domingo, 20 de julho de 2014

Minhas tardes com Margeritte

clip_image002ASSUNTO
Relações familiares, afetivas e sociais, aprendizagem, amizade, educação.
SINOPSE
Baseado no livro de Marie-Sabine e dirigido por Roger Jean Becker, o filme Minhas Tardes Com Margueritte conta a história de um daqueles improváveis encontros que podem mudar a vida de uma pessoa. A trama se passa em torno de Germain, um cinquentão quase analfabeto, e Margueritte (Gisèle Casadesus), uma senhora apaixonada por livros. Quarenta anos e muitos quilos os separam, mas, por acaso, Germain (Gérard Depardieu) senta ao lado dela em um banco no parque. Ela recita versos em voz alta, dando a ele a chance de descobrir a magia dos livros, que nunca fizeram parte da vida dele. As coisas mudam quando o homem descobre que Margueritte está perdendo a visão e, pelo carinho e afeto que foram criados da relação, ele se esforça para aprender e mostrar que ele poderá ler quando ela não puder mais.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Recentemente, comentei sobre um vídeo que sinalizava sobre uma palavra pouco usada em nossos dias, a “ternura”. Eis que poucos dias depois, me deparo com MINHAS TARDES COM MARGARITTE, um filme delicado, encantador e repleto do mais puro sentido da palavra ternura. Falamos de um enredo simples, sobre um encontro inusitado entre dois personagens antagônicos, que irá retratar o retorno ao que realmente importa, mostrando exemplos de ternura e de prazer que estão inseridos nas pequenas coisas da vida. O filme apresenta um encontro casual de um cinquentão rude e uma senhora de idade extremamente delicada. Não se engane, logo percebemos o contraste entre a pequenez do brutamonte e a grandeza da pequena senhora. A trama nos convida a acompanhar o desdobramento do verdadeiro encontro, que só é possível na diferença, como já bem apontado na literatura gestáltica.
Mesmo depois de ter uma educação precária, sofrer bullying na escola e desafeto materno, Germain se tornou um cinquentão avesso à literatura, bronco, mas não perdeu a sensibilidade. Margaritte, ex-ativista da Organização Mundial de Saúde, mora agora em uma casa para idosos, onde ocupa um quarto repleto de livros, que se tornaram parte importante de sua existência. Numa tarde qualquer, os pombos da praça se tornam assunto e ponto de partida para a construção da amizade entre personagens tão díspares. A partir de então, somos convidados a saborear a riqueza dos desdobramentos desse contato, que irá modificar a vida de ambos. Margueritte é a personificação da sabedoria, aceita Germain em sua totalidade, não aponta suas falhas, não impõe suas verdades pessoais. Ao contrário, ela enfatiza as qualidades dele. Germain, já acostumado a ser inferiorizado desde a infância, principalmente por sua dificuldade de aprendizagem, encontra encantamento nesse encontro com a frágil senhora, que é capaz de provocar o seu potencial. A autenticidade desse encontro permite que ambos criem um ritual prazeroso, onde se torna possível “des-cobrir”, descortinar novos significados para situações inacabadas. Despertando a curiosidade dele, abertura necessária para o real aprendizado, a delicada senhora disponibiliza o universo de letras e afetos, que até então não pertenciam ao mundo de Germain. O filme oportuniza diversas reflexões, já começando pelo contraste de tardes despretensiosas, intervalos necessários, com o mundo moderno, que traz uma vida acelerada e desprovida sentidos e significados. Se perder ou se achar no tempo, tempo de ser, de viver, de sentir, é apenas um dos aspectos que podem provocar novas reflexões. Logo, vemos Germain priorizando o tempo com ela, onde não há “pre-ocupação, o tempo é vivido e vívido, dando lugar para o “ser” de ambos. Poderemos encontrar indicações absolutamente preciosas sobre aprendizagem, amizade, relações familiares disfuncionais, ser/ter, minimalismo, dificuldade de expressar sentimentos, entre outras. Recomendado para quem tem sensibilidade, para quem trabalha com educação ou relacionamento humano, ou, simplesmente para quem gosta de um simples, sensível e ótimo filme.




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