quarta-feira, 6 de agosto de 2014

A Culpa é das Estrelas

ASSUNTO
Doença terminal, luto, perseverança, tempo, relações afetivas, sociais e familiares, autoconhecimento, superação, prioridades.
SINOPSE
Diagnosticada com câncer, a adolescente Hazel Grace Lancaster (Shailene Woodley) se mantém viva graças a uma droga experimental. Após passar anos lutando com a doença, ela é forçada pelos pais a participar de um grupo de apoio cristão. Lá, conhece Augustus Waters (Ansel Elgort), um rapaz que também sofre com câncer. Os dois possuem visões muito diferentes de suas doenças: Hazel preocupa-se apenas com a dor que poderá causar aos outros, já Augustus sonha em deixar a sua própria marca no mundo. Apesar das diferenças, eles se apaixonam. Juntos, atravessam os principais conflitos da adolescência e do primeiro amor, enquanto lutam para se manter otimistas e fortes um para o outro.

TRAILER

O OLHAR DA PSICOLOGIA
Atendendo ao pedido de uma colega do grupo, Christiana Chagas, finalmente assisti A CULPA É DAS ESTRElAS. Por sorte minha não o fiz no cinema. Explico: Sou chorona por natureza, e, se o fizesse rodeada de pessoas, poderia ser constrangedor, talvez não fosse possível soltar toda emoção. Em casa, sozinha, eu pude dar vazão às emoções, chorei muito. Não, o filme não é um daqueles dramas melodramáticos que prioriza manipular o espectador colocando “o dedo na ferida”, explorando imagens da doença ou apelando para a compaixão do público. Apesar de conter diálogos ricos, recheados de “tiradas geniais”, o foco maior está no que não é dito. Os atores cumprem o trabalho, cada olhar ou gesto transmitem muito, fica impossível não ser tocado em algum momento. Bom, não é bem assim. Há pessoas que são como Gus, escondem suas emoções ou inseguranças em frases irônicas e bem humoradas, ou em sorrisos sarcásticos ou deboches. São apenas formas singulares de expressão. Fato é que, lá no fundo, existe um lugar que é tocado, mesmo que a pessoa não consiga expressar como o ‘outro’ é capaz de fazer. Aliás, uma coisa engraçada é essa de chorar. Embora seja a expressão autêntica de uma emoção, na maior parte das vezes, surge alguém que diz a célebre frase: “Não chore.” Por que não chorar? Tenho me perguntado o motivo de sentirmos vergonha disto, sendo o choro coerente com o momento ou não... Voltando ao filme: O silêncio das cenas toca o espectador no conjunto de suas próprias experiências, não pela semelhança com os fatos retratados, mas pelas sensações percebidas como “conhecidas”. Obviamente, cada um será tocado em sua particularidade, portanto, não há como explorar todas as possibilidades. Sendo o filme baseado em um livro escrito para adolescentes, é esperado que a trama pudesse atingir ao mesmo público. No entanto, os temas abordados podem superar as expectativas e afetar ao público em geral. Isto ocorre, principalmente, por focarem em assuntos que permanecem como tabus para a humanidade: câncer, morte, doença, tempo, a finitude.
Desde o início, sabemos que a morte é fato incontestável para os personagens, mas o que nos emociona mesmo são as cenas que expressam vitalidade: A vida apesar da morte, o amor apesar dos defeitos, o tempo apesar da falta dele. Paradoxos que nos fazem refletir. Não somente os adolescentes contemporâneos “ocupam” seu tempo com atividades que fogem do contato real, aquele que nos dá a impressão de que o tempo parou - aquele instante que marca o sentido de “eterno”. Novos tempos trouxeram, com a velocidade tecnológica, um relativo distanciamento dos verdadeiros sentidos - que exigem pausa para integração. Cada dia mais ferramentas surgem, que vão ocupando partes de nosso tempo, de nossos pensamentos, de nossas partes. Sim, aos poucos, somos “partilhados” em diferentes atividades e compromissos que seguem nos dividindo, nos compartilhando. Enquanto teclo, ouço a televisão, acompanho o movimento do celular, das redes sociais, da possibilidade de e-mail, do pensamento nos compromissos seguintes, no tempo que urge etc., etc. Enquanto isso ocorre, como focar em uma única experiência? Como, diante de tantos estímulos, posso ter consciência do que sinto com um único desses múltiplos estímulos? É preciso pausa. Não é possível o tempo todo e por isso adoecemos. Os sintomas podem nos fazer pausar ou podemos de vez em quando nos permitir. Durante o filme, tive uma pausa. Eu pude sentir emoções, pude chorar, pude me deixar tocar. Enquanto assistia, estive na pausa, o foco estava nos meus sentidos, pude experienciar, viver simplesmente o momento. E aí, só depois, refleti. Ao deixar o que me tocou ecoar em mim, pensei em prioridades e como as organizamos. Lembrei-me do primeiro discurso de Hazel, feito para o funeral, no qual ela usou metáforas matemáticas. O espaço infinito contido em um único algarismo, finito, que entre o zero e o um contém infinitas possibilidades: 0,0001; 0,002; etc. Lembrei também da frase do pai, que no momento de luto, sinalizou o privilégio de ter sido possível para ela viver aquele amor. Lembrei-me do quanto, nesse momento de dor, o quanto a dor da perda está ligada ao ganho que não mais existe, mas que faz parte de nós. Lembrei-me de minhas perdas e de meus privilégios de ter compartilhado momentos com pessoas especiais. Lembrei-me da cena de outro filme, na qual o “mestre” jogava o discípulo na água, para que ele compreendesse o valor de um instante (Poder além da vida). Durante a exibição do filme, pude estar lá, com eles, integrada e entregue, portanto minhas experiências e vivências também. Estavam na negação dos personagens, quando tentavam evitar “sensações”, mesmo que boas, para que a dor não viesse a seguir. Estavam na diferença, que possibilitou tantos encontros, e, que me tornaram quem estou sendo agora. Estavam em cada instante, em que me permiti viver o momento em sua plenitude. O filme fala de luto, de dor, de doença, de tristeza e de morte. Mas, o foco está no que acompanha cada um desses temas, celebração, prazer, saúde, alegria e vida. Não falamos de opostos, mas de partes de uma totalidade. Na abordagem gestáltica, olhamos o ser em sua totalidade, não aceitamos cisões entre corpo/mente, por exemplo. No entanto, vemos as polaridades como partes inseparáveis, no lugar de opostas, elas estão unidas pelo, e, totalizando um organismo. Por exemplo, “corpo e mente”, “ser e mundo”, todos estão interligados numa rede, uma totalidade. Dentre tantas reflexões, escolhi partilhar com vocês, aquelas que me “tocaram”, que em “meu mundo” foi possível acontecer. O que está fora do meu campo, para mim não existe, não tem “sentido”. Certamente, agora é o que faz sentido para mim. Não há desprezo aos outros tantos aspectos que podem ser percebidos na trama, é apenas o que é possível agora. Em outro momento, posso perceber outras tantas perspectivas, como também outras pessoas poderão fazer. Por agora, fico com os temas prioridade e tempo, que poderão dar bons frutos. Faço votos que o filme seja também para você uma boa experiência, recomendo.

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