ASSUNTO
Relações afetivas, sociais e familiares, transexualidade, homossexualidade, crise existencial e segredos.
SINOPSE
Três gerações de mulheres de uma família que
vive sob um mesmo teto em Nova York precisam lidar com uma grande transformação
de uma delas que vai afetar a todas. Ray (Elle Fanning) é uma adolescente que decidiu mudar de sexo. Sua mãe
solteira, Maggie (Naomi Watts) precisa rastrear o pai biológico de Ray (Tate
Donovan) para obter seu consentimento legal para a mudança. Dolly (Susan Sarandon), avó lésbica de Ray, está com dificuldade em aceitar que
agora tem um neto. Cada um deles precisa confrontar sua própria identidade,
aprender a aceitar a mudança e sua força como família para finalmente encontrar
compreensão e harmonia.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Embora,
apresente e discuta a transexualidade, o foco maior é na crise existencial da
mãe de Ray. Sim, Mag está em crise. Não há porque desmerecer tal enfoque,
afinal, Ray se reconhece como menino em corpo de menina, não há crise de
identidade para ele. E, no final das contas, a família sempre terá dificuldade
para lidar com a situação. Certamente, para Mag é mais do que isso, ela tem seu
segredo em relação à paternidade de Ray e uma dificuldade tremenda em lidar com
as próprias responsabilidades de mulher, adulta e mãe, sem falar na dificuldade
imposta pelas necessidades de Ray. Aliás, o ponto de partida da trama está exatamente
nessas necessidades. Aos 16 anos, Ray precisa da autorização do pai para
realizar procedimentos médicos que favoreçam sua existência. As relações
familiares são colocadas em foco a partir de então. Três gerações se encontram
morando no mesmo espaço, a mãe homossexual e sua companheira, Mag e Ray. As
críticas não pouparam alfinetadas, por uma simples razão, o tom pastelão da
comédia tira a chance dos temas abordados serem apresentados com maior seriedade.
Ainda assim, temos uma perspectiva interessante quando olhamos a interpretação
de Elle Fanning, que em diferentes momentos dá espaço para os conflitos
possíveis da sua condição, seja quando esconde seu peito ou quando trabalha
incansavelmente para desenvolver sua versão feminina. Há clara indicação de sua
necessidade primordial de encontrar uma vida mais autêntica. Sua avó
homossexual não compreende as angústias da neta. Em seu universo, o desejo pelo
mesmo sexo pode ser resolvido apenas assumindo a homossexualidade, sem que seja
necessário trocar de sexo. Ela não percebe que para a neta (o), o maior
problema não é a orientação do seu desejo, mas viver em um corpo que não
reconhece como seu. Desde os 4 anos, ela percebe que aquele corpo não lhe
pertence, que não é livre para ser ele mesmo, enquanto habita um corpo que lhe
aprisiona.
Certamente,
o filme pincela algumas dificuldades enfrentadas na rotina de Ray, mas não há
qualquer desenvolvimento das questões apontadas. A segunda parte do filme foca
nas questões de Mag, que obviamente irão respingar em toda família. Ao mesmo
tempo em que precisa entrar em contato com seu passado, ela tem que enfrentar sua
realidade, pois a mãe propõe que ela finalmente se mude, constituindo um lar para
a própria família, ou seja, ela e o filho precisam se mudar. Buscar a
assinatura do pai requer mais do que apenas seu consentimento, segredos serão
revelados, afetando as relações familiares. O desfecho parece pular
possibilidades mais realistas em situações semelhantes, o que empobrece a obra,
direcionada para um desenlace fácil e feliz. As falhas no desenvolvimento da
trama não são suficientes para descartarmos o filme, pois ainda assim, pode
trazer o tema da transexualidade para o debate.
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