sábado, 9 de maio de 2015

Entre abelhas

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ASSUNTO
Casal e família, separação. Relações afetivas, familiares e sociais, depressão.
SINOPSE
Bruno (Fábio Porchat), um editor de imagens recém-separado da mulher (Giovanna Lancellotti), começa a deixar de ver as pessoas. Ele tropeça no ar, esbarra no que não vê, até perceber que as pessoas ao seu redor estão ficando invisíveis. Com a ajuda da mãe (Irene Ravache) e do melhor amigo (Marcos Veras), ele tentará descobrir o que se passa em sua vida. Mesclando momentos engraçados, gerado pela situação, Bruno recorre a mãe. Mas a invisibilidade parece piorar e pessoas essenciais da vida de Bruno estão ameaçadas de se tornarem invisíveis também.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Inesperado, surpreendente, decepcionante. Falamos do mesmo filme, público diferentes surpresas e decepções inesperadas. Certamente, quem espera algo do estilo humorístico de “porta dos fundos” ou do que costumamos ver na atuação de Fábio Porchat, se decepcionará. Não é uma comédia leve, muito menos de fácil compreensão. Definitivamente, seu roteiro está muito longe daquela fórmula conhecida dos filmes comerciais, ele ousa, vai além, é surreal, é metafórico!. Ultrapassando o estilo fácil, o filme propõe reflexões, não oferece respostas nem explicações, apenas provoca diferentes interpretações, implicando o espectador no enredo. Lembrei-me daquela propaganda, que dizia mais ou menos isto: O MUNDO É FEITO DE PERGUNTAS. Pois é, que perguntas são provocadas pelo longa? O que estamos de fato vendo? É muito fácil criticar o personagem, que por sua condição, aos poucos deixa de ver pessoas significativas. Cada espectador pode se perguntar também, que pessoas consegue ver, de verdade. Em nosso cotidiano, quem e o que nos permitimos ver? O que escolhemos ver e ouvir? Como estamos usando nossos sentidos? Embora, o filme retrate o sentido da visão como aquele claramente prejudicado em momento de luto, a audição também falha para Bruno. O filme denuncia, através da alienação dos sentidos de Bruno, a distância cotidiana de nossa bússola principal: os nossos sentidos. Muitas vezes obstruídos por razões e emoções, promovendo o desequilíbrio na saúde. Impossível desconsiderar o drama de qualquer separação, pois independente de quem teve a iniciativa de por fim a uma relação, enfrentar uma separação é lidar o com fim de um sonho, um projeto. É difícil, é dramático e às vezes um luto insuportável. Sim, Bruno está de luto, a ficha da separação custa a cair. Seu ritmo é diferente da ex-esposa, para ele tudo aconteceu muito rápido. A proposta da “despedida de casado” não pareceu divertida para ele. Aos poucos, as pessoas desaparecem. Mãe, médico, psicólogo e amigo, todos tentam ajudar de seu jeito. A mãe, ora superprotetora, ora assustada, tenta traçar uma estratégia. Depois de levá-lo ao médico, que indica o psicólogo, acha que precisa fazer mais. Depois de levá-lo ao médico, que indica o psicólogo, acha que precisa fazer mais. As situações hilárias têm espaço, não tirando a seriedade do drama, que inclui o público em suas angústias.  Compartilhamos com ele de momentos difíceis, sem sentido, no melhor significado da palavra, afinal, seus sentidos o estão enganando. Seu amigo Davi, retratado como um homem de moral duvidosa, do estilo egoísta, infiel, irresponsável, é incapaz de ver o que o amigo está passando. Claro, sua forma de resolver as coisas não permite que ele enxergue outras opções, nem a própria dificuldade de enfrentar suas questões. Não, o melhor amigo de Bruno não pode servir de exemplo, nem suporte. Os diálogos, com o psicólogo que acha cedo para medicação, são esclarecedores para o público, não para Bruno. Ele não está preparado para ouvir. Ele faz sinalizações importantes, mas o cliente não pode ainda compreender.
O enredo é desenvolvido sugerindo alguns sintomas depressivos, diante da separação. Incrível, a sacada do roteiro, em mostrar o momento de aceitação da própria condição, sua desistência em buscar solução, sua aceitação em não enxergar pessoas como ponto final, que se torna também início. Assim é a vida, feita de inícios e fins, ciclos constantes e transformadores. É preciso enfrentar perdas, lutos, rupturas e finais, para que o novo possa surgir. A teoria paradoxal da mudança prega que a mudança só é possível no momento em que paramos de “brigar” com quem estamos sendo, quando aceitamos o que somos no momento presente, outras opções surgem, promovendo mudanças. Nesse sentido, o final do filme – pouco compreensível para alguns - ilustra claramente o final de um ciclo, sem apontar quais as opções que virão após. A não ser, claro, pela música escolhida para o final impactante: “I can see clearly now” (Eu posso ver claramente agora). Outro ciclo se inicia. Gosto também do olhar de Marcelo Seiler, quando diz: É evidente que a analogia da invisibilidade social que assola nossa sociedade hoje em dia é a grande sacada do roteiro de SBF e Porchat, que são amigos há muito tempo e escreveram o enredo durante alguns anos. Para ler mais, clique aqui.
Amei o filme, super recomendo!





7 comentários:

  1. Puxa vida! Que olhar maravilhoso. Confesso que vi o filme por indicação sua... Mas olhando por meio dos seus olhos, passei a compreende-lo. Um forte abraço e obrigada!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  2. Denise Chagas, você é muito fofa! Continue participando. Obrigada!

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  3. Adorei o filme! achei uma sacada fantástica e super atual o fato de as pessoas estarem se tornando invisíveis...

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  4. Patrícia, acabo de assistir o filme...
    Confussa e com aquela angústia de "inacabado" decorri a internet para ver algumas críticas. Curso psicologia, por Deus, como é bom ver o mundo pelo viés dela!
    Enfim, quero agradecer-te pela tuas palavras deixaram o filme ainda mais visível pra mim! Tão visível que me enxerguei.
    Obrigada! Continue fazendo essa mescla. A Psicologia são como grandes olhos,e olhos nessa dimensão conseguem ir no mais íntimo da arte...

    Visivelmente,
    Nina

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  5. Alexandre H. P. de Souza30 de março de 2016 às 15:13

    Após ter visto o filme, sem esperar muito, especialmente uma comédia, fui procurar explicações sobre a trama e principalmente o final.
    Finalmente uma pulga apareceu atrás da minha orelha por um filme nacional e, aparentemente, muito mais lúdico que as pessoas conseguem ou "querem" ver (assim como no filme).

    Após ler muitos comentários, comecei a sentir falta de opiniões de peso feitas por mulheres. Procurei posts e acabei encontrando só comentários feministas extremistas, mais de ódio contra atores e o claro sexismo no filme do que a própria trama.
    Eis que, por um acaso encontro esse post com cunho mais psicológico e finalmente não escrito por um homem.

    Patricia, você acaba de matar minha pulga. xD
    Sua explicação foi extremamente esclarecedora. Desde a metade do filme eu fiquei com aquele estranho sentimento de "Peraí... Não sei exatamente o que é, mas tem mais coisa aí em baixo!".
    Resumindo, acho que agora posso fazer perguntas melhores. ;)

    Um Forte Abraço!

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    1. Alexandre, fico lisonjeada com seu post, como você pode perceber, foi o primeiro comentário masculino (hehehehe), controverso, não? Adorei! Enfim, volte sempre!!!

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