quarta-feira, 7 de março de 2012

Precisamos falar sobre Kevin

clip_image002ASSUNTO
Relações afetivas, familiares e sociais, psicopatia, adolescência, violência.
A primeira pessoa a indicar o filme foi a colega Sheila Prado, que tinha lido o livro e ficou bastante impactada com a experiência. Tratei de providenciar o filme, mas só pude assistir recentemente. Por meio dessa indicação, nossa colega Renata Rodrigues disse: ‘Sem sombra de dúvida, definitivamente foi o melhor thriller Psicológico que assisti nos últimos 12 meses! São inúmeras as questões suscitadas no decorrer do filme. São os pais os culpados pela conduta violenta de seus filhos adolescentes? O que acontece quando "bons" pais possuem filhos "ruins"? O que é a Psicopatia??? Significa que eles não são, de fato, tão bons quanto haviam imaginado?’ – É de fato um filme impactante e perturbador. Fiquei me perguntando sobre o quanto buscamos a razão de tudo. Dar uma explicação para o inexplicável nos deixará mais seguros? Escolho apenas descrever o que ainda não posso compreende. Explicar? Não tenho essa pretensão, perde-se muita energia tentando... Por agora, prefiro compartilhar diversos olhares e provocar cada leitor a experimentar a experiência de assistir ao filme.
A colega Sandra Picanço, sabendo do meu interesse por filmes, me indicou o artigo de Martha Medeiros, que compartilho a seguir.
BRITADEIRAS – Martha Medeiros (O Globo)
O filme "Precisamos falar sobre Kevin" não concorrerá ao Oscar, nem a excelente atriz Tilda
Swinton, mas uma cena já entrou para a categoria
das inesquecíveis — ao menos para mim.
Antes, informações: o filme é a adaptação do livro homônimo de Lionel Shriver. Quem o leu não esquece o soco no estômago. É sobre um garoto perverso que termina por promover uma chacina na escola. A história é narrada pela mãe, que conta sobre o susto que levou com o nascimento daquele filho que ela não identificava como uma bênção, sobre sua enorme dificuldade em contornar conflitos e a descoberta de que não é nada simples formar uma família feliz. É a desconstrução do mito da competência materna. Orientações bem-intencionadas podem não adiantar, nosso amor pode não ser bem transmitido, nossas atitudes podem não servir de exemplo. Existe algo tão influente quanto tudo isso: nossa dor interna. Ela contamina, ela comunica, ela desgraçadamente dá o tom das relações. O livro, tanto quanto o filme, é violento pela brutalidade dos sentimentos que ficam trancafiados.
A cena que me pareceu a mais simbólica e angustiante do filme mostra essa mãe com o filho ainda bebê — uma criança que não parava de chorar um minuto sequer. Não é incomum pais entrarem num surto de estresse com choro de crianças. Recentemente, um americano jogou o filho de uma lancha por ele não parar de chorar, assim como outros adultos já levaram suas crianças a óbito por total descontrole emocional.
No filme, a mãe não chega a esse radicalismo, mas está sempre a um segundo de explodir.
Então. Ela passeia por uma rua movimentada cidade com o bebê no carrinho. Ele chora. Vem chorando há dias. A mãe não dorme, não vive, apenas escuta o choro incessante da criança. Até que ela passa por trabalhadores que estão fazendo reparos em bueiros no meio da rua. Trabalho pesado, barulhento, infernal. Ela sai da calçada com o carrinho e chega bem perto do trabalhador que está perfurando o asfalto com uma britadeira.
Bem perto mesmo. Estaciona o carrinho ao lado da britadeira que faz um barulho torturante. Close em seu rosto: por um instante, ela tem o conforto de trocar o choro do filho por outro ruído que, aos seus ouvidos, soa como um solo de flauta. O breve enquadramento daquela mulher com o carrinho no meio da rua e o homem trabalhando com a britadeira a seu lado é um mix de desespero e poesia como raramente vi no cinema.
Quantas pessoas não desejariam quebrar uma perna se isso desviasse a atenção de uma dor de amor insuportável? Não é que a mãe de Kevin não aguentasse mais o barulho do choro: ela não aguentava mais o barulho da própria culpa por ser incapaz de cumprir o papel de mãe amorosa e abnegada daquele pequeno demônio de fraldas. O som da britadeira, ao menos, não tinha nada a ver com ela. Email: martha.medeiros@oglobo.com.br
Um filme perturbador, não apenas pela história em si mas pela inexistência de um motivo, seja ele qual for. Apenas a constatação de que a mente humana, que pode produzir tantas maravilhas, é também capaz das maiores atrocidades. Basta querer. Excelente filme. Leia mais clicando aqui.
Simbologia clara à Eva bíblica, em uma analogia cristã à “mãe de todos nós”, embora o filme não se embrenhe no campo religioso, a personagem carrega uma culpa dilacerante como uma mãe e como um ser humano prestes a explodir, como se sobreviver já se tratasse de um esforço superior ao que poucos seriam capazes de suportar após o grande trauma que a assola. (…) E nestes lapsos mostrando a trama em migalhas, como se estivesse em um pesadelo, deixamos com que nossa imaginação, mais cruel que a própria realidade, nos surpreenda e nos entregue o tão pesado epílogo. Brutal, cruel e sincero ao extremo, “Precisamos Falar Sobre o Kevin” prova que, entre tantas histórias da ficção que justificam a maldade, ela pode ser tão natural como o aquele pecado cometido pela Eva original e seu Adão no tal grande livro escrito há quase dois mil anos. Leia mais...
Eva (Tilda Swinton) é uma mulher que se vê no centro de uma tempestade de revolta por parte da população local que a culpam por não ter estabelecido limites, e de alguma forma permitir que o seu filho Kevin cometesse as atrocidades que culminaram na morte de inúmeros adolescentes. O fardo de Eva se inicia logo após o nascimento de Kevin. Eva percebe desde o início que deu a luz a uma espécie de Damien, um monstro ou psicopata, como queiram. O mal personificado. Sua penitência será conviver com Kevin. Não há justificativa para o comportamento do filho. Não há grandes traumas. Ninguém passou necessidades. Exceção feita à permissividade (John C. Reilly) com cara de otário o tempo todo, a propensão que o filósofo Kant apontava no ser humano como uma tendência intrínseca (assim como o bem) parece elevada ao grau máximo em Kevin. Mentiroso, manipulador, calculista, só interessado única e exclusivamente em seu próprio prazer. Se Eva tinha dúvidas entre ser mãe e se dedicar ao seu trabalho, ela certamente voltaria no tempo e não teria engravidado de Kevin. O drama e o sofrimento solitário de Eva são comoventes, pois viver com a culpa dos atos insanos do filho não é tarefa fácil. O pecado de "Eva", ou seja, de todas as mães do mundo beira o insuportável. Crítica, continue lendo...
Ao contrário do que se possa imaginar, Kevin não cometeu suicídio após perpetrar o terror em sua escola. Isso não seria, até mesmo, condizente com o olhar desafiador e arrogante que ele manteve por boa parte de sua vida. Ele calculou tudo direitinho. Ele queria ir para a prisão. Só não sabia, do alto de sua petulância, que condenaria também a sua mãe a uma espécie de prisão. O ato de covardia de Kevin é ainda maior porque não é ele quem tem que encarar as pessoas e o peso da culpa após cometer um crime. Este sofrimento cabe à sua mãe. (...) O filme é certeiro em analisar friamente cada ato e cada falha de Eva como mãe. Mas, é ela que permanece ao lado do filho no final. O roteiro passa a mão na cabeça do pai compreensivo, Franklin (John C. Reilly), até a última cena – fazendo até parecer normal que tenha sido ele a pessoa a estimular o hábito de arco e flecha do filho que se revelaria o modus operandi do crime que ele cometeu. Leia mais...
Kevin é o pesadelo em forma de criança/adolescente; é malcriado, mimado, dissimulado, grosseiro. Kevin é um caso sério, realmente precisamos falar sobre ele. Leia mais, clique aqui.
Baseado no incendiário romance homônimo da norte-americana Lionel Shriver, "Kevin" é um filme sobre a maternidade, sobre aquela velha falácia "ser mãe é padecer no paraíso". (...) O romance, que consiste em cartas de Eva para o marido após a tragédia, e o filme argumentam que nem toda maternidade é feliz. Eva, aparentemente, nunca quis ser mãe e isso se torna um fardo para ela. Mas teria Kevin nascido mau ou a criação de Eva e o excesso de permissividade de Franklin o teriam transformado num menino perverso? Não é um debate simples, e Lynne e seu corroteirista Rory Kinnear não se aventuram a esboçar uma solução - o que seria ingenuidade do filme. Nesse sentido, "Kevin" beira um estudo de caso, mostrando o que aconteceu com esse garoto - certamente outras pessoas, nas mesmas circunstâncias, agiriam de forma diferente. (...)A relação sempre tensa entre Eva e Kevin (quando adolescente, interpretado por Ezra Miller, da série de TV "Californication") é o que pauta a trama que transita entre o presente - quando ele está preso - e o passado - a vida em família antes da tragédia. Tal qual o romance, o filme descortina os fatos aos poucos. Entende-se logo o que aconteceu mas só mais tarde se compreende como aconteceu, suas dimensões e implicações. (...)A questão que, sabiamente, o longa levanta é: uma pessoa pode ser responsabilizada pelos atos de outra? Mesmo não sendo uma mãe-modelo, Eva pode ser culpada pelas atitudes do filho? Alguns personagens pensam que sim - muitas vezes, ela mesma se martiriza, embora tente levar uma vida normal (se é que isso seja possível após tal tragédia). (...)Este não é um filme fácil de se ver. E até pode gerar um sentimento de culpa. Leia mais...

SINOPSE
Eva (Tilda Swinton) mora sozinha e teve sua casa e carro pintados de vermelho. Maltratada nas ruas, ela tenta recomeçar a vida com um novo emprego e vive temorosa, evitando as pessoas. O motivo desta situação vem de seu passado, da época em que era casada com Franklin (John C. Reilly), com quem teve dois filhos: Kevin (Jasper Newell/Ezra Miller) e Lucy (Ursula Parker). Seu relacionamento com o primogênito, Kevin, sempre foi complicado, desde quando ele era bebê. Com o tempo a situação foi se agravando mas, mesmo conhecendo o filho muito bem, Eva jamais imaginaria do que ele seria capaz de fazer.
O filme começa com a situação atual de Eva Khatchadourian (Tilda Swinton, sempre ótima), uma mulher em depressão, desempregada, vivendo sozinha sem rumo em uma casa de uma pequena cidade, onde sofre com o ódio de alguns moradores. Nesse ambiente tedioso e extremamente melancólico, vemos o cotidiano de Eva se costurar, por meio de flashbacks, com um passado não tão distante.
Casada com Franklin (John C. Reilly), ela dá à luz a Kevin, o primogênito da família, que gera conflito entre mãe/filho desde o berço. A relação entre os dois permeia todo o filme, até atingir o ápice na adolescência do garoto, muito bem interpretado pelo jovem Ezra Miller. O nascimento da doce Celia (Ashley Gerasimovich) vem complicar ainda mais a convivência de Eva com Kevin, que se mostra um filho exemplar para o pai, indiferente diante das tentativas da esposa de alertá-lo com relação às maldades do adolescente. (...)Em uma edição primorosa, que entrega em doses homeopáticas as peças deste quebra-cabeça tenso e mórbido, “Precisamos Falar Sobre o Kevin” tem um tom de suspense crescente e constante. cinemacomrapadura.com.br/criticas
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7 comentários:

  1. Hoje vi Precisamos falar sobre o Kevin.
    E fiquei com vontade foi de falar sobre a Eva, essa mulher que, desde o nome, já vem cheia de culpas, dores, medos, impedimentos, fragilidades, erros, frustrações... Essa mulher que é agredida no supermercado e janta os ovos quebrados que levou pra casa. Essa mulher que pode ser qualquer uma das mulheres que conheço. Essa mulher respingada pelo sangue da vida.
    Que atuação! Atuação? Tilda é Eva. Mulher impressionante!

    Rosane Pimentel - Psicóloga, RJ

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  2. Rosane,
    Obrigada pela colaboração, volte sempre. Seus comentários são capazes de enriquecer qualquer trabalho, valeu!

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  3. Penso que, sem dúvida há uma associação de psicopatia e psicose no personagem, pois aparece o "delírio" final, onde Kevin espera supostamente pelos aplausos pelo seu feito. Me chama a atenção ele não ser levado para tratamento quando criança, o que talvez amenizar a psicopatologia, sadismo, delírios, a crueldade do personagem.

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    1. Concordo com você quanto a psicopatia, entretanto a mãe tentou buscar auxílio profissional sem sucesso. Ela conseguiu perceber algo estranho e quando desencorajada pelos profissionais que deveriam a orientar, desvia sua atenção para a culpa que a atormenta. Afinal, ela não consegue seguir o "manual de boa mãe" quando se trata de Kevin. Só não consigo entender mesmo o comportamento mega alterado de Kevin ainda bebê, e, somente na relação com a mãe. Omissões paternas à parte, é muito complexo o comportamento dirigido para a mãe.
      Obrigada por sua participação, volte sempre!!
      Abçs

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  4. Sou estudante de psicologia e adoro o site.
    Já havia assistido o filme há algum tempo. E adorei. Sou suspeito para falar porque adoro a atriz Tilda Swinton ("Female Perversios", "Thumbsucker", são ótimos!). Mas é um dos pouco filmes que retrata de forma séria, sem clichês, o transtorno de conduta e o transtorno de personalidade antisocial. Parabéns pelo trabalho.

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  5. Michel,
    Seja bem vindo ao site! Sempre bom ter a participação de diferentes olhares, Volte sempre! Boa sorte na faculdade!

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  6. sou uma estudante de psicologia e gostei muito do filme pois ele mostra o desenvolvimento de varios sintomas de psicopatia, o menino sabe como conduzir os pais, ele os manipula. A cena da lichia, pra mim, é a mais medonha. A lichia representa o olho da irma. A lichia é bem parecida com um olho. creio eu que um dos motivos maior que levaram para que o kevin tivece tal comportamento foi a mãe porque ela durante a gravidez tinha ódio do bêbe porque ela gostava muito de viajar e com o nascimento do bêbe ela não poderia mais ta viajando tanto...

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