quarta-feira, 26 de março de 2014

Qual é o nome do bebê?

ASSUNTO
Relações afetivas e familiares, segredo, Casal e família e preconceito.
SINOPSE
Com mais de quarenta anos de idade, Vincent (Patrick Bruel) vai ser pai pela primeira vez. Radiante, ele é convidado pela irmã e o cunhado para jantar, em companhia de sua esposa e de um amigo de infância. Enquanto a esposa não chega, os amigos começam a fazer perguntas sobre a paternidade, até chegar à inevitável questão sobre o nome do bebê. Quando Vincent finalmente anuncia o nome escolhido, o caos se instala na família.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
O filme foi indicado por Jeff, seguidor da página do “Facebook”, na ocasião em que eu fazia comentários sobre o longa “Álbum de família”. De fato, a recomendação foi uma grata surpresa. Tal qual “O Deus da Carnificina”, ele foi inspirado numa peça de teatro e também discute conflitos das relações afetivas, revelando aspectos constrangedores da “natureza humana”. Embora o outro seja um filme mais denso e aprofundado, confesso que gostei muito mais de QUAL É O NOME DO BEBÊ (Le Prénom), principalmente por sua leveza e bom humor, que não deixam de provocar sérias reflexões. Em Portugal, o título foi traduzido para “O nome da discórdia”, por sinal bastante apropriado. O assunto é pertinente e bastante considerado pela psicologia devido à importância do nome na consituição do ser. O “significado do nome”, “quem escolheu”, “como foi escolhido” e “o que inspirou tal escolha” podem ser parte significativa do processo terapêutico, pois se revela como boa ferramenta de apropriação identidade. Confesso que hesitei, antes de considerar os conflitos apresentados como “familiares”. Principalmente, por conta do amigo de infância fazer parte do encontro. Entretanto,  já que novas configurações familiares estão considerando  “agregados” como parte efetiva no sistema familiar, assim também o consideramos, pois ele foi acolhido desde a infância no seio familiar. Além disso, o desenrolar da trama revelará um segredo que só o confirmará como membro. Não, não posso contar o segredo, mesmo porque muita água vai passar por baixo dessa ponte antes desta revelação. Então, o jantar é na casa da professora Babu (Elisabeth), mãe, dona de casa e esposa do professor Pierre, intelectual engajado no meio acadêmico, que é sempre convidado a fazer palestras. Os primeiros a chegar são: Claude, o músico “agregado”, e Vincent, o irmão quarentão de Babu, que é casado com Anna. Logo, eles iniciam um diálogo ameno, recheado de brincadeiras íntimas, aquelas tão comuns nos meios familiares.
Babu, num ir e vir da cozinha para sala, por conta do preparo dos quitutes, manifesta o desejo de participar da conversa, pedindo que a aguardem. O superficial e bem sucedido Vincent conta que a esposa está grávida e que já escolheram o nome do bebê. Apesar do pedido de Babu, o diálogo continua na sua ausência, girando em torno de qual pode inúmeras tentativas de adivinhar qual é o nome do herdeiro. O filme exemplifica bem o quanto o nome pode se tornar um peso na vida de alguém. Retornando a trama: Antes mesmo de Babu retornar, ou Anna chegar, algumas pistas são fornecidas pelo pai, que finalmente revela o nome escolhido, o que desencadeia um processo no qual as verdades nuas e cruas serão reveladas. De fato, em nosso convívio social, guardamos algumas opiniões particulares sobre o outro. É também esperado que essas opiniões possam emergir em momentos de “descontrole”, quando somos “afetados” e perdemos nosso centro. Lugar dos afetos, a família é o palco perfeito para afetarmos e sermos afetados. As situações constrangedoras podem surgir, evidenciando a estratégia neurótica apontada na frase “A melhor defesa é o ataque”. Assim ocorre na trama, a partir de uma brincadeira, sucessivas falhas na comunicação geram explosões emocionias, que estão recheadas de revelações constrangedoras. Anna, ao chegar, pega “o bonde andando”, mas acaba sendo também afetada e reage da mesma forma. É preciso salientar que cada personagem se torna alvo fácil de identificação, principalmente por retratar situações críveis acontecendo com pessoas  reais. Babu é o modelo da esposa não reconhecida em seus méritos domésticos e também frustrada por ter aberto mão de sua carreira. Além de seu “sacrifício” não ser reconhecido, se torna alvo de desconsideração e desrespeito. Claude é músico erudito, cujos modos refinados e sua forma reservada de ser promovem interpretações errôneas e preconceituosas sobre sua forma de ser. Vincent é bem sucedido profissionalmente, um sujeito gaiato e “bon vivant” que tem pouca intimidade com o universo literário. Pierre, ao contrário, é um intelectual comprometido com o conhecimento,  a cultura e  a história da humanidade. Eles se revelam extremos opostos, tendo em vista que Pierre é radical, enquanto Vincent se mostra bastante despreocupado, livre e solto. Anna, de quem pouco sabemos, chega tarde e ajuda a aumentar a intensidade dos mal-entendidos que acontecem em série. A mãe de Babu e Vincent não é presença física durante o jantar, mas como “mãe é mãe”,  se torna peça fundamental nos ajustes e desajustes deste jantar memorável! Com um roteiro capaz tanto de fazer rir quanto refletir, o filme vale pela forma crível na qual transmite conflitos afetivos, que são tão comuns em nosso cotidiano.




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