sexta-feira, 16 de julho de 2010

Dogville

dog Relações sociais, afetivas, grupo, sociedade.

ASSUNTO

“Dogville" é uma metáfora da sociedade, de suas instituições e de sua hipocrisia. Explora os sentimentos a cada cena. Aliás, interessante como outra metáfora, que o cachorro do filme (dog of the ville ou o vilarejo do cachorro), se chama exatamente Moisés. Observe-se que ele é simbolizado apenas, não tem existência concreta. O lugar em que deveria estar é riscado no chão, como naqueles filmes policiais cujo risco no chão mostra onde se encontrava o cadáver. Quer dizer, a metáfora seria que o líder, no sentido da liderança pragmática praticada por Moisés, não existia na comunidade, pois o "lider" de Dogville, que por sinal nem foi eleito, é aceito, provisoriamente, muito menos pelas suas próprias qualidades que pelas necessidades dos "liderados", exatamente como já constatara o grande Bion sobre os líderes emergentes nos grupos humanos. O intrigante roteiro – também de autoria de Trier – dá margem a muitas leituras e propõe várias interpretações interessantes. Disseca a maldade da alma humana, desafia os dogmas da democracia (todos votam em Dogville, desde que seja para manipular seus interesses pessoais) e analisa, no microcosmo daquela vila, os mais mórbidos caminhos que a mente percorre em situações de adversidade. Isso sem falar nos sugestivos nomes dos personagens: quem engedra toda a ação é Thomas Edison Júnior, nome emprestado do famoso inventor americano, tido por uns como um grande gênio e por outros como um mau caráter, ladrão de idéias. É a infinita incoerência interna da América, sintetizada num único personagem. E quem leva nossos ares à vida é Grace, “graças” aos céus. Bem dirigido e bem interpretado, Dogville tem um grande demérito para os fãs de cinema: toda a ação se passa única e exclusivamente sobre um imenso palco, onde os locais que seriam ocupados pelas casas e pelas ruas da cidade não passam de marcas de giz desenhadas no chão. O recurso pode ter sido imensamente barato, mas é cansativo. Principalmente após quase três horas de projeção. É um bom filme? Sem dúvida.

Realmente, é um filme difícil, indigesto de se ver, como quase todos do diretor. “Dogville” é uma fita totalmente fora dos padrões, é praticamente uma peça teatral. Não há casas, apenas marcas no chão e alguns objetos de cena, como camas, cadeiras e armários, tudo é muito estilizado. Mas talvez seja isto que marca tanto o filme, pois você acaba se concentrando somente no enredo.  O filme é uma metáfora ambulante e é uma crítica ferrenha ao estilo de vida americano. Talvez, mais que antiamericana, esta parábola do cineasta seja um grito contra o modo de vida hegemônico no capitalismo e que nos atravessa a todos. Como se o diretor quisesse dizer que este funcionamento global tira de todos o que cada um tem de pior. É explicitado desde que a jovem chega à cidade que ela teria de dar coisa em troca, e eles estavam dispostos a tomar se necessário. Da humilhação vivida por Grace à ausência física de paredes tudo é critica. Nos faz refletir sobre a vida, mais do que isso, sobre o ser humano, e não acreditamos, ou melhor, não aceitamos que este possa ser tão maldoso, egoísta, brutal e irracional, mas é. O final do filme é sensacional, totalmente fora dos padrões Von Trier, mas também é perturbador. Ao mesmo tempo que nos alivia, nos deixa extremamente transtornados. Mas esse transtorno chega devagar, ao refletir posteriormente.

Sobre movimento Dogma 95 aqui

Um olhar da psiquiatria aqui

SINOPSE

A produção está de acordo com oManifesto Dogma 95, um movimento cinematrográfico criado em 1995 na Dinamarca com algumas regras que têm em vista a produção de filmes mais realistas e menos comerciais. Dogville, o filme, tem um clima sombrio, provocativo e envolvente. Fala de uma cidade minúscula, perdida nas montanhas dos EUA, onde nada acontece. Até o dia em que a bela Grace (Nicole Kidman, ótima novamente), mulher altamente sofisticada que nunca trabalhou na vida, aparece no lugar, fugindo de um grupo de mafiosos. O jovem Thomas Edison Júnior (Paul Bettany, de Uma Mente Brilhante ) decide acolhê-la e escondê-la na cidade. Mas, como a vila é muito pequena, muito em breve todos saberiam da estranha presença de Grace no lugar. Thomas decide então consultar os habitantes de Dogville para saber se eles aceitam ou não dar guarida à moça. Uma votação decide que sim, desde que ela pague prestando pequenos serviços à comunidade. Aos poucos, a mulher sofisticada de mãos imaculadas começa a pegar no pesado, plantando flores aqui, ajudando uma inválida ali, contando história para um velho cego acolá. É quando ela descobre de modo duro que nesta cidade a bondade é algo bem relativo, pois Dogville começa a mostrar seus dentes. No entanto Grace carrega um segredo, que pode ser muito perigoso para a cidade.

Trailer

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