Atendendo em consultório particular em Copacabana e na Ilha do Governador, reflito sobre a influência dos filmes em minha trajetória, que foi atravessada pelo cinema em diversas fases. Ferramenta de auxílio para a compreensão de diversos conceitos, os filmes não só informam, mas são capazes de nos tocar, favorecendo assim, novas formas de lidar com nossas questões e conflitos.
Compartilho, então, alguns desses filmes.
Terceira idade, relações
familiares, afetivas e sociais.
SINOPSE
Quando Don Servando Villegas, patriarca mexicano de 85 anos,
é expulso de sua casa de repouso, seu filho mais novo Francisco o leva para
morar com ele. Don Servando está prestes a descobrir a verdade sobre o seu
filho e sua maneira de viver. O caçula na verdade mora em uma espaçosa casa com mais nove pessoas de diferentes partes do mundo e de todos os tipos, tem um relacionamento estável com Alma (Jacqueline Bracamontes) e é pai do jovem pintor Rene (Sérgio Mayer Mori). O filme está disponível na NETFLIX.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
A comédia mexicana explora as
relações familiares numa perspectiva bastante interessante. Temos Don Servando
Villegas, um velho ranzinza, frio, controlador e hostil com todos. Apesar de
lúcido, o senhor residia em uma clínica para idosos, onde só fez inimigos, até
ser expulso. Uma perda financeira o obriga a buscar acolhimento na casa dos
filhos. Aos poucos, descobrimos que sua personalidade o afastou de todos,
inclusive dos filhos, que negam recebê-lo, restando para o filho caçula a
difícil tarefa. A ilusão do bom velhinho, tão atrelada aos idosos, é
desconstruída já no início. O comportamento do personagem, ainda na
instituição, é tão insuportável, que dá vontade de desistir do filme. Já seu
filho caçula vive de uma forma bem diferente da informada ao pai,
bem distante dos princípios e regras ditados pelo patriarca...
Sexualidade,
terceira idade, relação afetiva, social e profissional.
SINOPSE
Curta-metragem indicado ao
Oscar de 23019. Uma mulher idosa e sua enfermeira desenvolvem uma amizade que a
inspira a descobrir desejos não reconhecidos e, assim, ajudá-la a fazer as
pazes com seu passado.
TRAILER
O
OLHAR DA PSICOLOGIA
O
curta-metragem encanta, ao apresentar a relação entre profissional e paciente,
de uma forma delicada e poética. Diferentes profissionais convivem com
pacientes terminais, em um processo delicado de fechamento de um ciclo. Não é
um trabalho fácil, considerando ao vínculo construído na relação, que sabemos, está
se aproximando do fim. Marguerite é uma senhora que escolhe não mais se submeter
aos tratamentos que exigem internação, ela quer seguir de seu modo, em sua casa,
enquanto seu corpo aguentar. Assim sendo, sua acompanhante faz o possível para
mantê-la confortável.
Adversidade, redenção, educação, inclusão,
exclusão, respeito às diferenças, respeito aos idosos, obstinação, perseverança,
amizade, preconceito, relações sociais e
afetivas.
SINOPSE
“The First Grader”, 2010, foi
lançado no Brasil em 2014 com o título “Uma lição de vida”, encontrado no
netflix como O ALUNO. Conta a história de Kimani Maruge, pessoa reconhecida
pelo Guiness book, o livro dos recordes, como o homem mais velho a ingressar
numa escola primária em todo o mundo. O filme inicia num vilarejo do Quênia, quando Maruge
(Oliver Litondo) ouve no rádio o anúncio da educação gratuita para todos. Não
tendo tido oportunidade de estudar no passado, o senhor de 84 anos – um
veterano da tribo Mau Mau que lutou para libertar o Quênia dos ingleses –
bate à porta da escola primária e espera uma chance de poder aprender a
ler. Rejeitado de início, ele não desiste: já de uniforme escolar e uma pequena
bolsa a tiracolo, volta a pedir por uma vaga e insiste até ser aceito pela
professora Jane (Naomie Harris). Em meio a lembranças do doloroso passado, o
ancião tem de enfrentar a revolta e as ameaças das autoridades, dos moradores
da região e dos pais dos alunos, inconformados por um idoso ter sido aceito em
uma classe de crianças de seis anos de idade.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
O filme é inspirador, particularmente para os
que desanimam diante dos obstáculos, é emocionante, sem precisar apelar para o
sentimentalismo, é histórico, pois conta parte da história que pertence a toda
humanidade, e, é também provocador, pois nos faz refletir sobre diferentes
temas. A experiência de vida de Maruge o motivou a buscar educação. Ele percebeu
a importância das letras ao receber documento enviado pelo governo e se ver
incapaz de compreender. Diante de si havia uma mensagem importante, como tantas
outras, ele precisava aprender, para decodificar não apenas aquela carta, mas
tudo o que o mundo lhe oferecia na forma de letras e números. Quando jovem, ele
lutara junto a um grupo extremista pela independência do país. Por conta disso,
fora preso e torturado antes de cair na miséria e no esquecimento. Ouvir que o
Governo oferecia educação “para todos” não seria suficiente. Maruge teve de
enfrentar a falta de vontade de autoridades locais, a desconfiança dos vizinhos
e a rixa tribal que ainda afligia o país. Foi preciso muita perseverança para
atingir seu objetivo, o que contaminou a professora Jane. Ambos são personagens
fortes, reais, que colocam a perseverança como base para se operar mudanças e
apontam a educação como a ferramenta principal para isso.
Terceira idade, processo de envelhescimento, relações sociais, potencialidades, relações familiares
SINOPSE
Dirigido por Gabriel Martinez e com argumento de Ruggero Fiandanese, o longa metragem Envelhescência relata a história de seis pessoas que vivem a vida de maneira plena e nos mostram, através de suas próprias experiências, que os costumes e a rotina após os 60 anos podem ser repletos de atividades e bom humor. Intercalado com comentários de especialistas (Alexandre Kalache, Mirian Goldenberg e Mário Sergio Cortella) o filme sugere uma nova perspectiva sobre o significado do envelhecimento em nossas vidas. Seis pessoas, todas com mais de 60 anos e idade, vivem de maneira plena a sua velhice. Ainda que com limitações físicas e adaptações à sua rotina, os idosos comprovam que os prazeres da vida não se esgotam, mas sim, se renovam.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
A quem pode incomodar ver uma senhora idosa que escolhe tatuagens por todo corpo? Talvez, às pessoas que estão presas a uma imagem congelada sobre o envelhecimento. Ainda há os que espera encontrar as vovós sentadas na cadeira de balanço fazendo croché, esperando a casa encher com os netos, etc. Entretanto, as idosas e os idosos do século XXI estão diferentes, em maior número e realizando diferentes atividades. Envelhecer não mais é sinônimo de esperar a vida acabar, muito pelo contrário, é tempo de se permitir viver, escolher novas formas sem se preocupar em agradar aos outros. A liberdade da terceira idade é exaltada no documentário, que apresenta um olhar atual sobre a vida. Apesar ou por razão dos limites já imposto pelo desgaste físico, a maturidade é também o momento de liberdade, de inaugurar outras formas de vivenciar o agora em sua plenitude, é hora de realizar, o tempo é já! Como dito por Miriam Goldenberg, há beleza na velhice e precisamos prestar atenção!! Os seis personagens entrevistados no documentário dão uma lição de vida, não só para os envelhescentes, para para qualquer ser humano que pretenda escolher viver, e, quem sabe ter o provilégio de chegar lá. Envelhecer com honestidade é olhar para o possível e não usar a velhice como desculpa para desistir da vida. Cada qual com suas experiências e escolhas, os entrevistados mostram diferentes formas de usufluir a plenitude da vida. Portanto, uma aula de vida para aqueles que não se permitem viver o próprio potencial, falamos também de jovens e adultos que ainda não chegaram lá, mas se acomodaram. É lindo assistir personagens reais que estão mudando esteriótipos encontrando novas perspectivas. Eles mostram que as limitações impostas historicamente são irreais, pois tudo é possível, nunca é tarde para mudar, para escolher, para realizar, para viver! Quebrando paradigmas, o documentário retrata novas possibilidades, enfatizando a aceitação da idade, não como um castigo, mas como um momento de liberdade, quando a experiência oferece suporte para novas e belas realizações. Vale muito conferir, recomendado para todas as idades!
Para quem tiver net, está disponível no now para aluguel, divirta-se!
Relações
familiares, afetivas e sociais, doença terminal. depressão, separação e morte.
SINOPSE
Doug e Abi decidem viajar
até à Escócia com os três filhos pequenos, para comemorar o aniversário de
Gordie, o pai de Doug, que celebra 75 anos. No entanto, os dois têm um segredo
que gostariam de esconder do resto da família, mas não será nada fácil ocultar
o divórcio com as crianças por perto… E o que prometia ser uma harmoniosa
reunião familiar acaba por trazer à superfície ressentimentos passados, quando
um dia na praia se transforma em tragédia e as crianças põem mãos-à-obra para
resolver o assunto.
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O OLHAR DA
PSICOLOGIA
Os
pais (Doug e Abbi) estão em processo de divórcio, não se ouvem mais, discutem o
tempo todo e fazem uma viagem juntos para comemorar o aniversário do pai de
Doug, na Escócia. As crianças, visivelmente afetadas pela separação e brigas
constantes dos pais, prometem não contar ao restante da família, que os pais já
moram em casas separadas. Elas sabem que o aniversariante está doente,
entretanto não sabem que a doença é terminal. A família, como qualquer outra,
tem lá seus segredos e problemas. Aos poucos, as questões emergem, revelando o
avesso do mundo adulto. Mas é o olhar das crianças que nos permite vislumbrar a
obviedade da vida. Temas como separação, depressão e morte são apresentados com
suavidade, sem que o peso e a complicação do mundo adulto, que usa o raciocínio
lógico para se afastar dos “sentidos”. É assim mesmo, as crianças mantém os
sentidos aguçados, vivem em plenitude as percepções de mundo, sem que qualquer
obstáculo racional impeça a experiência. E, são esses personagens graciosos os
responsáveis pelo encantamento e delicadeza da trama. Temos, de fato, muito que
aprender com as crianças! O avô, prestes a fazer 75 anos e enfrentando a doença
terminal, tem uma relação emocionante com os netos. Os diálogos são impregnados
de doçura e clareza, não há regra social capaz de obstruir a comunicação entre
eles.
Relações afetivas, familiares e sociais, terceira idade,
cinema, juventude, vida e morte.
SINOPSE
Fred (Michael Caine) e Mick (Harvey Keitel), dois
velhos amigos com quase 80 anos de idade cada, estão passando as férias em um
luxuoso hotel. Fred é um compositor e maestro aposentado, Mick é um cineasta em
atividade. Juntos, os dois passam a se recordar de suas paixões da infância e
juventude. Enquanto Mick luta para finalizar o roteiro daquele que ele
acha que será seu último grande filme, Fred não tem a mínima vontade de voltar
à música. Entretanto, muita coisa pode mudar.
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O
OLHAR DA PSICOLOGIA
Do que pode falar um filme que exibe o
título juventude e apresenta em seguida a imagem de corpos enrugados,
exatamente o oposto do que é anunciado? Paolo Sorrentino parte de opostos, e, com
um toque de ironia dá início a uma reflexão séria sobre a vida. Falamos de
opostos ou de partes de uma coisa só? As polaridades são o ponto de partida
para compreendermos um pouco mais sobre a necessidade de uma visão mais ampla
sobre integração, sobre aquilo que se completa e não são de fato opostos. Vida
e morte são parte da discussão, tendo em vista que passado, presente e futuro
são temas de dois amigos: Fred e Mick questionam a idade, a proximidade da morte e o
tempo, com reverência e aceitação. O que é juventude, afinal? Jovens que
desejam aparentar mais idade, idosos que querem rejuvenescer, onde está a vida?
Se no presente se vive o futuro e no futuro investimos a energia no passado,
onde fica o presente da vida?
Terceira idade, solidão, família disfuncional, adolescência, luto, relações afetivas, familiares e sociais.
SINOPSE
Rosa (Maria do Céu Guerra), uma professora reformada de 73 anos, recusa admitir que o seu marido (Nicolau Breyner) morreu e continua a vê-lo e a conversar com ele. Jó, que acabou de fazer 18 anos, foi expulso de casa. Os dois vão encontrar-se e iniciar uma improvável e terna história de amor. Um filme que fala sobre a solidão, do luto, da velhice e do encontro de duas pessoas de mundos tão diferentes. Jó vive com uma turminha que faz pequenos furtos, tem um pai alcoólatra e violento e sua mãe o abandonou. Ele está fazendo 18 anos e ninguém liga para ele. Rosa perdeu seu marido, seu grande companheiro e agora tem que enfrentar o genro que está de olho em seu apartamento para vendê-lo e sua filha que pensa que ela não pode mais viver sozinha, que precisa ir para um lar de idosos. É quando o destino vai unir estes dois e tudo pode ser diferente. Um belo filme.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Jó é um delinquente, proveniente de uma família disfuncional, abandonado pela mãe e sem suporte adequado do pai, que é alcoólatra. Rosa está em processo de luto, acaba de perder o marido e continua a dialogar com a imagem dele, que para ela permanece nos cômodos de sua casa. O jovem, ao fazer 18 anos, espera que alguém se lembre, lhe preparando algum tipo de surpresa ou dando-lhe algum presente. Rosa, na terceira idade, enfrenta o luto e a solidão. Como muitos em situações semelhantes, ela também precisa reafirmar sua autonomia, pois sua filha e genro programam vender seu apartamento e mandá-la para um lar de idosos. Se Jó se frustra com a pouca sensibilidade de seus pais no dia do seu aniversário, Rosa se decepciona ao perceber as intenções do genro em anular sua capacidade de decisão. O improvável encontro deles acaba por inaugurar um campo de suporte para o momento conturbado vivenciado por ambos. As diferenças permitem que ambos tenham a oportunidade de se deslocar daquele lugar, no qual estão neuroticamente aprisionados. Repleto de clichês, o filme não chega a ser uma obra prima, que aprofunde qualquer dos assuntos propostos. Entretanto, nos oferece, sim, boas oportunidades de reflexão.
Relações familiares, afetivas e sociais, terceira idade, senilidade.
SINOPSE
No Uruguai vive uma família pobre que é composta por um velho homem, que esquece as coisas e dá trabalho, por três crianças e uma mulher, a mãe, que cuida do pai e dos filhos, e é a única que trabalha. Cansada da jornada de trabalho e percebendo que não dá conta da situação, ela tenta ajuda com a irmã ou em um abrigo de idosos para o seu pai. Quando não encontra resposta para sua angústia, toma uma decisão drástica. Em um dia gelado, ela passeia com o velho em uma praça, diz que vai comprar água e volta logo, mas o abandona. Depois, ela liga para abrigos do governo para ver se alguém recolhe o seu pai, conseguindo assim, que eles sejam obrigados a acolhêlo. Só que não, seua planos são frustrados.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
O filme uruguaio dá um sôco no estômago, definitivamente, não é para qualquer público. Longe de ser comercial, a fita retrata a realidade nua e crua que pode ser vivida por diferentes famílias ao redor do mundo. Não falamos de uma questão estritamente uruguaia, falamos de uma realidade de qualquer país que não é capazr oferece suporte para a terceira idade. Talvez, o que mais choque, é saber que quanto mais o tempo passa, maior o número de pessoas idosas, e, menor o número de subsídios dirigidos para acolher os problemas enfrentados na velhice. O filme conta a estória de uma família monoparental (quando apenas um dos pais de uma criança arca com as responsabilidades de criar o filho e ou os filhos), que é sustentada por Maria, mãe solteira com três filhos. Trabalhadora, a dona de casa também acolhe em sua casa o pai idoso, que está senil e com a memória afetada. Por mais que deseje mudar de atividade profissional, Maria percebe que trabalhar em casa é sua única alternativa, para dar conta das necessidades do pai, que esquece até do próprio endereço. Ao deparar com as discrepâncias do sistema de suporte governamental, que não a considera pobre o suficiente para ter direito ao azilo público para o pai, ela procura a irmã, com a intenção de alternar a responsabilidade com o genitor. Diante também da recusa da irmã, ela se vê obrigada a deixá-lo em praça pública, com esperança de que assim ele seja recolhido para o abrigo. O restante da trama gira em torno das situações enfrentadas pelo pai, enquanto espera a filha retornar e dos momentos de Maria enfrentando as possíveis consequências de seu ato. Não é preciso 24 horas da permanência do idoso naquele local, para que emoções e situações diversas aconteçam.
Relações familiares, afetivas e sociais, terceira idade, luto
SINOPSE
Elsa (Shirley MacLaine) é uma mulher de idade que vive sozinha. Um dia, ela comete uma barbeiragem ao sair com o carro e quebra os faróis do carro de Lydia (Marcia Gay Harden), a filha de seu novo vizinho, Fred (Christopher Plummer). Revoltada com o ocorrido, Lydia exige que Elsa pague o conserto. O filho de Elsa (Scott Bakula) aceita cobrir os danos mas, ao entregar o cheque a Fred, Elsa lhe conta uma história triste que acaba convencendo-o a recusar o valor. Com o tempo, Elsa e Fred se aproximam cada vez mais, apesar do temperamento bastante diferente. Enquanto ela é cheia de vida, ele é rabugento e mal quer sair de casa.
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Elsa & Fred (2005)
SINOPSE
Fred (Manuel Alexandre) é um pacato senhor com quase 80 anos que se muda para um novo prédio, logo após ficar viúvo, e conhece Elsa (China Zorrilha) sua vizinha também com quase 80 anos. Ela, que sofre de grave doença, é muito atirada, otimista e comunicativa, e tenta viver intensamente cada dia, enquanto Fred é um hipocondríaco e quieto. Mesmo com essas diferenças, e pela insistência de Elsa, essas diferenças são superadas e juntos redescobrem o prazer de viver, a cumplicidade e a amizade.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Entre os temas presentes no filme está a dificuldade em superar o luto na viuvez. A perda de um ente querido, com quem foi compartilhada boa parte da vida, o que trás complicações para aquele que fica. Independente de a relação ter sido feliz, a interrupção de uma rotina partilhada pode levar a quadros depressivos. Muitas vezes quando há a morte de um dos cônjuges a família destitui o lugar daquele que está vivo, e dá pouco espaço para que o indivíduo possa elaborar seu luto. Para quem não sabe “Elsa & Fred” é uma refilmagem de um filme hispano-argentino de 2005. Infelizmente, apesar de ter um elenco extraordinário, confesso que gostei mais da interpretação e do roteiro do filme hispano-argentino. Além disso, a nova versão também modifica consideravelmente a personalidade dos protagonistas. Na versão argentina, Fred é um senhor viúvo, romântico, reflexivo, melancólico e muito, muito doce. Diferente da nova versão, que traz um Fred muito ranzinza e carrancudo, apesar do bom coração. A versão contemporânea tende mais para a comédia e o pragmatismo americano, tirando o encanto, a poesia, a reflexão delicada que a primeira oferece. Em todo caso, ambas discutem as dificuldades da terceira idade, o luto, a possibilidade de vivenciar o amor e as diferentes formas de enfrentar a vida e a morte.
Relações familiares, afetivas e sociais, filosofia, pré-adolescência.
SINOPSE
Paloma é uma menina séria e inteligente de 11 anos, decidida a se matar em seu décimo-segundo aniversário. Fascinada por arte e filosofia, a menina passa o dia filmando seu cotidiano, a fim de fazer um documentário. À medida que a data de seu aniversário se aproxima, ela conhece pessoas que a fazem questionar sua visão pessimista do mundo.
TRAILER (em espanhol)
O OLHAR DA PSICOLOGIA
O filme foi baseado no livro “L’Élégance du Hérissson”, a elegância do porco espinho. Arthur Schopenhauer expôs a parábola do porco-espinho, na sua obra Parerga e Paralipomena, como uma metáfora acerca dos desafios subjacentes às relações de intimidades dos seres humanos. Segundo o filósofo, para enfrentar um Inverno rigoroso um grupo de porcos-espinhos precisaram de se juntar para que pudessem aquecer-se mutuamente, de forma a enfrentarem o frio que os atingia. No entanto, terminada a aproximação, os porcos-espinhos começaram a afastar-se, pois os espinhos que cobrem os seus corpos (servem de defesa contra os predadores) tornaram essa mesma proximidade demasiado dolorosa de suportar. Mas como é que eles iriam encontrar a distância adequada de forma a se aquecerem sem se magoarem? O dilema do porco-espinho é um dilema humano. No filme, a pequena filósofa decide registrar aproximações a afastamentos existentes no universo a sua volta, antes de partir. A menina é parte de uma família disfuncional, onde o pai é um político ausente e a mãe, que toma ansiolíticos diariamente, cuida mais de suas plantas do que das filhas. Sim, ao considerar o vazio de sua existência, particularmente no que se refere a vida adulta que conhece, ela decide marcar a data de se retirar do mundo, que para ela não tinha sentido. Eis que surgem personagens que podem transformar sua visão de mundo.
Barbara (Julia Roberts), Ivy (Julianne Nicholson) e Karen (Juliette Lewis) são três irmãs que são obrigadas a voltar para casa e cuidar da mãe viciada em medicamentos e com câncer (Meryl Streep), após o desaparecimento do pai delas (Sam Shepard). O encontro provoca diversos conflitos e mostra que nenhum segredo estará protegido. Enquanto tenta lidar com a mãe, Barbara ainda terá que conviver com os problemas pessoais, com difíceis relações com o ex-marido (Ewan McGregor) e com a filha adolescente (Abigail Breslin).
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Que família é essa? Pergunta apropriada diante do encontro com personagens tão densos. Beverly é o pai, um professor, escritor aposentado e alcoólatra. Sua mulher é Violet, portadora de câncer, ela é viciada em medicamentos e tem a língua bastante afiada. De acordo com o próprio marido, o câncer na boca é uma ironia, tendo em vista a quantidade de veneno destilado por ela. Somos apresentados a ambos, no momento em que o mesmo contrata a índia Johnna, nos fazendo crer que seria para cuidar da casa e de Violet, devido à doença. O diálogo ilustra bem o quanto agressões verbais estão naturalizadas no convívio do casal. Violet já dá pistas sobre suas crenças, valores e sua forma de enfrentar não só a doença, mas também o envelhecimento. Ivy é a filha que está próxima, suportando o mau humor, a indiferença e o veneno mãe, que deixa clara a sua preferência pela filha Bárbara. A irmã tagarela de Violet é Mattie Fae, esposa autoritária de Charlie, um sujeito tranquilo, que de acordo com a cunhada, suporta há anos a esposa devido a quantidade de maconha que consome. O “pequeno Charles” é o filho do casal, que apesar de claramente desconsiderado pela mãe, conta com apoio e proteção do pai. Barb chega com Bill, pai da filha adolescente do casal. Logo, percebemos que há algo errado, também, na relação deste casal. Em repetidos momentos, Violet expressa seu incômodo com o distanciamento da família, principalmente em relação à Bárbara, que é considerada a “preferida” do pai. A batalha cruel de Violet tem munição de “culpa” suficiente para atingir Barb, que por sua vez, enfrenta a mãe de forma bem semelhante. Há cobranças de ambos os lados, embora Violet seja a que sempre cobra de todos de forma cínica, agressiva e cruel. O desaparecimento de Beverly promove o reencontro da maior parte dos familiares, só incluindo a filha Karen e seu atual parceiro após a morte do patriarca. Após o funeral, “pequeno Charles” se une a família, num jantar de luto. Aí, então, começam a emergir muitos conflitos familiares, entre segredos e revelações que irão tornar o jantar de funeral um verdadeiro caos.
Irlanda, 1952. Philomena Lee (Judi Dench) é uma jovem que tem um filho recém-nascido quando é mandada para um convento. Sem poder levar a criança, ela o dá para adoção. A criança é adotada por um casal americano e some no mundo. Após sair do convento, Philomena começa uma busca pelo seu filho, junto com a ajuda de Martin Sixsmith (Steve Coogan), um jornalista de temperamento forte. Ao viajar para os Estados Unidos, eles descobrem informações incríveis sobre a vida do filho de Philomena e criam um intenso laço de afetividade entre os dois.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Qualquer estilo de arte tem em sua construção algo do próprio autor, assim como aquele que entra em contato com a obra projeta seus conteúdos em sua forma de percebê-la. Assim, o encontro com a arte nos convida a produzir novos sentidos a cada momento. Há algum tempo, ando refletindo bastante sobre nossos “encontros autênticos” e sua importância, seja com a arte ou com as pessoas. De fato, estas formas de contatar nos permitem afetar e ser afetado. Quanto maior a diferença, maior a possibilidade de trocas que poderão transformar os envolvidos. Philomena é um filme que ilustra bem o fato. O encontro da religiosa e gentil senhora com o jornalista cético, de temperamento explosivo, irão de fato afetar a ambos em suas formas de funcionar no mundo. Philomena, apesar do sofrimento, manteve sua fé e ingenuidade, sem em nenhum momento parecer tola. Sua doçura contrasta com o humor seco e arrogante de Martin, o que não permite que a trama atinja um tom melodramático. Philomena dará a Martin uma grandiosa história jornalística e Martin proporcionará a Philomena o conhecimento que lhe falta. Ele é ateu, cético, sarcástico, irônico. Ela é religiosa, e, mesmo tendo motivos para questionar a igreja, não larga em momento algum sua crença; é ingênua, aparenta inocência, mas é guerreira e possui uma capacidade enorme de compreensão de mundo.
Psicologia do desenvolvimento, terceira idade, amizade, relações afetivas, sociais e familiares.
SINOPSE
Billy (Michael Douglas), Paddy (Robert De Niro), Archie (Morgan Freeman) e Sam (Kevin Kline) são amigos desde a infância e hoje são senhores de idade. Quando Billy, o solteirão do grupo, decide enfim pedir em casamento sua namorada de trinta e poucos anos, ele e os amigos resolvem viajar até Las Vegas para reviver a juventude e curtir uma tremenda despedida de solteiro. O que eles não imaginavam é que a Las Vegas atual seria bem diferente da cidade que eles conheceram décadas atrás.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Não é novidade a recente enxurrada de filmes com foco em personagens da “terceira idade” ou “Idade adulta”. Não é por menos, o aumento significativo da população de idosos vem compondo um público alvo cada vez maior. Em “Última Viagem a Vegas” o olhar é mais leve, e, vem trazendo uma versão simpática e divertida de um reencontro de velhos amigos. Uma das grandes sacadas do filme é a sede de viver que cada qual traz consigo. Tal viagem os oportuniza o resgate daquela juventude que habita no interior deles. Ainda que o corpo não acompanhe, logo fica claro que, no íntimo, todos permanecem jovens. O processo de envelhecimento não é encarado da mesma forma, o que fica evidente no filme.
Relações afetivas e familiares, paciente terminal, luto e conflitos relacionais entre pai e filho.
SINOPSE
Arthur é mal humorado, rabugento e de poucos amigos. Sua esposa, Marion, apesar de ser doente terminal, é o oposto: está sempre bem humorada, de bem com a vida e cercada de amigos que a adoram. Ele e o filho têm problemas de comunicação, o que preocupa a esposa, que tenta aproximá-los antes de partir. Marion faz parte de um coro que é pouco convencional, o marido discorda de sua participação, pois o considera como ameaça a sua saúde.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Já existem alguns filmes que discutem as relações familiares no momento de perda de um de seus membros. Atendendo ao pedido de nossa colega Denise Chagas, assisti ao drama. Neste, falamos de Marion, uma mulher vibrante que apesar de estar em fase terminal de câncer, esbanja energia. Seu amor pela vida fica evidenciado em cada esforço que faz para compartilhar do coro com os amigos. Seu marido, ao contrário, faz questão de se isolar ou exibir seu mau humor a qualquer momento. No entanto, quando cuida de Marion, ele exibe sua capacidade cuidar, sendo amoroso e carinhoso com ela. Já com o filho e com os amigos de Marion a coisa é diferente, ele é seco e muitas vezes ríspido. Seu comportamento pode sugerir a presença de ciúmes, melhor dizendo, da necessidade que ele tem de possuir o máximo da esposa antes de sua partida. A relação deles já é tão antiga que ambos se misturam no mundo. O tempo de convivência o fez esquecer-se de boa parte de si. Ele não sabe como funcionar sem ela e seu processo de luto o torna ainda menos tolerante.
Terceira idade, solidão, luto, segredos, relações afetivas, sociais e familiares.
SINOPSE
No dia em que a jovem Pauline lhe estendeu a mão para ajudá-lo a entrar em um ônibus, o viúvo inglês Matthew Morgan reencontrou a felicidade. Professor teimoso e de natureza ranzinza, ele repentinamente resgata sua curiosidade pela vida durante seus passeios em parques e viagens ao campo, sempre ao lado da bela Pauline. A nova relação renova em Matthew sua noção de família. Com isto, ele se reaproxima do filho Miles, que logo se sensibiliza com as mudanças visíveis no pai. Mas as consequências deste reencontro são imprevisíveis.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
O filme reúne alguns temas familiares, ao retratar a história solitária de um viúvo ranzinza que segue em processo de luto. Conflitos familiares, processo de envelhecimento, solidão e segredo famíliar estão presentes no longa. Desde a morte da esposa, Mathew, como tantos outros viúvos, sobrevive à perda de forma solitária e depressiva. Ele se isola do mundo, seguindo sua rotina. Seus olhos carregam tristeza, resta pouco ou quase nada do brilho de vida de outrora. Pauline, por sua vez, traz luz em sua forma de ser. No encontro de ambos, logo fica claro o quanto é possível trocar na diferença. Já de cara, a moça diz que aquele senhor faz lembrar o pai dela. Ele enxerga nela a figura da esposa que se foi, mas não necessariamente uma substituta. Eles compartilham a dor de terem e não terem uma família. Muitos viúvos e viúvas sentem-se perdidos no mundo depois da perda de seu ente querido. Após anos de compartilhamento de vida, é difícil sobreviver sem aquele que fazia parte do próprio universo. É comum ouvirmos relatos de companheiros que partem pouco tempo depois. Mathew já não conseguia ver sentido na vida, principalmente pela imensidão do único amor que conheceu e a quem dedicou todo afeto que pensava ter: sua esposa. Ele mesmo afirma não entender o que a amada esposa teria visto nele.
ASSUNTO Terceira idade, relações sociais, familiares e afetiva.
SINOPSE
Cissy (Pauline Collins), Reggie (Tom Courtenay) e Wilfred (Billy Connolly) vivem em um lar para músicos aposentados. Diversas personalidades famosas, hoje aposentadas, convivem juntas, treinando seus dotes musicais e relembrando os tempos de sucesso. Todos os anos a casa realiza um concerto para recolher fundos que permitem a sobrevivência da instituição. A celebração, é claro, é feita com apresentações musicais. Porém, quando Jean (Maggie Smith), ex-esposa de Reggie, integra a casa de repouso, a harmonia do local é quebrada. Enquanto os organizadores da festa veem na presença de Jean uma oportunidade única de refazer o famoso quarteto que interpretou Rigoletto, com Cissy, Reggie e Wilfred, a nova habitante recusa-se a cantar. As amizades e os amores de antigamente são questionados na tentativa de convencê-la.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
A inevitável proximidade da morte e a decadência física e psicológica na terceira idade é tema dessa comédia dramática. Ao reunir personagens tão glamorosos quanto os artistas aposentados, a trama pretende pincelar alguns possíveis dramas vividos na situação. De fato, nenhum assunto é aprofundado, nem mesmo a guerra de egos que esta possibilidade poderia causar. Seguindo a linha romanesca de Hollywood, o filme apresenta um final feliz para o casal. Entretanto, não podemos deixar de observar as pequenas sutilezas que dão liga às diversas situações. A falha de memória, os vícios, as possíveis ausências e presenças são elementos que suavemente atravessam a trama. De forma leve e despretensiosa, a trama nos convida a homenagear músicas e músicos, arte e artistas, e, principalmente, nos proporciona a agradável experiência de compartilhar a arte de viver. O filme é simpático e tem um elenco competente, confira!
Terceira idade, ninho vazio, processo envelhecimento, psicologia do desenvolvimento, sexualidade
SINOPSE
2011 - Adam (William Hurt) e Mary (Isabella Rossellini) são casados há 30 anos. Seus filhos já saíram de casa há bastante tempo e eles agora estão em uma fase calma de suas vidas. Os problemas de memória de Mary e a carreira de Adam, que já não é tão próspera quanto antes, fazem com que assumam que estão envelhecendo, o que faz com que se afastem um do outro cada vez mais.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Em psicoterapia de família, é hábito usar o termo “ninho vazio” para nomear o período no qual os filhos partem e o casal pode se ver só outra vez. Dependendo de como acontece, ambos ficam perdidos, configurando a ambiguidade deste momento, que por um lado é alívio por estarem finalmente sós, por outro a solidão se torna um vazio difícil de ser enfrentado. O “enfim sós”, antes um sonho, pode transformar-se em momento de crise familiar ou individual. Trata-se da mudança de ciclo previsível, que ocorre durante um espaço de tempo de mudanças que buscam a reconfiguração familiar, um período que pode ser longo ou curto, ocorra. No filme, o casal vivencia a crise ao mesmo tempo que também enfrentam o processo de envelhecimento. Cada qual encara a crise com sua forma peculiar de ser, da melhor forma possível, de acordo com o histórico pessoal que lhe dá as ferramentas próprias. Lapsos de memória já ocorrem com Mary, o que a faz perceber o quanto precisam se preparar para o processo de envelhecimento que já dá sinais. Adam, pelo contrário, se recusa a perceber que está envelhecendo. Diante da possibilidade de realizar um projeto para um lar de idosos, ele reage em desacordo, a negação é visível. No lugar disso, prefere investir em um projeto junto aos jovens estagiários, o que o faz sentir-se jovem. As diferentes formas de enfrentar o momento acabam por afastá-los, mas não por muito tempo.
Terceira idade, relações familiares e afetivas, cuidado, AVC, processo de envelhecimento.
SINOPSE
Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva) são um casal de aposentados, que costumava dar aulas de música. Eles têm uma filha musicista que vive com a família em um país estrangeiro. Certo dia, Anne sofre um derrame e fica com um lado do corpo paralisado. O casal de idosos passa por graves obstáculos, que colocarão o seu amor em teste
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Tudo tem dois lados na vida, não canso de repetir isso. Pois bem, o que falar do amor? Como pode ser amor sem aquele tom meloso ao qual estamos acostumados? Quando falamos de um livro ou filme com tal título, logo criamos a expectativa de ver alguns obstáculos serem vencidos por um casal, que no final trocam carícias e declarações até ser concluído com a famosa frase “E foram felizes para sempre”. Antes que recriminem minha afirmação, me antecipo lembrando que existem também romances que acabam em tragédia, como “Romeu e Julieta”. Entretanto, também neste romance somos brindados com muitas cenas melosas que ilustram o amor que nós estamos acostumados a ver como tal. Não me recordo de qualquer obra que fale do outro lado da moeda, que fale de amor sem recorrer às cenas românticas, recheadas de trocas de beijos apaixonados e declarações de amor. O cotidiano de um casal, todos sabem, ultrapassa e muito o final feliz dos contos de fadas. Muito já se questionou sobre o que vem depois da união feliz, principalmente quando falamos do cotidiano de duas pessoas, antes estranhas, que trazem histórias de vidas diferentes, com valores, crenças e famílias de origem distintas. Ainda assim, muito já se apresentou em filmes e livros sobre encontros e desencontros do amor. No entanto, devo destacar que o filme AMOR nos apresenta o outro lado da moeda deste tema. Estamos falando de toda uma vida compartilhada, e, do que acontece quando a vida está perto do fim.
Luto, sexualidade, terceira idade, solidariedade e amizade.
SINOPSE
2010 - Na região da Grande Paris, vivem os casais Jean e Annie (Guy Bedos e Geraldine Chaplin) e Albert e Jeanne (Pierre Richard e Jane Fonda) mais o viúvo paquerador Claude (Claude Rich). Eles são amigos há décadas e, embora felizes, os sinais da idade começam a aparecer. Jeanne tem um câncer terminal, mas decidiu não contar a Albert, que já apresenta lapsos de memória. Claude, afeito a transas com garotas de programa, não possui o mesmo coração da juventude. Parte, então, de Jean e Annie, ambos com a saúde em dia, a proposta de todos morarem juntos na casa deles. Além da ajuda mútua, a vida comunitária permite a troca de experiências e um contato diário próximo. O grupo contrata um jovem alemão (Daniel Brühl) para auxiliá-los. Para um ator idoso, deve ser um prazer imenso interpretar um ótimo personagem principal. Com gosto e rugas no rosto (exceto a esticada Jane Fonda), o elenco mostra-se afinado e com fôlego de sobra. Entre a graça e a morte iminente, o diretor e roteirista Stéphane Robelin comanda seu segundo longa-metragem sem choro nem vela. Prefere fazer um registro real da velhice oferecendo reflexões prudentes e comoções contidas.Retirado da veja, leia mais.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Existem alguns assuntos que permanecem como tabus, principalmente quando falamos de sexo e morte. Permanece muita distorção na exploração dos temas. Quando o ponto é sexo, por exemplo, ainda há uma distância grande entre a realidade dos fatos e a as estórias “de pescador” que são propagadas. Quanto à morte, evitamos a todo custo tocar no assunto, apesar de ser a única certeza que temos desde o nascimento. É, parece que tudo que é óbvio, também assusta. No entanto, o filme ousa discutir estes tabus com bom humor, sem perder de vista a realidade. É um filme que sinaliza o que é inevitável: o ciclo final da vida e a morte. “Velhice”, “terceira idade”, “boa idade” são os termos usados para nomear o ciclo que mais tem alterado as estatísticas, pois a expectativa de vida tem atingido um crescimento até então inimaginável. Novas demandas exigem novas configurações que possam atendê-las.
Já aposentados, sete ingleses, até então desconhecidos (Bill Nighy, Maggie Smith, Judi Dench, Tom Wilkinson, Penelope Wilton, Celia Imrie e Ronald Pickup), são aliciados a viver o resto dos seus dias num suntuoso hotel na Índia. Uma vida luxuosa a um preço acessível, segundo a agência que lhes vende o pacote. Porém, lá chegando, descobrem que o antigo palácio, agora transformado Hotel Marigol, já não tem o esplendor do passado. Desiludidos e sentindo-se enganados, os sete revelam algumas dificuldades em adaptar-se a uma cultura totalmente diferente da sua. Porém, será ali mesmo, com a preciosa ajuda do jovem indiano Sonny (Dev Patel), que cada um descobrirá que não existe idade limite para redescobrir a alegria de viver.
(...) eles serão transformados por suas experiências compartilhadas, descobrindo que a vida e o amor pode começar de novo quando você deixar de viver no passado. Cinema 10 - leia mais clicando aqui.
A chegada à Índia fará com que cada personagem se aproxime cada vez mais, enfrentando – ou se refugiando – de todas as diferenças que envolvem as díspares culturas: caos, pobreza, fé, culinária, poluição, clima, entre tantos outros. E o convívio dos acolhedores e solidários indianos será capaz de quebrar a barreira dos reservados britânicos em um filme que toca de forma delicada e sincera em temas como morte, solidão e amizade, além da chegada à velhice aliada ao confronto direto com o próprio passado, presente e futuro. Politicamente falando, o longa ganha ainda mais créditos ao nos colocar diante de britânicos e indianos convivendo em harmonia. Afinal, o passado recente da colonização britânica na Índia, que durou quase um século de conflitos. A ideia de mostrar personagens diferentes que acabam por descobrir mais um sobre o outro já rendeu numerosas obras, mas “O Exótico Hotel Marigold” faz isso com uma qualidade acima da média. Cinema com rapadura, crítica completa aqui.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
A falta de perspectiva ou as questões inerentes à idade desses aposentados são a motivação necessária para que realizem essa viagem para um luxuoso hotel com custo baixo. Suas expectativas giram em torno de tudo aquilo que era oposto ao que viviam, ou seja, conforto, luxo e lazer. Entretanto, encontram um hotel decadente e precário. Foram seduzidos com visões de uma vida de lazer, mas chegam para encontrar no palácio um espelho de suas vidas. É exatamente este o ponto que dará início à jornada pessoal de cada um dos personagens.