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sábado, 31 de agosto de 2013

Amor em tempos de guerra

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ASSUNTO

Homossexualidade, guerra, relações afetivas, familiares e sociais, preconceito, holocausto.

SINOPSE

O filme tem o seu início na primavera de 42, em Paris, Jean e Philippe arriscam as suas vidas para ajudar Sarah, uma amiga de infância de Jean que é judia e cuja família foi assassinada pela Gestapo. Jean é o grande amor de Sarah, mas ele é homossexual e apaixonado por Philippe, membro da resistência francesa. Mesmo assim, os três conseguem manter uma relação harmoniosa, até que entra em cena o irmão de Jean, colaborador dos nazistas. Quando Jean é falsamente acusado de manter um caso com um oficial alemão, começa a descida ao inferno sob o signo do triângulo rosa.

TRAILER




O OLHAR DA PSICOLOGIA

Transcendendo o tema da homossexualidade, o filme aborda as relações humanas em sua complexidade, abrangendo as relações afetivas, familiares e sociais em tempos de guerra, quando o que há de mais desumano na sociedade pode se revelar. Se ainda enfrentamos barbaridades por conta de preconceito contra a homossexualidade, não há como comparar com o que acontece em outro contexto. Os horrores da segunda guerra mundial, por diversas ocasiões, foram retratados em diferentes filmes. Temos presente algumas imagens das barbáries sofridas por judeus do mundo todo. A proposta deste filme francês é outra, o foco se desloca a intolerância com a homossexualidade. Jean ama Sarah de outra forma, como alguém muito querida, nunca como mulher. Seu corpo e coração pertencem a Philippe. Por mais estranho que pareça, os três encontram uma forma de convivência harmoniosa, até que seu irmão descobre a verdade. A revolta, o preconceito, ciúme e a inveja transformam a família. A primeira manifestação de preconceito surge na atitude irresponsável do irmão, que resulta na prisão de Jean. Os horrores começam a acontecer na tela, revelando como a homossexualidade também foi alvo de torturas e assassinatos cometidos pelos nazistas.

O SUBSTITUTO ( Indiferença)

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ASSUNTO
Abuso, Sistema educacional, relações sociais, afetivas, humanas, existencialismo, suicídio, mecanismos de defesa.
SINOPSE
Henry Barthes é um professor brilhante com um verdadeiro talento para se conectar com seus alunos. Em outro mundo, ele seria um herói para sua comunidade. Mas, assombrado por um passado conturbado, ele escolhe ser professor substituto - nunca na mesma escola por mais que algumas semanas, nunca permanecendo tempo suficiente para formar qualquer relação com os alunos ou colegas. Uma profissão perfeita para alguém que busca se esconder ao ar livre. Quando uma nova missão o coloca numa decante escola pública, o isolado mundo de Henry é exposto por três mulheres que mudam a sua visão sobre a vida: uma estudante, uma professora e uma adolescente fugitiva.
Durante somente três semanas o professor substituto (Henry Barthes) deverá enfrentar a doença (Alzheimer) e morte do avô, com quem viveu uma terrível história familiar; a vida de uma adolescente prostituta e maltratada, que acabará hospedando na sua casa; alunos violentos e sem perspectiva de futuro, outros com uma carga incrível de sofrimento e carentes do mais básico; professores/as que ainda tentam fazer o seu melhor com alunos/as que não estão para nada interessados em estudar, enquanto outros, carregando histórias pessoais trágicas, afundam na angústia e na depressão. Para ler mais, clique aqui.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Acabo de escrever sobre a necessidade que temos de pertencimento e de reconhecimento no post sobre o filme “Dá para fazer”. Agora, me deparo com o título deste filme, que no original seria indiferença. INDIFERENÇA é um NÃO LUGAR, uma invisibilidade, um não reconhecimento de si no ambiente. Parece que falamos da mesma questão, aqui discutida sobre outra perspectiva. Um primeiro olhar nos remete ao ambiente escolar, o que nos faz crer que o foco é o sistema educacional em decadência. Entretanto, a trama vai muito além, nos propõe reflexões profundas sobre existência. Neste sentido, o tema é bem existencialista, no sentido filosófico da palavra. É um drama existencial repleto de sentidos e não “sentidos”. O personagem principal é professor substituto, o que o configura como a impermanência, não aquela que nos permite o desapego, a renúncia, a aceitação das mudanças. O conceito aqui é usado para definir fuga, trata-se de uma defesa, o movimento de evitar a autenticidade, riscos que o vínculo pode provocar. No desenrolar da trama, somos aos poucos informados das possíveis “razões” que promoveram tal comportamento. Tendo como ponto de partida o texto de Edgar Allan Poe - “A queda da casa dos Usher”, o drama aborda a queda de um sistema. Cenas melancólicas retratam o isolamento, a falta de contato com outros sistemas como agente provocador do esvaziamento. Pais, professores, alunos, todos se trancam em seus universos particulares, incapazes de trocas nutritivas, transbordam frustrações. O sistema, por falta de alimentação, adoece, assim nos ensina a “teoria de sistemas”. De fato, é isso que assistimos na trama, a escolas e as pessoas não mais participam de trocas nutritivas. “Detachment”, o título original, pode significar deslocamento, ou melhor, dizendo, retrata a postura neurótica de estar destacado, isolado. Henrý tenta fazer a diferença em seu ofício, mas também se preserva. Os fantasmas de sua infância teimam em assombrá-lo. Aqui, também, os rótulos são responsáveis por algumas situações críticas, como no caso de Meredith, que por ser obesa é alvo de Bullying. Ela sofre humilhações diárias, é agredida verbalmente por seus colegas e pelos seus próprios familiares. O universo caótico é pessoal e educacional, retratando uma realidade dura, que incomoda o telespectador, chegando a sufocar.

sábado, 27 de abril de 2013

About Cherry

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Alcoolismo, família disfuncional, abuso sexual infantil, pornografia, sexualidade.

SINOPSE

2012 – Sem título em português. O filme segue Angelina (Ashley Hinshaw), uma jovem a beira de terminar o colegial que leva uma vida muito difícil, pois sua mãe é alcoólatra e seu padrasto é muito violento. Certo dia, seu namorado sugere que ela tire fotos nuas por dinheiro e depois de inicialmente hesitar, ela concorda e faz a sessão de fotos. Em São Francisco, Angelina começa a trabalhar em um clube de strip, adota o nome de Cherry e conhece um advogado que a leva a festas extravagantes, até que um lhe apresentam um novo mundo, a indústria do pornô.

TRAILER

O OLHAR DA PSICOLOGIA

Ao ler a sinopse, pensei se tratar de um filme sobre a pornografia como última opção de alguém sem alternativa. De fato, a trama retrata o drama de uma Angelina e sua trajetória até chegar ao filme pornô. Quanto a não ter mais alternativas, não posso definir assim, embora sua origem possa até sugerir algum tipo de indicação para tal caminho. No entanto, acredito que o que fizeram conosco não possa definir quem somos, e sim, o que fazemos com isso – com aquilo que fizeram conosco. Para que seja mais bem compreendido, algumas cenas sugerem abuso sexual de seu padrasto, além de retratar uma adolescência conturbada e sobrecarregada enfrentada pela menina. Angelina trabalhava, cuidava dos “porres” de sua mãe, protegia a irmã e ainda tentava manter uma vida social compatível com sua idade. A trama sugere que sua única válvula de escape era o namorado, que aparentava gostar dela pelo que era, não pelo que podia oferecer. Ao sentir-se como mercadoria também nessa relação, ela decide largar tudo e começar uma nova vida em outra cidade.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Monsieur Lazhar

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ASSUNTO
Luto, suicídio, relações afetivas, sociais e familiares, morte, ensino, relação professor-aluno.
SINOPSE
Bachir Lazhar (Mohamed Fellag), imigrante argelino, é contratado para substituir um professor do ensino fundamental, que morreu tragicamente. Enquanto a classe passa por um processo de superação da perda, ninguém desconfia o drama pelo qual passa o novo professor, que corre o risco de ser deportado a qualquer momento.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
O professor surge na vida deste grupo de crianças em um período extremamente delicado para elas. Ao se depararem pela com a morte, elas tentam encontrar repostas e explicações para os sentimentos confusos que passam a habitar suas vidas. Entretanto, o sentimento de perda também faz parte da vida deste homem, ainda que adquirido em outro contexto. O luto é algo que precisa ser elaborado na vida dele, tanto quanto na vida dessas crianças. Morte, luto, culpa, abandono, perdão, método de ensino e outros temas costuram a trama, sem perder de vista o choque cultural entre os hábitos de Québec e da Argélia antiquada. Repleto de personagens reais, com qualidades e defeitos, o filme apresenta realidades difíceis de serem enfrentadas, seja por crianças ou adultos. A professora comete suicídio dentro da sala de aula, e, para piorar, dois alunos testemunham a cena conclusiva de seu ato. O aspecto emocional que a morte causa aos alunos é o que serve de ligação e afastamento do novo professor. Aos poucos, passamos a compreender as razões e a importância do trabalho em si para Lazhar. Este homem amargurado, capaz de cometer erros e de mentir, é também aquele que divide com as crianças a mesma necessidade: esquecer o tormento e a dor da perda. O filme é emocionante e nos oferece de bônus a fábula da crisálida, contada pelo professor no final, vale a pena assistir!






domingo, 6 de janeiro de 2013

Coisas que perdemos pelo caminho

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Luto, violência doméstica, drogas, dependência química, relações afetivas, sociais e familiares

SINOPSE

Audrey Burke (Halle Berry) está em choque com a notícia que acaba de receber: Brian (David Duchovny), seu marido, foi morto em um ato de violência o qual ele não tinha qualquer ligação. Audrey agora sente-se perdida e, por impulso, recorre a Jerry Sunborne (Benicio Del Toro), um amigo de infância do marido que é viciado em drogas. Desesperada para preencher o vazio em sua vida que existe desde a morte de Brian, Audrey convida Jerry para morar no quarto anexo à garagem da família. Jerry atualmente está lutando para evitar as drogas e vê nesta oportunidade a chance de se recuperar de vez, ele passa a agir como se fosse o substituo de Brian na vida de Audrey e seus filhos.

TRAILER

O OLHAR DA PSICOLOGIA

Li, certa vez, algo sobre como uma viúva fez o discurso no velório de seu estimado marido. Diferente do esperado, ela enaltecia os pequenos defeitos que fora obrigada a suportar dia após dia, como seu ronco, e outras “cositas” mais. Entretanto, no final de seu relato, ela afirma que eram exatamente as imperfeições, tão humanas de seu finado esposo, que fariam falta em seu cotidiano. O som de seu ronco, por exemplo, é o que marcava não só sua presença, mas a existência desse outro tão querido. Afinal, são as nossas imperfeições que demonstram nossa singular existência. Quando Audrey perde seu marido, que é morto ao socorrer uma mulher que sofria de violência doméstica, ela se vê sem chão. Desnorteada, aos poucos, ela entra em contato com aquilo que não conseguia compreender, suas discordâncias, queria se aproximar do que era mais humano nele. Aquela amizade que ele mantinha com um viciado era algo que ela não podia compreender. Entretanto, é exatamente aí que ela encontra maior ligação com seu amor e é também onde busca a elaboração de seu luto. Ao convidar esse amigo para morar em sua casa, ela inicia um processo de aproximação e afastamento de sua história. Ela havia perdido o marido, o amigo tinha perdido a esperança muito antes de perder o amigo. A proximidade deles permite, não só o resgate da esperança, mas a elaboração do luto e a celebração da vida. Os conflitos são inevitáveis quando personagens tão antagônicos se encontram, mas é exatamente nessas colisões que ambos criam novas oportunidades. O vício e a difícil recuperação de um dependente químico são temas bem explorados na trama, que bem ilustra a necessidade de apoio de pessoas queridas durante o processo. É um filme que fala de elaboração de luto, de recuperação de viciados, de morte e de vida, coisas que fazem parte do nosso cotidiano, mas que preferimos evitar falar sobre.                                         Patrícia Simone

Nada é óbvio, tudo está trabalhado com maestria, e as relações de proximidade incomodam mesmo. É um defeito humano ter mesmo disso, de estar tão perto ao ponto que esses personagens estão uns dos outros. O medo de precisar, o medo de se entregar é outra temática muito bem colocada aqui. Em nenhum momento Jerry e Audrey são colocados como um futuro casal: são apenas duas pessoas que precisam uma da outra de maneiras que não conseguem sequer explicar. Cine rapadura, para ler a crítica completa, clique aqui.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Osama

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Relações familiares, sociais, culturais, identidade feminina, história, regime opressor.
SINOPSE
2003 - Durante o rigoroso regime Talibã, uma menina é obrigada a se disfarçar e agir como menino para sustentar sua família que é composta só de mulheres. Essa medida faz parte de uma lei que pro[ibe as mulheres de sair de casa sem a companhia legalmente aceita, ou seja, de homens da família. Com marido e irmãos mortos, não há ninguém para sustentar a casa. Para isso, ela cortou o cabelo da filha para ela trabalhar com outros homens e meninos. Ela passa a ser chamada de Osama. Tudo corre bem até que Osama é recrutado pelo exército e inicia uma jornada assustadora pelas estradas do Talibã. A farsa é desvendada quando Osama - nome dado por um garoto que tentou proteger a menina da perseguição dos demais colegas de escola - menstrua. A pobre jovem é submetida a castigos físicos e a um julgamento público. Ao que parece a única distração dos afegãos era participar desses julgamentos, nos quais um senhor barbudo (os homens não podiam cortar a barba), idoso, denominado de juiz, ficava deitado emitindo os seus pareceres. Um deles foi o de mandar matar um repórter francês que gravou o protesto público das mulheres afegãs. A punição de "Osama" é a de se tornar esposa de um velho decrépito. Ela chorando, pedindo ao "juiz" que a devolvesse para a sua mãe é o momento mais emocionante do filme. A mulheres eram oprimidas por excelência nas mãos dos talibãs. Filme-denúncia que evidencia em detalhes o atraso em que viviam certas sociedades em pleno século XX. Inspirada numa história real, Osama é a primeira produção depois da queda do regime Talibã.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Assim que pude viajar, não como turista, mais como ‘curiosa’, fiz descobertas sensacionais. O fato de encontrar outras culturas e formas de viver amplia nossa perspectiva de mundo, fazendo com que possamos diversificar nosso repertório existencial. É muito rico, ter contato com outras realidades, que nos permitem maior flexibilidade frente às certezas de outrora. Por isso, adquiri um gosto especial por qualquer ferramenta que nos enriqueça nesse aspecto. “Osama” é uma dessas possibilidades. O filme retrata outra realidade cultural e histórica, muito diversa desse nosso mundo “globalizado”.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

O Monge

Poster de O Monge ASSUNTO
Dogmas religiosos, dualidade, incesto, culpa, segredo, relações sociais e sexualidade.
SINOPSE
2012 - Adaptação do famoso romance gótico por Matthew G. Lewis, publicado em 1796. “The Monk” conta a história trágica da scensão e queda de um monge capuchinho na Madri do século XVII. Abandonado ainda bebê nas escadarias de um monastério e criado segundo a rígida ordem dos capuchinhos, Ambrósio se tornou o pregador mais famoso do país. Enquanto grandes multidões vêm de todo os cantos para ouvir seus sermões impressionantes, o sucesso dele é amargamente invejado por outros monges do monastério. Convencido de sua virtude e retidão, o irmão Ambrósio acredita ser imune à tentação... Até que eventos misteriosos começam a aterrorizar o monastério. Seguro quanto as tentações e os poderes do Diabo, ele enfrenta a discordância para acolher Valério (Déborah François), vítima de um acidente, na instituição. Enquanto eventos misteriosos começam a acontecer no local, ele descobre que o jovem, que protege o rosto mutilado com uma máscara, tem o dom de aliviar a dor. Juntos, eles acabam formando uma sinistra parceria que mudará para sempre as suas vidas.
  TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Não é o estilo de filme que eu gosto e devo confessar que tentei assistir duas vezes antes de conseguir completar a façanha. Indicado por uma colega, que relatou como uma experiência fascinante, esforcei-me para apreciar algo no filme. Ainda que não tenha me causado nada próximo ao fascínio, compartilho alguns aspectos  percebidos.

domingo, 22 de abril de 2012

Dias e noites

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Relações familiares, afetivas e sociais, abuso sexual e de poder, violência doméstica, identidade, história.
SINOPSE
Clotilde (Naura Schneider) se casou ainda jovem, por conveniência, com Pedro Ramão (Antônio Calloni), um rico fazendeiro do interior do Rio Grande do Sul. Decidida a não ceder às tentações da época e à violência do marido, Clotilde questiona os valores da sociedade local e resolve sair de casa. Isto faz com que perca a guarda de seus dois filhos. Já em Porto Alegre ela luta na justiça para reaver sua família, contando com a ajuda do advogado Motta (Zé Vítor Castiel) e do playboy Felipe Clerbon (Dan Stulbach). Entretanto a principal ajuda que recebe vem do empresário Aires de Lucena (José de Abreu).
TRALER

O OLHAR DA PSICOLOGIA
Não faz muito tempo, as verdades eram outras. Diante da comemoração de 5 anos da lei Maria da Penha, vale a pena assistir ao filme, que mostra uma realidade recente, violenta e abusiva, que retrara o poder masculino da família patriarcal. A história retrata a trajetória de uma mulher, que durante 3 décadas luta para sair do lugar comum e ainda assim reconquistar a família. O casamento da jovem Clotilde é resultado de um acordo comercial, mas ela tinha esperança de não ser apenas mercadoria, queria viver uma paixão, uma estória de amor, um sonho. Mas sua realidade é um bem diferente de seus sonhos, não há carinho, respeito ou amor em sua vida conjugal. Seu marido já tinha sido casado e ficou viúvo ao mesmo tempo em que perdia um filho, durante o parto da falecida esposa. Sua obsessão é ter um filho varão e não mede esforços para tanto. Vítima de violência física e psicológica, Clotilde enfrenta dias e noites de abusos, tal qual a égua indomada. Suas reações beiram a loucura, não é possível se adaptar seu sonho de família à realidade de sua vida conjugal, ela não suporta e sai de casa. As palavras de sua avó, no momento em que Clotilde repousa em seu colo, retratam os valores de uma época: “Você poderia ter escolhido ser apenas uma mulher. Mas você, meu amor, escolheu ser gente. E isso, nenhum deles pode entender.”

quarta-feira, 18 de abril de 2012

A vida dos outros

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Regime totalitário, relações sociais, relações afetivas, solidão, arte, criatividade, sociedade do espetáculo, eu-outro, individualidade, identidade, História: Guerra Fria, Cortina de Ferro.

SINOPSE
Em 1984, quando o muro de Berlim ainda estava intacto e a Alemanha era dividida em duas, o autor teatral Georg Dreyman acredita fielmente no socialismo da República Democrática Alemã (RDA), se mantendo como um dos poucos intelectuais insuspeitos. Sedento pelo poder, o Ministro da Cultura Bruno Hempf decide investigar o autor, que, se tiver algum podre escondido, pode lhe render maiores cargos, além de mais liberdade em na relação com sua amante, a atriz fetiche e namorada de Dreyman, Christa-Maria Sieland. O oficial designado para a missão é Gerd Wiesler, o melhor interrogador da Stasi, a polícia política do regime. Vigiando momentos íntimos da vida de Dreyman, o agente passa a entender como os intelectuais enxergam a RDA, e passa ele mesmo a questionar os métodos usados, de invadirA Vida dos Outros. Quando um grande amigo de Georg se mata e ele descobre que o regime esconde os registros de suicídio, o escritor decide publicar secretamente um artigo sobre isto no Ocidente. Wiesler, então, terá que escolher de que lado irá ficar. Leia mais clicando aqui.


TRAILER
 

Indicado pela colega Rosane Pimentel, o filme revela uma realidade pouco explorada, ocorrida na Berlim Oriental de 1984. De fato, a forma como o governo controlava a população parece algo muito distante da realidade que é conhecida por muitos de nós. Não falamos da Alemanha de Hitler, falamos de pouco antes da derrubada do muro de Berlim. Uma história recente, com personagens que ainda estão vivos para contar o que viveram. É importante retomar a história para que seja possível compreender o que o filme retrata. Após a guerra, a Europa estava destruída e precisava se reerguer. Diversas reuniões entre os líderes políticos mundiais resultaram na divisão da Europa. O Leste ficou sob o domínio do Bloco Socialista (países da CORTINA DE FERRO) e o Oeste europeu ficou com o bloco capitalista. Na Alemanha de 1949 é formada a RDA (República Democrática Alemã) ou Alemanha Oriental. A política do líder sociético Stalin é muito dura em países como a Alemanha. O Estado possuía poder absoluto sobre a vida dos alemães de então e criam o Ministério de Segurança do Estado (STASI). A STASI funcionava nos moldes soviéticos, tornando-se um serviço Secreto de ideais socialistas caminhando para o totalitarismo. Sendo “o Escudo e a espada do partido”, a STASI sufocava qualquer possibilidade de oposição, garantindo os ideais do Estado através de violência física e/ou psicológica, prisões, espionagem e censura. O regime totalitário estabeleceu o terror, restando pouco espaço para a humanidade de cada indivíduo, como veremos no filme.

domingo, 1 de abril de 2012

Distúrbios do prazer

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Abuso, relações afetivas e sociais, fanatismo religioso, homofobia, automutilação.
O filme é denso, difícil de assistir. Após 15 anos de invisibilidade dentro do casamento, Nancy parece buscar confirmação de sua existência através da dor. O prazer está associado à dor, revelando sua vida torturante. Na terapia, Nancy deixa claro o sentimento de e não existir, nem sua mãe, nem tampouco o marido a percebem. Cansada de ser rejeitada por aqueles que deveriam lhe dar amor, suporte para sua existência, Nancy anseia por liberdade. Estar presa a um corpo que a impele a autodestruição de forma lenta e rotineira lhe causam pavor. Sua invisibilidade a atormenta, apenas nos momentos de dor consegue dar sentido a vida. Tal experiência a faz crer que a vida é prisão, é sofrimento, é dor. Abusada pelo tio, rejeitada pela mãe e ignorada pelo marido, ela não se suporta mais e tenta o suicídio. Não acredita na terapia, enfrenta suas verdades no mundo virtual, onde se revela como de fato é. Sua perversidade encontra amparo naquele que poderá libertá-la: A pessoa que aceita matá-la. Desafia a terapeuta, que a enfrenta pela primeira vez, quando diz: Nada posso fazer por você, se você não quiser ser ajudada! (único momento em que Nancy mostra algum respeito pela terapeuta). O suposto assassino se revela atraído emocionalmente por quem ela realmente é, mas já não consegue alcançá-la. Sua decisão é clara, precisa sentir-se livre e a vida pra ela é uma prisão. Ser apresentado como trama baseada em fatos reais provocou reações negativas de alguns críticos, que consideraram que apenas alguns fatos reais serviram de remendo a trama que, segundo eles, foi mal costurada. O filme tem um ritmo lento, provoca polêmica e explicita questões da sexualidade difíceis de ser exploradas. Não é indicado para menores, aliás, é indicado para poucos. As questões sexuais são mais bem exploradas do que as psicológicas. As relações da personagem são apresentadas de forma confusa, não fornecendo material suficiente para qualquer tipo de conclusão. Vale ressaltar que as cenas de automutilação e de práticas sadomasoquistas nem sempre são motivos de sofrimento para muitas pessoas, que vivenciam apenas prazer, sem qualquer tipo de constrangimento.
SINOPSE
Nancy foi abusada pelo tio quando criança e hoje é casada com um executivo insensível, Albert. Sofrendo de tendências suicidas, ela é adepta de auto-mutilação e de práticas sadomasoquistas. Mas nem mesmo isso Albert percebe. Um dia, ao voltar do trabalho, ele encontra um bilhete deixado pela esposa, dizendo ter ido encontrar amigos. Quando, na verdade, Nancy fugiu para buscar salvação em Louis Farley, homem que conheceu na internet. Os dois se confortavam através de emails, fotografias e promessas sexuais, mas agora buscam juntos a liberação completa das dores da vida. Albert Stockton chega do trabalho e encontra um bilhete de Nancy, sua esposa há 15 anos, dizendo que foi ver alguns amigos, mas é mentira. Nancy foi embora com Louis Turley. A vida de Louis, como a dela, tornara-se uma perversa busca por afinidade e realização sexual, nos obscuros caminhos da internet. Albert rastreia Louis e ouve como ele e Nancy se conheceram, começaram seu caso e como terminaram juntos. Albert descobre que nos últimos dias da triste e solitária vida de sua esposa, Nancy fez uma viagem sem volta para a libertação, um lugar onde o desejo é livre, onde a dor se torna prazer e onde o fim é o começo. Um lugar onde ela se uniu a Louis...
Sofrendo de tendências suicidas, ela é adepta de auto-mutilação e de práticas sadomasoquistas. Mas nem mesmo isso Albert percebe. Um dia, ao voltar do trabalho, ele encontra um bilhete deixado pela esposa, dizendo ter ido encontrar amigos. Quando, na verdade, Nancy fugiu para buscar salvação em Louis Farley, homem que conheceu na internet. Os dois se confortavam através de emails, fotografias e promessas sexuais, mas agora buscam juntos a liberação completa das dores da vida.

Pecados íntimos

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Relações sociais, afetivas e familiares; pedofilia; adultério; sexualidade.
Uma cidade pacata e sua rotina aparente, isso mesmo: Aparente. Logo, me lembrei da frase “De perto ninguém é normal”, nesse caso, ninguém é o que aparenta ser. Muitas reflexões são suscitadas na fita. Além de fazer uma clara crítica à vida social carregada de “verdades próprias”, o filme nos remete as questões de responsabilidade pelas escolhas feitas. Como se fosse possível apagar nossa história, da qual somos produto, e retornar ao mundo infantil, evitando o presente.
A vida aparentemente perfeita pode ser ameaçada por qualquer movimento suspeito. Abrir mão da carreira para cuidar da família é o primeiro tema apresentado. Afinal, quando uma mulher faz essa escolha, o faz por escolha consciente ou deseja seguir a “cartilha” de ser boa mãe? O que é afinal ser boa mãe? Existe uma receita que nos indique o melhor caminho? Escolher a família implica de fato em abrir mão da carreira? Quando a realização profissional faz parte também da identidade da pessoa, é possível ser boa mãe abrindo mão de uma parte de si? Até quando essa ausência de si mesma pode verdadeiramente contribuir para uma relação saudável com a família? São perguntas que não fazemos em nosso cotidiano, existe uma verdade pronta, cultural, local, familiar, que não se discute, a naturalizamos, a tornamos verdade. As verdades sociais podem ser cruéis para a singularidade. Claro que não existe resposta pronta, cada um sabe de si. Claro que o tempo de estar com filhos e família é pessoal e intransferível. Claro que algumas mães fazem um intervalo quando as crianças são pequenas, abrem mão de sua carreira por escolha consciente, sendo muito felizes assim. Mas, quantas não se dão conta que as relações estão sendo contaminadas em consequência de ter aberto mão de uma parte de si? Sarah está incomodada com algo em sua vida perfeita, seu incômodo é visível. Seu marido é viciado em pornografia virtual, o que não favorece a autoestima da esposa. Ela abriu mão de sua carreira e alguns sonhos ao casar e assumir o papel de mãe e esposa. E acaba descobrindo que não quer isso para si.
O medo do amadurecimento e das responsabilidades é outro tema do filme. Alguns personagens são adultos que não conseguem viver com as escolhas que fizeram, que se recusam a assumir as responsabilidades das suas vidas, encontrado nas suas fantasias um escape. Brad também está insatisfeito com o rumo de sua vida. Apesar de estar formado, não mostra qualquer entusiasmo para fazer a prova da Ordem dos Advogados e se tornar um profissional responsável. Tal qual uma criança, cabula as aulas para assistir aos adolescentes em seus skates. Ele e outros adultos vão aos poucos revelando suas inseguranças e desejos de proteção. Sua esposa é o oposto das outras, provedora do lar, pouco tempo tem para o marido. Depois de um longo dia de trabalho, só resta atenção para o filho, que a venera. Na cena que o marido a procura na cama, fica claro que não sobra muito tempo para eles, nem sexo, nem diálogo. Quando surge uma mulher que se revela disponível tanto para o diálogo quanto para o sexo, Brad se entrega, ainda que declare culpa. Quando Sarah pergunta se ele realmente quer ser advogado, ela denuncia a falta de diálogo com sua esposa. De fato, as recomendações em família estão mais para o controle de gastos do que para parceria. Brad, como tantos homens, resistiu ao amadurecimento, e, encontrou no casamento o ambiente favorável ao seu medo. A esposa, por sua vez, indiretamente o protege, tal qual uma criança. A traição, ao contrário, lhe dá espaço para se revelar como homem, desejado, ouvido, respeitado. O exercício o faz sentir-se vivo, como homem, como pessoa. A desobediência às regras transforma a forma de ambos olharem o mundo.
Outro foco é Ronnie, um pervertido que ameaça paz da sociedade local. Todos tem medo dele, exceto sua mãe, que o protege como se ainda fosse criança. Depois de cumprir pena por ter se exibido para uma criança, ele é perseguido por um ex-policial moralista, que também tem seus segredos. A real ameaça de Ronnie está na realidade que não se esconde, não é camuflada em falsas aparências. Ele denuncia imperfeição, é um ser atormentado que não compreende a própria angústia. A violência com que a sociedade moralista e hipócrita projeta suas perversões nele se revela maior do que seus atos. Seu descontrole é pouco perto das perversões apresentadas por outros personagens. O “doente” é quem revela maior empenho em assumir responsabilidade por seus atos, mesmo que de forma insana. Curiosa forma de provocar reflexões sobre a tênue linha que separa o normal do patológico.
Confesso que o final moralista me incomodou a princípio, pois nos remete ao final feliz tão almejado socialmente. Entretanto, foi aí que me peguei refletindo sobre tolerância e a sua ausência. Se os casamentos anteriores ao feminismo eram por demais tolerantes com a tirania da família patriarcal, o que anda acontecendo em nossos dias? Ao contrário das gerações anteriores, a intolerância é evidenciada nas relações contemporâneas. Qualquer tipo de dissonância entre os casais tem sido motivo de divórcio. Certamente, ainda existem casamentos que vivem de aparências. Mas, muitos divórcios acontecem por quase nada. A diferença, tão necessária ao verdadeiro contato, tem sido a alvo da intolerância humana. Não seria esta uma denúncia do filme? Afinal, “Não se pode mudar o passado, Mas o futuro pode ser bem diferente!” é a frase do filme que transparece a questão real dos amantes. Ao sonhar no amanhã e não viver o hoje, eles perdiam a oportunidade de perceber como eram e o que tinham. A ameaça de perda real favorece a consciência de suas vidas e amores verdadeiros, não aparentes, não camuflados, não apenas sonhos. A vida com suas imperfeições é o agora que pode construir um futuro. Só então pude apreciar o desfecho do casal.
Primeiro, a sociedade em que vivem: moralista, hipócrita e preconceituosa, onde o que importa não é o que são, mas sim o que parecem ser; e segundo, os laços interpessoais, os desejos e anseios, com todas as suas esperanças e frustrações, que acabam implicando em suas vidas. (...) Na estória principal, a maior dificuldade que o pedófilo enfrenta para voltar ao convívio com sociedade, é a perseguição, julgamento e sede de justiça (desejo de punição) de Larry, um ex-tira. O tira foi diagnosticado com estresse pós-traumático e afastado da polícia. (...)Um filme sobre a intolerância e suas consequências. (...) Ambos vivem aquilo que a sociedade gostaria para eles. Não muito diferente de nos, seres reais. De pano de fundo temos outras questões sociais, como a reinserção do "pedófilo" na sociedade, o preconceito contra o homem que "cuidam" da casa etc. Leia mais clicando aqui.
É a desconstrução das aparências, do pseudo-moralismo e das falsas inocências. (...) Partindo da premissa onde entre quatro paredes todos os seres humanos expressam suas verdadeiras tônicas, anseios e comportamentos - o filme revela-se perturbador. (...) O filme é pontuado em off por um narrador onisciente, faz com que todos os personagens ganhem sustância e intimidade - além do psicológico ser exposto. (...) Há o universo de Sarah - onde tem que lidar com seu marido viciado em pornografia, um homem que precisa se masturbar com vídeos eróticos e ausenta-se do convívio e da atenção à sua esposa insatisfeita. Leia mais clicando aqui.
Entende-se que a traição não é algo justificável, mas a situação de fragilidade que enfrentam os personagens é evidente. (...) Do outro lado, há a realidade de um homem que tem disfunção sexual e precisa se ajustar a uma sociedade preconceituosa, crítica e predatória. E como conter seus ímpetos perversos sexuais? A proximidade dos personagens é evidenciada por existir, a partir do sexo, a motivação de mudar a condição que eles se encontram. E como o senso de culpa reveste estes indivíduos diante de suas imperfeições. É surpreende a humanização da personalidade psicológica do pedófilo aflito por uma segunda chance.  Leia mais....
Ronnie, diagnosticado com um transtorno psicossexual, não consegue lutar contra seus instintos, mesmo sabendo que precisa evitá-los. O solitário personagem sai num encontro com uma moça que parece sua alma gêmea e salvação, com quem poderia dividir algo doce, mas põe tudo a perder devido a sua impossibilidade de censurar vontades. Masturba-se na frente dela, mostrando que mais triste do que a prisão de grades em que estava antes é sua prisão interior. (...) A maioria dos personagens tem vidas infelizes, condenados a suas próprias prisões. Mesmo os que parecem normais, felizes e até modelos sociais, quando olhados abaixo da superfície, são aberrações maiores do que os assumidamente perdidos. (...) Os personagens aparentemente normais, aqueles que julgam os outros, se mostram um tanto quanto estranhos e contraditórios. Criticam o pervertido por se exibir para crianças, quando uma das esposas do parque conta que seu irmão fazia o mesmo para ela, que nunca reagiu, mostrando uma conivência e até mesmo uma satisfação com as atitudes dele. Condenam a infidelidade de Sarah, quando o que mais sentem é inveja por ela estar com o homem de seus sonhos. (...) Julgam coisas que não fazem de forma muito diferente na intimidade e projetam suas perversões e desejos mórbidos nas figuras mais expostas na sociedade – caso de Ronnie. (...)
Apesar do impacto e do sentimento de desespero provocados pela maior parte do filme, o final traz um otimismo que me fez lembrar da beleza do ser humano e de que talvez sejamos todos milagres mesmo, como acredita a mãe de Ronnie. Clique aqui para ler mais.
SINOPSE
Sarah Pierce (Kate Winslet) é casada com Richard (Gregg Edelman) e vive em uma cidade suburbana dos Estados Unidos. Ela leva regularmente sua filha Lucy (Sadie Goldstein) a um pequeno parque perto de sua casa. Lá Sarah observa e conversa com outras mulheres, que também levam seus filhos para brincar e praticamente dedicam suas vidas a eles. Até que um dia surge Brad Adamson (Patrick Wilson) e seu filho Aaron (Ty Simpkins). Brad já esteve no parque anteriormente e foi apelidado pelas mulheres como "rei do baile", mas Sarah nunca o tinha visto. Elas jamais tiveram coragem de falar com ele e nem mesmo sabem seu nome, mas sonham todos os dias com sua aparição. Brad empurra Aaron no balanço, sem dar atenção às mulheres, até que Lucy pede à mãe que também a empurre. Sarah passa a brincar com a filha e começa a conversar com Brad. É o início de uma amizade entre eles, que envolve um homem frustrado por estar desempregado e uma mulher infeliz com seu casamento e sua própria vida. Logo esta amizade torna-se um caso extra-conjugal, pois Brad também é casado, com Kathy (Jennifer Connelly). Enquanto isso, volta à cidade, depois de cumprir pena, um pervertido, preso por exibir-se para uma criança. Ele mora com a sua preocupada mãe (tão superprotetora quanto às do parquinho). Uma das cenas marcantes do filme é a que muitos moradores da cidade estão na piscina e o rapaz (Jackie Earle Haley, indicado ao Oscar), chega e pais e mães correm para retirar suas crianças da água.
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quarta-feira, 21 de março de 2012

Não tenha medo

 
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Abuso sexual em família, relações afetivas, familiares e sociais, psicoterapia.
De difícil digestão, o filme aborda o abuso sofrido no seio familiar. Difícil mesmo, ficamos com um nó na garganta, diante da forma que o diretor escolhe para apresentar o enredo. A personagem nos é mostrada ainda criança, inocente, em meio a brincadeiras e muito amor. Somos então, levados a cena que retrata o primeiro abuso. Seu pai, figura amada, parceiro de deliciosas brincadeiras que lhe tiram gargalhadas infantis, inicia um processo de traição ao que representa o primeiro grande amor, quando dá início ao que se tornaria rotina em sua vida. A cena, ainda que implícita, é angustiante. Seguimos a trama, sofrendo abusos rotineiros. Ainda criança, ela tenta falar com sua mãe a respeito e é fortemente desqualificada pela mesma, pois a mãe ainda a acusa de “inventar estórias”. O relacionamento com a mãe deixa a desejar, seja em termos de confiança ou mesmo de afeto. O universo da criança está restrito ao afeto de seu algoz, confundindo sentimentos dentro da menina. Seu mundo de afetos é nebuloso, não há construção saudável de sua identidade. Sílvia sobrevive aos constantes abusos do pai e a ausência materna. No desenrolar da trama, percebemos que a os pais separam e ela permanece com o pai, apesar do seu desejo, como será esclarecido posteriormente, de ir com a mãe. Sua amiga de infância, é quem mais se aproxima de uma referência confiável. Da infância a adolescência, os problemas de comportamento vão permeando sua vida e resultam em internação, após tentativa de suicídio. É também a oportunidade de refazer sua estória, se desligando desse passado cruel e se revelando quem de fato é. O processo de psicoterapia é iniciado, dando força para que Silvia passe sua vida a limpo, revendo cada uma das pessoas com outros olhos. Ouvimos as palavras da terapeuta: “Fique com esse medo, com essa sensação, enquanto o faz, tenta seguir o movimento dos meus dedos com os seus olhos.” É a primeira vez que silvia compartilha suas angústias. AOns poucos,  Sílvia aprende a enfrentar seus medos e busca encarar cada qual e esclarecer suas mais profundas questões. Reviver amor e ódio com seu pai, enfrentar a omissão materna sem permitir que a mesma distorça sua realidade e esclarecer suas dúvidas em relação a amiga, permitem que Silvia se liberte. Aqui percebemos que Sílvia começava um relacionamento amoroso de forma dependente, dando continuidade ao que para ela era amor. Fica implícito que sua identidade é de fato resgatada, no momento em que ela se despede da dependência, seja de pessoas ou do instrumento, ousando se libertar de qualquer “muleta”, se permitindo iniciar a vida independente, autônoma.
Durante a trama, são apresentados diversos depoimentos de pessoas que sofreram abusos, no grupo terapêutico. É um drama de difícil compreensão, sofrido, está repleto de questões referentes ao abuso dentro da família. Recomendado para poucos, não é indicado apenas como entretenimento.
SINOPSE
 O filme narra a luta de Silvia, que aos 25 anos decide refazer sua vida por completo e se redescobrir, enfrentando as pessoas, emoções e sentimentos do passado na busca por superar, em definitivo, as sequelas dos abusos sexuais sofridos na infância. Silvia é uma jovem marcada por uma obscura infância. E na sua luta contra a adversidade, contra si mesma, aprenderá a controlar seus medos e se converter em uma mulher adulta, dona dos seus próprios atos.
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terça-feira, 13 de março de 2012

Histórias cruzadas

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ASSUNTO
Preconceito, relações familiares, sociais e afetivas. segregação racial.
Concordo com Camilia Setúbal (Clique aqui para ler seus comentários) quando diz que é um filme sobre amor e coragem. Ela afirma: Coragem para escutar o que temos dentro, para mostrar, para lutar pelos nossos ideais, para confiarmos em nós mesmos, para sermos diferentes e não nos preocuparmos com a opinião ou aprovação das pessoas. Coragem para sermos diferente do que nossa família espera de nós, diferente do que nossos amigos/as são, coragem para ser você mesmo. (...)Mas diria também que é um filme sobre AMOR, porque com certeza não existe coragem sem AMOR. Esta é uma linda forma de perceber o enredo. O filme retrata uma época e sua respectiva “verdade”. Pois bem, falamos de preconceito exacerbado, explícito e cruel. O preconceito é exibido de forma tão vergonhosa, que nos sentimos mal em assistir tamanha desumanidade. No entanto, cada um se pergunta o porque de ainda existir, por exemplo, “banheiro de empregada” em nossos lares do século XXI!!! Não, dirão alguns, estamos muito distantes dessa realidade, o preconceito é outro, temos um preconceito social, vivemos outra realidade... Fiquei refletindo sobre isso, ao recordar uma passagem de outro filme. Falo de “A chave de Sarah”, que explora acontecimentos na França durante a guerra, quando o nazismo foi capaz de extinguir um grande número de seres humanos em nome de uma verdade  - raça “pura”.  Não é “apenas mais um filme sobre o Holocausto”, mas uma dolorida tomada de consciência do infame colaboracionismo francês na 2ª Guerra. O filme denuncia um momento histórico no qual os franceses, e não os alemães, isso mesmo, os franceses confinaram milhares de judeus em condições sub-humanas à espera da morte. Em uma cena da atualidade, ao ser questionada sobre o acontecido, uma senhora já bem idosa responde com naturalidade algo sobre lamentar pelos judeus, e, justificando o ocorrido, conta que tudo tinha a cer com as verdades contadas na ocasião. Assim, diante de verdades de uma época, é preciso muita coragem para questionar. É preciso muita coragem para buscar outra forma de ver tudo a sua volta. É verdade, para que alguém desafie uma “verdade confortável” tem que ter muito amor. Nesse aspecto, Camila está coberta de razão, foi pelo amor que a aspirante a jornalista se constituiu como pessoa, foi esse amor que a fez forte, e foi o reconhecimento deste sentimento que a fez questionar todas as verdades de um lugar e de uma época, disso não tenho dúvida. Entretanto, temos outras reflexões despertadas pela trama. Essa “verdade comum” que pode pertencer a uma época, uma cultura, um lugar, uma escola, uma religião, ou até mesmo a uma família é sempre única? Certezas, verdades absolutas são sempre suspeitas, penso eu. Acredito naquela propaganda que diz que o mundo é movido por perguntas, não por respostas. Isso é fundamental para a sobrevivência da humanidade e mudança de paradigmas. Afinal, vida é mudança e transformação, seja ela dolorosa ou não! Lamentavelmente, vivemos ainda com muitos outros tipos de preconceitos e também de verdades absolutas, que ainda podem dar muito trabalho...
Discordo de alguns críticos, que consideraram a abordagem do tema incapaz de promover reflexão, devido ao fato de não ter havido maior aprofundamento. Acredito até no contrário. O fato do enredo se desdobrar de forma leve, nos tocando com suavidade, nos permite espaço sim, para refletirmos sobre possibilidades e mudanças, reais ou imaginárias, sobre dias idos, atuais e futuros. Pode mesmo não despertar reflexão alguma, pode ser apenas um entretenimento. De fato não nos obriga a coisa alguma, a escolha é do expectador. E é aí que está a riqueza do filme. Recomendo.
O racismo se torna algo tão repugnante ao longo da narrativa (como a exigência de Hilly Holbrook de ter banheiros separados dos negros, com receio de pegar suas doenças) que leva o espectador a entrar no ringue, pedindo o extermínio daquelas mulheres fúteis e o surgimento de uma revolução pela igualdade racial/social. (Uma pulga atrás da orelha: banheiros social e de empregada do séc. XXI).  Crítica 1, clique aqui para ler mais.
Intensa, cheia de pungência, humor e esperança, “Histórias Cruzadas” é uma história eterna e universal sobre a capacidade de criar mudanças. crítica 2
Assim, é de forma extremamente íntima - como na necessidade de um banheiro separado para as empregadas ou no carinho que essas ajudantes sentiam pelas crianças brancas que criavam -, que somos apresentados ao atrasado estado do Mississipi em 1962.  Crítica 3
Histórias Cruzadas emociona, faz rir e provoca indignação ao mesmo tempo. É impossível criticar um filme que oferece um conteúdo tão rico e envolvente. Crítica 4
Imaginem minha surpresa ao me deparar com um leve e descontraído retrato de uma parte obscura da história humana, que por sinal, persiste até os dias atuais, porém camuflada. Crítica 5
SINOPSE
Mississipi, década de 1960. Skeeter acabou de terminar a faculdade e sonha em ser escritora. Ela põe a cidade de cabeça para baixo quando decide pesquisar e entrevistar mulheres negras que sempre cuidaram das "famílias do sul". Apesar da confusão causada, Skeeter consegue o apoio de Aibileen, governanta de um amigo, que conquista a confiança de outras mulheres que têm muito o que contar. No entanto, relações são forjadas e irmandades surgem em meio à necessidade que muitos têm a dizer antes da mudança dos tempos atingir.
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quarta-feira, 7 de março de 2012

Precisamos falar sobre Kevin

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Relações afetivas, familiares e sociais, psicopatia, adolescência, violência.
A primeira pessoa a indicar o filme foi a colega Sheila Prado, que tinha lido o livro e ficou bastante impactada com a experiência. Tratei de providenciar o filme, mas só pude assistir recentemente. Por meio dessa indicação, nossa colega Renata Rodrigues disse: ‘Sem sombra de dúvida, definitivamente foi o melhor thriller Psicológico que assisti nos últimos 12 meses! São inúmeras as questões suscitadas no decorrer do filme. São os pais os culpados pela conduta violenta de seus filhos adolescentes? O que acontece quando "bons" pais possuem filhos "ruins"? O que é a Psicopatia??? Significa que eles não são, de fato, tão bons quanto haviam imaginado?’ – É de fato um filme impactante e perturbador. Fiquei me perguntando sobre o quanto buscamos a razão de tudo. Dar uma explicação para o inexplicável nos deixará mais seguros? Escolho apenas descrever o que ainda não posso compreende. Explicar? Não tenho essa pretensão, perde-se muita energia tentando... Por agora, prefiro compartilhar diversos olhares e provocar cada leitor a experimentar a experiência de assistir ao filme.
A colega Sandra Picanço, sabendo do meu interesse por filmes, me indicou o artigo de Martha Medeiros, que compartilho a seguir.
BRITADEIRAS – Martha Medeiros (O Globo)
O filme "Precisamos falar sobre Kevin" não concorrerá ao Oscar, nem a excelente atriz Tilda
Swinton, mas uma cena já entrou para a categoria
das inesquecíveis — ao menos para mim.
Antes, informações: o filme é a adaptação do livro homônimo de Lionel Shriver. Quem o leu não esquece o soco no estômago. É sobre um garoto perverso que termina por promover uma chacina na escola. A história é narrada pela mãe, que conta sobre o susto que levou com o nascimento daquele filho que ela não identificava como uma bênção, sobre sua enorme dificuldade em contornar conflitos e a descoberta de que não é nada simples formar uma família feliz. É a desconstrução do mito da competência materna. Orientações bem-intencionadas podem não adiantar, nosso amor pode não ser bem transmitido, nossas atitudes podem não servir de exemplo. Existe algo tão influente quanto tudo isso: nossa dor interna. Ela contamina, ela comunica, ela desgraçadamente dá o tom das relações. O livro, tanto quanto o filme, é violento pela brutalidade dos sentimentos que ficam trancafiados.
A cena que me pareceu a mais simbólica e angustiante do filme mostra essa mãe com o filho ainda bebê — uma criança que não parava de chorar um minuto sequer. Não é incomum pais entrarem num surto de estresse com choro de crianças. Recentemente, um americano jogou o filho de uma lancha por ele não parar de chorar, assim como outros adultos já levaram suas crianças a óbito por total descontrole emocional.
No filme, a mãe não chega a esse radicalismo, mas está sempre a um segundo de explodir.
Então. Ela passeia por uma rua movimentada cidade com o bebê no carrinho. Ele chora. Vem chorando há dias. A mãe não dorme, não vive, apenas escuta o choro incessante da criança. Até que ela passa por trabalhadores que estão fazendo reparos em bueiros no meio da rua. Trabalho pesado, barulhento, infernal. Ela sai da calçada com o carrinho e chega bem perto do trabalhador que está perfurando o asfalto com uma britadeira.
Bem perto mesmo. Estaciona o carrinho ao lado da britadeira que faz um barulho torturante. Close em seu rosto: por um instante, ela tem o conforto de trocar o choro do filho por outro ruído que, aos seus ouvidos, soa como um solo de flauta. O breve enquadramento daquela mulher com o carrinho no meio da rua e o homem trabalhando com a britadeira a seu lado é um mix de desespero e poesia como raramente vi no cinema.
Quantas pessoas não desejariam quebrar uma perna se isso desviasse a atenção de uma dor de amor insuportável? Não é que a mãe de Kevin não aguentasse mais o barulho do choro: ela não aguentava mais o barulho da própria culpa por ser incapaz de cumprir o papel de mãe amorosa e abnegada daquele pequeno demônio de fraldas. O som da britadeira, ao menos, não tinha nada a ver com ela. Email: martha.medeiros@oglobo.com.br
Um filme perturbador, não apenas pela história em si mas pela inexistência de um motivo, seja ele qual for. Apenas a constatação de que a mente humana, que pode produzir tantas maravilhas, é também capaz das maiores atrocidades. Basta querer. Excelente filme. Leia mais clicando aqui.
Simbologia clara à Eva bíblica, em uma analogia cristã à “mãe de todos nós”, embora o filme não se embrenhe no campo religioso, a personagem carrega uma culpa dilacerante como uma mãe e como um ser humano prestes a explodir, como se sobreviver já se tratasse de um esforço superior ao que poucos seriam capazes de suportar após o grande trauma que a assola. (…) E nestes lapsos mostrando a trama em migalhas, como se estivesse em um pesadelo, deixamos com que nossa imaginação, mais cruel que a própria realidade, nos surpreenda e nos entregue o tão pesado epílogo. Brutal, cruel e sincero ao extremo, “Precisamos Falar Sobre o Kevin” prova que, entre tantas histórias da ficção que justificam a maldade, ela pode ser tão natural como o aquele pecado cometido pela Eva original e seu Adão no tal grande livro escrito há quase dois mil anos. Leia mais...
Eva (Tilda Swinton) é uma mulher que se vê no centro de uma tempestade de revolta por parte da população local que a culpam por não ter estabelecido limites, e de alguma forma permitir que o seu filho Kevin cometesse as atrocidades que culminaram na morte de inúmeros adolescentes. O fardo de Eva se inicia logo após o nascimento de Kevin. Eva percebe desde o início que deu a luz a uma espécie de Damien, um monstro ou psicopata, como queiram. O mal personificado. Sua penitência será conviver com Kevin. Não há justificativa para o comportamento do filho. Não há grandes traumas. Ninguém passou necessidades. Exceção feita à permissividade (John C. Reilly) com cara de otário o tempo todo, a propensão que o filósofo Kant apontava no ser humano como uma tendência intrínseca (assim como o bem) parece elevada ao grau máximo em Kevin. Mentiroso, manipulador, calculista, só interessado única e exclusivamente em seu próprio prazer. Se Eva tinha dúvidas entre ser mãe e se dedicar ao seu trabalho, ela certamente voltaria no tempo e não teria engravidado de Kevin. O drama e o sofrimento solitário de Eva são comoventes, pois viver com a culpa dos atos insanos do filho não é tarefa fácil. O pecado de "Eva", ou seja, de todas as mães do mundo beira o insuportável. Crítica, continue lendo...
Ao contrário do que se possa imaginar, Kevin não cometeu suicídio após perpetrar o terror em sua escola. Isso não seria, até mesmo, condizente com o olhar desafiador e arrogante que ele manteve por boa parte de sua vida. Ele calculou tudo direitinho. Ele queria ir para a prisão. Só não sabia, do alto de sua petulância, que condenaria também a sua mãe a uma espécie de prisão. O ato de covardia de Kevin é ainda maior porque não é ele quem tem que encarar as pessoas e o peso da culpa após cometer um crime. Este sofrimento cabe à sua mãe. (...) O filme é certeiro em analisar friamente cada ato e cada falha de Eva como mãe. Mas, é ela que permanece ao lado do filho no final. O roteiro passa a mão na cabeça do pai compreensivo, Franklin (John C. Reilly), até a última cena – fazendo até parecer normal que tenha sido ele a pessoa a estimular o hábito de arco e flecha do filho que se revelaria o modus operandi do crime que ele cometeu. Leia mais...
Kevin é o pesadelo em forma de criança/adolescente; é malcriado, mimado, dissimulado, grosseiro. Kevin é um caso sério, realmente precisamos falar sobre ele. Leia mais, clique aqui.
Baseado no incendiário romance homônimo da norte-americana Lionel Shriver, "Kevin" é um filme sobre a maternidade, sobre aquela velha falácia "ser mãe é padecer no paraíso". (...) O romance, que consiste em cartas de Eva para o marido após a tragédia, e o filme argumentam que nem toda maternidade é feliz. Eva, aparentemente, nunca quis ser mãe e isso se torna um fardo para ela. Mas teria Kevin nascido mau ou a criação de Eva e o excesso de permissividade de Franklin o teriam transformado num menino perverso? Não é um debate simples, e Lynne e seu corroteirista Rory Kinnear não se aventuram a esboçar uma solução - o que seria ingenuidade do filme. Nesse sentido, "Kevin" beira um estudo de caso, mostrando o que aconteceu com esse garoto - certamente outras pessoas, nas mesmas circunstâncias, agiriam de forma diferente. (...)A relação sempre tensa entre Eva e Kevin (quando adolescente, interpretado por Ezra Miller, da série de TV "Californication") é o que pauta a trama que transita entre o presente - quando ele está preso - e o passado - a vida em família antes da tragédia. Tal qual o romance, o filme descortina os fatos aos poucos. Entende-se logo o que aconteceu mas só mais tarde se compreende como aconteceu, suas dimensões e implicações. (...)A questão que, sabiamente, o longa levanta é: uma pessoa pode ser responsabilizada pelos atos de outra? Mesmo não sendo uma mãe-modelo, Eva pode ser culpada pelas atitudes do filho? Alguns personagens pensam que sim - muitas vezes, ela mesma se martiriza, embora tente levar uma vida normal (se é que isso seja possível após tal tragédia). (...)Este não é um filme fácil de se ver. E até pode gerar um sentimento de culpa. Leia mais...

SINOPSE
Eva (Tilda Swinton) mora sozinha e teve sua casa e carro pintados de vermelho. Maltratada nas ruas, ela tenta recomeçar a vida com um novo emprego e vive temorosa, evitando as pessoas. O motivo desta situação vem de seu passado, da época em que era casada com Franklin (John C. Reilly), com quem teve dois filhos: Kevin (Jasper Newell/Ezra Miller) e Lucy (Ursula Parker). Seu relacionamento com o primogênito, Kevin, sempre foi complicado, desde quando ele era bebê. Com o tempo a situação foi se agravando mas, mesmo conhecendo o filho muito bem, Eva jamais imaginaria do que ele seria capaz de fazer.
O filme começa com a situação atual de Eva Khatchadourian (Tilda Swinton, sempre ótima), uma mulher em depressão, desempregada, vivendo sozinha sem rumo em uma casa de uma pequena cidade, onde sofre com o ódio de alguns moradores. Nesse ambiente tedioso e extremamente melancólico, vemos o cotidiano de Eva se costurar, por meio de flashbacks, com um passado não tão distante.
Casada com Franklin (John C. Reilly), ela dá à luz a Kevin, o primogênito da família, que gera conflito entre mãe/filho desde o berço. A relação entre os dois permeia todo o filme, até atingir o ápice na adolescência do garoto, muito bem interpretado pelo jovem Ezra Miller. O nascimento da doce Celia (Ashley Gerasimovich) vem complicar ainda mais a convivência de Eva com Kevin, que se mostra um filho exemplar para o pai, indiferente diante das tentativas da esposa de alertá-lo com relação às maldades do adolescente. (...)Em uma edição primorosa, que entrega em doses homeopáticas as peças deste quebra-cabeça tenso e mórbido, “Precisamos Falar Sobre o Kevin” tem um tom de suspense crescente e constante. cinemacomrapadura.com.br/criticas
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quinta-feira, 1 de março de 2012

Tiranossauro

Tiranossauro
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Relações afetivas, familiares e sociais; violência, abuso, comportamento autodestrutivo, alcoolismo.
Uma colega querida me citou na seguinte mensagem do face book: Esse belíssimo e impactante filme contextualiza a natureza multifacetada de todos nós: somos anjos e demônios. As agruras são potencializadas com as rupturas de paradigmas. As aparências enganam. Na comunhão de anseios, na difícil acomodação entre egoísmo e altruísmo, uma forma de felicidade encontra sua forma de acontecer, e ela geralmente pede alguém para experimentá-la conosco. Percebo o cuidado e a forma competente que o diretor aborda a fragilidade e os desdobramentos de todo e qualquer tipo de relação humana! RECOMENDO MUITO!!!!!!! (Renata Rodrigues).
Diante do fato, Procurei o filme para assistir e compartilhar com vocês. “Tiranossauro” fala de pessoas e problemas que nos são tão próximos. As formas de existência que chocam em um primeiro olhar, mas que se aproximam de nossa realidade cotidiana. Os protagonistas podem ser nossos vizinhos, colegas de algum conhecido, ou, simplesmente existir em nossas fantasias ou pensamentos. Fato é que por mais chocante que nos pareçam, fazem parte de nossa humanidade. Joseph é se apresenta de forma assustadora a princípio, suas atitudes transparecem seu desgosto pela vida, e conseqüente comportamento de autodestrutivo. Um contraste evidente quando se trata de relacionar-se com uma criança ou com a própria Hannah. Aquele que parecia pouco humano, agressivo, “sem coração”, se revela, ao longo da trama, uma pessoa sensível. Nada é o que aparenta ser, logo ficamos cientes disso no desenrolar do enredo. Um olhar superficial nos engana, há mais dentro de cada um. O filme não aprofunda as questões que tornaram Joseph tão reativo, mas nos oferece a pista de ter convivido com muitas injustiças e viver um momento de ‘tolerância zero’ com tudo que o cerca. Hannah, por sua vez, tem diversas provocações à sua passividade. Sua doçura é desafiada diariamente através do abuso e da violência que lhe é imposta por seu marido. No momento de reagir se identifica com seu novo amigo, Joseph, e sua mais humana expressão da existência. É do inusitado que vislumbra a possibilidade de se arriscar a viver. É nessa relação que as possibilidades se desdobram, nos oferecendo oportunidade ímpar de refletir sobre nossos gritos e silêncios do dia a dia. Vale conferir!
Tiranossauro é mais sutil: é a palavra, o amor, que acaba encontrando unidade no poético mundo do caos. Encontrando um paralelo estrutural com o Contra a Parede de Fatih Akin, o filme inglês se sobressai ao utilizar o mundo cão de uma tragédia para estudar o retrato de um homem que, perdido na vida, encontra em outra perdição, a paz. Leia mais clicando aqui.
A potência do filme é arrebatadora, com seqüências que acompanham o público por longos minutos após o final da sessão (como a primeira aparição do marido abusador de Hannah), eterna nas expressões radicalmente sofridas de Mullan e de Olivia Colman. E essa sensação vale mais que qualquer pequena derrapada, pois como pode ser extraído do próprio filme, o erro é parte fundamental para o amadurecimento. Continue lendo.
“Tiranossauro” acompanha a lenta construção de um relacionamento entre o auto destrutivo Joseph e Hannah, vítima de violência e abusos. (...)Mullan interpreta um personagem que vê o fim da vida a aproximar-se, mergulhado na tristeza, um desespero que afoga nas constantes visitas ao pub e nas trocas de ameaças com os jovem da terra. (...)“É sobre o encontro de duas almas que vêm de estratos sociais diferentes, mas que descobrem uma amizade, que se compreendem e partilham a dor, algo que parece muito improvável porque a sociedade levanta muita barreiras. No filme, uma das vitórias é exatamente o facto da personagem da Olivia sentir-se confortável e à vontade com este homem que no inicio pensamos que é um indivíduo muito perigoso”. Leia mais....
SINOPSE
Joseph é um viúvo atormentado. Desempregado, violento e alcoólatra, ele passa a vida descontando sua raiva ao mundo. Um dia, porém, conhece a religiosa Hannah, dona de um brechó de caridade. Apesar das diferenças entre os dois, o jeito acolhedor de Hannah faz com que eles desenvolvam uma forte amizade. Casada, ela tem uma vida conjugal aparentemente normal, mas que esconde um marido agressivo e ciumento. Ligados pelo desamparo, Joseph e Hannah precisam encontrar um caminho para suas vidas. Vencedor do prêmio especial do júri de ator e atriz e melhor direção no Sundance Film Festival 2011.
TRAILER OFICIAL (Inglês)
Comentado em Portugal

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Meu nome é Khan

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Autismo, “Síndrome de Asperger”, Luto, preconceito etnico, diferença, violência, amor, perdas, superação, potencialidades.
SINOPSE
O filme “My Name is Khan” conta a história de Rizvan Khan, um indiano portador da síndrome de Asperger's, um tipo de autismo. Depois que se muda para os Estados Unidos, Khan se apaixona por Mandira, uma cabeleireira separada que vive com o filho Sameer (Sam). Khan é maometano e Mandira, hindu, mas suas diferenças religiosas não impedem que se casem. Os problemas começam com o 11 de Setembro, quando passam a ser atacados por sua origem étnica e devido a generalizações preconceituosas. Depois de sofrer bullying por parte de colegas, Sam é morto em uma briga, e Mandira, revoltada, culpa o marido, e lhe diz que ele só poderia voltar depois que dissesse ao presidente da república que ele não é um terrorista, e que o filho dela também não era. Rizvan interpreta isso literalmente, e empreende uma peregrinação para ter sua esposa de volta.

TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA
Madrugada, carnaval, ligo a TV e encontro o filme no telecine. “Asperger” me chama a atenção na sinopse, mas a intenção era apenas que me ajudasse a dormir e depois poderia procurar o filme para assistir com calma. Eu já estava com muito sono, no entanto fui despertada pela trama que me envolvia mais e mais, a cada momento. Acabei por ver o filme completo, às vezes chorando, às vezes rindo, mas completamente encantada. Ultimamente tenho me deparado com filmes indianos imperdíveis, este é um deles, recomendo! Trata-se de uma trama muito bem costurada que aborda assuntos diversos. A história de uma pessoa diagnosticada com Síndrome de Asperger, e sua forma de funcionar no mundo diante das mais diferentes dificuldades que encontra em seu caminho. Khan é também mulçumano e está incluído no grupo das pessoas boas, pois como dizia sua mãe “só há uma única diferença entre os seres humanos, as pessoas boas e as más”. Apesar dos obstáculos impostos por seu funcionamento, o amor de sua mãe o permitiu desenvolver suas potencialidades, tornando-o um adulto inteligente e habilidoso. Ao trabalhar com a venda de produtos para salão de beleza, Khan conhece Mandira, uma cabelereira por quem se apaixona. Logo que compreende o que sente, embora tenha dificuldade tanto de expressar sentimentos como de fazer contato, ele se emprenha em convencê-la a se casar com ele. Mandira têm um filho que aos poucos vai se tornando também filho dele, que acaba por registrá-lo como tal. A família se muda para Los Angeles, onde a esposa começa o próprio negócio, um salão de beleza, onde o casal segue trabalhando, construindo a família tão desejada por ambos. Até aqui, somos convidados a compartilhar momentos de alegria com essa doce e pura criatura e sua determinação e pureza de lidar com o mundo. A trama muda de tom e nos proporciona momentos de tristeza e perplexidade diante de todos os acontecimentos a partir de 11 de setembro.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O silêncio de Melinda

 
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Abuso, Adolescência, relações familiares, afetivas, sociais e terapêuticas, psicologia escolar, familiar e do adolescente.
A princípio, achei que fosse um filme sobre o universo adolescente. Afinal, guardando as devidas diferenças culturais, alguns dos dilemas da adolescência são universais. O que logo fica evidente na estória é a ambigüidade tão peculiar a esta etapa de vida. A necessidade de se diferenciar e, ao mesmo tempo, de sentir-se igual outros. A dicotomia é comum na mudança para o mundo adulto, pois há um ímpeto em querer ser “único”, se destacando na multidão, se opondo a tudo que lhe parecia até então “verdadeiro”. Por outro lado, há também a necessidade de se identificar com algum grupo que lhe dê um “lugar”, nessa fase que se entende como um “nada”, para algumas situações não é mais criança, para outras ainda não é adulto.
Pois bem, Melinda relata suas sensações a partir do primeiro dia de aula, com as reclamações que poderiam ser de qualquer aluno nesta fase. Aos poucos, vamos acompanhando com detalhes seus contatos com o universo escolar e começamos a desconfiar que a personagem seja vítima de bullying. Podemos acompanhar sua angústia diante de cada rejeição, cada fato que lhe causa dor. No desenrolar da trama, acontecimentos do ano anterior, aos poucos são revelados, nos fornecendo pistas sobre o que poderia ter causado, não apenas seu comportamento isolado, mas também o comportamento de todas as tribos que a rejeitavam.
Logo ficamos sabendo que os colegas a odeiam por ter chamado a polícia numa festinha do outro ciclo escolar, prejudicando muitos. Sua versão dos fatos começa a nos ser apresentada através de flashbacks, que nos revelam trechos dessa mesma festa. As relações de Melinda foram contaminadas. Fica clara a diferença entre a Personagem “enturmada” no passado e a que se revela isolada, sendo considerada “esquisita” por aqueles que não presenciaram a festa. Em casa ela dá sinais de que algo anda errado, tanto quanto no ambiente escolar, mas nem seus pais nem seus professores tentam descobrir o que de fato ocorre com a moça. Então, somos familiarizados com a origem de tudo: O galã da escola havia a estuprado na tal festa e na atualidade namora a sua ex-melhor-amiga. O silêncio de Melinda é também o silêncio de muitas que passam pelo mesmo episódio, faz parte de um comportamento padrão, quando a vítima é paralisada, fica confusa entre a culpa e a vergonha, sem conseguir elaborar o fato.
Então, o professor de artes, começa a dar espaço para a expressão de sua dor. Aqui, como no filme “Somos todos diferentes”, o professor de artes configura perspectivas da relação terapêutica. Ele estimula sua expressão a cada momento, dando espaço para que ela possa aos poucos se reconstruir, se integrando, organizando através da arte seu mundo dilacerado. Suas angústias vão sendo aos poucos enfrentadas, restando apenas o segredo do passado que implora por ser revelado.
Faço aqui um intervalo para chamar atenção sobre outras formas de comunicação. Pais e professores que conhecem o aluno podem perceber mudanças bruscas que tentam dizer algo. É certo que a adolescência em si caracteriza comportamento diferenciado, mas as bruscas mudanças estão sempre a serviço de comunicar algo. É preciso mais que ouvir palavras, o corpo e as atitudes também falam! Tente perceber as diversas tentativas desse “organismo” se comunicar no filme, seja o momento do pesadelo, ou de diversos outros movimentos. Em gestalt-terapia, nossa visão de homem abrange um “organismo em relação”, que é o conjunto do ser e sua forma de estar no mundo. O “organismo” comporta seu campo – configurado por todas as relações que influenciaram e permanecem na sua forma de estar no mundo agora. De acordo com essa visão, nosso organismo está sempre em busca do equilíbrio, da auto-regulação, buscando atender as necessidades do indivíduo.
Ao telefonar para a polícia, a intenção era denunciar o abuso que tinha sofrido. No desdobrar dos acontecimentos, a personagem paralisa, mais do que só o corpo, seu organismo tinha sido violentado como um todo. A cena do retorno para sua casa mostra o quanto está desnorteada e perdida, seu caminhar é vazio, segue no “automático”, sobrevive ao fato, funcionando de “forma disfuncional”, o silêncio serve a busca de auto-regulação, mas não atende a auto-realização, que é natural ao ser humano. A situação inacabada, assim considerada em gestalt-terapia, busca um fechamento satisfatório. A “forma” (=GESTALT) de funcionamento de Melinda denuncia uma situação inacabada, durante a fita, acompanhamos as diversas tentativas de ser concluída, sendo trazidas, aos poucos para sua consciência, como necessidade urgente. A expressão artística de suas dores vai abrindo espaço para contatar o mundo como é agora, se libertando aos poucos de cada trecho do passado que consegue elaborar, se aproximando de fato de sua “forma” de ser. A adolescente começa a fazer contato com o mundo, está pronta para ouvir a colega, quando lhe explica que:  para ela realmente tornar-se uma revolucionária, o silêncio não pode ser tão eloquente como seu discurso. A cena na qual Melinda cabula a aula, ilustra a emergência de sua necessidade de fechamento, quando ela reflete sobre a possibilidade de contar para alguém, qualquer pessoa...
Na trama, após um difícil comunicado – Melinda escreve para a amiga, pois ainda não consegue falar sobre o fato-, o autor do estupro busca silenciá-la através de uma segunda tentativa de estupro. Entretanto, não há mais silêncio no mundo da adolescente, existe reação por agora e por ontem. A menina está pronta para falar, assim a fita segue até o momento que a mãe oferece a opção do silêncio, ao que ela retruca, “Não, eu quero falar”. Desfecho com sabor de liberdade.
O filme é de fato sobre o estupro, sem perder de vista os dilemas do adolescente e suas possibilidades. Uma denúncia ao silêncio, tão comum em fatos semelhantes, o filme nos oferece a oportunidade de refletir sobre outros aspectos do universo familiar e escolar. Entre publicações sobre o filme, destaco os artigos a seguir, que merecem atenção:
SINOPSE
É o primeiro dia do primeiro colegial para Melinda, mas ela não se mistura à euforia dos corredores da escola, na verdade é como se nem estivesse ali. Isolada pelos amigos por ter chamado a polícia durante uma festa da galera, ela não consegue falar do terrível trauma que sofreu naquela noite, nem para as amigas, nem para si mesma. Mas decide tentar reencontrar sua voz e, finalmente, se expressar. O Silêncio de Melinda é um filme contundente e perturbador, adaptado do best seller "Speak" vencedor do prêmio New York Times.
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