ASSUNTO
Relação terapêutica, suicídio, luto, relações afetivas, sociais, drogas
SINOPSE
“O psicólogo”, protagonizado pelo sempre brilhante Kevin Spacey, parte do princípio de que algumas vezes o mundo é mesmo pequeno, e logo no início são apresentados os personagens que pouco a pouco estarão mudando o rumo das vidas uns dos outros. O Dr. Henry Carter é um conhecido psicólogo de celebridades em Hollywood, lugar onde cresceu e se estabeleceu. Ele é o autor de alguns best-sellers, incluindo um livro sobre a felicidade, que agora está gravando como um audiobook. Neste livro de sucesso, Carter oferece, por assim dizer, a sua receita de felicidade. Entretanto, ele nos é apresentado de uma forma bastante incômoda, pois tem vivido sob o signo do suicídio da esposa. Embora tenha uma rica e confortável residência, cheio de conflitos em sua vida particular, ele não dorme em sua antiga e bonita cama de casal; uma cena comum é a dele esticado em algum sofá, cadeira, divã, etc. Apesar de ter muitas pessoas que se preocupam sinceramente com ele (como é o caso do seu pai), o companheiro mais presente na vida do psicólogo é um cão. O viúvo solitário, sem filhos, amargurado, fumante inveterado, companheiro de uma garrafa de bebida, ainda é apresentado optando por variedades de maconha adequadas ao seu estado de espírito do momento… Aliás, um aspecto saliente no filme é a droga, que rola solta, aos borbotões! Drogas em geral, incluindo o álcool.O protagonista da história é Henry Carter, um psicólogo famoso por tratar celebridades. Carter vive em profunda tristeza e quase absoluta letargia– a quase todo momento o vemos fumar um baseado -, uma maneira de ficar alheio à dor e a tudo o que acontece ao seu redor. Só quando seu pai, também psicólogo, lhe “repassa” uma paciente, a jovem Jemma, cuja mãe também cometeu suicídio, é que Carter começa a se dar conta de que está perdido. Mas nem isso o faz repensar suas atitudes. Isso vem acontecer quando, depois de utilizar uma droga mais forte – ao que parece, uma erva adulterada -, Carter vai parar no hospital.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Título original; Shrink – Psiquiatra, shrink, em inglês, significa “encolher”. A partir dos anos 60 Shrink passa a designar psiquiatras, psicanalistas e psicoterapeutas na gíria, significando “encolhedores de cabeça”. Ou seja, nós carregamos coisas demais, o que geram neurose, a mente desorganizada precisa de ajuda para encolher, reorganizar, precisa do profissional Shrink. O “Psicólogo das Estrelas”, que faz uso de automedicação e fuma “baseados", atende em seu consultório pessoas influentes em Hollywood – lugar afetivamente pouco saudável. Tendo o terapeuta como centro unificador, o filme vai nos apresentando os clientes de Carter em suas rotinas. Pouco a pouco, tanto no consultório quanto fora dele, vamos nos envolvendo com os pacientes em suas neuroses, seus dilemas e infortúnios, seus tédios e angústias, seus dramas existenciais e seus vícios. Na lista de clientes do Dr. Henry Carter estão: uma famosa atriz, Kate Amberson e seu marido narcisista; Jeremy, um jovem escritor descontrolado e inseguro; Patrick, um produtor obsessivo compulsivo, entre outros. Cada um com a sua paranóia, seus problemas e seus medos… Desiludido com sua carreira e vida pessoal, a ponto de, surtando, declarar-se numa entrevista televisiva que era uma fraude, um momento significativo na vida de Carter se dá quando seu pai encaminha para ele o primeiro caso fora das celebridades. Trata-se de Jemma, uma garota problemática, que também está vivendo sob o signo da morte da mãe. Contatar sofrimento semelhante ao seu não será fácil. O filme retrata uma sociedade enferma e a situação em que a vida perdeu o sentido. Na cena em que o pai dá retorno sobre o sonho relatado por ele, o pai cita kierkegaard, “O doente deve se ajudar”. E o processo terapêutico segue com a disponibilidade de ambos. Nesse caso, profissional também é cliente.
O filme não contribui positivamente para a imagem social do psicoterapeuta,ainda mais no Brasil, onde o profissional psicólogo já sofre com uma representação social bem desgastada e cercada de muitos preconceitos. Algumas relevantes questões éticas são trivializadas e estereótipos são ainda mais reforçados. Outro dia eu ouvi uma amiga médica dizendo que médico não pode dormir, ter doença, ficar triste, com preguiça ou outras coisas mais. Seus clientes não compreendiam que ela também é humana. Pois bem, o mesmo ocorre com psicólogos, psicoterapeutas? Trabalhando e sendo a própria ferramenta de trabalho, como saber seus limites? Tratando dos conflitos psicológicos dos clientes, o psicólogo está imune? Há quem encontre no problema pessoal um empecilho para tratar do problema do outro. Será? Como ser empático – ter a capacidade de entrar no mundo sofrido do outro- sem ter a menos noção do que é aquilo? Nem sempre é preciso passar por determinados sofrimentos para compreendê-los, afinal o psicólogo estudou para estar disponível, aberto para os conflitos humanos. Mas, afinal, estar dentro de sofrimento semelhante nos limita ou habilita? Quando pode ser facilitador, quando não, onde é o limite do humano e do psicoterapeuta? O filme não pretende responder, mas nos faz pensar no momento “paralisante” do profissional, onde esse o limite é questionado. Particularmente acho que o bom senso é senhor da questão. O limite ético de cada um está relacionado com suas reais possibilidades. Para profissionais fica a importância da supervisão nesses momentos, um outro olhar sobre o fenômeno, favorecendo melhor compreensão do próprio limite. Não descarto, entretanto, a riqueza de qualquer conflito superado se tornar aprimoramento profissional para compreender melhor o sofrimento do outro e algumas das conseqüências possíveis.
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