sábado, 30 de janeiro de 2016

Cinco Graças


ASSUNTO

Relações sociais, familiares e afetivas, crenças e valores, cultura, religião.

SINOPSE
No início do verão em um vilarejo turco, Lale e suas 4 irmãs brincam de forma debochada com os meninos, o que acarreta em um escândalo de consequências muito fortes: a casa delas se torna praticamente uma prisão, elas aprendem a limpar ao invés de ir para a escola e seus casamentos começam a ser arranjados. As cinco não deixam de desejar a liberdade, e tentam resistir aos limites que lhes são impostos.

TRAILER

O OLHAR DA PSICOLOGIA

Viajar o mundo e conhecer outras culturas é uma forma de ampliar nosso olhar. Se de um lado, algumas culturas são capazes de flexibilizar nossos conceitos, outros nos oportunizam a gratidão pelos conceitos e pré-conceitos de nosso universo cultural. Ainda assim, como qualquer experiência, prazerosa ou não, saímos enriquecidos da experiência. “Cinco graças” provoca diferentes reflexões, revelando conceitos particulares daquela cultura, que escolhe oprimir as adolescentes, para que possam cumprir as regras morais. Ainda que não haja o desejo sincero de exercer atos punitivos, seguindo os preceitos da religião muçulmana conservadora, todos estão condicionados a regras tão poderosas, que já se reproduzem sozinhas (sem que seja necessária uma intervenção explícita dos representantes da igreja). As regras morais fazem parte do que foi apreendido como “receita do bom viver”. Isso nos fez pensar naquilo que Ângelo Gaiarsa alertava na relação mãe e filho. De fato, independente das regras morais e sociais, cada mãe apreende uma “receita pronta” sobre ser “boa mãe”. Muitas se esforçam tanto para exercer tal receita apreendida durante o próprio desenvolvimento, que acabam por esquecer-se de ver e ouvir o próprio filho, que traz outros olhares, novas linguagens e necessidades.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

O Quarto de Jack


ASSUNTO
Relações afetivas e familiares, infância, sequestro, depressão, transtorno pós-traumático, relações sociais e potencialidades.

SINOPSE
O longa conta a história de Jack (Jacob Tremblay) , um menino de cinco anos que é criado por sua mãe, Ma (Brie Larson). Como toda boa mãe, Ma se dedica a manter Jack feliz e seguro e a criar uma relação de confiança com ele através de brincadeiras e histórias antes de dormir. Contudo, a vida dos dois não é nada normal: eles estão presos em um espaço de 10m², um minúsculo quarto sem janelas, com apenas uma claraboia Enquanto a curiosidade de Jack sobre a situação em que vivem aumenta, a resiliência de Ma alcança um ponto de ruptura. Os dois, então, começam a traçar um plano de fuga. Ao mesmo tempo em que conta uma história de cativeiro e liberdade, O Quarto de Jack destaca o triunfante poder do amor familiar mesmo na pior das circunstâncias.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA


Profundamente tocante, o filme é intenso, angustiante. Acompanhamos o início da trama sem compreender direito a razão daquela forma restrita de Ma educar o filho. Aos poucos percebemos a grandeza daquela mãe, que transforma a condição de cativeiro em um mundo particular, explorando a fantasia e transbordando afeto para seu filho. Jack desconhece a possibilidade de existir um mundo diferente daquele. Para ele, tudo que é apresentado na televisão é irreal, é fantasia, é de mentira. Ainda com a angústia provocada pelos acontecimentos restritos ao quarto, fomos transportados para "nossas neuroses de cada dia". É sabido sobre a importância dos eventos e impressões registrados em nossos primeiros anos de vida, compondo assim nosso mundo, que pode ser considerado verdadeiro e único. O que muitas vezes torna difícil aceitar outras perspectivas. Entretanto, ainda que as experiências iniciais sejam dolorosas, é possível que existam outras pessoas capazes de apresentar outras versões, que ampliam nossas possibilidades. Ainda assim, na infância há questões difíceis de serem questionadas ou superadas, dificultando nosso processo de desenvolvimento. Pode ser pela ausência de afeto, por excesso de “verdades”, por violência, valores restritos, julgamentos exacerbados, etc. Independente do que acontece nesta fase, é fato que  se torna parte do que nos tornamos,  parte difícil de ser desconsiderada ou questionada. Na abordagem Gestáltica, vemos o homem como um ser que se constrói através dos contatos que faz com o seu meio - pessoas com diferentes perspectivas -, num processo eterno de vir a ser. É muito importante mantermos contatos nutritivos, com pessoas que colaboram para nosso desenvolvimento, evitando cristalizações, engessamentos produzidos em contatos tóxicos – pessoas que prejudicam nosso processo. Muitas vezes, os contatos tóxicos da infância nos contaminam, tornando difícil aceitar outras perspectivas, produzindo conflitos que nos paralisam diante da vida. Sintomas diversos expressam a necessidade de mudança, ao mesmo tempo em que revelam um difícil obstáculo, em uma paralisação ou repetição É o momento de pedir ajuda profissional de um psicólogo, um psiquiatra ou ambos. Outras vezes, contatos nutritivos nos ajudam a superar tais conflitos, favorecendo nosso desenvolvimento através do afeto, transformando nosso mundo, até então empobrecido, restrito. Certamente, Jack tem afeto e suporte para seu desenvolvimento. No entanto, seu mundo se restringe ao quarto e sua mãe, um universo afetuoso, entretanto, limitado.