sábado, 13 de fevereiro de 2016

Refúgio do Medo


ASSUNTO
Relações sociais, afetivas e terapêuticas, saúde mental, reforma psiquiátrica, normal e patológico.


SINOPSE
Não recomendado para menores de 14 anos - baseado em um conto do mestre Edgar Allan Poe. Um jovem recém-graduado na faculdade de medicina assume um cargo numa instituição mental e logo se vê apaixonado por uma de seus colegas - e tal distração não permite que ele perceba uma terrível mudança no corpo de funcionários.






TRAILER

O OLHAR DA PSICOLOGIA

Indicado por uma cliente, o filme apresenta um quadro não tão distante de nossa realidade. Ainda que se desenrole de uma forma um tanto quanto absurda, o filme oferece a oportunidade de refletirmos sobre as diferentes e ultrajantes formas de tratamento daqueles que não são considerados “normais”. Aliás, ótima oportunidade para questionarmos o que é necessário para consideramos alguém normal. A saúde mental é o foco do enredo, que em diferentes momentos retrata a realidade dos manicômios do século passado. Ainda que muitas intervenções façam parte da história, é preciso rever as mudanças e questionar as verdadeiras transformações realizadas. Em pleno século XXI, ainda temos tratamentos desumanos, pois a reforma psiquiátrica ainda não alcançou seus plenos objetivos. Ainda é possível encontrar tratamentos desumanos, falta de esclarecimento na sociedade, falta de humanidade com qualquer pessoa que não apresente comportamento comum ou esperado. Enfim, o filme é também denúncia, quando dá voz aos “pacientes”. Qual o limite entre a sanidade e a loucura? Sem a pretensão de responder a questão, o filme abre discussão sobre o tema, que volta para o foco de diferentes segmentos sociais contemporâneos. Como dizia um professor da faculdade, quem pode garantir que sabe onde está a chave de seu próprio manicômio? Difícil responder, nenhum de nós pode ter certeza, pois a certeza é parte consistente do quadro da loucura, tanto quanto a dúvida é pressuposto necessário para a saúde. Não podemos falar muito sobre o enredo, sem revelar partes importantes da trama, portanto, recomendo que assistam, e, assim, visitem os próprios sentidos que darão a trama.
Vale a pena refletir sobre o outro e sobre si mesmo, diante da proposta da trama. Certa feita, ouvi algo sobre a verdade do outro, um tema difícil. Priorizamos a própria verdade, em detrimento daquela que é do outro, seja por escolha ou apenas produto de seus encontros e desencontros na vida. Pouco sabemos sobre a verdade daquele que está fora da “forma” ou da “fôrma” socialmente aceita. É mais fácil e seguro, aceitarmos como “estranho” e rotularmos o outro. Posso dizer que o filme é por si uma questão que joga: nossas verdades no vento, nossas crenças nas nuvens, nossos rótulos no espaço. No lugar de respostas, encontraremos ressonância nas palavras de Sócrates: “Só sei que nada sei”. Gostei muito do artigo de Silvia Marques, que dentre outras coisas, afirma “Refúgio do medo questiona conceitos que nos são muito caros: em alguma medida somos todos doentes mentais, pois não existe cura para a condição humana. (...) Em nome da etiqueta, matamos o nosso eu. Em nome da prudência patológica, deixamos de nos comprometer pelos outros e por nossos valores. Em nome das convenções, matamos o nosso senso de prazer. Em nome do medo, deixamos de viver o amor.” (Recomendo ler, sua reflexão é fenomenal.  Clique aqui - para ler o artigo completo). O filme é super-recomendado, não só pela profundidade do tema, mas, principalmente, por seu tom provocador, que teima em tirar o espectador de sua zona de conforto.

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