sábado, 18 de junho de 2016

Nise: O coração da loucura

ASSUNTO
Saúde mental, Movimento antimanicomial, Arteterapia, Terapia ocupacional, relação terapêutica, relações sociais, afetivas e familiares.

SINOPSE
Ao voltar a trabalhar em um hospital psiquiátrico no subúrbio do Rio de Janeiro, após sair da prisão, a doutora Nise da Silveira (Gloria Pires) propõe uma nova forma de tratamento aos pacientes que sofrem da esquizofrenia, eliminando o eletrochoque e lobotomia. Seus colegas de trabalho discordam do seu meio de tratamento e a isolam, restando a ela assumir o abandonado Setor de Terapia Ocupacional, onde dá início a uma nova forma de lidar com os pacientes, através do amor e da arte.

TRAILER

O OLHAR DA PSICOLOGIA

É indiscutível a importância de Nise da Silveira, psiquiatra de reconhecimento internacional ao defender terapias alternativas no tratamento de transtornos mentais. O filme nos presenteia com interpretações excelentes, retratando com fidedignidade uma realidade cruel de sujeitos portadores dos mais diferentes tipos de transtornos mentais e os procedimentos desumanos adotados na ocasião.  A personalidade inquieta, inconformada e desafiadora da psiquiatra é apresentada na trama, focando prioritariamente o aspecto  humano  da profissional. Na tentativa de compreender melhor as demandas daqueles pacientes, Nise ofereceu um lugar para expressão de suas angústias, inaugurando um novo canal para trocas. Ela se preocupou com o aspecto afetivo das doenças mentais, oferecendo espaço para que os sujeitos pudessem “juntar os cacos” de si mesmo, numa tentativa de integração. Diferentes aspectos sobre a importância de Nise da Silveira já tem sido exaustivamente discutido nas críticas e nos diversos artigos sobre o filme. Aqui, escolhemos restringir as considerações no aspecto humano da trama, desconsiderando o olhar na doença mental e priorizando a saúde.
Se pensarmos a doença como um transtorno dos afetos, um descompasso no ritmo das emoções humanas, poderemos também pensar na importância de considerarmos a fragilidade da conhecida divisão entre o normal e o patológico. Diante das angústias humanas, possibilidades e impossibilidades, ausência de afeto se torna foco de muitos obstáculos para a saúde. Independente do aspecto documental da trama, que pode promover novos debates e ações na área de saúde mental, foi possível também refletir sobre a importância do reconhecimento de si mesmo para cada ser humano. Não há lugar mais propício para o desenvolvimento de uma identidade - para a construção de uma boa autoestima, para a conquista de um lugar no mundo-, do que o lugar do afeto, do acolhimento, um lugar no qual o outro oferece para o nosso processo de “vir-a-ser”. Refletir sobre nossa identidade, sobre o papel de relações nutritivas para nosso desenvolvimento, é também questionar o papel das relações tóxicas, que muitas vezes provocam rupturas impactantes em nosso processo de existência. Se Eliminarmos a linha divisória entre o normal e o patológico, podemos reconhecer o desamparo afetivo como agente promotor das crises existenciais do ser humano. Doutora Nise nos mostra o quanto o acolhimento afetivo é um ingrediente importante em qualquer relação, seja terapêutica, familiar ou social. A arte foi oferecida como ferramenta de expressão, mas antes, muito antes, houve o acolhimento afetivo, que sempre poderá encontrar diferentes ferramentas que dão lugar ao outro. Todo ser é capaz de construir um canal de trocas nutritivas, que possam favorecer o desenvolvimento dos envolvidos na troca. Eis aí o aspecto que mais nos tocou na trama. E você, espectador, o que mais te afetou no encontro com os dramas retratados no filme? Compartilhe sua percepção, vamos trocar e desenvolver novas possibilidades! 

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