domingo, 2 de dezembro de 2012

Osama

clip_image001 ASSUNTO
Relações familiares, sociais, culturais, identidade feminina, história, regime opressor.
SINOPSE
2003 - Durante o rigoroso regime Talibã, uma menina é obrigada a se disfarçar e agir como menino para sustentar sua família que é composta só de mulheres. Essa medida faz parte de uma lei que pro[ibe as mulheres de sair de casa sem a companhia legalmente aceita, ou seja, de homens da família. Com marido e irmãos mortos, não há ninguém para sustentar a casa. Para isso, ela cortou o cabelo da filha para ela trabalhar com outros homens e meninos. Ela passa a ser chamada de Osama. Tudo corre bem até que Osama é recrutado pelo exército e inicia uma jornada assustadora pelas estradas do Talibã. A farsa é desvendada quando Osama - nome dado por um garoto que tentou proteger a menina da perseguição dos demais colegas de escola - menstrua. A pobre jovem é submetida a castigos físicos e a um julgamento público. Ao que parece a única distração dos afegãos era participar desses julgamentos, nos quais um senhor barbudo (os homens não podiam cortar a barba), idoso, denominado de juiz, ficava deitado emitindo os seus pareceres. Um deles foi o de mandar matar um repórter francês que gravou o protesto público das mulheres afegãs. A punição de "Osama" é a de se tornar esposa de um velho decrépito. Ela chorando, pedindo ao "juiz" que a devolvesse para a sua mãe é o momento mais emocionante do filme. A mulheres eram oprimidas por excelência nas mãos dos talibãs. Filme-denúncia que evidencia em detalhes o atraso em que viviam certas sociedades em pleno século XX. Inspirada numa história real, Osama é a primeira produção depois da queda do regime Talibã.
TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA
Assim que pude viajar, não como turista, mais como ‘curiosa’, fiz descobertas sensacionais. O fato de encontrar outras culturas e formas de viver amplia nossa perspectiva de mundo, fazendo com que possamos diversificar nosso repertório existencial. É muito rico, ter contato com outras realidades, que nos permitem maior flexibilidade frente às certezas de outrora. Por isso, adquiri um gosto especial por qualquer ferramenta que nos enriqueça nesse aspecto. “Osama” é uma dessas possibilidades. O filme retrata outra realidade cultural e histórica, muito diversa desse nosso mundo “globalizado”.
Assim como a ocasião faz o ladrão, a necessidade faz com que Osama se disfarce de menino para conseguir o sustento da família. Desde o início, somos informados sobre um dado essencial: o Afeganistão é o país em que a mulher é oprimida por excelência, a única informação necessária para acompanhar a trama. Depois de sofrer algumas situações torturantes, sua crise de identidade faz com que a feminilidade a denuncie. O filme denuncia a situação cultural e o momento histórico do país, como atesta a crítica de Alexandre Wernecclique aqui. ( no filme) Tudo para justificar uma metáfora: a revelação de que o menino é uma menina se dá quando ela se vê (e é vista) diante de suas regras: a menstruação a denuncia. Ora, tornar-se uma mulher, para a personagem, assume uma dupla dimensão, o que serve como elemento de generalização do drama: é em busca do direito de tornar-se mulher que as mulheres do Afeganistão estão. A trama ser construída em torno de uma adolescente é o centro da simbologia. O sofrimento de Osama representa a dor da mulher Afegã, subjulgada aos horrores do movimento opressivo Talibã. O poder Talibã se apropriou de homens e mulheres afegãos e foi gradativamente invadindo suas mentes e tornando-os escravos. As mulheres foram massacradas, impedidas de falar em público, de mostrar o rosto e de poder trabalhar.
Tentar compreender uma cultura tão distanciada é, no mínimo, uma tarefa instigante. Como compreender/aceitar que um povo se submeta à condição que uma visão ocidental consideraria absurda, principalmente em relação à situação da mulher? (leia o artigo completo de Rosilene F. Koscianski da Silveira clicando aqui.
O filme nos leva reflexão de como o regime Taliban trouxe grandes mazelas para o povo afegão, tendo um governo marcado pelo medo e pela violência, suprimindo até os momentos de descontração do povo, como a cena da festa de casamento que fingem com a chegada do Taliban que é um velório, e nos leva a imaginar que após esse regime, a existência de grandes feridas que aquele povo ainda guarda, e se eles possivelmente adotaram a frase de Nelson Mandela na abertura do filme, ”Eu não posso esquecer, mas eu posso perdoar”. Leia mais clicando aqui.
Por certo, Osama constitui o discurso da desconstrução do momento moderno e valores legais pelos quais passou a cultura afegã depois do declínio do poder Talibã. Assim sendo, Barmak pôde colocar em discussão a dicotomia homem-mulher na sociedade afegã, colocando em destaque a perda da fronteira do poder do sexo masculino sobre o feminino, quando a protagonista realiza atividades que até então eram exclusivas dos meninos. Artigo completo, clique aqui.
Num mundo globalizado, que traz para a geração dos novos adolescentes alguns questionamentos “rasos” em relação à própria existência, vale a pena conferir o filme que retrata uma realidade bem diferente. Talvez, apenas talvez, o filme ofereça a oportunidade de reflexão sobre questões mais profundas relacionadas à construção do “ser”. Recomendado para pessoas que se disponibilizam a conhecer outras realidades.






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