quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

O porco espinho

 
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ASSUNTO
Relações familiares, afetivas e sociais, filosofia, pré-adolescência.

SINOPSE
Paloma é uma menina séria e inteligente de 11 anos, decidida a se matar em seu décimo-segundo aniversário. Fascinada por arte e filosofia, a menina passa o dia filmando seu cotidiano, a fim de fazer um documentário. À medida que a data de seu aniversário se aproxima, ela conhece pessoas que a fazem questionar sua visão pessimista do mundo.


TRAILER (em espanhol)
O OLHAR DA PSICOLOGIA
O filme foi baseado no livro “L’Élégance du Hérissson”, a elegância do porco espinho. Arthur Schopenhauer expôs a parábola do porco-espinho, na sua obra Parerga e Paralipomena, como uma metáfora acerca dos desafios subjacentes às relações de intimidades dos seres humanos. Segundo o filósofo, para enfrentar um Inverno rigoroso um grupo de porcos-espinhos precisaram de se juntar para que pudessem aquecer-se mutuamente, de forma a enfrentarem o frio que os atingia. No entanto, terminada a aproximação, os porcos-espinhos começaram a afastar-se, pois os espinhos que cobrem os seus corpos (servem de defesa contra os predadores) tornaram essa mesma proximidade demasiado dolorosa de suportar. Mas como é que eles iriam encontrar a distância adequada de forma a se aquecerem sem se magoarem? O dilema do porco-espinho é um dilema humano. No filme, a pequena filósofa decide registrar aproximações a afastamentos existentes no universo a sua volta, antes de partir. A menina é parte de uma família disfuncional, onde o pai é um político ausente e a mãe, que toma ansiolíticos diariamente, cuida mais de suas plantas do que das filhas.  Sim, ao considerar o vazio de sua existência, particularmente no que se refere a vida adulta que conhece, ela decide marcar a data de se retirar do mundo, que para ela não tinha sentido. Eis que surgem personagens que podem transformar sua visão de mundo.
  Renée Michel é uma viúva infeliz, cuja única preocupação é manter um estereotipo de zeladora padrão – invisível aos olhos dos moradores ricos, para que ninguém veja que debaixo de sua couraça se esconde uma mulher culta que lê Tolstoi, entre outros. Descobrir seu segredo dá para Paloma a oportunidade ver outras formas de funcionar no mundo. A existência, que ela não queria repetir, era diferente, tinha um vazio estampado na aparente felicidade de sua família. Não queria repetir o padrão, onde pai ausente era um político e sua mãe era alienada. Quando surge um novo morador no prédio, um senhor oriental chamado Ozu, outras perspectivas de vida se descortinam na para Paloma. A menina de 11 anos, capaz de comparar psicanálise e cristianismo, passa a se surpreender com os fenômenos que se revelam em seu entorno. Assim como peixe, que sai de seu aquário e sobrevive em condições adversas, Paloma descobre vida fora do seu aquário. Nesse dilema de proximidade e afastamento, vida e morte, amor e solidão, Paloma experimenta outras possibilidades. A felicidade, antes maquiada, encontra vibração na dor real. A totalidade da vida não permite visão de opostos, contrários, isolados, mas como partes de um todo, com dilemas que afastam e aproximam numa dança que flui, alternando possibilidades, dando “sentido” a vida. Afinal, a única certeza que podemos ter sobre a vida é que a morte é seu desfecho certo. Não é possível ficar alheio às questões existenciais da menina. A partir do momento que a menina decide morrer, responder a questão sobre o que é efêmero na vida se faz crucial. A partir das diferenças gritantes dos novos personagens, o contato real se realiza, tornando essa rede de amizade e cooperação, uma fonte de trocas nutritivas para os envolvidos. A zeladora, até então invisível, pode aos poucos se revelar, diante do olhar sensível do oriental e da menina curiosa e autêntica. A partir desses encontros inusitados, a menina questionadora experimenta outras formas de se relacionar com o mundo, mudando sua visão estreita do aquário familiar. Vida e morte são assuntos filosóficos que dão encanto aos momentos que a menina faz descobertas sobre as relações afetivas, sociais e familiares. Encantador e recheado de diálogos filosóficos, o filme é imperdível. Não perca!



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