Dieta Mediterrânea

ASSUNTO
Relações afetivas, familiares, poliamor, culinária, conujagalidades.
SINOPSE

Sofia (Olivia Molina) nasceu prematuramente, em uma barbearia rodeada de homens. Nos 15 anos seguintes ela vive em meio às mesas e fogões do restaurante de seus pais. Já adulta, se casa com Toni (Paco León) e com ele tem três filhos. Só que, ao mesmo tempo em que ama seu marido, se apaixona por Frank (Alfonso Bassave), o agente que todo artista gostaria de ter. Com Frank ela aprende os segredos da gastronomia. Logo o trio firma um acordo profissional, que altera a forma de cozinhar de Sofia.

TRAILER

O OLHAR DA PSICOLOGIA

“Leve, saboroso e ligeiramente picante”, foi assim que Line Macedo (Clique para ler o artigo completo) fez referência ao filme. Concordo. O filme é leve, toca em assuntos delicados de forma light, permitindo que o espectador compartilhe da evolução de Sofia, sem que os julgamentos tenham espaço suficiente para o estranhamento. É saboroso pela possibilidade da película trazer para as imagens diferentes sabores, através de cores no encontro entre aromas e paladares. Ligeiramente picante porque o filme ousa transcender o convencional, sem que para tanto se torne agressivo ou chocante. O filme escolhe outros caminhos. Aqui falamos de poliamor, um modelo de relação que inclui relações múltiplas, simultâneas e consentidas. Não se trata de uma modalidade de relação apenas sexual, inclui afetividade, um conceito novo para uma prática há muito existente. A trama retrata a construção dessa relação de uma forma quase natural. A disponibilidade de Sofia para explorar sabores, aromas e cores está em sua afinidade com a cozinha desde a infância, o que acaba por ser estendido para suas relações afetivas. Sim, Sofia explora os limites dos sentidos em suas relações, seja com as combinações dos alimentos ou de relacionamento.

As aventuras exploratórias de Sofia são retratadas desde a infância, quando fica clara sua predileção por novas experiências sensórias através da combinação de alimentos, estimulando o desejo de outros se aventurarem em novas experiências. Desde pequena também, Sofia se encanta por dois meninos, que são convidados a acompanhar seu desenvolvimento, em diferentes experiências. Interessante, notar que cada qual aprecia um aspecto diferente dela. Paco idolatra a mulher sensual que pode realizar o sonho de constituir família. Frank reconhece seu talento profissional, desafia seu potencial de realizar seus sentidos além dos muros. O previsível e o imprevisível se encontram através de Sofia, que compõe o inusitado, transgredindo o racional, priorizando os sentidos. Eles seguem o impulso natural do ser humano de se relacionar com várias pessoas ao mesmo tempo, não há limite social imposto aos seus desejos. O que pode ser confuso, a princípio, se naturaliza aos poucos, encontrando a realização plena dos envolvidos, permitindo que pré-conceitos sejam superados. A monogamia como princípio ou necessidade perde sua força. Assistir ao filme requer mente aberta, não para aderir novas formas de se relacionar, entretanto, vale a pena refletir sobre nossos muros e limites impostos culturalmente, diante do que pode ser ou não tornar-se natural para cada um. O filme desmistifica qualquer conceito pré-concebido, apresentando a culinária como metáfora para os sentimentos humanos. Afinal, a comida caseira é boa e conhecida, quem pode ousar descobrir outros sabores?