quinta-feira, 19 de junho de 2014

Pais e filhos (Like a father like a son)

clip_image002
ASSUNTO
Relações familiares, afetivas e sociais, paternidade socioafetiva, paternidade biológica, personalidade, conflitos existenciais e familiares.
SINOPSE
Ryota (Masaharu Fukuyama), um homem determinado, trabalhador e bem-sucedido, e a sua mulher, Midori (Machiko Ono), formam um casal com um projeto de vida ambicioso, que inclui proporcionar ao seu filho Keita, de seis anos, a melhor preparação para o futuro e todas as oportunidades para vencer na vida. Mas tudo muda no dia em que recebem um telefonema avassalador: houve uma troca na maternidade e, afinal, o filho que pensavam ser seu não o é. O filho biológico vive com um casal humilde que, embora não lhe falte com amor e bons valores, está longe de ter planos comparáveis aos de Ryota. Este pai de família vê-se assim forçado a questionar tudo, incluindo a própria condição de pai e educador, sem perder de vista os fortes laços familiares e o bem-estar emocional das crianças. Em simultâneo, vai ter de encontrar forças para lidar com o profundo dilema de ter de escolher entre a força do sangue ou do amor.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
A proposta principal oferece importantes reflexões sobre os laços familiares. Afinal, que tipo de laço nos une? São os laços sanguíneos, afetivos ou culturais? É sabido que os pais exercem grande papel dentro da família, pois é através deles que a criança dá inicio a seu contato social em na cultura em que está inserido. É na família que a criança forma suas primeiras ligações afetivas e encontra seus modelos. Destacamos a palavra papel, por conta da sua importância como tal, não os considerando como pais biológicos e sim como aqueles que vivem o papel de pais, ou seja, pais socioafetivos. A paternidade socioafetiva já é amplamente reconhecida, fazendo parte no Brasil do vocábulo jurídico, para nomear, por exemplo, os pais adotivos ou aqueles que conviveram por determinado tempo com as crianças. Podemos, então, constatar a importância do convívio familiar na construção da identidade do ser humano, principalmente nos primeiros anos de vida. As mães, conforme retratado no filme, logo sinalizam a respeito, ao questionarem a adaptação das crianças após seis anos de convivência. Os conflitos individuais e familiares virão à tona com a chocante informação sobre a troca de bebês na maternidade.
Precisamos explicar que a diferença entre as famílias não é apenas econômica. A primeira família é abastada, composta pelo pai autoritário, bem sucedido, e autoritário Ryota, acompanhado da esposa Midori, mãe dedicada e solitária no cotidiano com o filho Keita. A segunda família, de um meio social mais baixo, é composta pelo pai Ryusey, um lojista que pouco trabalha, é divertido e adora brincar com os filhos, que inclui Yudai de 6 anos, e, a esposa Yukari. Logo, é possível perceber a diferença gritante no significado de “educação” para cada pai. Para Ryota, o importante é ganhar dinheiro para investir na melhor educação, preparando o filho de forma rígida para entrar em uma escola conceituada, objetivando boa colocação no futuro profissional. Para Ryusey, a convivência com seus filhos é prioridade, fazendo do “brincar” uma forma de acompanhar a educação dos filhos. No momento de descoberta da troca dos bebês na maternidade, a questão que se coloca para o espectador é se seríamos capazes de trocar um filho “socioafetivo” por um filho biológico. O desenvolvimento da trama nos mostra diferentes formas de reagir/compreender ao fato. Como, depois de seis anos, olhar para aquela criança como “não-filho”, e para o outro como filho, que mesmo que tenha semelhança física, ainda é um estranho? Como resolver tal dilema? O amor, a dedicação, a educação contam mais ou menos que o sangue? Muito já foi dito e comprovado que é o amor, o afeto, a atenção, a educação e o investimento que damos ao filho é o que faz bons pais. No entanto, a descoberta de um filho biológico que tem o mesmo sangue e, portanto, herdará aspectos físicos e psicológicos, pode ser ignorada? O choque social e cultural entre as duas famílias tornará tema de discussão diferentes concepções de “seio familiar”, cada qual com sua particularidade. Entre a disciplina rígida da família abastada e a disponibilidade de tempo de convívio da outra família, é possível refletir sobre aspectos importantes entre “ser” e “ter”. Aqui, chamo a atenção para uma busca recente, que se opõe aos preceitos do mundo capitalista. Há um movimento minimalista direcionado para o estilo de vida, que questiona a necessidade de tanto consumo, e, segue o ditado “menos é mais”. A proposta deste “estilo de vida” é de reavaliar constantemente a necessidade daquilo que é consumido. A vida minimalista propõe um retorno à vida simples, simplicidade voluntária e frugalidade, um estilo de vida que têm como princípio identificar o essencial e eliminar o excesso. O assunto tem sido tema de muitos atendimentos familiares, onde é fácil encontrar filhos que cobram maior presença dos pais em seu cotidiano, muitas vezes com as crianças propondo abrir mão de um novo brinquedo eletrônico na troca. É comum encontrarmos pais que seguem uma filosofia de excesso de trabalho, na busca por uma boa educação para os filhos, incluindo a oferta do que há de melhor no mercado. É importante destacar que se trata de um ato de amor, pois nem sempre se dão conta do que é realmente importante para os filhos. E por isso, o tema tem emergido constantemente em terapia familiar, trazendo a busca de outros valores para o seio familiar.. Reavaliar a relação pais e filhos nesse e em outros aspectos, nos parece um dos pontos altos do filme, que pode tocar com delicadeza o coração do espectador.






Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua opinião é muito importante!