
Doença terminal, luto, perseverança, tempo,
relações afetivas, sociais e familiares, autoconhecimento, superação,
prioridades.
SINOPSE
Diagnosticada com câncer, a adolescente Hazel Grace
Lancaster (Shailene Woodley) se mantém viva graças a uma droga experimental.
Após passar anos lutando com a doença, ela é forçada pelos pais a participar de
um grupo de apoio cristão. Lá, conhece Augustus Waters (Ansel Elgort), um rapaz
que também sofre com câncer. Os dois possuem visões muito diferentes de suas
doenças: Hazel preocupa-se apenas com a dor que poderá causar aos outros, já
Augustus sonha em deixar a sua própria marca no mundo. Apesar das diferenças,
eles se apaixonam. Juntos, atravessam os principais conflitos da adolescência e
do primeiro amor, enquanto lutam para se manter otimistas e fortes um para o
outro.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
Atendendo ao pedido de uma colega do grupo, Christiana Chagas,
finalmente assisti A CULPA É DAS ESTRElAS. Por sorte minha não o fiz no cinema.
Explico: Sou chorona por natureza, e, se o fizesse rodeada de pessoas, poderia
ser constrangedor, talvez não fosse possível soltar toda emoção. Em casa,
sozinha, eu pude dar vazão às emoções, chorei muito. Não, o filme não é um
daqueles dramas melodramáticos que prioriza manipular o espectador colocando “o
dedo na ferida”, explorando imagens da doença ou apelando para a compaixão do
público. Apesar de conter diálogos ricos, recheados de “tiradas geniais”, o foco
maior está no que não é dito. Os atores cumprem o trabalho, cada olhar ou gesto
transmitem muito, fica impossível não ser tocado em algum momento. Bom, não é
bem assim. Há pessoas que são como Gus, escondem suas emoções ou inseguranças em
frases irônicas e bem humoradas, ou em sorrisos sarcásticos ou deboches. São
apenas formas singulares de expressão. Fato é que, lá no fundo, existe um lugar
que é tocado, mesmo que a pessoa não consiga expressar como o ‘outro’ é capaz de
fazer. Aliás, uma coisa engraçada é essa de chorar. Embora seja a expressão
autêntica de uma emoção, na maior parte das vezes, surge alguém que diz a
célebre frase: “Não chore.” Por que não chorar? Tenho me perguntado o motivo de
sentirmos vergonha disto, sendo o choro coerente com o momento ou não...
Voltando ao filme: O silêncio das cenas toca o espectador no conjunto de suas
próprias experiências, não pela semelhança com os fatos retratados, mas pelas
sensações percebidas como “conhecidas”. Obviamente, cada um será tocado em sua
particularidade, portanto, não há como explorar todas as possibilidades. Sendo o
filme baseado em um livro escrito para adolescentes, é esperado que a trama
pudesse atingir ao mesmo público. No entanto, os temas abordados podem superar
as expectativas e afetar ao público em geral. Isto ocorre, principalmente, por
focarem em assuntos que permanecem como tabus para a humanidade: câncer, morte,
doença, tempo, a finitude.
Desde o início, sabemos que a morte é fato
incontestável para os personagens, mas o que nos emociona mesmo são as cenas que
expressam vitalidade: A vida apesar da morte, o amor apesar dos defeitos, o
tempo apesar da falta dele. Paradoxos que nos fazem refletir. Não somente os
adolescentes contemporâneos “ocupam” seu tempo com atividades que fogem do
contato real, aquele que nos dá a impressão de que o tempo parou - aquele
instante que marca o sentido de “eterno”. Novos tempos trouxeram, com a
velocidade tecnológica, um relativo distanciamento dos verdadeiros sentidos -
que exigem pausa para integração. Cada dia mais ferramentas surgem, que vão
ocupando partes de nosso tempo, de nossos pensamentos, de nossas partes. Sim,
aos poucos, somos “partilhados” em diferentes atividades e compromissos que
seguem nos dividindo, nos compartilhando. Enquanto teclo, ouço a televisão,
acompanho o movimento do celular, das redes sociais, da possibilidade de e-mail,
do pensamento nos compromissos seguintes, no tempo que urge etc., etc. Enquanto
isso ocorre, como focar em uma única experiência? Como, diante de tantos
estímulos, posso ter consciência do que sinto com um único desses múltiplos
estímulos? É preciso pausa. Não é possível o tempo todo e por isso adoecemos. Os
sintomas podem nos fazer pausar ou podemos de vez em quando nos permitir.
Durante o filme, tive uma pausa. Eu pude sentir emoções, pude chorar, pude me
deixar tocar. Enquanto assistia, estive na pausa, o foco estava nos meus
sentidos, pude experienciar, viver simplesmente o momento. E aí, só depois,
refleti. Ao deixar o que me tocou ecoar em mim, pensei em prioridades e como as
organizamos. Lembrei-me do primeiro discurso de Hazel, feito para o funeral, no
qual ela usou metáforas matemáticas. O espaço infinito contido em um único
algarismo, finito, que entre o zero e o um contém infinitas possibilidades:
0,0001; 0,002; etc. Lembrei também da frase do pai, que no momento de luto,
sinalizou o privilégio de ter sido possível para ela viver aquele amor.
Lembrei-me do quanto, nesse momento de dor, o quanto a dor da perda está ligada
ao ganho que não mais existe, mas que faz parte de nós. Lembrei-me de minhas
perdas e de meus privilégios de ter compartilhado momentos com pessoas
especiais. Lembrei-me da cena de outro filme, na qual o “mestre” jogava o
discípulo na água, para que ele compreendesse o valor de um instante (Poder além
da vida). Durante a exibição do filme, pude estar lá, com eles, integrada e
entregue, portanto minhas experiências e vivências também. Estavam na negação
dos personagens, quando tentavam evitar “sensações”, mesmo que boas, para que a
dor não viesse a seguir. Estavam na diferença, que possibilitou tantos
encontros, e, que me tornaram quem estou sendo agora. Estavam em cada instante,
em que me permiti viver o momento em sua plenitude. O filme fala de luto, de
dor, de doença, de tristeza e de morte. Mas, o foco está no que acompanha cada
um desses temas, celebração, prazer, saúde, alegria e vida. Não falamos de
opostos, mas de partes de uma totalidade. Na abordagem gestáltica, olhamos o ser
em sua totalidade, não aceitamos cisões entre corpo/mente, por exemplo. No
entanto, vemos as polaridades como partes inseparáveis, no lugar de opostas,
elas estão unidas pelo, e, totalizando um organismo. Por exemplo, “corpo e
mente”, “ser e mundo”, todos estão interligados numa rede, uma totalidade.
Dentre tantas reflexões, escolhi partilhar com vocês, aquelas que me “tocaram”,
que em “meu mundo” foi possível acontecer. O que está fora do meu campo, para
mim não existe, não tem “sentido”. Certamente, agora é o que faz sentido para
mim. Não há desprezo aos outros tantos aspectos que podem ser percebidos na
trama, é apenas o que é possível agora. Em outro momento, posso perceber outras
tantas perspectivas, como também outras pessoas poderão fazer. Por agora, fico
com os temas prioridade e tempo, que poderão dar bons frutos. Faço votos que o
filme seja também para você uma boa experiência, recomendo.
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