quinta-feira, 6 de abril de 2017

Manchester à beira-mar


ASSUNTO

Perda, luto, relações familiares, sociais e afetivas.

SINOPSE

Lee Chandler é uma espécie de faz-tudo do pequeno complexo de apartamento onde vive, no subúrbio de Boston. Ele passa seus dias tirando neve das portas, consertando vazamentos e fazendo o possível para ignorar a conversa de seus vizinhos. Em suas noites vazias, Lee bebe cerveja no bar local e arruma confusão com qualquer um que lhe lançar um olhar. Quando seu irmão mais velho morre, ele recebe a desagradável surpresa de sua nomeação como tutor de seu sobrinho. De volta a sua cidade natal, ele terá que lidar com memórias queridas e dolorosas.

TRAILER


O OLHAR DA PSICOLOGIA


O filme é um retrato da realidade, razão pela qual, talvez, não tenha agradado aos que se acostumaram com a “receita pronta” de felicidade, comumente exibida nas telonas. É desconcertante assistir ao comportamento insensato no qual Lee,  entre silêncios, repletos de expressões angustiantes e agressões gratuitas, transita pela vida. O drama surpreende por sua narrativa realista e de fácil identificação com as possíveis perdas em nosso cotidiano. O assunto é conhecido, mas pouco explorado em uma vertente tão sincera, aflitiva, afetuosa e até engraçada. Todos nós temos alguma dificuldade em lidar com diferentes momentos de perda e luto, principalmente quando se trata de alguém afetivamente conectado com nossa existência. Em algumas situações, a perda pode ser devastadora. Comovente, sem ser apelativo, às vezes cômico, sem virar comédia, o filme é uma injeção de vida, apesar de falar de morte. É isso mesmo, você corre o sério risco de sair da sala de cinema mais revigorado. A simplicidade em que trata de assuntos tão complexos, traz um diferencial para o longa, que não deixa de provocar algumas reflexões.
Fiquei me perguntando, como é para alguém que sofre profundamente assistir soluções mágicas na telona? Será que ajuda ou prejudica? Dentro de sua dor dilacerante, o exemplo de alguém que tem um final feliz, ajuda ou complica? Difícil responder, cada um tem sua forma de lidar com o mundo e suas dores. Fato é que o filme trilha outro caminho. Escolho percebê-lo assim: “Também está ok não conseguir sair tão facilmente do seu universo dolorido. Está ok, faz parte, aceite seu momento, o luto é diferente para cada um. Se permita viver seu tempo de elaboração, isso não faz de você melhor nem pior. É apenas o seu tempo, a sua forma”.  O que me remete a TEORIA PARADOXAL DA MUDANÇA, de Arnold Beirrer (1970), que afirma: “A mudança ocorre quando a pessoa se torna o que é, não quando tenta converter-se no que não é.” Pois bem, se aceitar como pode ser no agora, como é ou como está sendo, é a única forma de conseguir ser diferente. “Manchester à beira mar” é um filme honesto em sua forma de retratar angústias e sentimentos confusos de alguém afetado pelo processo de luto. A perspectiva escolhida pode não ser a esperada mensagem de esperança, mas certamente, acolhe a dor do enlutado. Acolhe sua angustia e a vida que segue como possível. E, mais, auxilia no encontro e identificação do próprio processo de luto infinitamente mantido. E, se existe a possibilidade de alguém na mesma situação poder se ver, aceitar como está sendo, como não considerar o filme terapêutico? Sim, trata-se de uma obra encantadoramente verdadeira. Que mostra a dor sem apelar pelo dramalhão, sem te chamar para o choro fácil. O novo processo de luto e a responsabilidade imposta pelo irmão falecido fazem emergir lentamente suas dores adormecidas, pouco elaboradas. Aprendemos a dissolver conceitos e julgamentos pré-estabelecidos frente ao seu comportamento bizarro. Sua pouca habilidade social é deflagrada em situações previsíveis diante da perda. Tudo aquilo que estava distante, física e mentalmente, transborda sem convite prévio. Os acontecimentos são retratados sem excessos, de forma tão realista, que torna impossível não encontrar alguma semelhança com algum momento de vida do espectador. Tudo isso faz do filme uma experiência é única e necessária. Tão necessária, que escolhemos evitar detalhes que possam afetá-la.  Aproveite a singularidade desta experiência, assista!

Um comentário:

  1. Acabo de assistir Manchester à beira-mar, o filme verdadeiramente me surpreendeu pois não se trata de cenas apelativas e dramatizadas para o espectador se comover facilmente, pelo contrário, são cenas das quais fazem vc refletir sobre o que é verdadeiramente o luto e se você realmente superou algo... Adorei de verdade esse filme, recomendo!

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