terça-feira, 30 de outubro de 2012

O Monge

Poster de O Monge ASSUNTO
Dogmas religiosos, dualidade, incesto, culpa, segredo, relações sociais e sexualidade.
SINOPSE
2012 - Adaptação do famoso romance gótico por Matthew G. Lewis, publicado em 1796. “The Monk” conta a história trágica da scensão e queda de um monge capuchinho na Madri do século XVII. Abandonado ainda bebê nas escadarias de um monastério e criado segundo a rígida ordem dos capuchinhos, Ambrósio se tornou o pregador mais famoso do país. Enquanto grandes multidões vêm de todo os cantos para ouvir seus sermões impressionantes, o sucesso dele é amargamente invejado por outros monges do monastério. Convencido de sua virtude e retidão, o irmão Ambrósio acredita ser imune à tentação... Até que eventos misteriosos começam a aterrorizar o monastério. Seguro quanto as tentações e os poderes do Diabo, ele enfrenta a discordância para acolher Valério (Déborah François), vítima de um acidente, na instituição. Enquanto eventos misteriosos começam a acontecer no local, ele descobre que o jovem, que protege o rosto mutilado com uma máscara, tem o dom de aliviar a dor. Juntos, eles acabam formando uma sinistra parceria que mudará para sempre as suas vidas.
  TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Não é o estilo de filme que eu gosto e devo confessar que tentei assistir duas vezes antes de conseguir completar a façanha. Indicado por uma colega, que relatou como uma experiência fascinante, esforcei-me para apreciar algo no filme. Ainda que não tenha me causado nada próximo ao fascínio, compartilho alguns aspectos  percebidos.
Creio que o que pode ter me cusado certa resistência tenha algo a ver com a visão dualista entre o bem e o mal. Talvez, seja esse o maior mérito do filme, a insitência cultural/histórica em persistir em diversas formas de dividir o homem, causando infortúnios e transtornos até os dias atuais. O enredo destaca as virtudes de Ambrósio, que com ares de santo prega inflamados sermões que servem de exemplo para todo o vilarejo. O filme questiona certos dogmas religiosos retratando, na era medieval, a  vida de pessoas que eram dedicadas a uma entidade superior, negando o contato com o mundo exterior em nome de um único ideal. Usando diferentes personagens e seus comportamentos para tocar em temas/tabus como gravidez, desejo, paixão e até incesto, o filme revela a rigidez da fé sem limites. Ambrósio não sente nenhuma piedade, mesmo quando descobre a gravidez de uma freira e a entrega à madre superiora  para um sabido castigo. Vivendo sob extremo rigor e virtude absoluta, ele tem certeza de que sua vida está livre de qualquer pecado, até que o diabo decide tentá-lo.  Quando ele afirmava "Cada pecador comete o pecado a sua maneira", não previa que em seu caminho surgiria tentação, luxúria, culpa, penitência, e, até mesmo  um matricídio. Seu conflito logo se revela em torno da culpa acerca da delação da freira, da entrada de um noviço misterioso no monastério e na obsessão que tem por um sonho onde sempre vê uma mulher de véu. A mulher de vermelho de seus pesadelos simboliza a sua perdição, o desejo contido no seu interior, que está prestes a despertar e a desafiar sua fé. O monge descobre logo que também é carne. Aos poucos a tentação cresce, e os demonios interiores de Ambrosio atormentam-no cada vez mais, levando-o a deixar o seu lado negro tomar conta de si. O monge que era luz, se torna sombra. A trama nos faz refletir sobre nossas crenças atuais usando como metáfora tempos que ficaram para trás. A  inflexibilidade, diante de pecados inerentes a imperfeição humana, é tão nociva quanto a ruptura do homem em partes separadas, como a mente e o corpo, que somente quando vistos como um todo integrado podem dar ao homem a capacidade de fazer escolhas saudáveis. A forma de olhar o homem em apenas um de seus aspectos de forma rígida, ignorando outra parte do ser (seja o lado negro ou o lado iluminado), fará com que  fique partido, dividido, “des-integrado”. Sem descartar o tema central do filme, que versa sobre os dogmas religiosos, a rigidez, a crueldade e outros temas polêmico, destaco a visão de homem da forma dualista medieval como um ponto a ser discutido, visto que continuou a contaminar as gerações posteriores.

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