sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A questão humana

a questao humana ASSUNTO
Relações sociais, Psicólogo em RH
Denso, difícil, polêmico, o filme está longe de ser um mero entretenimento. Diversos olhares já foram publicados, conforme pode ser conferido nos sites abaixo.
A Questão Humana” não é um filme de fácil digestão. A sinopse – falando de investigações e nazismo – pode até sugerir uma aventura policial ou coisa parecida. Mas não é nada disso. Com vários níveis e subníveis possíveis de leitura, trata-se uma obra riquíssima, de texto difícil mas fascinante (baseado no livro de François Emmanuel), e que faz uma irresistível provocação. Para o filme, o Nazismo não morreu. Ele apenas mudou de forma e modernamente se apresenta sob a formatação de grandes empresas multinacionais. Os novos uniformes dos prisioneiros agora são alinhados ternos pretos. Abrir uma válvula de gás num campo de concentração é trabalho menos elaborado, se comparado com o dos psicólogos que levam os funcionários à loucura. Relatórios técnicos minuciosamente detalhados que explicavam como transportar o maior número possível de judeus em caminhões, nada ficam a dever à tecnicidade fria dos burocratas de hoje. E se antes se lutava e/ou morria por uma nação, agora quem exige dedicação total até a morte é a empresa onde se trabalha. Mais clicando aqui
Concebido simultaneamente como suspense e como crítica aos modos de produção social (leia-se exercícios de poder) que se baseiam na exclusão e até no extermínio das diferenças, “A questão humana” traz a questão da neutralidade do conhecimento (dito) científico como um dos seus pilares. Como podemos acompanhar nas falas de um de seus mais importantes personagens (Arie Neuman), o exercício de poder que exclui e mata (embora nem sempre de forma direta e explícita) se apropria de tudo aquilo que constitui o campo das relações humanas, desde a linguagem e os sentidos que ela impõe até o conjunto de regras e leis que permeiam os diversos encontros. A artimanha da neutralidade e do apoliticismo serve invariavelmente à violência e à brutalidade, como nos indicam as referências ao nazismo. Ao final, resta a exigência de desconstruir as certezas dos saberes, inclusive para não cairmos na armadilha da eficácia e da performance a todo custo. Simon perceberá que a eficácia de que tanto se orgulhava e que o situava num patamar de destaque na empresa possuía raízes muito pouco nobres.Leia mais clicando aqui
Crítica do Estadão, aqui                   Outra crítica
Revista, aqui                                         Aqui uma crítica negativa

SINOPSE
O psicólogo Simon é chamado a investigar seu superior Mathias Jüst e oferecer uma “avaliação psicológica” que deve servir de suporte para uma estratégia de desmontagem do poder e influência de Jüst. Simon não se furta a esta tarefa. Contudo, os procedimentos que desenvolve bem como a proximidade com Jüst levarão Simon a descobertas que o confrontarão com horrores, sejam os que dizem respeito à função do seu trabalho, sejam os que remetem a experiências dolorosas de outros agentes, tão recalcadas quanto os fatos (históricos) que só aos se tornam compreensíveis. O psicólogo Simon é chamado a investigar seu superior Mathias Jüst e oferecer uma “avaliação psicológica” que deve servir de suporte para uma estratégia de desmontagem do poder e influência de Jüst. Simon não se furta a esta tarefa. Contudo, os procedimentos que desenvolve bem como a proximidade com Jüst levarão Simon a descobertas que o confrontarão com horrores, sejam os que dizem respeito à função do seu trabalho, sejam os que remetem a experiências dolorosas de outros agentes, tão recalcadas quanto os fatos (históricos) que só aos se tornam compreensíveis.

Um comentário:

  1. Apesar de o filme ser antigo, somente o assisti ontem, no Cine Sesc, pois o casal Nikolas Klotz e Perceval estavam no Brasil, para cursos. Achei o filme muito tocante. Gélido de início, enigmático, mas com efeito descongelante, ao seu término. Sou uma apaixonada pelos estudos de transmissão transgeracional psíquica e, quando saí do cinema, lembrei-me dos estudos de Nikolas Abraham e Maria Torok, autores do livro "A Casca e o Núcleo", que nos apresenta uma psicanálise na qual o fantasma, a cripta, as agonias, podem ser transmitidas sem que delas tomemos consciência, até que um outro, no caso, o psicanalista, enquanto interlocutor, possa enxergar tudo isso. Acredito que Simon foi enloquecendo ao entrar em contato com as questões encriptadas (inclusive os textos mostravam isso), e os fantasmas, os não-ditos, enfim. Um filme de intensa sensibilidade, tocante. Lendo o material distribuído pelo SESC, entretanto, entendi que se tratou de uma compreensão, dentro das ideias do filósofo Adorno. De alguma forma, todavia, o filme é aberto a inúmeras leituras. Maravilhoso!

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