sábado, 22 de agosto de 2015

Um momento pode mudar tudo

clip_image002ASSUNTO
Esclerose lateral amiotrófica (ELA), relações familiares, afetivas e sociais, polaridades.
SINOPSE
Kate (Hilary Swank) é uma pianista clássica sofisticada, casada, extremamente bem-sucedida e recém-diagnosticada com ELA (esclerose lateral amiotrófica, também conhecida como doença de Lou Gehrig). Bec (Emmy Rossum) é uma estudante impertinente e aspirante a cantora de rock que mal consegue dar conta caos que é a sua vida, tanto no aspecto romântico quanto em outras áreas. Conforme a doença de kate avança, seu casamento com Evan (Josh Duhamel) se deteriora. Quando Bec consegue o emprego para dar assistência a Kate, ambas passam a se apoiar em algo que se torna um laço não convencional. Como está sem objetivo, Bec está determinada a se tornar uma sombra íntima de Kate, passando por situações confusas e embaraçosamente cômicas. À medida que a cautelosa e voluntariosa Kate começa a se contagiar com o turbilhão e o espírito livre que é Bec – e vice versa – ambas acabam encarando arrependimentos, explorando novos territórios e expandindo suas ideias sobre quem realmente querem ser.
TRAILER

O OLHAR DA PSICOLOGIA
O título em inglês You're Not You (Você não é você), o que nos remete a ideia de não haver uma definição precisa sobre quem ou o que pensamos ser, sobre a transitoriedade da vida,que acontece num “vir a ser” constante. A doença de Kate se torna um marco para reflexão sobre sua existência, que não corresponde mais a um simples rótulo. Já em português, o título parece enfatizar a ruptura ocorrida na vida de Kate após ser diagnosticada com Esclerose Lateral Amiotrófica - (ELA) - uma doença degenerativa do sistema nervoso, que acarreta paralisia motora progressiva, irreversível, de maneira limitante. Quando os primeiros sintomas surgem, Kate vivencia o sonho de consumo de muitos, ela é bem casada e bem sucedida, tanto profissional como afetivamente. A vida estava sob controle até então. Ela perde sua autonomia, dependendo de outro para os pequenos movimentos, o que compromete também sua capacidade de escolha. Após serem apresentados os primeiros sintomas, o filme retrata um tempo depois, momento no qual ela se vê dependente do marido para quase tudo. Logo, é possível constatar sua dificuldade em aceitar a doença.
Kate se incomoda com os excessos das enfermeiras, que embora sejam consideradas perfeitas pelo marido, para ela são a representação de sua incapacidade. O momento de despertar nos apresenta outro personagem, que contrasta com ela. Falamos de Bec, a futura candidata a cuidadora, que não é enfermeira, não tem experiência e é a personificação do descontrole, do imprevisível, do caos. Enquanto na casa de Kate o som de música clássica habita um ambiente tranquilo, ouvimos o rock pesado ao visualizarmos Bec e seu amante, num ritmo frenético de sexo. Não é preciso muito para perceber que o carinho e cuidado do marido de Kate excluem qualquer conotação sexual. A partir do encontro desses opostos somos convidados a acompanhar a riqueza das trocas possíveis. Ambas se transformam, se desenvolvem e compartilham de suas reflexões. De repente, a perfeição não faz mais sentido, as escolhas podem ou não ser revistas, as reações dão lugar a novas possibilidades. Não há receita pronta para viver, é preciso arriscar, respeitar os “sentidos” em detrimento dos sonhos impostos pelas culturas de consumo. Novos contatos favorecem novos olhares, Kate pode deslocar seu olhar sobre a vida, arriscando viver o possível. Por outro lado, temos Bec, que encontra em Kate uma brecha para também se arriscar, se desarmar, se permitir afetar e ser afetada. As relações familiares de ambas são pouco retratadas, mas o suficiente para também refletirmos sobre o quanto somos produtos de nossas experiências, influenciados por nossa matriz (família de origem). Mas, também, que temos outras possibilidades de escolhas, quando é possível identificar e separar o que é nosso do que não precisa mais ser. O filme é repleto de clichês, foi criticado e comparado com outros longas, o que não deprecia o suficiente a experiência. Prepare o lenço, obviamente irá se emocionar, mas nada que chegue ao melodrama excessivo. Ainda assim, recomendo, trata-se de um filme delicado, arrisque-se, deixe o filme te afetar. Pode ser que sua leitura seja outra, mas o que vale é nos colocar em contato com algo que possa fazer sentido, e, o filme cumpre seu papel.





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