ASSUNTO
Relações familiares, sociais e afetivas, dificuldade em relações afetivas estáveis, luto, doença terminal, depressão e homossexualidade.
SINOPSE
Oliver Fields (Ewan McGregor) é um sujeito de vida pacata como artista gráfico que perdeu a mãe há cinco anos. Ele sofre um novo abalo ao receber duas notícias vindas de seu pai, Hal (Christopher Plummer), que anuncia ter câncer e ser homossexual. Oliver embarca em um relacionamento com a atriz francesa Anna (Mélanie Laurent) e espera que as experiências passadas em seu núcleo familiar, ainda que inusitadas, o auxiliem na construção de sua vida amorosa.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Estamos diante de um tema bastante atual que atinge pessoas de diversas idades: A dificuldade em estabelecer uma relação afetiva estável. A trama acompanha as reflexões e enfrentamentos de Oliver, um sujeito deprimido que se encontra em momento de luto, vagando em pensamentos que insistem em prendê-lo ao passado. As lembranças de Oliver surgem em flashbacks e vão costurando a trama, retratando momentos de sua vida. Em suas lembranças de infância há somente a presença mãe, indicando a ausência paterna durante longo tempo. O pai se torna mais presente após a morte da mãe, quando se revela gay aos 75 anos, momento em que revela também ter câncer – situação pouco compreendida pelo filho. O título original Begginers já sugere a ideia central, que pretende mostrar o quanto somos todos iniciantes em matéria de relacionamentos afetivos.
A cena inicial mostra o quanto ele é solitário, chegando ao ponto de falar com o cachorro que herdou de seu pai durante a apresentação de cada cômodo da casa. Aos poucos, vamos conhecendo mais sobre a vida familiar dele, o que ajuda na compreensão de seus dilemas e sua trajetória. A relação de Oliver com o cachorro se torna mais intensa e eles se apegam, o que favorece mais o seu isolamento. Ao ser convidado para uma festa à fantasia, ele garante sua proteção contra as possíveis “ameaças relacionais” ao se fantasiar de Freud e só consegue ir, levando o cachorro a tiracolo. A escolha da fantasia foi significativa, pois assim poderia apenas personificar o psicanalista e permanecer apenas ouvindo, sem que fosse necessário dialogar. Mas é nesta festa, que os amigos insistiram em levá-lo, que ele conhece Anna. Ironicamente, ela não pode falar na ocasião, o que acaba forçando-o a fazê-lo. Aos poucos, eles iniciam um romance, que não será fácil para nenhum dos dois, pois ambos apresentam dificuldade com relacionamentos estáveis. Eles se revelam bastante “freudianos”na trama, pois suas questões mais problemáticas giram em torno dos pais. A elaboração do luto é retratada nas reflexões de Oliver, o que vai dando contorno a trama. O relacionamento de fachada entre seu pai e sua mãe, por exemplo, contrasta com a relação homoafetiva entre o pai e seu amante mais jovem. Outros recortes vão surgindo, como peças de um quebra-cabeças. No início, vemos Oliver repetir frases ou gestos que sua mãe ou seu pai faziam, comportamentos herdados sem consciência. Aos poucos, ele vai descobrindo que não é preciso ficar preso ao passado, que é a partir da conscientizção de como está funcionando, agora, é o que pode favorecer na separação do que é escolha dele, do que não é. Ao atualizar suas memórias, ele pode abrir a possibilidade de virar a página e escolher repetir o que deseja ou trilhar um novo caminho. Isto só se torna possível com o tempo, o que permite que ele possa digerir melhor fatos que estavam suspensos, inacabados, sem fechamento ou sentido para si. Seria preciso enfrentar, atualizar as memórias infantis ou dar significado aos acontecimentos seguintes: a revelação da doença terminal, da orientação sexual, além da própria morte do pai. Ao compreender melhor as escolhas que foram dos pais e não suas, ele transforma o que parecia obstáculo em lição de vida. Relembrar do humor e da alegria de seu pai, em viver intensamente uma nova história de amor, apesar da doença, foi um dos pontos que ajudaram ao resgate da figura paterna. Ao reencontrar o ex-amante do pai, ele aprende mais sobre o pai e sobre si mesmo. Oliver, então, aprende sobre as diferentes formas de amar, e, principalmente, que sempre é tempo para se despedir do passado e começar ou recomeçar uma nova vida, um novo amor ou uma nova forma de experimentar ambos. O filme fala de cada um de nós e da nossa constituição a partir de nossas histórias familiares, do nosso contexto. O filme nos convida a refletir sobre experimentar o novo sempre como novo, nos mostrando que sempre poderemos escolher o que usar de nosso repertório pessoal/familiar, para que possamos experiências plenamente o novo.
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