quinta-feira, 13 de março de 2014

Philomena

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ASSUNTO
Relações familiares, afetivas e sociais, pecado-religião, perdas, história, adoção ilegal, homossexualidade, sexualidade, segredo.
SINOPSE
Irlanda, 1952. Philomena Lee (Judi Dench) é uma jovem que tem um filho recém-nascido quando é mandada para um convento. Sem poder levar a criança, ela o dá para adoção. A criança é adotada por um casal americano e some no mundo. Após sair do convento, Philomena começa uma busca pelo seu filho, junto com a ajuda de Martin Sixsmith (Steve Coogan), um jornalista de temperamento forte. Ao viajar para os Estados Unidos, eles descobrem informações incríveis sobre a vida do filho de Philomena e criam um intenso laço de afetividade entre os dois.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Qualquer estilo de arte tem em sua construção algo do próprio autor, assim como aquele que entra em contato com a obra projeta seus conteúdos em sua forma de percebê-la. Assim, o encontro com a arte nos convida a produzir novos sentidos a cada momento. Há algum tempo, ando refletindo bastante sobre nossos “encontros autênticos” e sua importância, seja com a arte ou com as pessoas. De fato, estas formas de contatar nos permitem afetar e ser afetado. Quanto maior a diferença, maior a possibilidade de trocas que poderão transformar os envolvidos. Philomena é um filme que ilustra bem o fato. O encontro da religiosa e gentil senhora com o jornalista cético, de temperamento explosivo, irão de fato afetar a ambos em suas formas de funcionar no mundo. Philomena, apesar do sofrimento, manteve sua fé e ingenuidade, sem em nenhum momento parecer tola. Sua doçura contrasta com o humor seco e arrogante de Martin, o que não permite que a trama atinja um tom melodramático. Philomena dará a Martin uma grandiosa história jornalística e Martin proporcionará a Philomena o conhecimento que lhe falta. Ele é ateu, cético, sarcástico, irônico. Ela é religiosa, e, mesmo tendo motivos para questionar a igreja, não larga em momento algum sua crença; é ingênua, aparenta inocência, mas é guerreira e possui uma capacidade enorme de compreensão de mundo.
No momento, Martin se encontra desempregado, sem grandes perspectivas. Avesso às histórias de “interesse humano”, mas sem outra opção, ele se envolve no projeto com certa resistência. Ela, por outro lado, apesar do longo período de penitência, de seus preceitos religiosos e da idade avançada, está de mente e coração abertos, “pronta para o que der e vier”. Ele entra no encontro intelectualmente armado, ela chega sabiamente popular. Ironicamente, o “interesse humano” se torna causa abraçada por ele, enquanto ela, sempre tão segura de suas crenças, aprende a questionar. O encontro de personalidades tão antagônicas rende ao filme um toque de realidade, o que não pode deixar de enriquecer o mundo pessoal de ambos. A complexidade feminina é explorada na senhora sensível, que até surpreende ao aceitar com naturalidade a homossexualidade do filho perdido. As armas de Martim perdem força diante das lições devida experimentadas no encontro com Philomena. Do ponto de vista histórico, o filme retrata uma época na qual o pecado servia como moeda de troca para a igreja católica. E, neste aspecto, a trama se torna documento, pois registra e denuncia o passado sombrio da Igreja Irlandesa, o que durou longo período. O silêncio da Igreja, além de destruir e separar muitas famílias, foi capaz de permitir que mães e filhos não obtivessem respostas para suas questões mais profundas ao longo da história. Muitos buscaram pelo sentido de pertencimento e só puderam encontrar silêncio e mentiras, que foram incapazes de preencher seus vazios existências. Philomena dá voz a muitas vítimas de tantas injustiças. 2.200 irlandesas, suas conterrâneas, também tiveram seus filhos adotados por americanos contra sua vontade por determinações da Igreja Católica no país. Seu pecado de juventude lhe rendeu 50 anos de penitência. O Convento da Abadia de San Ross abrigava e punia pecadoras como ela. As freiras faziam o parto e acolhiam os filhos do “pecado” para serem adotados (comercializados) em qualquer tempo. As pecadoras que não tivessem 100 libras, para pagar por seu pecado, eram condenadas a quatro anos de trabalho escravo, e, só podiam ver os filhos por poucos minutos por dia, até que fossem adotados. Diversos artigos publicados discutiram o aspecto histórico da trama. Sem menosprezar a importância desse olhar, prefiro focar o aspecto relacional bastante explorado na trama. Priorizamos o olhar no relacionamento dos envolvidos. Entretanto, o filme é comovente sem se tornar piegas, trata-se de um registro histórico recomendado para todos.





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