sexta-feira, 10 de julho de 2020

O Homem perfeito



ASSUNTO

Relações afetivas e virtuais, gestalt-terapia, machismo e polaridades.

SINOPSE

Diana (Luana Piovani), aos 42 anos, é uma mulher bem-sucedida, com uma carreira estruturada, culta e que mantém um casamento feliz com seu marido (Marco Luque). A protagonista trabalha como uma escritora fantasma, escrevendo bibliografias de celebridades, na maior parte das vezes reinventando a vida daquelas pessoas que não tem muito para contar, nem qualquer aptidão para a escrita.


TRAILER

   

O OLHAR DA PSICOLOGIA

O filme foi pouco apreciado pela crítica, que apontou falhas no desenvolvimento da trama, nos personagens pouco verossímeis, além da forma rasa com a qual abordou os assuntos propostos. De fato, é uma comédia romântica rasa, sem qualquer conteúdo profundo que possa ser tema de debates ou grande reflexão. Entretanto, em tempos de isolamento, pode ser um entretenimento leve e até divertido. Uma mulher inteligente e independente, como a personagem principal, seria mesmo capaz de viver com um homem tão diferente por tanto tempo? Uns dizem que não, mas, convenhamos, quem sabe do que o coração é capaz? Quem não conhece alguém que investiu toda sua energia em uma carreira de sucesso, ou, na construção de seu patrimônio, esquecendo-se de suas necessidades emocionais básicas? Não sei se Diana seria um personagem tão distante da realidade como apontam alguns críticos.
Todos os dias, esbarramos em figuras parecidas, não só com a Diana, mas também como seu marido, que na trama é retratado como crítico ao sistema vigente, mas sem qualquer responsabilidade pela própria vida adulta. Opostos se atraindo, cada qual dando conta do que no outro é pouco desenvolvido, parecendo um acordo confortável, não? O conceito de polaridade, tão caro à gestalt-terapia, pode ser evidenciado nas relações apresentadas na comédia, não só pelo casal em questão, mas também na relação entre Diana e o Cantor de Rock. O conceito mostra que  ",,,todo o evento tem dois pólos que permitem que o diferenciemos. “… se quisermos ficar no centro do nosso mundo,… seremos ambidestros – então veremos os dois pólos de todo evento. Veremos que a luz não pode existir sem a não-luz." (para saber mais, clique aqui) Sendo assim, as polaridades não podem ser vistas como opostos, uma coisa ou outra, mas como partes de uma totalidade, ou seja, uma coisa e outra. 
O Homem perfeito não existe, mas para a escritora, que transforma pessoas pouco interessantes em heróis de suas vidas, ele também pode ser inventado. Na intenção de afastar o ex-marido da “novinha”, ela inicia um processo da construção de um perfil fake, criando um homem capaz de dizer tudo que uma mulher quer ouvir, ameaçando a harmonia do novo casal. Ao mesmo tempo, a proposta de escrever a bibliografia de um cantor de rock machista, que representa valores antagônicos aos seus princípios, atravessa seu caminho. è no encontro com seu oposto que Diana pode se perceber controladora, por outro lado, sua oposição pode também ajudar o cantor a descobrir outras partes de sua totalidade, até então, escondidas.Apesar de ter uma premissa interessante, o desdobramento da trama escolhe o caminho mais curto, trazendo soluções fáceis e rápidas demais para questões que poderiam ter sido exploradas. Ainda assim, é possível pensar na integração das polaridades, num movimento em direção a integração. Tentando sugar o máximo de aproveitamento da comédia romântica, não podemos esquecer do  “homem perfeito”, inventado por Diana. O tema pode provocar questionamentos e até uma alguma reflexão sobre as relações virtuais em tempo de pandemia. Durante o isolamento, as relações são reinventadas, podendo até trazer mais comprometimento e sensibilidade para as relações intermediadas pela internet. Por outro lado, a solidão, a carência e a  mudança brusca da rotina conhecida, podem alimentar fantasias inocentes, tanto quanto maldosas.  Afinal, como dizia Cazuza, “O nosso amor a gente inventa, para nos distrair”!


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