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sábado, 6 de março de 2021

Moxie: Quando as Garotas vão à Luta


ASSUNTO

Adolescência, preconceito, racismo, feminismo, relações sociais e afetivas.

SINOPSE

A trama acompanha Vivian (Hadley Robinson), uma jovem que começa a despertar o desejo de lutar contra as coisas erradas que acontecem em sua escola - desde um “ranking de garotas” feito pelos rapazes, até a vista grossa dos professores e diretoras diante de assédio e discriminação. Sua maior inspiração são os zines antigos de sua mãe, Lisa (Amy Poehler, também diretora do longa), que a fazem criar o Moxie, um jornal independente da escola que começa a expor tudo o que acontece por lá. Adaptação do livro best-seller da autora Jennifer Mathieu. Disponível na netflix,

TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA

Quando você não quer pensar muito, escolhe um filme leve, uma comédia adolescente, como Moxie,  tudo que espera é um leve entretenimento. Aí, você se depara com uma comédia adolescente capaz de pincelar assuntos importantes, de uma forma leve, divertida e inspiradora. No mês em que é comemorado o dia internacional da mulher, nada mais agradável do que acompanhar jovens debatendo o feminismo com leveza. Focado na luta por igualdade de gênero, o filme aborda questões importantes, sem perder o tom de comédia. A transformação da protagonista é visível em sua expressão, que de alienada passa a revelar revolta e inconformismo, diante do que sempre esteve lá, já normatizado, oprimindo e sufocando as vozes femininas. Velhos movimentos de roupagem nova, os jovens utilizam novas ferramentas, não só para divulgação, mas para realização de protestos pacíficos e orquestrados. É o frescor da juventude encontrando novas soluções! A protagonista convida o espectador a despertar, ousar sair da mesmice, da tela do computador, ou telefone, e, partir para ação. Apesar de a trama retratar uma escola americana, as questões dos adolescentes em sua singularidade, o preconceito de gênero e o racismo são assuntos já globalizados, muito próximos do que pode ser experimentado em qualquer lugar do mundo. A proposta não foi aprofundar nenhum dos conflitos, as soluções se revelaram fáceis e rápidas, mas nada que pudesse prejudicar o todo, afinal, trata-se de uma comédia. Feita com e para adolescentes, o filme traz temas espinhosos com frescor e jovialidade, transbordando energia, empatia, aceitação e criatividade. Vale conferir!

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Três anúncios para um crime

ASSUNTO

Relações familiares, sociais e afetivas; abuso de poder, violência, racismo e família disfuncional.

SINOPSE

Inconformada com a ineficácia da polícia em encontrar o culpado pelo brutal assassinato de sua filha, Mildred Hayes (Frances McDormand) decide chamar atenção para o caso não solucionado alugando três outdoors em uma estrada raramente usada. A inesperada atitude repercute em toda a cidade e suas consequências afetam várias pessoas, especialmente a própria Mildred e o Delegado Willoughby (Woody Harrelson), responsável pela investigação.
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TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA


Não existe nada óbvio no longa, ainda que tenha como tema central algo que assim possa parecer. Entre o absurdo e a crueldade da vida, o filme transita entre os acontecimentos e personagens peculiares. Com humor negro surpreendente, recheado de personagens complexos, a trama perpassa entre o bem e o mal, sem escolher lado. Não há herói, nem vilão. A mãe, inconformada com a lentidão das investigações, age de acordo com suas convicções. A cidade é pequena, a lei tem suas particularidades e seus agentes a aplicam de acordo com as próprias convicções. Por outro lado, a culpa é um peso a ser carregado, pois ninguém está livre de cometer erros em ações promovidas pela própria noção de justiça. É bom ressaltar que o crime brutal, tema central da trama, não é a única injustiça retratada. Temos um retrato particular e universal, quando observamos as diferentes reações, ou a falta dela, diante do fato que pode afetar a vida dos personagens. A raiva está nos pequenos e grandes movimentos dos personagens, em diversos momentos da trama. As relações sociais e familiares não estão ausentes, ao contrário, são exploradas.  A pacata cidade do interior se transforma num cenário doente, onde todos têm seus anjos e demônios expostos. Não é sobre a solução de um crime, nem sobre lição de moral. Com humor ácido, o filme denuncia mais do que um crime, provoca o próprio julgamento, confronta tudo que é politicamente correto, incomoda. Um episódio abominável altera a rotina de várias pessoas, desencadeando reações inesperadas. Racismo, abuso de poder, culpa, manipulações afetivas, doenças físicas e/ou mentais, relações familiares disfuncionais são temas que podem provocar diferentes reações no espectador, pela forma que são apresentados. A crueldade, as motivações, os encontros e desencontros, as diferentes provocações e reações suscitadas, nos personagens ou no espectador, podem provocar diferentes reflexões. alvez, muito necessárias, diante das atrocidades e inversão de valores que cada vez mais fazem parte do nosso cotidiano. Confira!

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Os 13 Porquês – 13 Reasons Why

ASSUNTO

Depressão, bullying, estupro, assédio, violência, omissão, homofobia, sexualidade, suicídio, relações sociais, afetivas e familiares.

SINOPSE

Uma caixa de sapatos é enviada para Clay (Dylan Minnette) por Hannah (Katheriine Langford), sua amiga e paixão platônica secreta de escola. O jovem se surpreende ao ver o remetente, pois Hannah acabara de se suicidar. Dentro da caixa, há várias fitas cassete, onde a jovem lista os 13 motivos que a levaram a interromper sua vida - além de instruções para elas serem passadas entre os demais envolvidos.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Febre do momento, “OS 13 Porquês” foi baseado no livro homônimo de Jay Asher. Provocando diferentes críticas, algumas favoráveis e muitas contrárias, a série está levantando o assunto em diferentes segmentos da sociedade. Há quem diga que pode se tornar um gatilho para aqueles que se encontram vulneráveis, outros tantos afirmam que os assuntos abordados na trama podem e devem ser discutidos. Indico abaixo links com diferentes opiniões. Por agora, prefiro destacar a importância de falarmos sobre o tema, ou, sobre os temas levantados. Aliás, acho que o aspecto mais positivo da proposta é, de fato, colocar os assuntos abordados em discussão, é o que está acontecendo. As polêmicas estimuladas por sua forma explícita ou pela fraqueza dos argumentos, cenas, etc., aqui não serão discutidos ou julgados. Queremos dividir algumas reflexões motivadas pelo contato com a série. A primeira coisa que chama a atenção foi o tom vingativo apresentado pelo projeto de Hanah, que dilui a responsabilidade entre os colegas (colegas??). Tudo bem, os relatos nos fazem pensar nas possíveis relações tóxicas que enfrentamos, não só na adolescência. Por esse prisma, pode servir como um alerta, um ponto de reflexão para aqueles que funcionam de determinada forma agressiva ou abusiva, sem se dar conta do quanto podem estar machucando o outro. Por outro lado, muitos suicídios cometidos por algum adolescente são por si só motivadores de culpa nos colegas, que se perguntam o que poderiam ter feito, ou deixado de fazer para evitar o desfecho trágico. Há também muito sofrimento para os que ficam, sem que seja necessária uma acusação gravada em fitas cassetes. Ok, a licença poética nos permite considerar a proposta como uma perspectiva possível, para dar voz a quem partiu e promover uma possível reflexão. Entretanto, é preciso refletir como o suicídio de um adolescente pode afetar seu entorno, causando sofrimento e dor aos familiares, amigos e colegas. Concordo com algo que li sobre o assunto, que afirma que o suicídio não é opção, muito menos para vingança.

terça-feira, 28 de março de 2017

Moonlight: sob a luz do luar

ASSUNTO

O Auto-suporte, abuso, dependência química, drogas, preconceito, homossexualidade, relações afetivas, sociais e familiares, violência.

SINOPSE

Três momentos da vida de Chiron, um jovem negro morador de uma comunidade pobre de Miami. Do bullying na infância, passando pela crise de identidade da adolescência e a tentação do universo do crime e das drogas, este é um poético estudo de personagem. O protagonista trilha uma jornada de autoconhecimento enquanto tenta escapar do caminho fácil da criminalidade e do mundo das drogas de Miami. Encontrando amor em locais surpreendentes, ele sonha com um futuro maravilhoso.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA


O filme poderia ter como título CHIRON EM BUSCA DE SI MESMO, pois retrata a trajetória de Chiron na busca da própria identidade, diante de um contexto adverso, agressivo e desestruturado. A jornada é universal e também particular, tendo em vista suas peculiaridades. Ele é negro, pobre e ainda vive em uma família monogâmica e disfuncional. Sim, a mãe não tem possibilidade de lhe oferecer suporte, sendo dependente química, suas alterações abusivas contribuem para a infância solitária do menino. Diante de um contexto tão insensível e adverso, Little (apelido de infância) sobrevive como pode. Vítima de bullying, preconceito racial e homofóbico, seus conflitos existenciais encontrarão algum suporte no afeto de Juan, o traficante, e sua namorada, pessoas que abrem espaço para sua autenticidade. A namorada contribui para que o menino encontre uma brecha de suporte afetivo em meio ao conturbado universo em que vive, enquanto Juan ocupa o vazio da figura paterna. Seu desenvolvimento encontra novos obstáculos, seja na transição para a adolescência, ou para a vida adulta.

FRAGMENTADO


ASSUNTO

Saúde mental, transtorno dissociativo de identidade, abuso, relação terapêutica, relações sociais.

SINOPSE

Kevin (James McAvoy) possui 23 personalidades distintas e consegue alterná-las quimicamente em seu organismo apenas com a força do pensamento. Um dia, ele sequestra três adolescentes que encontra em um estacionamento. Vivendo em cativeiro, elas passam a conhecer as diferentes facetas de Kevin e precisam encontrar algum meio de escapar.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Transtorno dissociativo de identidade (anteriormente conhecido como distúrbio de personalidade múltipla ou transtorno de múltiplas personalidades) é uma condição psicológica complexa que é provavelmente causada por muitos fatores, incluindo trauma grave durante a primeira infância (abuso físico, sexual ou emocional geralmente extremo, repetitivo). Diferente de SYBIL, um filme de 1976 que relata um caso verídico de 17 personalidades, FRAGMENTADO mistura realidade e ficção, trazendo um paciente mais complexo. Kevin é acompanhado por terapeuta, que identificou 23 personalidades, até então. Na trama, ele entra numa nova crise, dando pistas de uma 24ª personalidade, ainda desconhecida. Sugerindo estar no comando, aos poucos ela irá controlar todas as outras personalidades, provocando o sequestro das três adolescentes e outros acontecimentos inesperados.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Cercas/ Um limite entre nós


ASSUNTO

Racismo, relações familiares, afetivas e sociais, crise existencial e social.

SINOPSE

Baseado na aclamada e premiada peça teatral homônima, um jogador de beisebol frustrado (Denzel Washington), que sonhava em se tornar um grande jogador durante sua infância, agora trabalha como coletor de lixo para sobreviver. Troy terá de navegar pelas complicadas águas de seu relacionamento com a esposa (Viola Davis), o filho e os amigos.


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O OLHAR DA PSICOLOGIA

A primeira palavra que me veio à mente foi ‘amargura’, e, no desdobrar da trama, ‘poesia’. Como é que duas palavras assim tão antagônicas podem preencher o enredo? Só assistindo para compreender. Troy é complexo, uma pessoa frustrada, ferida, amarga. Acompanhamos sua forma “engessada” de viver, e, sua dificuldade de lidar com o mundo e consigo mesmo. Ele é produto de uma história dura, transborda discursos intermináveis, sobrevive em uma armadura de valores rígidos, que muitas vezes o impede de entrar em contato com as emoções. O título do filme é uma metáfora. O limite das CERCAS é uma questão de honra, é obrigação, proteção e prisão. Os “deveres” contornam seu discurso, principalmente quando se refere à educação que impõe aos filhos. Não, ele não é de ferro, nem consegue sobreviver segundo seus próprios princípios. As relações familiares são ora poéticas ora extremamente rígidas. O amor está no ar, de uma forma difícil de capturar.  Dos vários irmãos dele, sobrou o contato com Gabriel, um sobrevivente com sequelas da guerra. Gabe pode ser problema, mas também solução. Com a amorosa esposa, Troy consegue ser agradável, ela que lhe dá suporte, ao mesmo tempo em que contém seus excessos. O amigo Bono é parceiro de jornada, bom ouvinte, respeitado e querido. Como muitos pais, não há lugar para o desejo dos filhos, sua receita de vida basta para impor suas crenças e valores. Ao relatar sua infância, Troy revela sua dor, a ausência de afeto, a imposição de obrigações com a família. Ele não aprendeu a amar, sua trajetória lhe deixou cicatrizes, que não quer deixar para o filho caçula. Entretanto, suas escolhas não foram as melhores. Preso a própria experiência, Troy não admite outras possibilidades. Impedimentos fazem parte da sua cerca, não lhe é permitido ouvir, ver, sentir novas perspectivas para os seus. “Cercas”  é um filme sobre relações familiares, sobre nossa relação com a família de origem, sua influência em nossa família e vida atual.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

6 anos

ASSUNTO

Relações afetivas, sociais e familiares, casal adolescente,


SINOPSE

Um jovem casal, Dan (Ben Rosenfield) e Mel (Taissa Farmiga), se conhecem desde a infância e estão namorando há 6 anos. A princípio, eles parecem ter um amor ideal, mas a notícia de uma oportunidade de emprego para Dan pode abalar o romance e mudar o rumo das coisas dependendo da escolha que ele fizer. Talvez o futuro que eles tinham imaginados juntos não se torne mais uma realidade.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA


O filme retrata os altos e baixos de um relacionamento, particularmente no que se refere ao primeiro amor, o primeiro sonho de construir uma vida compartilhada. Mas, no fundo, cada amor é único, vivenciado como especial e capaz de ser para sempre... Viver uma paixão é acreditar que será para sempre! Dan e Melanie se conhecem dede a infância, eles partilharam momentos de amor e de dor, vivenciaram diferentes experiências, cresceram juntos. A relação do casal não é possessiva, eles vivem uma relação saudável, respeitam a individualidade, revelam-se como exemplo de “casal perfeito”. Os seis anos se tornam um marco. Os amigos estranham e comentam, alegando que a estabilidade daquela reação poderia roubar outras experiências. O “casal fofo” não aparenta ser afetado, a princípio. Entretanto, logo surge desconforto, carência, descompasso,  descuido. A intimidade construída ao longo do tempo revela outra face, a fronteira individual é invadida de forma inesperada. De forma sutil, a trama revela a violência, o que favorece o debate sobre o perigo das relações amorosas abusivas. Qual é o limite entre uma discussão saudável e o descontrole, o desrespeito, a violência física ou psicológica? O mundo gira, revelando que a perfeição não existe. As mudanças são necessárias, as frustrações fazem parte do desenvolvimento. A capacidade de lidar com as mudanças e frustrações é testada, o que provoca constantemente o encontro com a imperfeição humana. Acontecimentos internos e externos, previsíveis ou não, fazem parte da vida. Nem sempre é possível lidar com as crises, seja por traição ou por uma reação descontrolada capaz romper a barreira do respeito. Existem traições que ajudam ao casal a lidar com a crise, afinal pode ser o sintoma da relação,  capaz de revelar a necessidade do contrato amoroso ser revisado.  Entretanto, a crise de qualquer relação, seja de 6, 7 ou qualquer outro par de anos, pode servir para o fim de um ciclo, um recomeço, ou, pode resultar no rompimento. Tudo vai depender da forma do casal lidar com as mudanças. Aí está o charme do filme, que retrata possíveis transformações rotineiras de qualquer relação amorosa. Assim como uma roupa ou sapato podem deixar de ser confortáveis, a relação pode se transformar a ponto de não ser mais confortável para os envolvidos, buscar ajustes, adaptações ou descartar, romper? Eis a questão. Sair da zona de conforto é sempre difícil, ainda que não seja mais tão confortável assim... O desenrolar da trama não pretende apontar caminhos, nem definir soluções, apenas conta como é possível para eles lidar com aquela crise. Aliás, o amadurecimento individual pode ser um ponto a ser considerado, pois a ‘certeza’ sai nitidamente da pauta do casal, abrindo novas possibilidades, talvez incompatíveis com o status quo. 

sábado, 18 de junho de 2016

Nise: O coração da loucura

ASSUNTO
Saúde mental, Movimento antimanicomial, Arteterapia, Terapia ocupacional, relação terapêutica, relações sociais, afetivas e familiares.

SINOPSE
Ao voltar a trabalhar em um hospital psiquiátrico no subúrbio do Rio de Janeiro, após sair da prisão, a doutora Nise da Silveira (Gloria Pires) propõe uma nova forma de tratamento aos pacientes que sofrem da esquizofrenia, eliminando o eletrochoque e lobotomia. Seus colegas de trabalho discordam do seu meio de tratamento e a isolam, restando a ela assumir o abandonado Setor de Terapia Ocupacional, onde dá início a uma nova forma de lidar com os pacientes, através do amor e da arte.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

É indiscutível a importância de Nise da Silveira, psiquiatra de reconhecimento internacional ao defender terapias alternativas no tratamento de transtornos mentais. O filme nos presenteia com interpretações excelentes, retratando com fidedignidade uma realidade cruel de sujeitos portadores dos mais diferentes tipos de transtornos mentais e os procedimentos desumanos adotados na ocasião.  A personalidade inquieta, inconformada e desafiadora da psiquiatra é apresentada na trama, focando prioritariamente o aspecto  humano  da profissional. Na tentativa de compreender melhor as demandas daqueles pacientes, Nise ofereceu um lugar para expressão de suas angústias, inaugurando um novo canal para trocas. Ela se preocupou com o aspecto afetivo das doenças mentais, oferecendo espaço para que os sujeitos pudessem “juntar os cacos” de si mesmo, numa tentativa de integração. Diferentes aspectos sobre a importância de Nise da Silveira já tem sido exaustivamente discutido nas críticas e nos diversos artigos sobre o filme. Aqui, escolhemos restringir as considerações no aspecto humano da trama, desconsiderando o olhar na doença mental e priorizando a saúde.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

A caça

ASSUNTO
Pedofilia, pré-julgamento, relação terapêutica, familiar e social, psicoterapia, investigação psicológicas, calúnia, sexualidade

SINOPSE
Não recomendado para menores de 14 anos 
2012 - Lucas (Mads Mikkelsen) trabalha em uma creche. Simpático e amigo de todos, ele tenta reconstruir a vida após um divórcio complicado, no qual perdeu a guarda do filho. Tudo corre bem até que, um dia, a pequena Klara (Annika Wedderkopp), de apenas cinco anos, diz à diretora da creche que Lucas lhe mostrou suas partes íntimas. Klara na verdade não tem noção do que está dizendo, apenas quer se vingar por se sentir rejeitada em uma paixão infantil que nutre por Lucas. A acusação logo faz com que ele seja afastado do trabalho e, mesmo sem que haja algum tipo de comprovação, seja perseguido pelos habitantes da cidade em que vive.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Difícil, angustiante, porque não dizer, dilacerante. O tema central do filme é um assunto delicado, difícil e desconfortável, a possibilidade de pedofilia. Assunto que causa revolta, inconformismo, prejuízos incalculáveis para os envolvidos. Entretanto, nem sempre a acusação de pedofilia é verídica. Difícil ser imparcial num processo semelhante, que pode promover reações imprevisíveis. A trama foca numa acusação inocente, sem bases consistentes, mas é o suficiente para marcar a vida do acusado e despertar reações psicológicas, físicas e emocionais incontroláveis em seu entorno. Sim, é doloroso se colocar no lugar do professor acusado injustamente. É impressionante assistir o processo que transforma a sua vida, sem que isso afete a sua forma doce de lidar com as crianças, mesmo em relação àquela que foi fonte de seu sofrimento. Se, por um lado temos uma pessoa acusada injustamente, por outro, temos pessoas reagindo à possibilidade de um fato grotesco, a pedofilia. Inimaginável se colocar no lugar dos pais em situação semelhante. Tudo começa com uma reação infantil a uma frustração. A pequena Klara, inconformada com a sensação de rejeição, busca em sua imaginação uma forma de se vingar. Sua experiência recente com o irmão mais velho oferece material suficiente para sua vingança. Ela não tinha ideia do que viu, ouviu e usou em como fonte, muito menos das possíveis consequências de sua ação. Acompanhamos o cuidado inicial da diretora da creche, que pretendia investigar o caso com cuidado. No entanto, ela também é contaminada pelas atitudes inconsequentes do profissional recomendado para averiguar o caso, o psicólogo da escola. Teremos, então, um exemplo equivocado de investigação. No lugar de aguardar o fenômeno se revelar, acompanhamos um processo indutivo por parte do profissional. Sim, infelizmente, o profissional induz a criança durante a entrevista. Na conversa, fica claro que ele parte do pressuposto de ter ocorrido o abuso, de que o professor é culpado, o equívoco profissional começa aí. A equivocada entrevista do profissional é o ponto de partida para o desdobramento da trama, nos colocando no lugar do acusado, que acaba por ser estigmatizado sem que haja provas suficientes. Se por um lado, o filme apresenta um exemplo equivocado de entrevista psicológica, por outro, nos abre a oportunidade de auxílio ao acusado, permitindo outra perspectiva.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Refúgio do Medo


ASSUNTO
Relações sociais, afetivas e terapêuticas, saúde mental, reforma psiquiátrica, normal e patológico.


SINOPSE
Não recomendado para menores de 14 anos - baseado em um conto do mestre Edgar Allan Poe. Um jovem recém-graduado na faculdade de medicina assume um cargo numa instituição mental e logo se vê apaixonado por uma de seus colegas - e tal distração não permite que ele perceba uma terrível mudança no corpo de funcionários.






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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Indicado por uma cliente, o filme apresenta um quadro não tão distante de nossa realidade. Ainda que se desenrole de uma forma um tanto quanto absurda, o filme oferece a oportunidade de refletirmos sobre as diferentes e ultrajantes formas de tratamento daqueles que não são considerados “normais”. Aliás, ótima oportunidade para questionarmos o que é necessário para consideramos alguém normal. A saúde mental é o foco do enredo, que em diferentes momentos retrata a realidade dos manicômios do século passado. Ainda que muitas intervenções façam parte da história, é preciso rever as mudanças e questionar as verdadeiras transformações realizadas. Em pleno século XXI, ainda temos tratamentos desumanos, pois a reforma psiquiátrica ainda não alcançou seus plenos objetivos. Ainda é possível encontrar tratamentos desumanos, falta de esclarecimento na sociedade, falta de humanidade com qualquer pessoa que não apresente comportamento comum ou esperado. Enfim, o filme é também denúncia, quando dá voz aos “pacientes”. Qual o limite entre a sanidade e a loucura? Sem a pretensão de responder a questão, o filme abre discussão sobre o tema, que volta para o foco de diferentes segmentos sociais contemporâneos. Como dizia um professor da faculdade, quem pode garantir que sabe onde está a chave de seu próprio manicômio? Difícil responder, nenhum de nós pode ter certeza, pois a certeza é parte consistente do quadro da loucura, tanto quanto a dúvida é pressuposto necessário para a saúde. Não podemos falar muito sobre o enredo, sem revelar partes importantes da trama, portanto, recomendo que assistam, e, assim, visitem os próprios sentidos que darão a trama.

sábado, 30 de janeiro de 2016

Cinco Graças


ASSUNTO

Relações sociais, familiares e afetivas, crenças e valores, cultura, religião.

SINOPSE
No início do verão em um vilarejo turco, Lale e suas 4 irmãs brincam de forma debochada com os meninos, o que acarreta em um escândalo de consequências muito fortes: a casa delas se torna praticamente uma prisão, elas aprendem a limpar ao invés de ir para a escola e seus casamentos começam a ser arranjados. As cinco não deixam de desejar a liberdade, e tentam resistir aos limites que lhes são impostos.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Viajar o mundo e conhecer outras culturas é uma forma de ampliar nosso olhar. Se de um lado, algumas culturas são capazes de flexibilizar nossos conceitos, outros nos oportunizam a gratidão pelos conceitos e pré-conceitos de nosso universo cultural. Ainda assim, como qualquer experiência, prazerosa ou não, saímos enriquecidos da experiência. “Cinco graças” provoca diferentes reflexões, revelando conceitos particulares daquela cultura, que escolhe oprimir as adolescentes, para que possam cumprir as regras morais. Ainda que não haja o desejo sincero de exercer atos punitivos, seguindo os preceitos da religião muçulmana conservadora, todos estão condicionados a regras tão poderosas, que já se reproduzem sozinhas (sem que seja necessária uma intervenção explícita dos representantes da igreja). As regras morais fazem parte do que foi apreendido como “receita do bom viver”. Isso nos fez pensar naquilo que Ângelo Gaiarsa alertava na relação mãe e filho. De fato, independente das regras morais e sociais, cada mãe apreende uma “receita pronta” sobre ser “boa mãe”. Muitas se esforçam tanto para exercer tal receita apreendida durante o próprio desenvolvimento, que acabam por esquecer-se de ver e ouvir o próprio filho, que traz outros olhares, novas linguagens e necessidades.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

O Quarto de Jack


ASSUNTO
Relações afetivas e familiares, infância, sequestro, depressão, transtorno pós-traumático, relações sociais e potencialidades.

SINOPSE
O longa conta a história de Jack (Jacob Tremblay) , um menino de cinco anos que é criado por sua mãe, Ma (Brie Larson). Como toda boa mãe, Ma se dedica a manter Jack feliz e seguro e a criar uma relação de confiança com ele através de brincadeiras e histórias antes de dormir. Contudo, a vida dos dois não é nada normal: eles estão presos em um espaço de 10m², um minúsculo quarto sem janelas, com apenas uma claraboia Enquanto a curiosidade de Jack sobre a situação em que vivem aumenta, a resiliência de Ma alcança um ponto de ruptura. Os dois, então, começam a traçar um plano de fuga. Ao mesmo tempo em que conta uma história de cativeiro e liberdade, O Quarto de Jack destaca o triunfante poder do amor familiar mesmo na pior das circunstâncias.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA


Profundamente tocante, o filme é intenso, angustiante. Acompanhamos o início da trama sem compreender direito a razão daquela forma restrita de Ma educar o filho. Aos poucos percebemos a grandeza daquela mãe, que transforma a condição de cativeiro em um mundo particular, explorando a fantasia e transbordando afeto para seu filho. Jack desconhece a possibilidade de existir um mundo diferente daquele. Para ele, tudo que é apresentado na televisão é irreal, é fantasia, é de mentira. Ainda com a angústia provocada pelos acontecimentos restritos ao quarto, fomos transportados para "nossas neuroses de cada dia". É sabido sobre a importância dos eventos e impressões registrados em nossos primeiros anos de vida, compondo assim nosso mundo, que pode ser considerado verdadeiro e único. O que muitas vezes torna difícil aceitar outras perspectivas. Entretanto, ainda que as experiências iniciais sejam dolorosas, é possível que existam outras pessoas capazes de apresentar outras versões, que ampliam nossas possibilidades. Ainda assim, na infância há questões difíceis de serem questionadas ou superadas, dificultando nosso processo de desenvolvimento. Pode ser pela ausência de afeto, por excesso de “verdades”, por violência, valores restritos, julgamentos exacerbados, etc. Independente do que acontece nesta fase, é fato que  se torna parte do que nos tornamos,  parte difícil de ser desconsiderada ou questionada. Na abordagem Gestáltica, vemos o homem como um ser que se constrói através dos contatos que faz com o seu meio - pessoas com diferentes perspectivas -, num processo eterno de vir a ser. É muito importante mantermos contatos nutritivos, com pessoas que colaboram para nosso desenvolvimento, evitando cristalizações, engessamentos produzidos em contatos tóxicos – pessoas que prejudicam nosso processo. Muitas vezes, os contatos tóxicos da infância nos contaminam, tornando difícil aceitar outras perspectivas, produzindo conflitos que nos paralisam diante da vida. Sintomas diversos expressam a necessidade de mudança, ao mesmo tempo em que revelam um difícil obstáculo, em uma paralisação ou repetição É o momento de pedir ajuda profissional de um psicólogo, um psiquiatra ou ambos. Outras vezes, contatos nutritivos nos ajudam a superar tais conflitos, favorecendo nosso desenvolvimento através do afeto, transformando nosso mundo, até então empobrecido, restrito. Certamente, Jack tem afeto e suporte para seu desenvolvimento. No entanto, seu mundo se restringe ao quarto e sua mãe, um universo afetuoso, entretanto, limitado.

sábado, 28 de março de 2015

Relatos Selvagens

Relatos Selvagens
ASSUNTO
Relações afetivas, familiares e sociais, bullying, corrupção, crise existencial, situações-limite, descontrole emocional, violência.
SINOPSE
Diante de uma realidade crua e imprevisível, os personagens deste filme caminham sobre a linha tênue que separa a civilização da barbárie. Uma traição amorosa, o retorno do passado, uma tragédia ou mesmo a violência de um pequeno detalhe cotidiano são capazes de empurrar estes personagens para um lugar fora de controle.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Fiquei pensando no discurso repetido do que é politicamente correto, etc. e tal. A exigência de ser aprovado pela sociedade nos coloca em posição rígida, no que se redere ao fato de  atender aos parâmetros desejados pelo sistema. Muitas vezes, acumulamos tantas tarefas, que esquecemos da pausa, da digestão (fisiológica e psicológica), da elaboração de nossas sensações e sentimentos. Não é politicamente correto, nem isso nem aquilo, vamos deixando pra lá, nos abandonando aos poucos, deixando acumular tudo que poderia ser mal recebido, desaprovado ou politicamente incorreto. Nossos sentidos são esquecidos em meio aos modismos intectualóides de uma época, seguimos no automático, esquecendo cada dia mais de nossa búlsula interna, nossa humaninade, nossa centralidade. Assim, acumulamos reações naturais, que vão sendo escondidas do mundo e de nós mesmos, represadas em algum lugar. Mas, será que basta evitar sua existência, esquecê-las, fingir que os sentidos estão nos significados das coisas, como nos ensinaram? Até quando é possível reter tanto? RELATOS SELVAGENS fala um pouco sobbre aquilo que transborda em situações limite. Não é necessário que a situação em si seja caótica, basta ser a gota d’água para a represa estourar. Assim, o que existe de animal no humano é revelado em reações impulsivas, irracionais, bestiais, selvagens! As seis estórias do filme revelam o descontrole humano em diferentes situações, na busca de soluções através comportamentos extremos. De fato, não é difícil se identificar com algumas das situações relatadas, quando temos vontade de reagir da mesma forma. A trama dá espaço para inúmeras identificãções.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Clube de compras em Dallas

Clube de Compras Dallas
ASSUNTO
Indústria farmacêutica, AIDS, homofobia, preconceito, relações familiares, afetivas e sociais, perseverança.

SINOPSE
Baseado em uma história real, o filme se passa na década de 1980 e retrata o dia a dia do eletricista texano Ron Woodroof após ser diagnosticado com o vírus da AIDS. Em uma batalha contra a indústria farmacêutica e os próprios médicos, Ron procura tratamentos alternativos e passa a contrabandear drogas ilegais do México.

TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
A “doença maldita” era sinônimo de fim, degradação, preconceito e muito mais, estamos falando da epidemia da AIDS, que em seu início representava o mal do século.  O filme retrata a realidade cruel de mulheres e homens debilitados e segregados, que lutaram sozinhos contra o sistema. Embora pensassem que AIDS era a doença dos homossexuais, logo foi possível perceber que não era bem assim. Ron era homofóbico, como muitos dos amigos dele, mas também era viciado e promíscuo, sendo também vítima da doença. Sexo, apostas e drogas faziam parte de seu cotidiano, tudo ocorria sem limite ou seleção. O caipira eletricista não esperava que algo semelhante lhe pudesse acontecer. Descobrir-se contaminado foi difícil de aceitar, tornando sua trajetória mais verdadeira. Logo, ele descobre o preconceito, não só em relação ao HIV, mas também duplamente enfrentado por aqueles que são transexuais ou homossexuais. Enfrentar a doença, que segundo os médicos lhe dá 30 dias de vida, se torna um desafio diário. Então, só depois de ultrapassar o período de negação, que ele vê no fim da estrada,  um poço que parece sem fundo, mas não é. Suas crenças e valores são desafiados e afetados durante o processo de confronto com seu destino anunciado.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Tangerinas

clip_image001ASSUNTO
Guerra, violência, relações afetivas, sociais, humanismo – valores humanos, humanidade, amizade, perdas.
SINOPSE
Aldeias estonianas foram formadas na Abecásia, na segunda metade do século 19. A guerra entre Georgia e Abecásia começou em 1992 e alterou a vida pacífica dos habitantes estonianos. A comunidade da Abecásia quer se tornar independente da Geórgia. Quase todos os habitantes já deixaram a aldeia. As aldeias ficaram vazias, apenas alguns permaneceram. A história de Ivo (Lembit Ulfsak), que com a ajuda do produtor de tangerinas Margus (Elmo Nüganen) e o médico Juhan (Raivo Trass), salva a vida do checheno Ahmed (Giorgi Nakashidze) e do georgiano Niko (Misha Meskhi), em um povoado estoniano da Abecásia no meio da guerra de 1992.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Filme para poucos, a trama tem como pano de fundo o período após a dissolução da União Soviética, quando muitos conflitos foram iniciados. Embora retrate o embate entre russos e georgianos, o tema central é a humanidade que há por trás do conflito. Não se trata de um filme de guerra, como tantos outros, que colocam o "foco" na ação. Não, os conflitos retratados são muito mais aqueles internos, os que não produzem grandes efeitos visuais. Restrito a poucos personagens e a apenas parte da aldeia, o filme é lento,  embora tenha seu tempo de projeção considerado curto. Abecásia se torna uma região de fronteiras disputada. Desde o século dezenove muitos estonianos lá se instalaram, colaborando para que as tangerinas fossem consideradas produção típica da região. Desde o início da guerra, muitos retornaram para terra natal. Dentre os poucos que restam no vilarejo, estão Margus e Ivo, ambos estonianos. O primeiro não quer desperdiçar sua colheita, considerando a possibilidade de partir após comercializar suas tangerinas. Já o marceneiro Ivo, além de ficar para ajudar o amigo, logo deixa claro o seu amor pelo lugar onde constituiu família. Todo o filme é passado no vilarejo, seja na casa de Ivo ou no pomar de Margus. O isolamento da aldeia não é suficiente para manter a guerra afastada. Os russos contratam os chechenos como mercenários que, ao encontrarem Georgianos nas proximidades, travam combate armado. Ivo, junto ao amigo, recolhe os sobreviventes e os acolhe em sua casa. Ahmed e Niko se odeiam por princípio, estão em lados opostos, o primeiro é Checheno e muçulmano, o segundo Georgiano é cristão ortodoxo. Outra perspectiva da guerra é colocada em foco, através desse conflito sabiamente controlado pelo por Ivo, que tal qual um avô sábio, se torna maestro naquele dissonante conjunto de dois "netos".

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Ninfomaníaca 1 e 2

clip_image002ASSUNTO
Sexualidade, compulsão sexual, crenças, religião, valores morais, gênero, conceitos e preconceitos.
SINOPSE
ATENÇÃO: CENAS DE SEXO EXPLICITO, NÃO INDICADAS PARA MENORES. Volume 1 - Bastante machucada e largada em um beco, Joe (Charlotte Gainsbourg) é encontrada por um homem mais velho, Seligman (Stellan Skarsgard), que lhe oferece ajuda. Ele a leva para sua casa, onde possa descansar e se recuperar. Ao despertar, Joe começa a contar detalhes de sua vida para Seligman. Assumindo ser uma ninfomaníaca e que não é, de forma alguma, uma pessoa boa, ela narra algumas das aventuras sexuais que vivenciou para justificar o porquê de sua auto avaliação.
Volume 2 - A continuação da história de vida de Joe investiga os aspectos mais sombrios de sua vida adulta, e o que a levou aos cuidados de Seligman. Últimos três capítulos de "Ninfomaníaca".
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Volume 1 - clique aqui.
Volume 2 - clique aqui.
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Antes de tudo, devo sinalizar que o filme é para poucos, pois é preciso ter abertura para compreender as críticas, explícitas ou sutis, feitas pelo diretor. Aos que esperavam um filme pornográfico o que encontraram foi frustração, pois a trama nos confronta com conceitos e preconceitos sócio culturais. Escolhi reunir os dois volumes por uma questão simples: Não é possível ter plena compreensão sem que ambos sejam assistidos. No primeiro volume, temos maior foco no relato de suas aventuras sexuais desde a infância. Não há qualquer dado que possa nos ajudar a aprofundar o conhecimento sobre o contexto da vida de Joe. Assistimos as trocas com Seligman, que não parece concordar com a autoavaliação da moça, que se deprecia, sentindo-se má pessoa por ser ninfomaníaca. Ao narrar a história de sua vida, Joe encontra nas reações de Seligman possíveis “interpretações” ou outras perspectivas, que poderiam ser também do espectador (ou que podem servir para induzir o público). Seus comentários estão sempre associados a alguma referência, o que nos conduz para possibilidades que não ocorreriam sem tal intromissão. Suas referências incluem a música, as artes plásticas, a poesia e filmes – incluindo “Anticristo” do mesmo diretor. Prazer e dor, deleite e desamor, desamparo e autonomia estão entre as polaridades expressas na trama, que choca, confunde e violenta diferentes formas de ver tudo que é apresentado. O senhor solitário entra no lugar do psicólogo, que escuta sem julgar, principalmente ao favorecer para que Joe possa se ver de outra forma. Seligman é um intelectual que domina vários campos do conhecimento, com isso ele tenta analisar e compreender a obsessão de Joe por sexo, ao mesmo tempo conduzindo o espectador ao questionamento e provocando reflexões sobre alguns tabus.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Philomena

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ASSUNTO
Relações familiares, afetivas e sociais, pecado-religião, perdas, história, adoção ilegal, homossexualidade, sexualidade, segredo.
SINOPSE
Irlanda, 1952. Philomena Lee (Judi Dench) é uma jovem que tem um filho recém-nascido quando é mandada para um convento. Sem poder levar a criança, ela o dá para adoção. A criança é adotada por um casal americano e some no mundo. Após sair do convento, Philomena começa uma busca pelo seu filho, junto com a ajuda de Martin Sixsmith (Steve Coogan), um jornalista de temperamento forte. Ao viajar para os Estados Unidos, eles descobrem informações incríveis sobre a vida do filho de Philomena e criam um intenso laço de afetividade entre os dois.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Qualquer estilo de arte tem em sua construção algo do próprio autor, assim como aquele que entra em contato com a obra projeta seus conteúdos em sua forma de percebê-la. Assim, o encontro com a arte nos convida a produzir novos sentidos a cada momento. Há algum tempo, ando refletindo bastante sobre nossos “encontros autênticos” e sua importância, seja com a arte ou com as pessoas. De fato, estas formas de contatar nos permitem afetar e ser afetado. Quanto maior a diferença, maior a possibilidade de trocas que poderão transformar os envolvidos. Philomena é um filme que ilustra bem o fato. O encontro da religiosa e gentil senhora com o jornalista cético, de temperamento explosivo, irão de fato afetar a ambos em suas formas de funcionar no mundo. Philomena, apesar do sofrimento, manteve sua fé e ingenuidade, sem em nenhum momento parecer tola. Sua doçura contrasta com o humor seco e arrogante de Martin, o que não permite que a trama atinja um tom melodramático. Philomena dará a Martin uma grandiosa história jornalística e Martin proporcionará a Philomena o conhecimento que lhe falta. Ele é ateu, cético, sarcástico, irônico. Ela é religiosa, e, mesmo tendo motivos para questionar a igreja, não larga em momento algum sua crença; é ingênua, aparenta inocência, mas é guerreira e possui uma capacidade enorme de compreensão de mundo.

quarta-feira, 12 de março de 2014

A menina que roubava livros

 
clip_image001ASSUNTO
Guerra, preconceito, racismo, violência, perdas, resiliência, luto, arte, solidariedade, vida e morte.
SINOPSE
Durante a Segunda Guerra Mundial, uma jovem garota chamada Liesel Meminger (Sophie Nélisse) sobrevive fora de Munique através dos livros que ela rouba. Ajudada por seu pai adotivo (Geoffrey Rush), ela aprende a ler e partilhar livros com seus amigos, incluindo um homem judeu (Ben Schnetzer) que vive na clandestinidade em sua casa. Enquanto não está lendo ou estudando, ela realiza algumas tarefas para a mãe (Emily Watson) e brinca com a amigo Rudy (Nico Liersch).
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Para além do registro sobre as crueldades do Nazismo, o filme nos convida a testemunhar um belo exemplo de resiliência. Sim, Liesel é um modelo perfeito para a compreensão deste conceito que nos é tão caro em psicologia. O termo resiliência refere-se à capacidade dos indivíduos para superar os períodos de dor emocional e adversidades. Na abordagem Gestáltica, entendemos a resiliência como a capacidade do indivíduo realizar ajustamentos criativos funcionais diante de situações adversas. A arte de superar, que transforma adversidades em oportunidades, parece ser dominada pela menina. Sua trajetória está repleta de situações adversas que são superadas, na maior parte das vezes, usando os livros como suporte para realização de seus ajustes criativos. Curiosamente, somos apresentados a Liesel pela morte, que narra à árdua jornada da menina de forma surpreendentemente simpática. O primeiro livro cruza seu caminho em momento de extrema dor, durante o breve enterro de seu irmão caçula. Ainda sem compreensão sobre a leitura, ela percebe quando o coveiro deixa o livro cair na neve. Antes mesmo de compreender o significado daquelas letras, ela rouba e atribui um sentido ao objeto, que se revela como único vínculo com a sua família.

sábado, 18 de janeiro de 2014

12 Anos de escravidão

 
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Preconceito racial, relações afetivas, familiares e sociais, violência, abuso físico e psicológico, período nebuloso da história americana, luta por direitos básicos.
SINOPSE
12 Anos de Escravidão é um filme baseado na inacreditável e verdadeira história de um homem que luta por sobrevivência e liberdade. Na época pré-Guerra Civil dos Estados Unidos, Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um homem negro livre do norte de Nova York, é sequestrado e vendido como escravo. Diante da crueldade (personificada por um dono de escravos desumano, interpretado por Michael Fassbender) e de gentilezas inesperadas, Solomon luta não só para se manter vivo, mas também para manter sua dignidade. No décimo segundo ano de sua odisseia inesquecível, Solomon encontra casualmente com um abolicionista canadense (Brad Pitt), que muda sua vida para sempre.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Mais do que apenas um absurdo da trajetória humana, a escravidão foi um período obscuro que revelou aquilo que há de mais desumano no homem: seu nível de crueldade. A ilusão de ser superior ao seu semelhante (ou seria a de sentir-se ameaçado pela diferença que não compreende?) fez e ainda faz o homem agir de forma violenta e ultrajante com a própria espécie. O filme conta a história de um e de muitos, pois retrata o que muitos negros vivenciaram durante a escravidão, fosse na América ou no Brasil. Infelizmente, a violência, a humilhação, a dor física e psicológica sofrida por eles não foram apenas parte obscura de  História deixada no passado. Este e utros tipos de preconceitos continuam a suscitar ações violentas que são estampadas regularmente em jornais. Na trama, acompanhamos a história de um homem livre, negro, que após ter constituído família e alcançado certa estabilidade social, é sequestrado e forçado a abrir mão da própria identidade. Solomon recebe uma proposta de trabalho como violinista e aceita viajar para Washington por alguns dias, para se apresentar junto a um grupo, o que promete um bom retorno financeiro. Logo, nos deparamos com a mudança drástica ocorrida em cena, acontece da noite para o dia. De noite, o clima era de comemoração pelo possível sucesso dos shows. De manhã, as correntes que prendem o violinista revelam outra atmosfera. Trata-se do tráfico humano, que é executado da forma mais ultrajante possível. Preso, espancado e humilhado, ele é transportado para o sul, para onde será contrabandeado (No sula escravidão ainda era uma realidade) e vendido para trabalhar em plantações. Atente para o fato que sua identidade precisa ser trocada, ele então é transformado de forma cruel em Pratt. A partir de então, acompanhamos cenas que chocam e partem o coração de qualquer pessoa.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O mordomo da casa Branca

clip_image002ASSUNTO
Relações sociais, afetivas e familiares, preconceito racial.
SINOPSE
1926, Macon, Estados Unidos. O jovem Cecil Gaine (nome verdadeiro: Eugene) vê seu pai ser morto sem piedade por Thomas Westfall, após estuprar a mãe do garoto. Percebendo o desespero do jovem e a gravidade do ato do filho, Annabeth Westfall decide transformá-lo em um criado de casa, ensinando-lhe boas maneiras e como servir os convidados. Ele cresce e passa a trabalhar em um hotel ao deixar a fazenda onde cresceu. Sua vida dá uma grande guinada quando tem a oportunidade de trabalhar na Casa Branca, servindo o presidente do país, políticos e convidados que vão ao local. Entretanto, as exigências do trabalho causam problemas com Gloria, a esposa de Eugene, e também com seu filho Louis, que não aceita a passividade do pai diante dos maus tratos recebidos pelos negros nos Estados Unidos.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Nosso mundo é o mundo construído com nossas experiências, assim compreendemos a vida conforme a realidade que nos circunda desde o nascimento. Nos primeiros anos, pouco sabemos sobre o que há fora de nosso Universo particular. Ainda sem termos capacidade de questionar qualquer verdade, aprendemos a partir de nossas primeiras relações. Entendemos como verdade alguns destes aprendizados de nossa infância. Nem sempre sabemos o porquê, apenas o sabemos. Cecil nasce em uma época em que a exploração e humilhação dos negros é uma realidade cruel. Ele aprende muito cedo a diferença entre negros e brancos, e vai descobrindo aos poucos sua forma de ter uma vida digna dentro das possibilidades conhecidas. Bem cedo, ao assistir ao assassinato de seu pai, aprendeu que para sobreviver era preciso estar em outro lugar. O menino aprende a não ter voz, a existir de forma invisível no mundo dos brancos, pronto a servir sem ser notado. Desta forma, ele consegue construir uma família, tendo em sua casa outra identidade. Além de pai é marido, tem voz ativa e nunca, de modo algum, mistura os dois Universos.