ASSUNTO
Relações
sociais, afetivas e terapêuticas, saúde mental, reforma psiquiátrica, normal e
patológico.
SINOPSE
Não recomendado
para menores de 14 anos - baseado em um conto do mestre Edgar Allan Poe. Um
jovem recém-graduado na faculdade de medicina assume um cargo numa instituição
mental e logo se vê apaixonado por uma de seus colegas - e tal distração não
permite que ele perceba uma terrível mudança no corpo de funcionários.
TRAILER
O
OLHAR DA PSICOLOGIA
Indicado por uma cliente, o filme
apresenta um quadro não tão distante de nossa realidade. Ainda que se desenrole
de uma forma um tanto quanto absurda, o filme oferece a oportunidade de refletirmos
sobre as diferentes e ultrajantes formas de tratamento daqueles que não são
considerados “normais”. Aliás, ótima oportunidade para questionarmos o que é
necessário para consideramos alguém normal. A saúde mental é o foco do enredo,
que em diferentes momentos retrata a realidade dos manicômios do século
passado. Ainda que muitas intervenções façam parte da história, é preciso rever
as mudanças e questionar as verdadeiras transformações realizadas. Em pleno
século XXI, ainda temos tratamentos desumanos, pois a reforma psiquiátrica
ainda não alcançou seus plenos objetivos. Ainda é possível encontrar tratamentos
desumanos, falta de esclarecimento na sociedade, falta de humanidade com
qualquer pessoa que não apresente comportamento comum ou esperado. Enfim, o filme é também denúncia, quando dá voz aos “pacientes”.
Qual o limite entre a sanidade e a loucura? Sem a pretensão de responder a
questão, o filme abre discussão sobre o tema, que volta para o foco de diferentes segmentos sociais contemporâneos. Como dizia um professor da faculdade, quem pode garantir que
sabe onde está a chave de seu próprio manicômio? Difícil responder, nenhum de
nós pode ter certeza, pois a certeza é parte consistente do quadro da loucura,
tanto quanto a dúvida é pressuposto necessário para a saúde. Não podemos falar
muito sobre o enredo, sem revelar partes importantes da trama, portanto,
recomendo que assistam, e, assim, visitem os próprios sentidos que darão a
trama.
Vale a pena refletir sobre o outro e sobre si mesmo, diante da proposta
da trama. Certa feita, ouvi algo sobre a verdade do outro, um tema difícil.
Priorizamos a própria verdade, em detrimento daquela que é do outro, seja por
escolha ou apenas produto de seus encontros e desencontros na vida. Pouco
sabemos sobre a verdade daquele que está fora da “forma” ou da “fôrma”
socialmente aceita. É mais fácil e seguro, aceitarmos como “estranho” e
rotularmos o outro. Posso dizer que o filme é por si uma questão que joga:
nossas verdades no vento, nossas crenças nas nuvens, nossos rótulos no espaço.
No lugar de respostas, encontraremos ressonância nas palavras de Sócrates: “Só
sei que nada sei”. Gostei muito do artigo de Silvia Marques, que dentre outras
coisas, afirma “Refúgio do medo questiona conceitos que
nos são muito caros: em alguma medida somos todos doentes mentais, pois não
existe cura para a condição humana. (...) Em nome da etiqueta, matamos o
nosso eu. Em nome da prudência patológica, deixamos de nos comprometer pelos
outros e por nossos valores. Em nome das convenções, matamos o nosso senso de
prazer. Em nome do medo, deixamos de viver o amor.” (Recomendo ler, sua
reflexão é fenomenal. Clique aqui - para ler o artigo completo). O filme é super-recomendado, não só pela
profundidade do tema, mas, principalmente, por seu tom provocador, que teima em
tirar o espectador de sua zona de conforto.
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