ASSUNTO
Perda, luto, relações
familiares, sociais e afetivas.
SINOPSE
Lee Chandler é uma espécie
de faz-tudo do pequeno complexo de apartamento onde vive, no subúrbio de
Boston. Ele passa seus dias tirando neve das portas, consertando vazamentos e
fazendo o possível para ignorar a conversa de seus vizinhos. Em suas noites
vazias, Lee bebe cerveja no bar local e arruma confusão com qualquer um que lhe
lançar um olhar. Quando seu irmão mais velho morre, ele recebe a desagradável
surpresa de sua nomeação como tutor de seu sobrinho. De volta a sua cidade
natal, ele terá que lidar com memórias queridas e dolorosas.
TRAILER
O OLHAR DA PSICOLOGIA
O
filme é um retrato da realidade, razão pela qual, talvez, não tenha
agradado aos que se acostumaram com a “receita pronta” de felicidade, comumente exibida nas telonas. É desconcertante assistir ao comportamento
insensato no qual Lee, entre silêncios, repletos de expressões angustiantes e agressões
gratuitas, transita pela vida. O drama surpreende por sua narrativa realista e
de fácil identificação com as possíveis perdas em nosso cotidiano. O assunto é
conhecido, mas pouco explorado em uma vertente tão sincera, aflitiva, afetuosa
e até engraçada. Todos nós temos alguma dificuldade em lidar com diferentes momentos
de perda e luto, principalmente quando se trata de alguém afetivamente
conectado com nossa existência. Em algumas situações, a perda pode ser
devastadora. Comovente, sem ser apelativo, às vezes cômico, sem virar comédia, o
filme é uma injeção de vida, apesar de falar de morte. É isso mesmo, você corre
o sério risco de sair da sala de cinema mais revigorado. A simplicidade em que
trata de assuntos tão complexos, traz um diferencial para o longa, que não
deixa de provocar algumas reflexões.
Fiquei me perguntando, como é para alguém
que sofre profundamente assistir soluções mágicas na telona? Será que ajuda ou prejudica?
Dentro de sua dor dilacerante, o exemplo de alguém que tem um final feliz,
ajuda ou complica? Difícil responder, cada um tem sua forma de lidar com o
mundo e suas dores. Fato é que o filme trilha outro caminho. Escolho percebê-lo
assim: “Também está ok não conseguir sair tão facilmente do seu universo
dolorido. Está ok, faz parte, aceite seu momento, o luto é diferente para cada
um. Se permita viver seu tempo de elaboração, isso não faz de você melhor nem
pior. É apenas o seu tempo, a sua forma”.
O que me remete a TEORIA PARADOXAL DA MUDANÇA, de Arnold Beirrer (1970),
que afirma: “A mudança ocorre quando a pessoa se torna o que é, não quando
tenta converter-se no que não é.” Pois bem, se aceitar como pode ser no agora,
como é ou como está sendo, é a única forma de conseguir ser diferente. “Manchester
à beira mar” é um filme honesto em sua forma de retratar angústias e
sentimentos confusos de alguém afetado pelo processo de luto. A perspectiva
escolhida pode não ser a esperada mensagem de esperança, mas certamente, acolhe
a dor do enlutado. Acolhe sua angustia e a vida que segue como possível. E,
mais, auxilia no encontro e identificação do próprio processo de luto
infinitamente mantido. E, se existe a possibilidade de alguém na mesma situação
poder se ver, aceitar como está sendo, como não considerar o filme terapêutico?
Sim, trata-se de uma obra encantadoramente verdadeira. Que mostra a dor sem
apelar pelo dramalhão, sem te chamar para o choro fácil. O novo processo de
luto e a responsabilidade imposta pelo irmão falecido fazem emergir lentamente
suas dores adormecidas, pouco elaboradas. Aprendemos a dissolver conceitos e
julgamentos pré-estabelecidos frente ao seu comportamento bizarro. Sua pouca
habilidade social é deflagrada em situações previsíveis diante da perda. Tudo
aquilo que estava distante, física e mentalmente, transborda sem convite
prévio. Os acontecimentos são retratados sem excessos, de forma tão realista,
que torna impossível não encontrar alguma semelhança com algum momento de vida
do espectador. Tudo isso faz do filme uma experiência é única e necessária. Tão
necessária, que escolhemos evitar detalhes que possam afetá-la. Aproveite a singularidade desta experiência,
assista!
Acabo de assistir Manchester à beira-mar, o filme verdadeiramente me surpreendeu pois não se trata de cenas apelativas e dramatizadas para o espectador se comover facilmente, pelo contrário, são cenas das quais fazem vc refletir sobre o que é verdadeiramente o luto e se você realmente superou algo... Adorei de verdade esse filme, recomendo!
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