terça-feira, 28 de março de 2017

Beleza Oculta


ASSUNTO

Luto, relações sociais, familiares e afetivas.

SINOPSE

Após uma tragédia pessoal, Howard (Will Smith) entra em depressão e passa a escrever cartas para a Morte, o Tempo e o Amor - algo que preocupa seus amigos. Mas o que parece impossível, se torna realidade quando essas três partes do universo decidem responder. Morte (Helen Mirren), Tempo (Jacob Latimore) e Amor (Keira Knightley) vão tentar ensinar o valor da vida para o protagonista.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA


Considerado pela crítica como apelativo e superficial, o filme aborda temas existenciais de forma rasa. No entanto, é possível encontrar uma perspectiva interessante, quando percebemos não só o luto como tema, mas a morte como elemento fundamental que liga os personagens. A perda de um filho pode ser devastadora para qualquer ser humano, sem dúvida, a premissa da trama nos coloca em contato com a dor de forma clara, sendo difícil não ser tocado pelo drama de Howard. Por outro lado, o encontro com as personificações da morte, do tempo e do amor se prestam metaforicamente ao processo de luto, que pode envolver reflexões a respeito dos temas, mesmo que seja para discordar das abordagens apresentadas. Não há dúvida que a maior riqueza do filme está em nos remeter para nossas experiências particulares de perda. Aí, sim, cada espectador pode tirar proveito da experiência, pois há uma oportunidade implícita de projeção e atualização das próprias feridas. No mais, assistimos a prioridade dos interesses financeiros em detrimento do valor real da amizade, da dor do outro, da solidariedade. De fato, a escolha dos amigos e sócios beira a canalhice, ignora o plausível e a perspectiva afetiva do drama. Sim, a premissa inicial, repleta de potencial a ser desenvolvido, é esvaziada em seu desenvolvimento, tornando a trama confusa e fraca em argumentos.  

FRAGMENTADO


ASSUNTO

Saúde mental, transtorno dissociativo de identidade, abuso, relação terapêutica, relações sociais.

SINOPSE

Kevin (James McAvoy) possui 23 personalidades distintas e consegue alterná-las quimicamente em seu organismo apenas com a força do pensamento. Um dia, ele sequestra três adolescentes que encontra em um estacionamento. Vivendo em cativeiro, elas passam a conhecer as diferentes facetas de Kevin e precisam encontrar algum meio de escapar.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Transtorno dissociativo de identidade (anteriormente conhecido como distúrbio de personalidade múltipla ou transtorno de múltiplas personalidades) é uma condição psicológica complexa que é provavelmente causada por muitos fatores, incluindo trauma grave durante a primeira infância (abuso físico, sexual ou emocional geralmente extremo, repetitivo). Diferente de SYBIL, um filme de 1976 que relata um caso verídico de 17 personalidades, FRAGMENTADO mistura realidade e ficção, trazendo um paciente mais complexo. Kevin é acompanhado por terapeuta, que identificou 23 personalidades, até então. Na trama, ele entra numa nova crise, dando pistas de uma 24ª personalidade, ainda desconhecida. Sugerindo estar no comando, aos poucos ela irá controlar todas as outras personalidades, provocando o sequestro das três adolescentes e outros acontecimentos inesperados.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Lion, uma jornada para casa


ASSUNTO

Adoção, superação, resiliência, preconceito, relações familiares, afetivas e sociais.

SINOPSE

Quando tinha apenas cinco anos, o indiano Saroo (Dev Patel) se perdeu do irmão numa estação de trem de Calcutá e enfrentou grandes desafios para sobreviver sozinho até de ser adotado por uma família australiana. Incapaz de superar o que aconteceu, aos 25 anos ele decide buscar uma forma de reencontrar sua família biológica.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Adaptação do livro de mesmo título, o filme conta a história real de Saroo, um dos tantos outros meninos que se perdem todos os dias na Índia. Apesar de ter sido adotado por uma família que o educou com amor, o passado dele o atormenta, impedindo-o de viver plenamente as oportunidades do momento presente. A trajetória de Saroo é a materialização de uma busca comum a todo ser humano. Afinal de contas, nossas neuroses estão diretamente ligadas ao passado mal elaborado. Ao acompanhar sua busca, fica impossível não entrar em contato com algo da própria infância, portanto, é improvável não se emocionar. Podemos chamar de ‘busca de nossas origens’ ou de ‘passar nosso passado a limpo’, mas em algum momento, nos defrontamos com circunstâncias que nos remetem a uma situação inacabada da infância. Revisitar nossa história não significa mudar o presente, ao contrário, nos permite viver o presente em sua plenitude, sem amarras. Assim, nosso protagonista segue buscando suas origens.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Meu nome é Ray (About Ray)


ASSUNTO

Relações afetivas, sociais e familiares, transexualidade, homossexualidade, crise existencial e segredos.

SINOPSE

Três gerações de mulheres de uma família que vive sob um mesmo teto em Nova York precisam lidar com uma grande transformação de uma delas que vai afetar a todas. Ray (Elle Fanning) é uma adolescente que decidiu mudar de sexo. Sua mãe solteira, Maggie (Naomi Watts) precisa rastrear o pai biológico de Ray (Tate Donovan) para obter seu consentimento legal para a mudança. Dolly (Susan Sarandon), avó lésbica de Ray, está com dificuldade em aceitar que agora tem um neto. Cada um deles precisa confrontar sua própria identidade, aprender a aceitar a mudança e sua força como família para finalmente encontrar compreensão e harmonia.

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O OLHAR DA PSICOLOGIA

Embora, apresente e discuta a transexualidade, o foco maior é na crise existencial da mãe de Ray. Sim, Mag está em crise. Não há porque desmerecer tal enfoque, afinal, Ray se reconhece como menino em corpo de menina, não há crise de identidade para ele. E, no final das contas, a família sempre terá dificuldade para lidar com a situação. Certamente, para Mag é mais do que isso, ela tem seu segredo em relação à paternidade de Ray e uma dificuldade tremenda em lidar com as próprias responsabilidades de mulher, adulta e mãe, sem falar na dificuldade imposta pelas necessidades de Ray. Aliás, o ponto de partida da trama está exatamente nessas necessidades. Aos 16 anos, Ray precisa da autorização do pai para realizar procedimentos médicos que favoreçam sua existência. As relações familiares são colocadas em foco a partir de então. Três gerações se encontram morando no mesmo espaço, a mãe homossexual e sua companheira, Mag e Ray. As críticas não pouparam alfinetadas, por uma simples razão, o tom pastelão da comédia tira a chance dos temas abordados serem apresentados com maior seriedade. Ainda assim, temos uma perspectiva interessante quando olhamos a interpretação de Elle Fanning, que em diferentes momentos dá espaço para os conflitos possíveis da sua condição, seja quando esconde seu peito ou quando trabalha incansavelmente para desenvolver sua versão feminina. Há clara indicação de sua necessidade primordial de encontrar uma vida mais autêntica. Sua avó homossexual não compreende as angústias da neta. Em seu universo, o desejo pelo mesmo sexo pode ser resolvido apenas assumindo a homossexualidade, sem que seja necessário trocar de sexo. Ela não percebe que para a neta (o), o maior problema não é a orientação do seu desejo, mas viver em um corpo que não reconhece como seu. Desde os 4 anos, ela percebe que aquele corpo não lhe pertence, que não é livre para ser ele mesmo, enquanto habita um corpo que lhe aprisiona.