domingo, 22 de junho de 2014

Malévola

ASSUNTO
Relações afetivas, conflitos existenciais, amor.

SINOPSE
Baseado no conto da Bela Adormecida, o filme conta a história de Malévola (Angelina Jolie), a protetora do reino dos Moors. Desde pequena, esta garota com chifres e asas mantém a paz entre dois reinos diferentes, até se apaixonar pelo garoto Stefan (Sharlto Copley). Os dois iniciam um romance, mas Stefan tem a ambição de se tornar líder do reino vizinho, e abandona Malévola para conquistar seus planos. A garota torna-se uma mulher vingativa e amarga, que decide amaldiçoar a filha recém-nascida de Stefan, Aurora (Elle Fanning). Aos poucos, no entanto, Malévola começa a desenvolver sentimentos de amizade em relação à jovem e pura Aurora.


TRAILER

O OLHAR DA PSICOLOGIA
 
clip_image002A mais encantadora das criaturas se chama Malévola, uma fada-menina linda que tem chifres, asas e mora no reino encantado de Moors, repleto de criaturas mágicas, encantadoras, estranhas e diferentes do que os humanos podem considerar belo. A harmonia com a natureza é marca deste lugar que não tem rei. Há entre os habitantes respeito mútuo, o que garante a harmonia. Muito próximo há outro reino, que habitado por humanos, tem um rei e está repleto de sentimentos “demasiadamente humanos”, como ganância, disputa pelo poder, inveja, intolerância, etc. Malévola, por ser a mais poderosa das fadas, assume o lugar de protetora de seu reino, pois a harmonia com a natureza e a boa convivência com as diferenças se tornam alvo de incompreensão e inveja do reino vizinho. Assim começa a história daquela que se transformou em uma das vilãs mais conhecidas dos contos de fadas. A grande diferença está em apresentar um novo ângulo.
Deparei-me com uma frase curiosa na crítica de Bruno Carmelo, que diz: Esta é mesmo uma versão moderna da história, como anunciaram os produtores, mas a forma está mais modernizada do que o conteúdo. Para quem conhece a abordagem gestáltica, a frase seria considerada atraente, o que não deve ter sido a intenção do crítico. De fato, gestalt é uma palavra alemã que não tem tradução, mas o que se aproxima mais desse conceito é a palavra FORMA. Forma ou boa forma é o que todos buscamos, independente do conteúdo. Para gestaltistas, se a forma é bela, harmoniosa e tem movimento fluído, o ser humano está em equilíbrio saudável. O psicoterapeuta observa mais a forma do que o conteúdo. Por exemplo, é mais importante observar a forma com que o cliente diz, do que o que é dito pelo cliente. Iluminar ou apontar a forma incongruente, fraca ou aquela que contradiz o que é falado é considerado como relevante no processo terapêutico. Portanto, discordo quando o crítico considera pouco a realização da mudança na forma e não no conteúdo. Aliás, é exatamente pela forma que a mudança pode ser percebida. Falamos da história da Bela adormecida, que apesar de manter alguns pontos conhecidos, é diferente em sua forma, aqui iremos conhecer o ponto de vista de Malévola.
clip_image004Aqui, temos uma menina-fada que é capaz de fazer amizade e se encantar com o jovem humano que tenta roubar as riquezas de seu reino. Durante seu desenvolvimento, ela perde parte de sua doçura, ao vivenciar grande traição e desilusão amorosa com esse mesmo jovem por quem se apaixonou. Ela, então, passa a desacreditar no amor verdadeiro, e, se vinga através de uma maldição direcionada à futura herdeira do traidor.   Os outros personagens são quase ignorados ou pouco aprofundados, pois a nova versão dá destaque aos conflitos vivenciados pela menina-fada durante seu desenvolvimento, o que a aproxima do que há de mais humano e verdadeiro no sexo feminino: a complexidade. O que acaba deixando os outros personagens empobrecidos, sem expressão, com a exceção do corvo, que em alguns momentos parece se tornar a voz da consciência de Malévola. clip_image008Somos convidados a refletir e questionar sobre algumas possibilidades no enfrentamento das desilusões e frustrações e outras coisas mais. Atos impensados ocorrem quando a mágoa comanda o espetáculo, o que pode causar consequências indesejáveis. É o caso de Malévola, que se arrepende de seu ato cruel no momento da vingança. Como bem apontado por Eleonora: Aqui aparece a grande mudança que faz a história de Malévola ser mais contemporânea. Saímos da maldade da bruxa egoísta e entramos em contato com uma mulher forte e protetora dos mais frágeis, mas com emoções ambíguas, que habitam seu coração ferido por seu amor recusado e traído. (para ler a crítica completa clclique aqui.). Ela lança sua maldição na filha de quem a decepcionou, estando sua anulação condicionada ao que para ela não pode ser mudado, devido a sua descrença no amor verdadeiro. Entretanto, sua ação faz com que o pai tente isolar a filha na intenção de protegê-la, o que faz com que os papéis sejam invertidos.
clip_image010Durante o desenvolvimento da menina, quem mais está próxima, protege e cuida dela é a própria Malévola, que desenvolve um doce vínculo com a menia. Suas crenças são colocadas em choque no momento em que deseja  desfazer o feitiço. Não há mais como voltar atrás, o feitiço só poderia ser quebrado por aquilo que ela não acreditava mais: o verdadeiro amor. O feitiço vira contra a feiticeira, pois ela mesma é quem sofre com a possibilidade de perder para sempre Aurora, a menina doce que foi, por 16 anos, acompanhada e protegida por ela. Importante destacar que do início até o seu final, Malévola somente reage, nunca age por livre e espontânea vontade de fazer o mal. O desfecho é surpreendente e vai tornar a experiência da garotada bastante interessante. Gostei desta perspectiva mais moderna e atualizada, afinal, essa coisa de pessoas perfeitas e príncipes que conquistam a partir de um único beijo, já está fora de moda.
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Fora isso, podemos pensar na grande sacada da nova versão, ao apresentar personagens que expressam bem as rupturas, divisões ou dicotomias que ameaçam o equilíbrio do ser. Reparem na possível representação de feminino e masculino - divisão dos reinos, boa e má - própria Malévola, bem e mal - e outros mais. Ainda é possível destacar um aspecto, que se refere ao conflito existencial entre o que consideramos dentro (a pessoa) e o fora (o ambiente). A abordagem gestáltica considera o organismo integrado, não tem tem a visão de  homem/mundo dissociada, pois um faz parte do outro.  Neste sentido a trama trabalha em direção semelhante ao processo terapêutico, que visa a integração dos polos, das polaridades bom e mau, bem e mal, certo e errado, feio e bonito, feminino e masculino ou dentro e fora. A integração é o objetivo, sempre!







4 comentários:

  1. Respostas
    1. Obrigada, Chistiana Chagas. Vale a pena tentar sempre...bjokas

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  2. Patricia, muito bom esse texto. Mas você também não acha que a Malévola é a personificação das mulheres de hoje em dia? Mulheres fortes e bem sucedidas, que crescem lutando e protegendo seus ideais (reinos), que têm voz forte... Mas diante do amor, viram mulheres frágeis e submissas, loucas para dividirem suas vidas e sonhos. Em contraponto, os homens são como o menino - ambiciosos e racionais ao extremo. Que usam as mulheres apenas para conseguir o que querem e alimentar seu ego. Pra mim, essa versão é uma releitura dos tempos atuais, já que, como você mesma fala no texto: "perspectiva mais moderna e atualizada, afinal, essa coisa de pessoas perfeitas e príncipes que conquistam a partir de um único beijo, já está fora de moda."
    Abraço

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    1. Tati,
      Acho importante sua percepção, uma perspectiva interessante. Como outros filmes aqui postados, as diferentes percepções é que podem enriquecer nosso universo pessoal. Portanto, muito obrigada por sua participação. Volte sempre!
      Abs,

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