domingo, 4 de janeiro de 2015

Um certo olhar

clip_image002ASSUNTO
Autismo, aceitação, diferenças, amizade, relações afetivas, familiares e sociais.
SINOPSE
Alex (Alan Rickman) é um taciturno inglês que está no Canadá para se encontrar com a mãe de seu falecido filho. No caminho ele dá carona para Vivienne (Emily Hampshire), jovem que vai visitar a mãe. Na viagem um caminhão atinge o carro, matando Vivienne. Alex sai então à procura da mãe da jovem. Ao encontrá-la, descobre que ela (Sigourney Weaver) é autista. Linda não tem qualquer reação ao saber da tragédia, mas Alex decide ficar com ela até o funeral. É quando ele conhece Maggie (Carrie-Anne Moss), a vizinha sexy com quem se envolve.
Linda
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O OLHAR DA PSICOLOGIA
Mais do que falar sobre autismo, o filme oportuniza uma bela reflexão sobre nossas neuroses de cada dia. Explico melhor: Linda, uma autista de altas habilidades, a todo tempo sinaliza a obviedade da vida dos que são considerados “normais”. Um bom exemplo acontece quando ela repete, para seu hóspede “normal”, a frase: “perfecto mondo”. Ou seja, que normalidade é essa, na qual “fantasiamos” controle social de todos os nossos atos, ao considerar perfeito determinado padrão. Quer dizer, para ser socialmente aceito, o homem “normal” precisa se comportar de forma pouco autêntica?!?!? Quanto mais “polido”, menos autêntico e, ainda chamamos de patológico aquele que não consegue mentir, que é objetivo, autêntico e real. Sim, nossa neurose é politicamente correta! A vida é assim. Pois bem, nossa querida Linda nos mostra muito sobre o valor das pequenas coisas. Dentro de sua forma de funcionamento peculiar, ela revela o quanto perdemos contato com as pequenas coisas que poderiam fazer mais “sentido”. Tal qual sua filha, que era apaixonada pela singularidade da mãe, Alex descobre o encanto daquele ser, que além de aceitá-lo, pode ensinar muito sobre o quanto vida pode ser simples. Aliás, a filha já tinha sinalizado sobre o isolamento dele, sobre a evidência de sua solidão, um comportamento humani que a seduzia. Para a menina, as pessoas solitárias precisavam resgatar o contato com o mundo, assim, ela se candidatava ao lugar de facilitador desse processo. Escolher se aproximar de pessoas assim era para ela uma aventura. Ela dá o pontapé inicial para o melhor aprendizado que Alex pode ter, ou seja, aprender sobre sua capacidade de escolha. Nossa capacidade de escolha inclui o que fazer com o que fizeram de nós, podemos sair do lugar de “vítima das circunstâncias” e escolher fazer algo com a situação.
Temos, na fita, a ilustração do conceito ACEITAÇÃO, seja das diferenças e/ou dos próprios limites. As características autistas são apresentadas com clareza, descrevendo o que realmente pode ocorrer com o autista. Nesse aspecto, o filme é didático, pois apresenta como o mundo se revela para os autistas, sem que se perca de vista as peculiaridades do caso de Linda. O quadro de autismo é considerado um transtorno do desenvolvimento e pertence ao grupo dos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (TID). Dentre os padrões comportamentais do autista, temos o prejuízo severo e invasivo no desenvolvimento de habilidades de comunicação verbal e não verbal, com prejuízo das habilidades sociais, e, a presença de interesses restritos, podendo apresentar atividades estereotipadas. Como outros autistas, Linda não consegue manter contato visual direto e não tem interesse em se relacionar com colegas de trabalho ou vizinhos. Além disso, como pode ser visto no filme, há dificuldade em reconhecer expressão facial das emoções e de também de lidar com as próprias emoções ou expressar emoções. Quando recebe a noticia da morte da filha e a outra quando tem de fazer o reconhecimento do corpo do necrotério, Linda revela sua dificuldade. Nas duas situações, Linda não sabe como se portar e não esboça nenhum tipo de reação emocional. Conforme ilustrado no longa, o autista desenvolve um comportamento social após aprendizado, não se trata de uma habilidade desenvolvida. Linda mostra isso ao tentar se comportar socialmente, repetindo comportamentos aprendidos, como no exemplo de oferecer chá para Alex. Fica claro que seu comportamento foi aprendido e treinado, não se trata de observar e tentar atender a necessidade do outro. Para Linda, alterações em sua rotina geram repostas emocionais intensas. A sua forma de perceber e tentar compreender o mundo que a cerca, nos faz refletir também sobre as dificuldades enfrentadas por aqueles que funcionam de forma diferenciada dos considerados “normais”. Todo comportamento de Linda é óbvio, diferente de Alex, que em seu comportamento isolado, como bem observado por Vivienne, esconde s conflitos existenciais que a trama irá revelar. No final das contas, o contato com Linda fará Alex simplificar a vida. Delicado, didático e natural, este simpático longa-metragem nos brinda com lições caras sobre o amor, a autoaceitação, a amizade, o luto e muito mais. Confira!





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