terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Encontros ao acaso

clip_image001ASSUNTO
Relações afetivas, familiares e sociais; processo autodestrutivo, dificuldade de aceitar afetos e mudanças.
SINOPSE
Lucy Fowler (Ashley Judd) é uma mulher trabalhadora e auto-destrutiva, que realiza frequentes aventuras de uma só noite, sempre regada a muita bebida. Ao tentar mais uma vez se reaproximar do pai, Lowell (Scott Wilson), ela conhece Cal Percell (Jeffrey Donovan), que se mudou recentemente. Cal consegue enxergar em Lucy algo que ela própria não deseja reconhecer, o que faz com que se afaste dele. Desta forma Lucy precisa lidar sozinha com sua conturbada família e sua dificuldade em amadurecer e manter um relacionamento amoroso.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
O filme fala, principalmente, sobre a dificuldade de relações afetivas da protagonista, que “repete” o comportamento do pai, que se revela na trama a própria dificuldade de manter relações afetivas. Lucy, além de manter relações com desconhecidos em momentos de embriaguez, não se lembrando no dia seguinte sobre os detalhes da relação, faz questão de se manter emocionalmente distante de tudo. Atentem para a relação com o cachorro abandonado, e, sua atitude distante diante da clara afeição ao animal. Como qualquer de nós, ela tem uma história, um contexto que ajuda a compreender seu comportamento reativo diante das possibilidades afetivas. A trama me fez recordar da importância do GENOGRAMA no processo terapêutico. Para quem não conhece a ferramenta, trata-se de um recurso potente de suporte ao processo terapêutico. Com ele, somos capazes de identificar, junto ao cliente, as repetições transgeracionais, as questões familiares, oferecendo a oportunidade de capacitar o cliente para realização de novas escolhas. Ao reconhecer “repetições”, situações inacabadas, ou questões que pertencem ao histórico da pessoa, o cliente encontra a oportunidade de aceitar/perceber/ter consciência seu movimento atual. Diante disso, algo semelhante ao que Jung chamou de “processo de individuação” pode acontecer de forma mais saududável. Em Gestalt-terapia, o mesmo processo pode ser reconhecido como percepção da própria fronteira, que deve ser flexível, nem totalmente aberta nem fechada. Assim, a pessoa pode escolher quando e onde abrir seu mundo ao mundo do outro, fazendo contatos nutritivos com o ambiente. A repetição de comportamentos engessa as fronteiras, que bloqueiam as novas trocas. O processo de Lucy, aos poucos vai oferecendo a oportunidade dela perceber suas ações “reativas”, repetidas, inacabadas. E, assim, durante a trama, vamos acompanhando seu movimento de busca de fechamento para situações inacabadas, ou, o reconhecimento de seu funcionamento “repetido”.  Nesse sentido, Cal é a chave terapêutica de Lucy, pois “representa” o papel do terapeuta, ao sinalizar o óbvio. Assim também faz sua colega de quarto, que questiona suas atitudes. Acompanhamos a busca de sentidos na relação familiar, que aos poucos lhe dão a clareza do próprio funcionamento, e, com isso a possibilidade de novas escolhas. Não espere, então, que o desfecho feliz esteja de acordo com os romances clássicos. Ser feliz com o príncipe encantado? Que nada! Há frustração, há dor, mas não é possivel desenvolvimento real, sem que passemos pela dor.  Na fita, vemos a busca da própria integração, em detrimento da busca do outro que a “complete”. Para que um sistema inteiro seja possível, sem dependência, mas apenas uma relação de contato saudável, ambos precisam estar inteiros, integrados em sua individualidade, para somente depois realizar trocas nutritivas. O final está aberto, mas feliz, pois fica claro o quanto Lucy pode realizar novas e criativas escolhas, o restante pode ser imaginado. Aí está um final real e feliz, vale a pena conferir!




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