Atendendo em consultório particular em Copacabana e na Ilha do Governador, reflito sobre a influência dos filmes em minha trajetória, que foi atravessada pelo cinema em diversas fases. Ferramenta de auxílio para a compreensão de diversos conceitos, os filmes não só informam, mas são capazes de nos tocar, favorecendo assim, novas formas de lidar com nossas questões e conflitos.
Compartilho, então, alguns desses filmes.
Relações social, afetivas e de
casal, saúde mental.
SINOPSE
Adri (Álvaro
Cervantes) é o típico homem bem-sucedido na vida, garanhão, que não se prende a
ninguém. Certa noite, ele faz uma aposta com os amigos de que consegue seduzir
uma loira que está no bar, porém, quando estava a caminho da moça, Carla (Susana
Abaiatua) esbarra nele. Encantado pela energia eufórica da moça à sua
frente, Adri se sente hipnotizado e segue aquela enigmática moça em
todos os seus mirabolantes planos – e, com ela, tem a melhor noite de sua vida.
Porém, com o nascer do sol, a misteriosa moça sai correndo, deixando Adri sem
nenhuma informação sobre ela e com um enorme vazio no peito.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Que grata surpresa! Há muito
tempo que não assistíamos a um filme assim, leve, encantador e interessante.
Sim, interessante, pois a comédia romântica escolheu pincelar assuntos sérios e
necessários, de forma leve e provocante. Obviamente, loucura e amor são
assuntos já debatidos em diferentes contextos, pois sempre foram considerados parentes.
No filme, a loucura não se restringe ao estado da paixão enlouquecedora, mas
vai além, ao percorrer o caminho delicado da saúde mental. Sim, estamos diante
de Adri, personagem que se considera normal, e, após compartilhar a aventura de
uma noite inesquecível, se percebe capturado pela garota misteriosa. Carla,
personagem que lhe proporcionou a noite mais alucinante, prazerosa e inusitada
de sua vida, avisou que seria uma única noite, mas não bastava, ele queria
mais. Entorpecido, busca pistas para encontrar a mocinha. Até então, é
inevitável pensar na cinderela e o sapatinho dos contos de fadas...
Jogos de poder
da realeza, relações sociais e afetivas.
SINOPSE.
Na Inglaterra do século XVIII, Sarah Churchill,
a Duquesa de Marlborough (Rachel Weisz) exerce sua influência na corte como
confidente, conselheira e amante secreta da Rainha Ana (Olivia Colman). Seu
posto privilegiado, no entanto, é ameaçado pela chegada de Abigail (Emma
Stone), nova criada que logo se torna a queridinha da majestade e agarra com
unhas e dentes à oportunidade única.
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O OLHAR DA
PSICOLOGIA
Fofocas
e intrigas da corte habitam a trama, que baseada em fatos reais, passeia pelo
mundo dos detentores do poder, em uma época em que a realeza decidia o rumo da
história, mesmo sem a menor condição de fazê-lo. Um jogo cruel e manipulador de
interesses políticos e pessoais são explorados no filme, evidenciando a força
da influência feminina. Falamos da disputa entre duas mulheres que servem a
rainha, através da amizade e de favores sexuais, ambas manipulam suas decisões,
seja por interesse pessoal ou político. Em forma de sátira, o Longa faz uma
crítica aos jogos sórdidos do poder, explorando as possibilidades e
impossibilidades dessas relações. A rainha, louca e com tendências
homossexuais, é, por sua vez, retratada como mimada. É possível perceber que
ela é falha, humanamente imperfeita, como todos podem ser. Apesar de ocupar um
cargo de liderança, tudo que ela quer é o lado bom da vida. Usufruir de todas
as possibilidades prazerosas, sem que seja necessário tomar decisões e ser
julgada por isso, que é desejável. Abrir mão da responsabilidade por suas
escolhas é um desejo comum nos mais diversos quadros patológicos. Por isso, ela se tornava alvo para a disputa daquelas
mulheres, a estrategista e a alpinista social, que rápido aprende a usar as
mesmas armas.
Preconceito, relações
afetivas, familiares e sociais.
SINOPSE
Violet Jones (Sanaa Lathan) é uma publicitária
bem-sucedida que considera sua vida perfeita, tendo um ótimo namorado e uma
rotina organizada meticulosamente para conseguir estar sempre impecável. Após
uma enorme desilusão, ela resolve repaginar o visual e o caminho de aceitação
de seu cabelo está intrinsecamente ligado à sua reformulação como mulher,
superando traumas que vêm desde a infância e pela primeira vez se colocando
acima da opinião alheia.
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O OLHAR DA
PSICOLOGIA
“Felicidade
por um fio” é uma comédia leve sobre a construção do amor próprio. O
preconceito internalizado na infância é parte do que faz Violet buscar a
perfeição em sua forma de funcionar no mundo. Alguma receita pronta de “vida
perfeita” tornou-se o norteador de seu viver, oprimindo sua autenticidade e a
aceitação de si mesma. Ainda que seja uma comédia despretensiosa, a trama
apresenta um tema interessante, que pode encontrar identificação em diferentes
espectadores. O preconceito, de qualquer espécie, pode ser internalizado ainda
na infância, tornando a aceitação de si mesmo um processo longo e doloroso.
Aliás, doloroso é viver em um formato diferente da própria naturalidade de ser,
entretanto, isso é mais comum do que podemos imaginar. A preocupação em se
adequar ao que é apreendido como desejável, como forma de ser aceito e bem
visto pela sociedade, pode distanciar a pessoa de quem é de fato. A vida
neurótica, aparentemente perfeita, pode ser bastante sofrida. Escrava da
aparência, Violet representa outros tantos que não estão satisfeitos consigo,
devido a um modelo do que é considerado “normal”, socialmente aceito, ou,
imposto pela “ditadura da beleza”. Em um momento de decepção amorosa, de
sofrimento e dor, a protagonista encontra
o caminho de volta para si, resgatando sua espontaneidade e o orgulho por ser
quem é: mulher, negra, com opinião
própria. Desfazer-se de seu cabelo é como despir-se, sentir-se nua em público. Trata-se de um processo semelhante ao
terapêutico, que nos coloca frente a frente com o que somos, nos revelando aos
poucos, descortinando as aparências para revelação do ser. A desconstrução de um modelo automático,
pré-fabricado, dá lugar a novas descobertas sobre desejos e objetivos,
inaugurando um novo caminho, resgatando os sentidos em sua totalidade do ser. Fritz
Perls, considerado o pai da Abordagem psicológica conhecida como
Gestalt-terapia, nos alertava sobre o perigo dessa busca pela perfeição, ao
afirmar;
“Amigo, não seja um perfeccionista. Perfeccionismo é uma
maldição e uma prisão. Quanto mais você treme, mais erra o alvo. Você é
perfeito, se se permitir, ser. Amigo, não tenha medo de erros. Erros não são
pecados. Erros são formas de fazer algo de maneira diferente, talvez
criativamente nova. Amigo, não fique aborrecido por seus erros. Alegre-se por eles. Você teve
coragem de dar algo de si.”
Relações familiares, sociais e afetivas, suicídio, psicodiagnóstico, saúde mental e arte.
SINOPSE
1891. Um ano após o suicídio de Vincent Van
Gogh, Armand Roulin (Douglas Booth) encontra uma carta por ele enviada ao irmão
Theo, que jamais chegou ao seu destino. Após conversar com o pai, carteiro que
era amigo pessoal de Van Gogh, Armand é incentivado a entregar ele mesmo a
correspondência. Desta forma, ele parte para a cidade francesa de Arles na esperança
de encontrar algum contato com a família do pintor falecido. Lá, inicia uma
investigação junto às pessoas que conheceram Van Gogh, no intuito de decifrar
se ele realmente se matou.
TRAILER
O OLHAR DA
PSICOLOGIA
A animação é uma obra prima, trazendo
para a telona a arte de Van Gogh em movimentos, tão tocantes quanto suas obras.
Como qualquer obra prima, inspira diferentes percepções no espectador. A
animação quase documental, não se furta de evidenciar conflitos existenciais de
sua história, traduzidos em suas obras. Tal qual Armand, personagem que
investiga a vida do artista, somos conquistados aos poucos, pela riqueza de situações emocionantes e curiosas em torno do mestre. Alguns elementos históricos foram incluídos na
trama, de forma tão sensível, que o filme se torna magnífico. Um dos aspectos
que mais me tocou, tem a ver com repetidas angústias que chegam diariamente ao
consultório de psicologia. Falamos da dificuldade daqueles que não se “encaixam”
no que a família ou a sociedade espera dele. Encontrar a própria vocação, em
meio às pressões familiares e sociais, pode ser dilacerante. Família e sociedade
funcionam com seus padrões de exigência, muitas vezes desestimulando,
reprovando, sufocando a singularidade do ser. A adolescência, momento de ENEM, de
pressão versus sensações intensas, podem desencadear frustrações insuportáveis.
A ausência de suporte pode agravar a situação. A crítica, a reprovação, afeta o
processo de identidade da pessoa, sua auto estima pode ser prejudicada. A
depressão, mal do século, pode ser considerada como a melhor alternativa, que o
sujeito encontra para lidar com a situação. Longe de apontar uma relação causal
para a depressão, estamos partilhando uma reflexão provocada pela trama.
Relações
familiares, sociais e afetivas; abuso de poder, violência, racismo e família
disfuncional.
SINOPSE
Inconformada com a ineficácia da polícia em
encontrar o culpado pelo brutal assassinato de sua filha, Mildred Hayes
(Frances McDormand) decide chamar atenção para o caso não solucionado alugando
três outdoors em uma estrada raramente usada. A inesperada atitude repercute em
toda a cidade e suas consequências afetam várias pessoas, especialmente a
própria Mildred e o Delegado Willoughby (Woody Harrelson), responsável pela
investigação.
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O OLHAR DA
PSICOLOGIA
Não
existe nada óbvio no longa, ainda que tenha como tema central algo que assim
possa parecer. Entre o absurdo e a crueldade da vida, o filme transita entre os
acontecimentos e personagens peculiares. Com humor negro surpreendente, recheado
de personagens complexos, a trama perpassa entre o bem e o mal, sem escolher
lado. Não há herói, nem vilão. A mãe, inconformada com a lentidão das
investigações, age de acordo com suas convicções. A cidade é pequena, a lei tem
suas particularidades e seus agentes a aplicam de acordo com as próprias
convicções. Por outro lado, a culpa é um peso a ser carregado, pois ninguém
está livre de cometer erros em ações promovidas pela própria noção de justiça.
É bom ressaltar que o crime brutal, tema central da trama, não é a única
injustiça retratada. Temos um retrato particular e universal, quando observamos
as diferentes reações, ou a falta dela, diante do fato que pode afetar a vida
dos personagens. A raiva está nos pequenos e grandes movimentos dos personagens,
em diversos momentos da trama. As relações sociais e familiares não estão ausentes,
ao contrário, são exploradas. A pacata
cidade do interior se transforma num cenário doente, onde todos têm seus anjos
e demônios expostos. Não é sobre a solução de um crime, nem sobre lição de
moral. Com humor ácido, o filme denuncia mais do que um crime, provoca o
próprio julgamento, confronta tudo que é politicamente correto, incomoda. Um
episódio abominável altera a rotina de várias pessoas, desencadeando reações
inesperadas. Racismo, abuso de poder, culpa, manipulações afetivas, doenças
físicas e/ou mentais, relações familiares disfuncionais são temas que podem
provocar diferentes reações no espectador, pela forma que são apresentados. A crueldade, as motivações, os encontros e desencontros, as diferentes provocações e reações suscitadas, nos personagens ou no espectador, podem provocar diferentes reflexões. alvez, muito necessárias, diante das atrocidades e inversão de valores que cada vez mais fazem parte do nosso cotidiano. Confira!
Relações familiares, afetivas, terapêutica e social, Autismo, Asperger.
SINOPSE
Sam ( Keir Gilchrist) é um jovem autista de 18
anos que está em busca de sua própria independência. Nesta jornada, repleta de
desafios, mas que rende algumas risadas, ele e sua família aprendem a lidar com
é tão óbvio assim.
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O OLHAR DA
PSICOLOGIA
Arypical
(atípico) é a nova série da Netflix, que traz algumas singularidades do
Espectro Autista para o centro do debate, muito mais para familiarizar o
público, do que para rotular diferenças. Sam é atípico, não funciona como a
maioria, foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) na forma
branda, o que antes era diagnosticado como Síndrome de Asperger. Difere do autismo
clássico, não só pelos sintomas mais leves, mas principalmente por sua
capacidade cognitiva, muitas vezes com a inteligência acima da média. Sua forma de perceber o mundo é apresentada,
favorecendo ao espectador compreender melhor o universo autista. Sim, Sam tem
uma família comum, que aos poucos conhecemos em sua rotina imperfeita. Todos os
personagens são humanos, repletos de conflitos e imperfeições, o que torna a série
crível e simpática. A irmã de Sam é sua parceira, sua protetora e amiga. Ela também
é atleta e leva muito a sério seu treino diário. Sam freqüenta a psicoterapia,
vai à mesma escola da irmã e trabalha numa loja de eletro-eletrônicos. Seu pai
trabalha fora e sua mãe abriu mão da carreira para dar suporte às necessidades
do filho. Somos convidados a conhecer o
universo de Sam pela ótica autista, uma forma singular de perceber o mundo. Aos
poucos, conhecemos a difícil realidade, não só dos familiares, mas da sociedade
em geral, no trato com o TEA. A falta de compreensão ou informação sobre a
condição autista e suas particularidades pode dificultar as relações, não só da
sociedade com o portador, mas também do autista consigo mesmo e com o mundo.
Ele se esforça para ser aceito pela sociedade, apesar de não perceber o entorno
da mesma forma. Muitas vezes, o TEA desenvolve crises de depressão ou
ansiedade, muito antes de compreender a si mesmo e as diferentes formas de
perceber o mundo. O diagnóstico e a informação sobre suas particularidades podem
favorecer uma vida mais saudável, integrando sua identidade. A série presta um
serviço social ao apresentar sintomas e dificuldades reais vivenciadas por Sam e
seus familiares. Quase didática, a série costura as relações afetivas e sociais
de forma leve, agradável e até engraçada. A primeira temporada deixa o gosto de
“quero mais” no espectador, pois além de promover esclarecimentos sobre o TEA,
traz conflitos e conquistas de outros personagens bem reais, humanos e
imperfeitos como todos nós. Vale conferir.
Anorexia,
distúrbios alimentares, família disfuncional, relações familiares, afetivas e
sociais.
SINOPSE
Uma jovem (Lily Collins) está lidando com um
problema que afeta muitos jovens no mundo: a anorexia. Sem perspectivas de se
livrar da doença e ter uma vida feliz e saudável, a moça passa os dias sem
esperança. Porém, quando ela encontra um médico (Keanu Reeves) não convencional
que a desafia a enfrentar sua condição e abraçar a vida, tudo pode mudar.
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O OLHAR DA
PSICOLOGIA
Anorexia,
entre outros distúrbios alimentares, é tema central do filme. Ellen, 20 anos, tem
anorexia, uma doença que afeta também aos familiares. Antes de tudo, vamos falar sobre transtornos
alimentares, um mal que atinge parcela significativa da população. Os
transtornos alimentares envolvem fatores
biológicos, psicológicos, familiares, socioculturais, genéticos e de
personalidade. A anorexia é um dos principais transtornos
alimentares contemporâneos, no qual a pessoa vive o peso ou a forma do corpo de
uma forma distorcida, se recusando a manter o peso corporal dentro do mínimo considerado
adequado para sua idade e altura. Ellen acredita ter a situação sob controle,
quando seu corpo revela o contrário, uma aparência esquelética e assustadora. A
família, embora seja apresentada como disfuncional, está abalada, tentando ajudar
da melhor forma possível, para cada um. Filha de pais separados, Ellen morou
mais tempo com a mãe e sua namorada, mas foi enviada para a casa do pai, no
momento em que a mãe não suportou mais lidar com a questão da anorexia. Apesar
do pai ausente, assistimos o bom convívio com sua meia irmã e o esforço de sua
madrasta em buscar ajuda para a enteada. Embora a família seja apontada como
conflituosa e disfuncional, em nenhum momento são citados como responsáveis,
nem é o foco da trama. Que, aliás, explora mais as questões do ponto de vista
daqueles acometidos pelo transtorno. “Aqueles” são os outros personagens em
tratamento, que embora sejam pano de fundo, também retratam suas angústias. O
encontro com eles apresenta outras perspectivas do transtorno, seja pelos
sintomas ou pela singularidade de cada personagem ao lidar com o problema.
Uma caixa de sapatos é enviada para Clay (Dylan
Minnette) por Hannah (Katheriine Langford), sua amiga e paixão platônica
secreta de escola. O jovem se surpreende ao ver o remetente, pois Hannah
acabara de se suicidar. Dentro da caixa, há várias fitas cassete, onde a jovem lista os 13 motivos que a levaram a interromper sua vida -
além de instruções para elas serem passadas entre os demais
envolvidos.
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O OLHAR DA
PSICOLOGIA
Febre
do momento, “OS 13 Porquês” foi baseado no livro homônimo de Jay Asher. Provocando
diferentes críticas, algumas favoráveis e muitas contrárias, a série está
levantando o assunto em diferentes segmentos da sociedade. Há quem diga que
pode se tornar um gatilho para aqueles que se encontram vulneráveis, outros
tantos afirmam que os assuntos abordados na trama podem e devem ser discutidos.
Indico abaixo links com diferentes opiniões. Por agora, prefiro destacar a
importância de falarmos sobre o tema, ou, sobre os temas levantados. Aliás,
acho que o aspecto mais positivo da proposta é, de fato, colocar os assuntos
abordados em discussão, é o que está acontecendo. As polêmicas estimuladas por
sua forma explícita ou pela fraqueza dos argumentos, cenas, etc., aqui não
serão discutidos ou julgados. Queremos dividir algumas reflexões motivadas pelo
contato com a série. A primeira coisa que chama a atenção foi o tom vingativo
apresentado pelo projeto de Hanah, que dilui a responsabilidade entre os
colegas (colegas??). Tudo bem, os relatos nos fazem pensar nas possíveis relações
tóxicas que enfrentamos, não só na adolescência. Por esse prisma, pode servir
como um alerta, um ponto de reflexão para aqueles que funcionam de determinada
forma agressiva ou abusiva, sem se dar conta do quanto podem estar machucando o
outro. Por outro lado, muitos suicídios cometidos por algum adolescente são por
si só motivadores de culpa nos colegas, que se perguntam o que poderiam ter
feito, ou deixado de fazer para evitar o desfecho trágico. Há também muito sofrimento
para os que ficam, sem que seja necessária uma acusação gravada em fitas
cassetes. Ok, a licença poética nos permite considerar a proposta como uma
perspectiva possível, para dar voz a quem partiu e promover uma possível
reflexão. Entretanto, é preciso refletir como o suicídio de um adolescente pode
afetar seu entorno, causando sofrimento e dor aos familiares, amigos e colegas.
Concordo com algo que li sobre o assunto, que afirma que o suicídio não é
opção, muito menos para vingança.
Brasilia, 1973. No auge da ditadura
militar, sete amigos, jovens como a cidade em que moram, sonham viver de
teatro. Liderado pelo diretor Léo (Emílio Dantas), o grupo leva adiante
os ensaios de uma peça que tece comparações entre Jesus Cristo e o cangaceiro
Lampião. Enquanto a repressão política rola solta na capital federal e a
liberdade sexual ainda é tabu, Bia (Fernanda Nobre) se mostra cada vez mais
prisioneira da obsessão de sua mãe (Françoise Forton), fazendo com que todos
questionem, cada vez mais, os conceitos e valores da sociedade. (RC)
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O OLHAR DA
PSICOLOGIA
Pegando carona com a
minissérie DE SONHOS E SEGREDOS, resolvi procurar outras obras de Osvaldo Montenegro.
Gostei do que encontrei. A relação entre o teatro e o cinema é o ponto de
partida do autor, que abusa da arte em sua totalidade para contar uma estória
(ou história?). Não se trata de um teatro filmado, há linguagem cinematográfica
costurando as cenas teatrais. Depois de assistir, fiquei com a impressão de que
a mensagem mais forte do filme se resume no pensamento “Um sonho sonhado sozinho
é um sonho. Um sonho sonhado junto é realidade”. Mas não é seu único
recado. Temos um grupo que troca afetos, que se une em prol de um projeto, há
presença física, contatos reais, eles compartilham experiências. A força do
grupo está na intimidade revelada na tela. Foi resultado de muito ensaio e
cumplicidade, parceria, durante um tempo de convivência. Por ser um cenário
único, a interpretação é o ponto chave, capaz de tocar o espectador.
Entretanto, não podemos deixar de lado o texto, que dá voz a uma geração, através
de frases e citações impactantes.
Saúde mental,
transtorno dissociativo de identidade, abuso, relação terapêutica, relações
sociais.
SINOPSE
Kevin (James McAvoy)
possui 23 personalidades distintas e consegue alterná-las quimicamente em seu
organismo apenas com a força do pensamento. Um dia, ele sequestra três
adolescentes que encontra em um estacionamento. Vivendo em cativeiro, elas
passam a conhecer as diferentes facetas de Kevin e precisam encontrar algum
meio de escapar.
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O OLHAR DA
PSICOLOGIA
Transtorno dissociativo de
identidade (anteriormente conhecido comodistúrbio de personalidade múltipla ou
transtorno de múltiplas personalidades) é uma condição psicológica
complexa que é provavelmente causada por muitos fatores, incluindo trauma grave
durante a primeira infância (abuso físico, sexual ou emocional geralmente
extremo, repetitivo). Diferente de SYBIL, um filme de 1976 que relata um caso
verídico de 17 personalidades, FRAGMENTADO mistura realidade e ficção, trazendo
um paciente mais complexo. Kevin é
acompanhado por terapeuta, que identificou 23 personalidades, até então. Na
trama, ele entra numa nova crise, dando pistas de uma 24ª personalidade, ainda desconhecida.
Sugerindo estar no comando, aos poucos ela irá controlar todas as outras
personalidades, provocando o sequestro das três adolescentes e outros
acontecimentos inesperados.
Síndrome do espectro autista, relações afetivas, sociais e familiares.
SINOPSE
Jane é uma jovem mulher cheia de sonhos, mas
alguns deles limitados pela complexa Síndrome de Asperger, uma condição rara
que afeta a capacidade do indivíduo de se socializar e de se comunicar de
maneira afetiva. Ela encontra apoio sobretudo em sua irmã, Bianca, que decidiu
ajudá-la com uma missão ousada: achar o par ideial para começar a namorar.
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O OLHAR DA
PSICOLOGIA
Ok,
é um filme clichê, uma comédia romântica, blá blá blá. Entretanto, falamos de uma
protagonista feminina com síndrome de Asperger. Só por isso já vale assistir.
Jane tem paixão pelos filmes antigos, exercita seu desejo de vivenciar romances, usa os filmes para treinar, afinal de contas, os portadores da síndrome têm dificuldade de reconhecer expressões e expressar emoções. O treinamento é necessário, quando o plano é entrar para o universo dos namoros. O filme não aprofunda a
questão diagnóstica, mas pincela algumas dificuldades comuns aos portadores da
síndrome. Ela quer ser reconhecida em sua fase adulta, como pessoa capaz, quer namorar. O
filme não revela aptidões específicas de Jane, como costuma ocorrer nesses
casos. Sabemos apenas de seu talento como estilista, sem termos noção de algum
direcionamento específico de sua inteligência. Asperger é uma condição neurológica do espectro autista caracterizada por dificuldades
significativas na interação social e comunicação não-verbal,
além de padrões de comportamento repetitivos e interesses restritos. Difere de
outros transtornos do espectro autista pelo desenvolvimento típico da linguagem
e cognição. Embora não seja fundamental para o diagnóstico, ser fisicamente
desajeitado e ter uma linguagem atípica ou excêntrica são características
frequentemente citadas pelas pessoas com a síndrome. Em geral, os Aspergers têm
inteligência notável, o que não podemos constatar em Jane. Embora, algumas passagens mostrem seu interesse por leitura de temas, como astrologia, por exemplo.
Universo virtual, conflitos sociais, familiares e afetivos, ansiedade, pânico, qualidade de vida, mídias sociais, crise existencial.
SINOPSE
Pía ( Paz Bascuñán ) está à
beira de um colapso nervoso: Seu chefe a humilha, seu marido a ignora, seu
enteado não a respeita, e seu melhor amigo não a ouve. Pía tem uma forte dor no
peito e depois de tentar de tudo para curar ela decide se submeter a um tratamento
de acupuntura. O médico chinês descobre que a dor de Pía é causada por
sentimentos reprimidos e com uma técnica antiga que ele tira o filtro. A partir
de agora, Pía não vai filtrar e perceber que a única maneira de curar é para
dizer tudo o que ela pensa ... que não vai trazer bons resultados.
TRAILER
O OLHAR DA
PSICOLOGIA
A
psicologia trabalha com o óbvio. Sim, aquilo que está bem na frente do nosso
nariz, e que, por conta do nosso envolvimento emocional, não conseguimos
enxergar. A comédia brinca com nosso cotidiano: as questões contemporâneas que
nos assombram. SEM FILTRO é uma comédia irreverente que nos confronta com o ônus
e bônus trazidos pelos avanços tecnológicos. Exite algo mais terapêutico do que a oportunidade de decortinar nosso ser? Quando o filme favorce a identificação do público, pode ser questionador, portanto, terapêutico. Não falamos apenas das questões trazidas pela virtualidade
de cada dia, pois o filme chileno também nos coloca na tela, quando inclui questões cotidianas
comuns, como: os problemas de trânsito, de comportamento das operadoras de telemarketing, do funcionário “padrão”, da geração de adolescentes "sem noção", da impessoalidade nas relações e das celebridades midiáticas. Tudo, sem esquecer da sedução de uma vida "perfeita", idealizada, consumida e fácil de ser aceita como objetivo. Acomodar-se ao que é confortável, nos parece sinônimo de felicidade. Para quem não se satisfaz com a realização do sonho existe medicação. Estamos no século XXI! Tudo que
está “bombando” na internet se torna prioridade. O público se vê em cada
conflito enfrentado por Pia, uma publicitária bem sucedida, que é responsável
pelo marketing digital de uma agência. Seu trabalho sofre mudanças radicais, na
tentativa de “acompanhar” os avanços da era digital. Como se não bastasse o
ambiente profissional, que a elege a categoria de “ultrapassada”, Pia enfrenta diferentes
problemas familiares e pessoais, que a levam a crises de ansiedade contínuas.
“Síndrome de
Fregoli”, Depressão, solidão, relações sociais e afetivas, deturpação dos sentidos
SINOPSE.
Michael Stone (voz de David
Thewis) é um palestrante motivacional, marido, pai e respeitado autor de “Como
Posso Ajudá-lo a Ajudá-los?” Michael, que acaba de chegar à cidade de
Connecticut é um homem incomodado com a rotina da sua vida. Ele segue do
aeroporto direto para o hotel, onde está programado para dar uma palestra em
uma convenção, onde entra em contato com um antigo caso para que possam se
reencontrar. A iniciativa não dá certo, mas Michael se surpreende ao descobrir
uma possível escapada de seu desespero: Lisa, uma despretensiosa
representante de vendas, que pode ou não ser o amor de sua vida.
TRAILER
O OLHAR DA
PSICOLOGIA
“Anomalisa”
é uma animação para adultos, aliás, para poucos, embora imperdível. Há que se
ter abertura para mergulhar no conflito existencial de Stone, e, perceber o
mundo a partir dele. Sim, existe distorção na percepção dele em relação ao meio.
Não existe problema na percepção singular de cada ser, entretanto, logo fica
claro que há algo errado na percepção dele, que não consegue diferenciar a
singularidade do outro. Lhe falta empatia? Talvez,
mas não é a única questão explorada. Acompanhamos a rotina monótona de alguém
que, apesar do sucesso com seu livro motivacional, se encontra sem qualquer
motivação em sua rotina. Há um pé dele no passado mal resolvido, algo não
compreendido, situação inacabada - conceito caro para Abordagem gestáltica. Desde o início, é possível perceber uma voz
comum a todos os outros personagens, o que sugere sua indiferença em relação ao
seu entorno. Vozes e rostos sugerem uma semelhança incompreensível, talvez uma
máscara única em todos, além da voz única para diferentes personagens,
independente do gênero.
Saúde mental, Movimento antimanicomial, Arteterapia, Terapia ocupacional, relação terapêutica, relações sociais, afetivas e familiares.
SINOPSE
Ao voltar a trabalhar em um hospital psiquiátrico
no subúrbio do Rio de Janeiro, após sair da prisão, a doutora Nise da Silveira
(Gloria Pires) propõe uma nova forma de tratamento aos pacientes que sofrem da
esquizofrenia, eliminando o eletrochoque e lobotomia. Seus colegas de trabalho
discordam do seu meio de tratamento e a isolam, restando a ela assumir o
abandonado Setor de Terapia Ocupacional, onde dá início a uma nova forma de
lidar com os pacientes, através do amor e da arte.
TRAILER
O OLHAR DA
PSICOLOGIA
É
indiscutível a importância de Nise da Silveira, psiquiatra de reconhecimento
internacional ao defender terapias alternativas no tratamento de transtornos
mentais. O filme nos
presenteia com interpretações excelentes, retratando com fidedignidade uma
realidade cruel de sujeitos portadores dos mais diferentes tipos de transtornos
mentais e os procedimentos desumanos adotados na ocasião. A personalidade inquieta, inconformada e
desafiadora da psiquiatra é apresentada na trama, focando prioritariamente o
aspecto humano da profissional. Na tentativa de compreender
melhor as demandas daqueles pacientes, Nise ofereceu um lugar para expressão de
suas angústias, inaugurando um novo canal para trocas. Ela se preocupou com o
aspecto afetivo das doenças mentais, oferecendo espaço para que os sujeitos
pudessem “juntar os cacos” de si mesmo, numa tentativa de integração. Diferentes
aspectos sobre a importância de Nise da Silveira já tem sido exaustivamente discutido
nas críticas e nos diversos artigos sobre o filme. Aqui, escolhemos restringir as
considerações no aspecto humano da trama, desconsiderando o olhar na doença
mental e priorizando a saúde.
Desenvolvimento,
perdas, tempo, aventura, crescimento, relações familiares, sociais e afetivas.
SINOPSE
Alice (Mia Wasikowska) retorna após uma longa
viagem pelo mundo, e reencontra a mãe. No casarão de uma grande festa, ela
percebe a presença de um espelho mágico. A jovem atravessa o objeto e retorna
ao País das Maravilhas, onde descobre que o Chapeleiro Maluco (Johnny Depp)
corre risco de morte após fazer uma descoberta sobre seu passado. Para salvar o
amigo, Alice deve conversar com o Tempo (Sacha Baron Cohen) para voltar às
vésperas de um evento traumático e mudar o destino do Chapeleiro. Nesta
aventura, também descobre um trauma que separou as irmãs Rainha Branca (Anne
Hathaway) e Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter).
TRAILER
O OLHAR DA
PSICOLOGIA
Alice
volta a personificar questões humanas do seu, porque não dizer do “nosso”, ”vir a
ser” constante. Em “Alice através do Espelho” acompanhamos sua jornada já na
idade adulta, diante dos desafios da vida, enfrentando tempestades e se arriscando
acreditar no impossível. Como ela diz: “A
única maneira de acreditar no impossível, é acreditar que é possível”, temos
assim o ponto de partida para mais uma aventura, repleta de metáforas, que
caminham em direção ao crescimento. A crítica não perdoou a inconsistência do
longa, apontando a falta de aprofundamento em qualquer dos temas, dos excessos de
efeitos e da fragilidade no desenvolvimento da trama que muito se distancia do
livro, segundo eles. Um olhar mais inocente irá se maravilhar com os efeitos
especiais e a realização do impossível na tela. Trata-se de uma aventura, que
mescla o universo infantil com o adulto, de forma leve, nos permitindo um belo
entretenimento.
Autismo, homossexualidade, homofobia,
perdas, luto, relações familiares, sociais e afetivas.
SINOPSE
O
filme apresenta a história de uma família obcecada com a ideia de parecer
perfeita. O único problema aparente dos Young é o filho mais novo, Nick, que
nasceu com Síndrome de Asperger, que faz com que a pessoa tenha dificuldades
para se socializar. Quando Chaz, o filho mais velho, morre em um acidente, a
família cai em pedaços e Nick então precisa juntar as peças para seguir em
frente.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Logo somos tocados pela
linda relação construída pelos irmãos Chaz e Nick. A paciência, o carinho, a
dedicação do irmão mais velho tornam o mundo de Nick mais rico, sua autoestima
mais elevada, e, claro, seu desejo de desenvolver habilidades para compreender
melhor o mundo são também ampliadas. Não há qualquer proximidade entre o
autista e seu pai, que não compreende sua forma de estar no mundo. Sua mãe,
apesar de interessada, não consegue acessar o mundo do caçula. Infelizmente,
Chaz sofre um acidente fatal e deixa os familiares perdidos em seu luto. Nick,
que tinha no irmão seu único elo com o mundo, se vê desamparado, perdido. Acompanhamos
o luto familiar e a dificuldade daquela família lidar não só com a perda, mas
também de encarar a condição autista do filho. Sem Chaz como intermediário,
tudo fica mais difícil, tanto para Nick, como para os familiares. Na busca de
elaborar o próprio luto e restaurar a si mesmo, Nick caminha através das dicas
deixadas pelo irmão. Se aproximar de seus amigos é um bom começo, o que nos
brinda com cenas emocionantes, ora delicadas, ora bem humoradas. Desconstruir a
imagem de perfeição do irmão mais velho se torna um aprendizado ímpar, não só
para Nick, mas também para toda a família. Fica evidente a dificuldade de perceber
a imperfeição de cada um, trazendo até o homossexualismo para pauta, o que
evidencia a homofobia no seio familiar.
Relações afetivas e sociais, sexualidade, transsexualidade, transtorno de identidade de gênero.
SINOPSE
Não recomendado para menores de 14
anos
Cinebiografia de Lili Elbe (Eddie Redmayne), que nasceu Einar
Mogens Wegener e foi a primeira pessoa a se submeter a uma cirurgia de mudança
de gênero. Em foco o relacionamento amoroso do pintor dinamarquês com Gerda
(Alicia Vikander) e sua descoberta como mulher.
TRAILER
O
OLHAR DA PSICOLOGIA
O
filme é a cinebiografia de Lili Elbe, nascido Einar Mogens Wegener, um artista
plástico dinamarquês que teria sido a primeira pessoa a se submeter a uma
cirurgia de mudança de gênero. A década de 20 era um momento em que a
medicina ainda não estava preparada para lidar com as possíveis complicações
daquela intervenção. É preciso considerar que o filme foi baseado em um livro,
que por sua vez foi baseado em uma história real, um marco na história da
medicina e uma porta que se abria para os transexuais. Na adaptação para o
cinema, importantes detalhes foram omitidos ou modificados. Por exemplo, Lili
foi submetida a 4 cirurgias, pois encontrou o amor e pretendia constituir
família, ter filhos. Segundo diversos relatos, na ocasião de sua morte, Gerda
já não convivia com Lili, que estava acompanhada de seu novo amor, um curador
de artes. Gerda, por sua vez, bissexual assumida, após se divorciar do segundo
marido, não obteve sucesso profissional e se tornou alcoólatra, encerrando sua
passagem pela vida no anonimato. Embora não haja qualquer menção à
bissexualidade de Gerdra na trama, é possível considerar algumas pistas, seja
no roteiro ou na interpretação da atriz. A
trama foca o relacionamento do artista com sua esposa Gerda, sua descoberta como mulher e a reação de ambos
durante o processo. Não há exposição sobre as reações da sociedade. As
críticas não foram favoráveis nem ao desfecho do filme, nem a forma, sendo considerada
por muitos como rasa na abordagem do assunto. Fato é que o enredo abre uma brecha
para discussão e melhor compreensão do que é ser transexual. Esclarecendo:
Diferente da homossexualidade, que é caracterizada apenas pela
atração sexual e afetiva entre indivíduos do mesmo sexo, sem que haja incômodo
com o próprio corpo, a transexualidade traz uma pessoa que não se identifica
com o seu corpo, seu gênero psicológico não corresponde ao físico. Independente da ficção, a trama denuncia
algumas questões reais. Por exemplo, na procura de solução para seu incômodo,
Lili encontra até o diagnóstico de esquizofrenia. Dentre outras intervenções que tentavam "resolver" a questão, o choque também foi utilizado,
Relações
sociais, afetivas e terapêuticas, saúde mental, reforma psiquiátrica, normal e
patológico.
SINOPSE
Não recomendado
para menores de 14 anos - baseado em um conto do mestre Edgar Allan Poe. Um
jovem recém-graduado na faculdade de medicina assume um cargo numa instituição
mental e logo se vê apaixonado por uma de seus colegas - e tal distração não
permite que ele perceba uma terrível mudança no corpo de funcionários.
TRAILER
O
OLHAR DA PSICOLOGIA
Indicado por uma cliente, o filme
apresenta um quadro não tão distante de nossa realidade. Ainda que se desenrole
de uma forma um tanto quanto absurda, o filme oferece a oportunidade de refletirmos
sobre as diferentes e ultrajantes formas de tratamento daqueles que não são
considerados “normais”. Aliás, ótima oportunidade para questionarmos o que é
necessário para consideramos alguém normal. A saúde mental é o foco do enredo,
que em diferentes momentos retrata a realidade dos manicômios do século
passado. Ainda que muitas intervenções façam parte da história, é preciso rever
as mudanças e questionar as verdadeiras transformações realizadas. Em pleno
século XXI, ainda temos tratamentos desumanos, pois a reforma psiquiátrica
ainda não alcançou seus plenos objetivos. Ainda é possível encontrar tratamentos
desumanos, falta de esclarecimento na sociedade, falta de humanidade com
qualquer pessoa que não apresente comportamento comum ou esperado. Enfim, o filme é também denúncia, quando dá voz aos “pacientes”.
Qual o limite entre a sanidade e a loucura? Sem a pretensão de responder a
questão, o filme abre discussão sobre o tema, que volta para o foco de diferentes segmentos sociais contemporâneos. Como dizia um professor da faculdade, quem pode garantir que
sabe onde está a chave de seu próprio manicômio? Difícil responder, nenhum de
nós pode ter certeza, pois a certeza é parte consistente do quadro da loucura,
tanto quanto a dúvida é pressuposto necessário para a saúde. Não podemos falar
muito sobre o enredo, sem revelar partes importantes da trama, portanto,
recomendo que assistam, e, assim, visitem os próprios sentidos que darão a
trama.
Relações afetivas e familiares, infância, sequestro, depressão,transtorno pós-traumático, relações sociais e potencialidades.
SINOPSE
O
longa conta a história de Jack (Jacob Tremblay) , um menino de cinco anos que é
criado por sua mãe, Ma (Brie Larson). Como toda boa mãe, Ma se dedica a manter
Jack feliz e seguro e a criar uma relação de confiança com ele através de
brincadeiras e histórias antes de dormir. Contudo, a vida dos dois não é nada
normal: eles estão presos em um espaço de 10m², um minúsculo quarto sem
janelas, com apenas uma claraboia Enquanto a curiosidade de Jack sobre a
situação em que vivem aumenta, a resiliência de Ma alcança um ponto de ruptura.
Os dois, então, começam a traçar um plano de fuga. Ao mesmo tempo em que conta
uma história de cativeiro e liberdade, O Quarto de Jack destaca o triunfante
poder do amor familiar mesmo na pior das circunstâncias.
TRAILER
O
OLHAR DA PSICOLOGIA
Profundamente
tocante, o filme é intenso, angustiante. Acompanhamos o início da trama sem
compreender direito a razão daquela forma restrita de Ma educar o filho. Aos
poucos percebemos a grandeza daquela mãe, que transforma a condição de
cativeiro em um mundo particular, explorando a fantasia e transbordando afeto
para seu filho. Jack desconhece a possibilidade de existir um mundo diferente
daquele. Para ele, tudo que é apresentado na televisão é irreal, é fantasia, é de
mentira. Ainda com a angústia provocada pelos acontecimentos restritos ao quarto,
fomos transportados para "nossas neuroses de cada dia". É sabido sobre a
importância dos eventos e impressões registrados em nossos primeiros anos de
vida, compondo assim nosso mundo, que pode ser considerado verdadeiro e único. O que muitas vezes torna difícil
aceitar outras perspectivas. Entretanto, ainda que as experiências iniciais
sejam dolorosas, é possível que existam outras pessoas capazes de apresentar outras
versões, que ampliam nossas possibilidades. Ainda assim, na infância há questões
difíceis de serem questionadas ou superadas, dificultando nosso processo de
desenvolvimento. Pode ser pela ausência de afeto, por excesso de “verdades”, por violência,
valores restritos, julgamentos exacerbados, etc. Independente do que acontece
nesta fase, é fato que se torna parte do que nos tornamos, parte difícil de ser desconsiderada ou
questionada. Na abordagem Gestáltica, vemos o homem como um ser que se constrói
através dos contatos que faz com o seu meio - pessoas com diferentes perspectivas -, num
processo eterno de vir a ser. É muito importante mantermos contatos
nutritivos, com pessoas que colaboram para nosso desenvolvimento, evitando
cristalizações, engessamentos produzidos em contatos tóxicos – pessoas que
prejudicam nosso processo. Muitas vezes, os contatos tóxicos da infância nos
contaminam, tornando difícil aceitar outras perspectivas, produzindo conflitos
que nos paralisam diante da vida. Sintomas diversos expressam a necessidade de
mudança, ao mesmo tempo em que revelam um difícil obstáculo, em uma paralisação ou repetição É o momento de
pedir ajuda profissional de um psicólogo, um psiquiatra ou ambos. Outras vezes,
contatos nutritivos nos ajudam a superar tais conflitos, favorecendo nosso
desenvolvimento através do afeto, transformando nosso mundo, até então
empobrecido, restrito. Certamente, Jack tem afeto e suporte para seu
desenvolvimento. No entanto, seu mundo se restringe ao quarto e sua mãe, um universo
afetuoso, entretanto, limitado.
Três gerações de uma família se encontram na casa da matriarca para um fim de semana. Doente terminal, ela está decidida a acabar com sua vida naquele domingo e, por isso, deseja dar o adeus final a seus entes mais queridos. Sanne e Heidi, suas filhas, já concordaram em acatar a decisão da mãe de partir antes da doença se agravar, mas a proximidade com o fim faz da decisão algo cada vez mais difícil de lidar. Enquanto o fim de semana progride, antigos conflitos voltam a atormentá-los.
IMAGEM
O OLHAR DA PSICOLOGIA
“Coração Mudo” (2014) do dinamarquês Bille August (Marie Krøyer – 2012, Trem Noturno para Lisboa – 2013). O filme explora um tema polêmico, estamos falando de eutanásia. Diferentes aspectos são apontados na trama, envolvendo a decisão de um suicídio com o consentimento de toda a família, a aceitação e sofrimento dos envolvidos, segredos familiares, conflitos antigos e a experiência de viver um luto antecipado. As três gerações da família enfrentam a difícil questão, cada qual com sua perspectiva singular. Aos poucos vamos conhecendo a dinâmica das relações da família, as questões pessoais de cada elemento, sua forma de enfrentar a possível despedida. Somos convidados a refletir nossos lutos, nossas questões pessoais e familiares, nosso sistema de relações. Esther sofre de esclerose lateral amiotrófica, uma doença que irá acabar com ela em questão de pouco tempo: ela não terá mais os movimentos do corpo, perderá a consciência e no fim precisará de ajuda até para respirar. Com o consentimento de todos da família, eles farão uma despedida num fim de semana. Quando o momento chegar, tudo acontecerá sem que não fique claro tratar-se de escolha. Não será um final de semana fácil, definitivamente, não!