quarta-feira, 12 de março de 2014

A menina que roubava livros

 
clip_image001ASSUNTO
Guerra, preconceito, racismo, violência, perdas, resiliência, luto, arte, solidariedade, vida e morte.
SINOPSE
Durante a Segunda Guerra Mundial, uma jovem garota chamada Liesel Meminger (Sophie Nélisse) sobrevive fora de Munique através dos livros que ela rouba. Ajudada por seu pai adotivo (Geoffrey Rush), ela aprende a ler e partilhar livros com seus amigos, incluindo um homem judeu (Ben Schnetzer) que vive na clandestinidade em sua casa. Enquanto não está lendo ou estudando, ela realiza algumas tarefas para a mãe (Emily Watson) e brinca com a amigo Rudy (Nico Liersch).
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Para além do registro sobre as crueldades do Nazismo, o filme nos convida a testemunhar um belo exemplo de resiliência. Sim, Liesel é um modelo perfeito para a compreensão deste conceito que nos é tão caro em psicologia. O termo resiliência refere-se à capacidade dos indivíduos para superar os períodos de dor emocional e adversidades. Na abordagem Gestáltica, entendemos a resiliência como a capacidade do indivíduo realizar ajustamentos criativos funcionais diante de situações adversas. A arte de superar, que transforma adversidades em oportunidades, parece ser dominada pela menina. Sua trajetória está repleta de situações adversas que são superadas, na maior parte das vezes, usando os livros como suporte para realização de seus ajustes criativos. Curiosamente, somos apresentados a Liesel pela morte, que narra à árdua jornada da menina de forma surpreendentemente simpática. O primeiro livro cruza seu caminho em momento de extrema dor, durante o breve enterro de seu irmão caçula. Ainda sem compreensão sobre a leitura, ela percebe quando o coveiro deixa o livro cair na neve. Antes mesmo de compreender o significado daquelas letras, ela rouba e atribui um sentido ao objeto, que se revela como único vínculo com a sua família.
Logo, vemos que a menina se fecha frente aos novos contatos, se mostrando mais aberta nas relações intermediadas pelos livros. Na escola, além de alvo de risos, se torna alvo de troças, logo que percebem sua inabilidade com a leitura. Quando a pressão se torna ofensiva, ela reage deixando claro que o fato de não saber ler não a torna uma tola. Seu pai adotivo consegue abrir um canal de comunicação durante seu peculiar processo de alfabetização. Seu amigo expansivo é responsável por momentos delicados, onde o aprendizado maior foca no significado de uma amizade verdadeira. A esposa do Militar alemão encontra em seu interesse pela leitura, uma forma de reviver a memória do filho, alimentando sua fome de leitura em segredo. A mãe adotiva aparentemente seca, ao longo do tempo vai revelando sua forma de ser oculta, repleta de afetos escondidos. O judeu acolhido pela família é o encontro com a poesia, com a filosofia, com a arte de descrever fenômenos como se revelam, como forma de dar vida às palavras. Ele diz: “Faça as suas palavras. Se os seus olhos pudessem falar, o que eles diriam?” Testemunhamos, em meio às atrocidades cometidas pelo nazismo, cenas de violência, humilhação, preconceito, racismo, bullying, etc. Mas também, somos agraciados com outro olhar para morte, a importância das relações, do carinho, da amizade, da solidariedade e do amor. Logo surge o contraste de significados e a importância das palavras como instrumento. Ora como instrumento de manipulação, em especial na Alemanha Nazista, ora como instrumento de libertação, particularmente na forma de Liesel se relacionar, as usando como veículo até mesmo de consolo em momento de desolação. Só podemos compartilhar aquilo que temos dentro de nós, o que faz sentindo em nosso Universo particular. É lindo quando ela descobre o poder das palavras também para consolar, estimular e amar. Duras palavras e suaves palavras, elas estão todas lá. E os vínculos novos vão sendo construídos, novos contatos, novas formas, novas perdas, novos ganhos, tudo isso dando contorno ao desenvolvimento de Liesel. E, como não podia deixar de ser, todo o processo é acompanhado por livros e também pela morte.





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