segunda-feira, 23 de março de 2015

Clube de compras em Dallas

Clube de Compras Dallas
ASSUNTO
Indústria farmacêutica, AIDS, homofobia, preconceito, relações familiares, afetivas e sociais, perseverança.

SINOPSE
Baseado em uma história real, o filme se passa na década de 1980 e retrata o dia a dia do eletricista texano Ron Woodroof após ser diagnosticado com o vírus da AIDS. Em uma batalha contra a indústria farmacêutica e os próprios médicos, Ron procura tratamentos alternativos e passa a contrabandear drogas ilegais do México.

TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
A “doença maldita” era sinônimo de fim, degradação, preconceito e muito mais, estamos falando da epidemia da AIDS, que em seu início representava o mal do século.  O filme retrata a realidade cruel de mulheres e homens debilitados e segregados, que lutaram sozinhos contra o sistema. Embora pensassem que AIDS era a doença dos homossexuais, logo foi possível perceber que não era bem assim. Ron era homofóbico, como muitos dos amigos dele, mas também era viciado e promíscuo, sendo também vítima da doença. Sexo, apostas e drogas faziam parte de seu cotidiano, tudo ocorria sem limite ou seleção. O caipira eletricista não esperava que algo semelhante lhe pudesse acontecer. Descobrir-se contaminado foi difícil de aceitar, tornando sua trajetória mais verdadeira. Logo, ele descobre o preconceito, não só em relação ao HIV, mas também duplamente enfrentado por aqueles que são transexuais ou homossexuais. Enfrentar a doença, que segundo os médicos lhe dá 30 dias de vida, se torna um desafio diário. Então, só depois de ultrapassar o período de negação, que ele vê no fim da estrada,  um poço que parece sem fundo, mas não é. Suas crenças e valores são desafiados e afetados durante o processo de confronto com seu destino anunciado.
Descobrir mais sobre as medicinas alternativas fazem com que o inescrupuloso vaqueiro Ron tenha uma visão comercial de tudo, favorecendo o tráfico de drogas para os que precisassem. Mas, definitivamente, o lucro não era seu único objetivo. Enfrentar os limites impostos pela indústria farmacêutica se torna relevante para ele. Devo destacar Ron se revela um protagonista asqueroso, grosso, nada agradável. Durante o processo em busca de lucro, ele acaba por se desconstruir, transformando-se em uma pessoa melhor. Há também que se destacar o trabalho dos atores principais, que embora conhecidos, eu mesma demorei a reconhecer, tamanhas as diferenças de peso, postura, etc. O filme retrata o início da epidemia, quando a doença era considerada como sinônimo de homossexualidade ou drogas injetáveis. Nos estados Unidos uma nova droga era testada, o AZT. Seus efeitos colaterais  eram ignorados pela indústria farmacêutica, pois sua eficácia era testada no sentido de acabar com a AIDS, ignorando os sintomas que levavam a morte. A promiscuidade e ganância de Ron não diminuem sua luta, que denuncia uma questão sempre atual, quando falamos de indústria farmacêutica, é bem conhecido seu poder de controle e descontrole em qualquer lugar do planeta. O fato do protagonista não ser apresentado como ‘vítima’ traz uma perspectiva atraente, tendo em vista que  mostrá-lo humano, promíscuo, viciado, irresponsável, não faz a indústria farmacêutica parecer melhor. Nosso anti-herói se revela mais eficiente do que as grandes organizações, quando se trata de buscar o melhor para a sobrevivência dos infectados. Como dito pelo juiz de sua causa, “todo paciente terminal deveria ter o direito de escolher como morrer, o que aceitar ou não como tentativa de cura”. Infelizmente, as instituições e leis nem sempre permitem. O sistema de poder sempre estará ditando as regras do jogo. Se assim é, o lucro do protagonista passa a valer cada centavo, principalmente, por sua busca insana do que há de melhor em todo o mundo. E o que dizer de seu sócio travesti? Além da atuação impecável de ambos, o dilema de Rayon vai para além do vício, da doença e da transsexualidade. Estamos falando das relações familiares, aliás, da não aceitação dele em sua singularidade dentro de seu meio de origem. É de emocionar qualquer um. Infelizmente, quando o filho não corresponde ao sonho dos pais, pode ser desprezado, abandonado e ficar no desamparo, sem a confirmação da própria identidade. A luta de ambos os fará amigos,  são pessoas despidas de máscaras sociais, que se tornam humanamente amigos. O filme é uma mensagem de esperança, de perseverança, de prioridades, exaltando a vida no lugar da morte anunciada. Vale a pena conferir!
Recomendo também a leitura do artigo de Pablo Vilaça, que apresenta aspectos muito bem elaborados sobre a trama, além de exaltar o trabalho artístico do ‘longa’. Leia o artigo completo  clicando aqui.

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