Adolescência, relações familiares, medo, terapia familiar, metáfora de uma família disfuncional.
SINOPSE
A comédia pré-histórica “Os Croods” acompanha a família Crood, que tem sua caverna destruída. O clã se vê obrigado a partir em busca de uma nova casa. Liderados por Grug, só não imaginavam que sair das cavernas ia render a maior aventura de suas vidas. Cage emprestará sua voz a Crug, que cautelosamente guia sua família em busca de um lugar seguro, depois que um terremoto destrói sua casa. Ao tentar encontrar um caminho em ambiente perigoso e hostil, ele encontra o personagem de Reynolds, um nômade que encanta o clã de Crug com seus modos modernos – especialmente sua filha mais velha.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Um domingo, com filho e afilhada, me levou a assistir OS CROODS, uma comédia deliciosa que me fez rir muito e também refletir sobre muitas coisas. Pouco tenho postado sobre animações infantis. Mas, nesse caso, o filme é indicado para a família toda, e, também para aqueles que estudam ou trabalham com terapia familiar. Sim, o filme é um prato cheio para quem estuda o tema! Trata-se de uma família que vive isolada, enclausurada, devidamente acomodada em sua zona de conforto. O sistema familiar prioriza a sobrevivência, especialmente após terem assistido as outras famílias serem destruídas. A chama do MEDO é mantida acesa, não é possível enfrentar o NOVO, que deve ser evitado a qualquer custo. Muitas famílias se portam de modo semelhante, especialmente após alguma tragédia ou sofrimento demasiadamente ameaçador. O sistema familiar fechado é sinônimo de família disfuncional. O medo de enfrentar mudanças fica evidenciado. Na realidade, não só as famílias vivem assim, há também indivíduos que se fecham em si mesmos, evitando contato com o novo e alimentando o medo de tudo e de todos, tudo em nome da proteção.
Tudo o que está do lado de fora da caverna deve ser temido. A mulher diligente, a sogra anciã – há cenas hilárias e bastante atuais na relação genro-sogra -, o menino pateta e até a criança feroz seguem, obedientes, a cartilha paterna. Entretanto, há também uma adolescente no clã, que inquieta e cansada de viver trancada, se aventura na noite escura e temida. A adolescência representa a vontade de correr riscos, de enfrentar o novo, de buscar outros caminhos. O encontro com outro adolescente, que representa um povo mais “moderno”, traz a força do novo, das novas ideias, dos riscos inerentes ao movimento da vida. Ainda assim, mesmo com informações renovadoras, o patriarca não permite abertura para o novo. A família, comandada e protegida por ele, deve permanecer hermeticamente fechada, isolada em sua caverna. Ele tem a pretensão de permanecer como esteve até então, no mesmo lugar, da mesma forma. Aqui, chamo atenção para tal resistência, que é de fato ilusória, pois mesmo quando escolhemos não mudar por iniciativa, por escolha, a mudança acontece. A mudança é movimento de vida, quando não ocorre, não há mais vida. Assim também acontece com os Croods, a tentativa fracassa, as mudanças acontecem. A vida nos faz mudar, quando não escolhemos, ela escolhe por nós. Assim, eles precisam seguir em direção ao amanhã. E, no encontro do tradicional e bruto patriarca com o inovador rapaz nômade, o adolescente “antenado”, muitas aventuras e embates começam. O Nômade é inventivo, criativo e é o único capaz de compreender um pouco do que está por vir. Sua experiência em riscos e aventuras o deu-lhe mais ferramentas para lidar com os desafios que estão por vir. Já o conservador patriarca se vê perdido, precisa ceder a liderança ao rapaz. Aos poucos eles descobrem um mundo novo, mais colorido, vibrante, nem por isso menos perigoso. Gosto dessa ideia de lugar aparentemente perfeito, encantado, mas nem por isso livre de riscos, de problemas. Não há uma ilusão, o caminho oferece vida, por isso está repleta de contradições. O encontro de gerações me fez pensar também no que ocorre quando um ignora o outro. Há a criatividade e inovação da geração atual que transborda saúde e vende a imagem de felicidade. Mas, não há como seguir sem a força e a sabedoria dos mais experientes. Neste aspecto, o desenho promove um acerto ao apresentar a união de ambos como possibilidade de trocas necessárias para que novas conquistas sejam realizadas. Assim, a animação diverte e nos dá material suficiente para pensarmos sobre os conflitos existenciais individuais ou familiares e seus possíveis desdobramentos. Por estes e outros aspectos percebidos, o filme é indicado para todos, confiram!
Gostei muito da sua visão. Muito obrigada! Sou professora e adoro novos pensamentos.
ResponderExcluirQue bom! Acho importante trocar percepções, e, obviamente, trabalhar no ensino com o lúdico oportuniza aos alunos uma compreensão integrada. Obrigada pelo comentário!
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