domingo, 17 de fevereiro de 2013

As Sessões

clip_image001ASSUNTO
Sexualidade, deficiência física, processo terapêutico, terapia sexual.
SINOPSE
2012 - Mark O'Brien (John Hawkes) é um escritor e poeta que, ainda criança, contraiu poliomielite. Devido à doença ele perdeu os movimentos do corpo, com exceção da cabeça, e precisa passar boa parte do dia dentro de um aparelho apelidado de "pulmão de aço". Mark passa os dias entre o trabalho e as visitas à igreja, onde conversa com o padre Brendan (William H. Macy), seu amigo pessoal. Sentindo-se incompleto por desconhecer o sexo, Mark passa a frequentar uma terapeuta sexual. Ela lhe indica os serviços de Cheryl Cohen Greene (Helen Hunt), uma especialista em exercícios de consciência corporal, que o inicia no sexo.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Indicado pelo atual colega e ex professor Mauro Paiva, AS SESSÕES é de fato sensacional. A grande sacada do filme, ao retratar Mark, é focar o seu bom humor e sua capacidade de se sustentar apesar de suas limitações. Seu grande dilema é sentir-se incompleto por permanecer virgem, ainda que tenha ereções e orgasmos descontrolados. Diante da questão, novos desafios surgem em seu caminho, quando decide buscar alternativas que o ajudem a sentir-se Homem, adulto, ou seja, perder a virgindade. A trama se desdobra de forma delicada, em diálogos ricos com o padre - que revelam suas questões religiosas e íntimas –, o processo terapêutico com a “substituta sexual” – Terapeuta sexual que o auxilia no processo de consciência corporal e faz algumas intervenções psicológicas - e suas relações em geral, consigo, com pessoas do mesmo sexo ou o sexo oposto. Dogmas religiosos, conceitos sociais e pré-conceitos são deixados de lado diante da questão existencial básica, que é o dilema de Mark.
Sua visão religiosa de mundo, seu comportamento às vezes infantil, sua ansiedade diante dos desafios são expostos sem melindres, de forma natural e única, tornando a trama um espetáculo de vida. A sexualidade é apresentada de fato como é, como parte da vida de todos nós. Quando a existência se torna prioridade, até mesmo o padre passa por cima de questões religiosas, escolhendo dar suporte ao processo. As relações são terapêuticas, tanto com a terapeuta quanto com o padre, e dão suporte suficiente para que o menino se torne homem e busque também uma companheira para sua jornada. O filme é delicioso e nos coloca de frente com o que há de mais humano em nós, nossa existência complexa e simples, que inclui a sexualidade como parte importante dessa natureza. Ainda que o personagem principal tenha limitações físicas impostas pela poliomielite que o atingiu na infância, não é esse o foco. Já é fato consumado, e, são bem elaboradas as suas limitações visíveis, o tema central é a busca da plenitude através da vivência de sua sexualidade. A “substituta sexual” é uma novidade a ser apreciada, pensada, discutida e avaliada como uma necessidade de muitos outros pacientes que se encontram em situações semelhantes, no que tange a sexualidade. A “substituta sexual” não é alguém que tenha estudo em psicologia, segundo o material do seguinte vídeo – (A sex surrogate - documentário da national geographic Chanel – (Para ver Trecho do cocumentário, clique aqui.). Entretanto, muitos substitutos têm formação na área de sexologia, psicologia ou aconselhamento,  conforme registrado na wikipédia - leia mais clicando aqui. No filme, além do encontro sexual propriamente dito, a terapeuta faz intervenções psicológicas. Destaco a cena em que ela propõe o que chamamos em Gestalt-terpia de “Viagem à fantasia”. Ela promove a possibilidade de Mark atualizar seu passado, o favorecendo a vivência de sua infância livre da doença, e, posteriormente questionando a possibilidade de do menino da infância se culpar por suas questões. É delicioso assistir o processo do personagem se livrar de tamanho peso da culpa. O filme é surpreendente e merece ser assistido, questionado, debatido, abrindo espaço para novas discussões sobre o tema. Afinal, qual é a importância do sexo em nossas vidas? Não creio que o filme deixe qualquer dúvida a respeito disso.






4 comentários:

  1. Assisti a esse filme durante workshop para psicoterapeutas onde o tema central foi sexualidade, afeto e poder. Filme ótimo para se discutir o que é, de fato, uma relação terapêutica e suas diversas nuances, como também, o resgate do passado sem ter que mergulhar nele para construir uma nova paisagem, não do futuro, mas no presente. Ja o indiquei a diversos colegas da área e afins. Uma verdadeira poesia da vida humana.

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    1. Janine,
      Muito obrigada por sua participação, principalmente por abrir espaço para novas propostas. Seja sempre bem vinda!
      Abçs
      Patrícia Simone

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  2. "imagine a si mesmo como um menino de 6 anos. Você o culpa por ter contraido pólio?"

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    1. Obrigada por sua observação, que me fez corrigir o texto. Na verdade, a proposta terapêutica era questionar a culpa que ele carregava desde menino, atualizando a situação, o livrando daquele peso.

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