quarta-feira, 7 de maio de 2014

Dentro da casa

imageASSUNTO
Relações sociais, afetivas e familiares. Homossexualidade, voyeurismo, arte e literatura.
SINOPSE
Um pouco cansado da rotina de professor, Germain (Fabrice Luchini) chega a atormentar sua esposa Jeanne (Kristin Scott Thomas) com suas reclamações, mas ela também tem seus problemas profissionais para resolver e nem sempre dá a atenção desejada. Até o dia em que ele descobre na redação do adolescente Claude (Ernst Umhauer) um estilo diferente de escrever, que dá início a um intrigante jogo de sedução entre pupilo e mestre, que acaba envolvendo a própria esposa e a família de um colega de classe.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Atendendo ao pedido da colega Cristiana Chagas, assisti Dentro de casa, que é um filme intrigante que permite diversas leituras. Gosto do olhar de Celo silva (para ler a crítica completa clique aqui.), que considera a trama sendo iniciada elucidando um “dramédia” social e logo evoluindo para um tom metalinguístico – o roteiro é recheado de discussões sobre o uso da própria linguagem (metalinguagem pode referir-se a qualquer terminologia usada para descrever uma linguagem em si mesma). Para os que gostam de literatura, tal perspectiva pode estimular discussões enriquecedoras.
No filme conhecemos Germain, um professor desapontado com o fraco desempenho de seus alunos, que ao deparar com as redações do jovem Claude, fica intrigado e surpreendido com seu talento. Logo, a relação entre professor e pupilo é iniciada, com o propósito de desenvolver o talento do jovem. Durante o processo, somos apresentados a esposa de Germain, que administra uma galeria de arte e por isso inclui na trama algumas pinceladas sobre o assunto, e, a vida cotidiana de uma família de classe média. Temas como homossexualidade, crise familiar, relações afetivas e sociais são elementos presentes na trama. Fato é que o filme passeia entre realidade e imaginação, trazendo em seu desenvolvimento inúmeras provocações. O que o professor de literatura desmotivado e o aluno misterioso, com características que beiram a sociopatia, têm em comum é o prazer em assistir a vida alheia, o voyeurismo.
A tradução do título nos permite ir além, pois a trama de fato penetra a casa de todos nós; Na casa de quem assiste ao filme, na casa de quem pode ler nas linhas e entrelinhas. Podemos considerar como a casa daquele que pode se identificar com qualquer parte daquilo que está na relação, daquilo que pode ou não entrar no campo pessoal, que é de fato a nossa casa. Diversas cenas discutem a relação, seja entre autor e leitor, entre professor e aluno, entre obra e espectador. Em tempos de “reality show”, a discussão do enredo gira em torno daquilo que nos seduz, do que nos afeta, nos envolve, fazendo com que nosso mundo possa ser afetado, transformado. O que permitimos ou não que entre em nossa casa? De que forma escolhemos aceitar ou rejeitar o que o mundo nos apresenta diariamente? A literatura, o cinema, a obra de arte ou a vida do outro fazem parte do que está aí, está no mundo, está disponível para nossos sentidos, é o mundo ao qual estamos inseridos. A partir do momento que entramos em contato com aquilo que antes era estranho, passamos a permitir ou não que faça parte do nosso mundo, que entre ou não em nossa casa. É no entrelaçamento entre eu e o outro que vou me constituindo através de sentidos e significados, transformando e sendo transformado. “Dentro de casa” é um filme provocante que permite diversas leituras, principalmente por discutir prioritariamente as relações, o entre, a obra em si. O foco não se esgota na perspectiva do autor ou na do espectador, mas no que acontece nesta relação. E porque não dizer entre nossos pensamentos e nossa realidade? Onde nossa imaginação pode nos levar? O que nossos sentidos podem revelar diante do que pensamos? O que é significado o que é sentido? A trama mescla ficção e realidade e brinca com personagens, arte, sonhos e realidade. Onde está o limite? O que pode ainda ser considerado “normal” ou diferente quando observamos a vida do outro bem de perto? Como pode ser encantador aquilo que está fora, no campo da imaginação, no campo das minhas projeções. Como, ao me relacionar com, posso transformar o que está fora em algo assimilável? Perls, no livro EGO FOME E AGRESSÃO discute a assimilação mental como correlato da assimilação alimentar, o que está fora precisa ser mastigado, destruído para ser saudavelmente assimilado ou pode também ser rejeitado. Ele, então, enfatiza a importância dos dentes na destruição do alimento antes de ser assimilado de forma saudável. A possibilidade de ser engolido ainda sólido, se torna obstáculo em alguma parte do organismo. Assim, também mentalmente, podemos ser impedidos de funcionar de forma fluida e saudável, quando “engolimos” algo sem escolha de rejeição ou destruição. Neste aspecto, o filme nos oferece reflexão sobre diferentes formas de fazer contato com o que está no ambiente.
Discutindo temas que envolvem o contato entre pessoa/arte/mundo ou a falta deles são partes dos estímulos provocados pelo filme, que ora apresenta a importância dos sentidos ou emoções nas relações ora faz uma critica sarcástica ao próprio estilo. Como Claude diz “A matemática nunca decepciona”...será? Diante das diversas provocações, além de super recomendar o filme, os convido a retornar com diferentes percepções que poderão render muita discussão.








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