ainda que em linhas gerais tanto DSM quanto o CID-10 sejam adotados em nosso país, na França já existe há algum tempo outra forma de orientação na saúde mental. A Federação Francesa de Psiquiatria desenvolveu um sistema de classificação alternativa, como uma resistência à influência do DSM-3. Esta alternativa foi a CFTMEA (Classification Française des Troubles Mentaux de L’Enfant et de L’Adolescent), lançado pela primeira vez em 1983, e atualizado em 1988 e 2000. Sem ignorar a terapia medicamentosa, o manual francês prioriza a identificação e o tratamento das causas psicossociais subjacentes, diferente dos sintomas de crianças que no Brasil poderiam ser consideradas TDAH, sendo tratadas com medicações como a Ritalina. (artigo completo clique aqui). O filme, embora foque em temas de interesses particulares, ilustra perfeitamente o poder da indústria farmacológica no sistema capitalista. Responsabilidades são diluídas diante da força avassaladora do poder financeiro. Muitos personagens encontram nas pílulas algum tipo de conforto. Dr. Banks é retratado como um profissional gentil, ético e genuinamente preocupado com os pacientes que, mesmo não hesitando em receber de uma companhia farmacêutica para testar uma droga, se esforça para que isto não afete aqueles sob seus cuidados, informando-os inclusive de suas opções de tratamento. Assim, quando sua natureza afável é levada a sofrer certas alterações a partir da segunda metade, nos surpreendemos com suas atitudes e seu até então insuspeito talento para elaboração de estratégias particulares – o que, no entanto, acaba se encaixando perfeitamente em seu caráter. Principalmente sua reação, somos convidados a refletir sobre um poder maior, o CONHECIMENTO. De fato, quando o psiquiatra foca toda a sua atenção em sua única ferramenta disponível, o conhecimento, é muito repudiado, enfrentando diversos obstáculos. Mas, sua determinação e crença em si e em seu seus estudos, lhe oferecem ferramentas suficientes para virar o jogo. Atentem para o fato de que o personagem alia conhecimento à criatividade, uma combinação perfeita. É, o filme nos provoca reflexões sobre nossa forma de perceber o mundo, e, claro, atuar nele também. A discussão não pretende desconsiderar a necessidade de medicamentos em casos específicos, que devem ser avaliados com maior rigor. Afinal, alterações químicas exigem terapia medicamentosa. De fato, diferente do Brasil, o psicoterapeuta americano costuma também ser psiquiatra, o que torna a discussão americana uma questão psiquiátrica. No Brasil, psicólogos e psiquiatras costumam trabalhar em parceria. Em algumas situações o psiquiatra indica acompanhamento psicológico, em outros casos, o psicólogo indica o acompanhamento psiquiátrico. Temos um outra questão em pauta no Brasil que é o ATO MÉDICO,  um projeto de lei que valoriza a profissão do médico em detrimento de outros profissionais de saúde. Trata-se de outra discussão que está provocando reação de diversas categorias da sociedade, visto que na prática, alguns planos de saúde já exigem o encaminhamento médico para considerarem a possibilidade da consulta de outros profissionais. O "Ato Médico" é criticado por enfermeiros, nutrólogos, fisioterapeutas  e psicólogos. O motivo é que eles consideram que, ao definir o que é privativo dos médicos --por exemplo, o diagnóstico--, o texto restringiu os campos de ação das demais profissões. Leia mais clicando aqui ou aqui. O filme é também um bom suspense e drama, vale a pena conferir!

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