ASSUNTO
Relações familiares, afetivas e sociais, terceira idade, luto
SINOPSE
Elsa (Shirley MacLaine) é uma mulher de idade que vive sozinha. Um dia, ela comete uma barbeiragem ao sair com o carro e quebra os faróis do carro de Lydia (Marcia Gay Harden), a filha de seu novo vizinho, Fred (Christopher Plummer). Revoltada com o ocorrido, Lydia exige que Elsa pague o conserto. O filho de Elsa (Scott Bakula) aceita cobrir os danos mas, ao entregar o cheque a Fred, Elsa lhe conta uma história triste que acaba convencendo-o a recusar o valor. Com o tempo, Elsa e Fred se aproximam cada vez mais, apesar do temperamento bastante diferente. Enquanto ela é cheia de vida, ele é rabugento e mal quer sair de casa.
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Elsa & Fred (2005)
Fred (Manuel Alexandre) é um pacato senhor com quase 80 anos que se muda para um novo prédio, logo após ficar viúvo, e conhece Elsa (China Zorrilha) sua vizinha também com quase 80 anos. Ela, que sofre de grave doença, é muito atirada, otimista e comunicativa, e tenta viver intensamente cada dia, enquanto Fred é um hipocondríaco e quieto. Mesmo com essas diferenças, e pela insistência de Elsa, essas diferenças são superadas e juntos redescobrem o prazer de viver, a cumplicidade e a amizade.
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Entre os temas presentes no filme está a dificuldade em superar o luto na viuvez. A perda de um ente querido, com quem foi compartilhada boa parte da vida, o que trás complicações para aquele que fica. Independente de a relação ter sido feliz, a interrupção de uma rotina partilhada pode levar a quadros depressivos. Muitas vezes quando há a morte de um dos cônjuges a família destitui o lugar daquele que está vivo, e dá pouco espaço para que o indivíduo possa elaborar seu luto. Para quem não sabe “Elsa & Fred” é uma refilmagem de um filme hispano-argentino de 2005. Infelizmente, apesar de ter um elenco extraordinário, confesso que gostei mais da interpretação e do roteiro do filme hispano-argentino. Além disso, a nova versão também modifica consideravelmente a personalidade dos protagonistas. Na versão argentina, Fred é um senhor viúvo, romântico, reflexivo, melancólico e muito, muito doce. Diferente da nova versão, que traz um Fred muito ranzinza e carrancudo, apesar do bom coração. A versão contemporânea tende mais para a comédia e o pragmatismo americano, tirando o encanto, a poesia, a reflexão delicada que a primeira oferece. Em todo caso, ambas discutem as dificuldades da terceira idade, o luto, a possibilidade de vivenciar o amor e as diferentes formas de enfrentar a vida e a morte.
Na versão americana o envolvimento do casal é muito repentino, com mudanças drásticas, de negação para aceitação num piscar de olhos, promovendo um vazio ao retratar de forma rasa tão linda estória de amor. Grosso modo, ambos irão apresentar o encontro de opostos, principalmente no que se refere à vida. Enquanto Elsa é vibrante e de bem com o que lhe resta de vida, Fred é aquele que se esconde, se isola, se afasta de tudo que tem vitalidade, seja com a falta de humor - na segunda versão ou com a hipocondria - evidenciada na primeira. O fato é que o brilho da vida está longe dele. Em ambos os casos, Fred não parece se importar ou achar graça do que a vida pode oferecer. Elsa é diferente, entre a fantasia e a realidade, ela decidiu colorir a sua vida, e, de alguma forma, poderá colorir também a vida de Fred. Nas relações familiares, o filme retrata situações conhecidas de muitos idosos, que são tratados como inúteis em algumas ocasiões, como se a idade tivesse os tornado incapazes, favorecendo a exploração financeira daqueles mais velhos que contam com algum recurso. De fato, muitos herdeiros pensam que os idosos não têm com o quê gastar além de remédios, eles acreditam que os mais velhos não podem mais sonhar, viajar ou amar. Muitos encaram os idosos, principalmente na cultura ocidental, como se estivessem à espera da morte, e, mais nada pudessem realizar no mundo, a não ser vivenciar o papel de avós. Essa é outra provocação sutil do roteiro. Felini é convocado através das lembranças de Elsa, trazendo cenas inesquecíveis do filme A doce vida – cuja atriz principal faleceu recentemente, em janeiro de 2015. Sonhos e realidade se misturam no jeito descontraído de Elsa viver, encantada com o que ainda pode realizar, sempre com otimismo e bom humor. Assim, o encontro de pessoas tão opostas promove o verdadeiro contato, transformando a visão de mundo, de momento, de vida e de morte. A urgência de viver o momento presente é tema central da obra, que apesar de retratar o período tardio de vida, nos faz refletir sobre o quanto é importante vivermos com intensidade o momento presente, independente da idade. Afinal, “para morrer basta estar vivo”. Mais do que fazer com que reformulemos nossa ideia de velhice, o filme, principalmente na versão hispano-argentina, resgata a ternura, enfatizando a importância de vivermos a intensidade do momento, ainda que para isso algumas regras sociais possam ser violadas. O equilíbrio entre as convenções sociais e o termômetro interno e existencial de cada um pode ser reavaliado com carinho. Afinal, vivemos no mesmo mundo, mas a forma de perceber ou viver nele é escolha de cada um. A verdade de Elsa é a que ela escolhe, contagiando Fred em seu universo de mudanças, fantasias, sonhos. O encontro da previsibilidade com o inesperado tras novas possibilidades, afinal, o amor não é porquê, mas sim, apesar de. Não perca, sem esquecer da primeira versão, tudo fará mais sentido, no que se refere ao SENTIR. Confira!
PÉROLAS
VERSÃO 2014
VERSÃO 2005
IMAGENS
Oi vc tem o filme versão Argentina pra me mandar ?
ResponderExcluirLamento, não tenho. Sugiro que procure no Google. Boa sorte!
ExcluirMuito bom seu texto! Obrigada!
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